Canção do Lobo escrita por Lilindy


Capítulo 1
Capítulo único - O lobo se sente só.


Notas iniciais do capítulo

Quando ouvi a música "A canção o lobo" de Enya, a ideia brotou em minha cabeça quase que na hora. Os lobos são um dos meus animais favoritos e isso me inspirou ainda mais para escrever essa one-shot. Também usei como inspiração a cultura dos nativos americanos Sioux. Eu gostei bastante do resultado e realmente espero que vocês gostem também.
Bom, nos vemos nas notas finais. Boa leitura para todos.



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O clima estava ameno devido às frentes frias que vinham do norte. O vento fresco soprava pela planície verde, balançando a grama e a pelagem cinza do lobo que se encontrava deitado sobre a vegetação. Como se aproveitasse a brisa suave, o lupino fecha os olhos de forma vagarosa. Ele não tinha a intenção de abri-los tão cedo. O animal estava triste, com o coração pesaroso.

Estava de luto.

O lobo cinzento estava com seu corpo repousado sobre o solo revestido de grama há horas e pelo que se via ele não sairia dali tão brevemente. O canídeo não queria os deixar, não estava pronto. Não queria estar.

O vento se intensifica e por fim, contra sua vontade, o lobo abre os olhos e encara os túmulos de seus dois humanos. O ar frio e refrescante continua movendo seus pelos enquanto que ele, vagando por entre suas lembranças, recorda-se do dia em que um dos seus queridos amigos o encontrou.

O lobo lembrava-se de como o frio castigava naquela noite de inverno. De como ele procurava sua alcateia em meio à neve abundante que predominava no ambiente. Suas patas pequenas de filhote afundavam na neve a cada passo e a baixa temperatura era cruel mesmo que sua pelagem contribuísse para sua proteção contra aquele clima pesado.

Ele estava sozinho e chorava á maneira dos lobos. O vento parecia uivar, uivava tanto que o animal o acompanhou, uivando também.

Um uivo triste.

Seu choro prosseguiu até que sua audição apurada lhe permitiu escutar passos próximos. Passos esses que logo foram acompanhados por vozes.

— Hantaywee, vamos voltar para a tribo. Não há mais sinal dos Crow pelas redondezas. Nosso jerky está acabando e o inverno está nos castigando aqui.

— Sim, você está certo. Precisamos voltar. Mas me deixe verificar algo antes.

O índio avançou na direção dos sons emitidos pelo pequeno lobo. O lupino recordava bem das roupas de couro usadas pelo homem que ao se deparar com ele ali, naquele estado, sorriu singelamente em compaixão.

— Então era você que uivava tão tristemente. — Disse o homem que passou a admirá-lo assim como seu companheiro também fazia.

— Acha que ele se perdeu de seu grupo?

— Ou os caçadores dos homens brancos mataram sua família. — Disse Hantaywee, que passou mais alguns breves minutos observando o belo animal antes de esticar seus braços para pegar o filhote.

O lobo sentiu o calor que emanava do corpo do nativo americano e aconchegou-se em seus braços.

O índio forte e robusto sorriu com o gesto do animal, virando-se para o companheiro em seguida.

— Vamos voltar para casa. Este pequeno e bravo animal ficará conosco.

O canídeo lembrava-se do reconforto que sentiu ao permanecer ali, no calor dos braços do nativo. Também se recordava da alegria do restante da tribo quando os dois guerreiros, junto aos seus companheiros, regressaram.

O animal viu quando uma bela índia se aproximou á passos apressados e contentes e abraçou Hantaywee calorosamente.

— Você voltou. O Grande Espírito o trouxe de volta para mim. — Falou a mulher de pele cor de canela e cabelos castanhos escuros, quase negros.

— Sim. Os Crow não estavam em nossas terras como nós pensamos. Podemos ficar em paz.

Os dois sorriram um para o outro e a mulher o abraçou mais uma vez. Foi então que Makawee, em meio aos discretos ganidos do animal em protestos pelo esmagamento do forte abraço, notou a presença da pequena criatura presente nos braços de seu marido. O índio esticou um pouco os braços ainda segurando o lobo, mostrando o filhote para sua esposa.

Ela sorriu. Um sorriso que permaneceria guardado para sempre na memória do lobo.

Makawee o pegou, aninhando-o em seus braços. Soltou um riso de alegria quando o lupino aconchegou-se melhor ali, assim como tinha feito nos braços de seu marido anteriormente.

Os olhos azuis, comuns aos pequenos filhotes de lobo, encaravam o olhar gentil e amável que as íris castanhas da mulher carregavam. Ela o levou para perto da fogueira para que o animalzinho pudesse se aquecer. Suas mãos carregavam uma fita vermelha que carinhosamente Makawee passou pelo pescocinho peludo do lobinho. Ele tinha ganhado um colar.

— A cor vermelha é a cor dos lobos. — Disse ela após inclina-se um pouco para frente para encará-lo enquanto estava sentada sobre um tronco de madeira. — Está vendo aquela estrela muito brilhante ali? — A índia apontou para cima, para o céu estrelado.

E mesmo que os lobos não tivessem capacidade para seguir com o olhar na direção para onde é apontado, o lobo lembrava-se muito bem de ter seguido, com seus olhos pequenos e inocentes, para onde Makawee apontou.

— Ela também é vermelha. É a sua estrela, a estrela dos lobos.

Os Yankton não sabiam, mas tal estrela indicada era a estrela Sírius, a estrela mais brilhante no céu do norte. A mulher voltou seu olhar para a pequena criatura.

— Sua chegada aqui é um sinal. Um sinal de que coisas novas e boas estão pôr vir. — O lobo olhou para ela mais uma vez. A índia o pegou para colocá-lo sobre o seu colo e tirá-lo do chão coberto de neve. — Coisas novas e boas estão pôr vir, Dakota.

Foi nesse dia que ele ouviu pela primeira vez seu nome.

Dakota.

Coisas boas e novas estavam pôr vir. Makawee estava certa. Muitas coisas boas e novas aconteceram nos anos que se sucederam.

A colheita abundante nas plantações de milho foi uma delas. Dakota memorava-se bem o tempo que passava ao lado de sua humana entre os campos de milho da tribo. A mulher sempre tinha um sorriso no rosto e não era diferente quando trabalhava na colheita do alimento de maior relevância na agricultura de seu povo. Ela nunca se importou que seu lobo a acompanha-se em tal atividade. Vez ou outra a nativa depositava carinhos sobre a cabeça ou pelo torso dele e até conversava com Dakota enquanto desempenhava a atividade.

Quando não estava com a índia, o lobo acompanhava Hantaywee e os demais índios da tribo nas caçadas. A caça era focada em animais de grande porte como búfalos e bisões. Tal atividade exigia grande preparação e muitas vezes eram necessárias as participações de todos os homens da aldeia.

— Vamos meu descobridor de trilhas. Vamos trazer alimento para nossa família. — Era isso que o índio guerreiro dizia para Dakota em todas as caçadas que ele participava. Era desse modo que seu amigo o chamava.

Descobridor de trilhas.

Os nativos sempre admiraram a determinação e bravura do lobo ao caçar. O modo como o animal se movia pela paisagem enquanto desempenhava tal coisa. Para eles o lobo poderia ser um grande professor.

E Dakota fazia jus ao que os Yankton acreditavam. O lupino podia correr grandes distâncias com facilidade e seus sentidos apurados colaboravam ainda mais para o sucesso da caça.

Era fato que um lobo solitário não era capaz de derrubar um bisão ou um búfalo, mas ele não estava sozinho. Os guerreiros de sua aldeia estavam com ele. Juntos, homem e lobo conseguiam derrubar sua presa.

Dakota ainda tinha registrado em seu faro o cheiro da carne que lhe era dada quando ele, Hantaywee e os demais índios regressavam para sua tribo. O lobo podia saborear o gosto de mais uma vitória enquanto os demais também faziam tal coisa.

— Aproveite meu amigo. Você fez um bom trabalho hoje. — Dizia seu índio todas as vezes que lhe entregava a porção do alimento que era dividido para todos os familiares dos participantes da caçada.

Após comer, o lobo sempre recebia carinhos de Makawee. O animal repousava sua cabeça sobre as pernas da mulher para receber os leves toques das mãos macias de sua humana. Hantaywee tinha o costume de sentar ao lado dela e Dakota sabia que em poucos minutos a índia contaria mais uma das histórias que ocorreram no passado, antes dele passar a viver na aldeia.

— Sabe meu querido Dakota, um tempo atrás nós não tínhamos cavalos como aqueles. — Ela apontou para os animais localizados mais ao longe. Os cavalos pastavam calmamente, recuperando-se da longa jornada feita. Atento como sempre foi, o lobo sempre olhava para onde a índia indicava.  — Nós sempre precisávamos sair atrás de nossa caça, todos nós, toda aldeia. Os búfalos e bisões andam muito e tínhamos que segui-los. Mas aí o homem branco apareceu e trouxe os cavalos com eles. Nós aprendemos a criá-los e com a ajuda deles podemos esperar que nossos guerreiros  nos tragam comida para nossa aldeia. Não precisamos mais andar tanto.

O lobo quase sempre levantava a cabeça para encarar Makawee.  Dakota lembrava que em certas noites, os cabelos da índia eram deixados livres e seus fios castanhos dançavam ao sabor do vento. E assim como ele, o marido da bela índia também ouvia atento ás suas narrativas e admirava a beleza natural da esposa.

— Lembre-se Dakota, temos que ser gratos ao Grande Espírito por nos dar o que temos. Devemos respeitar os outros seres, pois todos nós estamos ligados um ao outro. Veja. — Assim como todas as vezes que fazia em seus relatos, Makawee apontou para a aldeia. — Nós usamos o couro de nossas caças para fazer nossas tendas. Os ossos servem como armas para os guerreiros e a carne nos serve como sustento. Esses animais são importantes para nossa sobrevivência, temos que ser gratos a eles e respeitá-los.

O riso curto que Hantaywee quase sempre dava após as palavras da esposa ainda ecoava nos ouvidos do canídeo. A risada breve dele não significava deboche ou algo semelhante. Ele achava um tanto interessante o fato de Dakota manter-se tão atento as palavras de sua esposa. Makawee fazia questão de contar para seu lobo tudo o que sabia sobre seu povo.

Seu marido sabia que era desejo da índia ter um filho algum dia. Talvez por isso ela tratasse Dakota daquele jeito. Ele era como um filho para ela e Makawee o amava como se o lobo realmente fosse sua criança.

Após passarem seu tempo admirando as chamas dançantes da fogueira, o lobo do casal de nativos e eles se dirigiam para a tenda para dormir. Desde que chegou á aldeia, Dakota presenciava os gestos de carinho que seus humanos tinham um para com outro. Esse carinho era estendido para ele. Dakota podia sentir a felicidade e o amor que existia entre os dois.

O animal recordava-se de um final de tarde onde Makawee e ele apreciavam o pôr do sol sobre a grande planície á sua frente. A brisa fresca pairava ali, entre a natureza. A mulher tinha acabado de trocar a fita vermelha localizada no pescoço de seu lobo, a anterior já estava um tanto quanto pequena. Passando os dedos sobre o pelo macio de Dakota, a jovem índia deixou que seus olhos repousassem sobre as íris amarelo-ouro do lobo. Ele tinha crescido e a coloração dos olhos havia mudado.

E mais uma vez, o sorriso amável e singelo que o lobo guardava na memória, apareceu.

— O Grande Espírito criou você com perfeição, meu Dakota. Assim como ele fez com todos os seres. Sou grata por ter você. — O animal aproximava-se da mulher de maneira carinhosa e Dakota adorava o riso dela quando a índia o abraçava.

As coisas estavam indo bem. A felicidade pairava sobre a aldeia e o lobo se sentia feliz.

No entanto, não são somente as memórias boas que perduram. E o lupino possuía lembranças bem ruins também. Lembranças ruins que tiveram suas origens em um dia quente e sem nuvens presentes no céu.

Os colonizadores brancos começaram a mover-se mais para o oeste, no território dos Yankton e das outras tribos dos índios Sioux. Os nativos sempre lutaram bravamente por anos para deter as invasões de suas terras e afastar ao máximo a influência do homem branco em sua cultura.

Foi então, que naquele dia, a matança ocorreu.

As tropas americanas atacaram, matando um grande número de nativos. As lembranças daquele dia ainda estavam frescas na mente do lobo. A imagem dele atacando os inimigos da maneira mais feroz que podia enquanto Hantaywee, juntamente com os demais guerreiros, lutava bravamente para defender sua terra estava bem gravada em sua memória.

Porém, por mais bravos e valentes que eles fossem, os colonizadores possuíam as vantagens de ter armas de fogo e está em maior número. O lobo cinzento recordava-se com clareza o momento em que seu amigo foi atingido em cheio no peito. O animal correu o mais rápido que pôde naquele instante para alcançar o homem caído.

O índio sangrava e arfava muito. Dakota movia-se inquieto sem saber o que fazer naquele momento.

— Está tudo bem, bravo amigo. — Disse o índio arquejando devido á dor. — Está tudo bem, Dakota. Mantenha-se com bravura. — Hantaywee esticou sua mão para acariciar o lobo, um modo de consolá-lo para o que estava por vir. O animal ainda sem saber o que fazer lambeu a mão do amigo em um gesto de carinho. O índio lançou um ultimo sorriso para ele antes que seus dedos parassem de tocar os pelos de seu amigo e sua mão caísse no chão.

O coração do lobo apertou e Dakota passou a sentir uma dor imensa dentro de si. Porém, não houve tempo para lamentar. Não demorou muito para que os gritos das índias da aldeia ecoassem em meio ao barulho dos disparos e demais sons provocados pelo ataque. Os instintos do lobo entraram em alerta.

Ele foi atrás de Makawee.

Correndo velozmente, o lupino somente parou quando avistou sua humana. A índia estava sentada no chão, encostada em uma das tendas. Sua mão esquerda sobre um profundo ferimento na barriga.

— Dakota. — Sussurrou a mulher quando o viu, estendendo a mão em sua direção. O lobo se aproximou de forma rápida. E assim como aconteceu com Hantaywee, ele não soube como proceder ali.  — Tudo bem, meu querido. — Disse ela com a voz fraca.

A índia levou as duas mãos até a cabeça de seu lobo para acariciar a região. Seus olhos encontraram-se com os dele.

— Meu lindo Dakota. — Makawee o abraçou após mais alguns segundos de carinhos e olhares amorosos e consoladores. O lobo repousou sua cabeça sobre o ombro de sua humana, sentindo seu calor. Por breves momentos, Dakota se esqueceu que o caos e a matança os rodeavam.

Foi então que o calor emanado do corpo da índia aos poucos foi embora. As mãos suaves e macias dela não mais estavam sobre suas costas e quando ele voltou seu olhar para ela, viu que a vida presente na sua querida Makawee tinha se esvaído.

Outro aperto em seu coração. A dor e a tristeza tornaram-se mais fortes e profundas, tomando conta de seu ser.  

Dakota nunca pensou que os homens brancos presentes nas histórias de Makawee fossem tão maus. Ou talvez sua humana o tivesse poupado dessa parte.

O ataque continuou, resultando em mais mortes. O lobo não possuiu mais forças para lutar e defender sua aldeia e tudo o que ele fez foi encarar o corpo sem vida de sua Makawee.

— Dakota! Dakota!

O lupino só saiu daquela posição quando o amigo do seu humano, o mesmo que estava com Hantaywee no dia que ele o achou ainda filhote, o chamou diversas vezes.

— Venha! — Dakota ainda podia descrever, se conseguisse fazer isso na língua dos humanos, a expressão urgente, preocupada e tensa do índio quando o homem gesticulou para que o lobo o seguisse assim como os demais nativos que ainda estavam vivos estavam fazendo.

Os Yankton sabiam que não sobreviveriam se permanecessem ali, se continuassem resistindo. Eles precisavam sair.

E foi o que fizeram. E infelizmente, os homens brancos venceram.

O lobo cinzento ainda não conseguia compreender por que tal coisa aconteceu. E essa dúvida estava com ele quando os remanescentes da matança seguiram caminho até se refugiarem em uma parte mais ao sul.

Dakota viu os rostos desamparados, tristes e cansados dos índios de sua aldeia enquanto eles procuravam se estabelecer naquela área. Alguns nativos até lhe lançaram olhares compassivos ao notar a expressão perdida do lobo. Eles sabiam o quanto aquele animal também havia perdido.

De início Dakota permaneceu confuso e até um pouco esperançoso. Talvez seus humanos pudessem aparecer em algum momento. Talvez eles só estivessem machucados e o curandeiro da aldeia os ajudaria. Seu Hantaywee e sua Makawee voltariam para ele.

Isso não aconteceu.

 A dor dentro do peito lupino dele só aumentou. Dakota nunca tinha experimentado um sentimento tão forte e negativo assim. Nem mesmo quando estava vagando sem rumo pela neve quando era filhote.

O animal memorou o fato de que o amigo do seu humano, compadecido com ele, lavou os pelos brancos sujos de sangue presentes no peito de Dakota.

— Vamos tirar isso. — Comentou o índio enquanto o lobo mantinha seus olhos sobre ele.

Dakota tinha se sujado de sangue quando foi abraçado por Makawee. Sua Makawee. Ele não a veria nunca mais? E quanto ao seu amigo de caça? O humano que o tirou da neve e do frio quando ainda era somente um filhote, ele nunca mais ouviria ele o chamar de Descobridor de trilhas?

Seu coração de lobo pesou. De alguma forma ele sabia as respostas para tais perguntas.

O índio terminou de limpar o lobo e passou a encará-lo quando ouviu seus choros. Dakota tinha um olhar triste e sua cabeça estava cabisbaixa.

— Eu sei. Eu sei. — O nativo compartilhava da dor. Ambos tinham perdido seus amigos. Ele o entendia.

O homem acariciou o pobre lobo. Os dois tristes. Dakota ainda chorando do jeito que os lobos choram.

O mesmo choro perdurava até aquele momento. Seus olhos amarelo-ouro ainda encarando os túmulos singelos do casal que tanto o amou.

Os sobreviventes do ataque não podiam deixar que seus mortos não tivessem um enterro apropriado. Foi então que, quando a situação se acalmou, os colonos permitiram que os corpos dos índios mortos fossem retirados dali para um enterro conforme a cultura dos Sioux ordenava.

Dakota presenciou quando seus humanos foram sepultados. Foi muito difícil e confuso para ele entender que tinha acontecido com Hantaywee e Makawee. Eles não falavam mais, não sorriam e seus olhos estavam fechados. Foi então que, com certo tempo, o lobo compreendeu a verdade.

Eles se foram.

Desde aquele dia, Dakota passava horas deitado em frente às sepulturas do casal. Ao longe, o índio que havia o consolado no dia que tudo ocorreu, observava o animal. O lobo ainda vivia com os que tinham sobrevivido ao ataque. Todos conheciam Dakota e passaram a cuidar dele depois do ocorrido. E apesar de ser grato por tal coisa, ele ainda sentia a infelicidade dentro de si.

Ainda sentia solidão e tristeza.

O lupino se senta. Seu choro ainda presente. O vento permanecia frio e com a mesma intensidade, balançando a grama verde e os pelos cinzentos dele. Dakota relembra uma das falas de Makawee ditas por ela durante uma das noites onde ela contava sobre as histórias de seu povo.

“Nós nos emocionamos muito com seus uivos, Dakota.” Disse ela.

Ele lembrou-se de Hantaywee concordando com a afirmativa com gestos positivos de cabeça.

Como de costume, a mulher acariciou sua cabeça peluda naquele dia.

“Nós acreditamos que os lobos podem conversar com o mundo espiritual através do uivo.”

Ela olhou para ele. O amor dela presente em seus olhos.

“Você pode fazer isso, meu lindo Dakota. Pode se comunicar com o mundo espiritual. Você é especial, sempre foi.”

“Nós contemplamos seu uivo.” Disse seu amigo, o que fez o lobo lançar seus olhos atentos para Hantaywee por alguns segundos antes de voltar-se para sua humana.

“Sim. Seu uivo é uma canção para nossos ouvidos.”

Makawee também contava sobre como tudo que existia possuía um espírito, sobre a existência de espíritos subaquáticos que controlavam os animais e as plantas, sobre os Thunderbirds que habitavam o céu e eram os espíritos mais poderosos, exceto para o Grande Espírito, que era a força suprema.

Dakota confiava e acreditava nas palavras dos dois. E á maneira dos lobos, ele compreendia.

Seus humanos apreciavam seu uivo. Emocionavam-se com ele. Um lobo poderia se comunicar com o mundo dos espíritos através de um uivo. Talvez Dakota devesse tentar. Talvez seus Hantaywee e Makawee pudessem o ouvir de onde eles estivessem agora.

Pensando nisso, o animal eleva sua cabeça. E com todas as forças que tinha, uiva o mais alto que pode. Um uivo saudoso, carregado de tristeza e dor.

Uma canção de um lobo solitário.


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Notas finais do capítulo

❋Pontos importantes para serem esclarecidos❋


*Os Crow era os inimigos mais tradicionais dos índios Sioux.

*Jerky era feito a partir da secagem da carne de búfalo. Primeiro, eles martelavam e trituravam a carne. Em seguida acrescentavam gordura animal e deixavam secar. Se bem feito, o jerky poderia ter uma validade de até dois anos! Isso fazia com que esse alimento fosse armazenado. O jerky era portátil, o que permitia que os caçadores o levassem com eles.

*O Grande Espírito era a força suprema, o espírito mais poderoso de todos.

*Yankton - Uma das tribos pertencentes ao grupo índios chamado Sioux.

*Sírus - Estrela mais brilhante do céu do norte. Ela é vermelha, uma cor realmente é associada ao lobo pelos nativos.

*Dakota - Nome de origem indígena que significa “amigo (a)”, "amigável”, “aliado (a)”. Achei que o nome combinaria com o querido lobo da fic e eu realmente gostei do nome.

*Hantaywee - Nome de origem Sioux que significa "fiel"

*Makawee - Também de origem Sioux que significa "materno", "da mãe"

*Os lobos são um dos animais sagrados para os nativos americanos. Eles são considerados como professores, "descobridores de trilhas". Os índios respeitam a bravura do lobo como caçador e sua determinação. Os nativos acreditavam que os lobos podiam se comunicar com o mundo espiritual através do uivo.

*Thunderbirds - espíritos poderosos que habitavam os céus de acordo com a cultura Sioux.

Eu sempre achei a cultura nativo americana interessante. Foi muito legal pesquisar mais sobre os Sioux, seus costumes e colocar alguns deles na fic. O texto foi revisado antes de ser postado, mas qualquer erro de português ou de outro tipo, podem informar. Muito obrigada por lerem esta one-shot. Espero que tenham gostado. Abraços, Lili ♥



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