Sobre Tudo e Sobre Nada escrita por Geovanna Danforth
Notas iniciais do capítulo
Dois dias e algumas horas depois da triste decisão
Ainda estou pensando seriamente no que vou dizer pra Hillary quando a encontrar... “Não foi dessa vez hein?” ou “Sabia que você era doida, mas não tanto...”.
Queria levar alguma coisa pra ela. Nunca fomos de trocar presentes mas essa é uma ocasião especial e o que realmente pesa na minha cabeça é como vou fazer pra convencê-la a continuar aqui porque eu já sei, a triste realidade, de que ela deve estar planejando outra forma de sumir.
***
Chego no hospital pouco antes de começar o horário de visitas. Quem visitou a Hillary ontem foi só a mãe dela, ou seja, a galera da escola ainda não ficou sabendo do incidente, e nem deve. Mas antes de passar pelas portas de vidro a mãe de Hillary sai com uma cara acabada (a mesma cara que eu vejo desde que cheguei).
— Olá Luiz. Que bom que você veio, precisava falar com você.
Apenas a encaro. Não estou a fim de falar com ela, quero falar com Hillary.
— Só queria saber de uma coisa...e não tenho como fazer rodeios sobre isso. _ ela cruza os braços.
— Pois não.
— Como você sabia que Hillary estava aqui? E... como sabia o que tinha acontecido com ela?
Fico em silêncio por um momento mas uma voz dentro de mim diz que o que aconteceu não é apenas mais um segredo de Hillary que devo guardar. Há um culpado na história e ele merece ser punido.
— Olha só... _ começo _ eu e Hillary conversamos bastante e ela sempre me contou que estava se sentindo sei lá... sozinha ultimamente, sem vontade de fazer nada...
— Mas... você acha que foi por isso que ela fez o que fez?
— Isso contribuiu de certa forma, e eu não estou falando de preguiça, estou falando de depressão. _ a palavra soa tão pesada que tenho vontade de dar meia volta e ir embora mas ainda não acabei. _ Onde está o seu namorado?
— Ele... teve que sair... não sei que horas vai voltar... Ah! Olha só! _ ela aponta para um cara que vinha do estacionamento, andando com uma sacola na mão_ Ele acabou de chegar. _ ela volta-se para mim. _ Mas, porque você queria saber?
Olho para ele, aquele jeito de andar sem preocupação, com um sorrisinho de canto quando a avistou... será que ela sabia o que ele tinha feito com a filha dela? Provavelmente não. Uma coisa começa a subir por meu corpo, nunca tinha sentido antes, como será que eu posso chamar...? Acho que é ódio.
Não raciocino. Apenas fecho a mão em punho e antes que o babaca se aproxime mais minha mão encontra seu rosto e sinto algo estralar, não sei se foi o nariz dele ou meus dedos.
***
A mãe de Hillary arqueia horrorizada e olha para nós dois não sabendo o que fazer enquanto eu gemo de dor, se soubesse que ia doer tanto tinha batido com outra coisa, caramba... Um cara da portaria vem até nós e começa a fazer perguntas idiotas.
— Tá tudo bem?
— TÁ TUDO ÓTIMO. _ respondo.
Ele me encara. É bem maior que eu então finjo que ele nem está ali. O professor de matemática fica curvado enquanto um fio de sangue escorre do seu nariz, ele não fala nada e aí eu vejo a confirmação. Ele sabe que eu sei. Agora sabe.
— Por que você fez isso garoto?! O que aconteceu? _ pergunta a mãe de Hillary.
— Por que a senhora não pergunta pra ele?! _ digo _ Se tem algum responsável pela Hillary estar internada aí dentro é esse cara!
— O quê? _ pergunta ela num fiapo de voz enquanto fica olhando para ele. Acho que ela está repensando se ainda vai continuar a socorrê-lo.
— Pergunte. Vamos ver se ele vai ser homem o suficiente pra contar tudo... e agora é a hora da minha visita então por favor não venha atrapalhar. _ As palavras saem com desprezo da minha boca mas ela precisava se tocar que isso era uma coisa que ela vinha fazendo a muito tempo na vida de Hillary.
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