Não escrita por isa


Capítulo 1
Bússola


Notas iniciais do capítulo

Outubro costumava ser meu mês preferido no nyah por conta do desafio de drabbles. Infelizmente, esse ano, não consegui produzir nada. No dia de hoje, pra liberar o grito preso na minha garganta, decidi escrever essa pequena oneshot. O ato de escrever e de ler sempre foram, para mim, manifestações de liberdade. Mais do que nunca, uso minha paixão para me posicionar sobre o mundo e, não por acaso, me sinto aliviada.
Espero poder causar o mesmo efeito em quem ler.
(E, se por acaso, alguém se incomodar com as implicações desse pequeno manifesto, sinta-se a vontade para conversar comigo ♥)

Boa leitura!



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Voldemort. Parecia uma brincadeira de mal gosto. Andromeda tinha quase certeza que havia começado assim: como uma dessas histórias que se contam para impressionar crianças. Um personagem megalomaníaco, sussurrado de boca em boca, até se tornar uma sombra grande demais para ser ignorada. Dali para o fato de que ela e quase ninguém de seu convivo podia lidar hoje com o seu nome – ainda que mentalmente – sem sentir o gosto ruim na boca, tinha, obviamente um salto temporal enorme, e, ainda assim, acontecera. Um bicho papão personificado aos moldes de cada detalhe de preconceito perpetrado dentro da sociedade bruxa. O homem que usava o medo e o ressentimento dentro de cada um como arma de manipulação.

O homem que tinha a admiração eterna de sua irmã mais velha e o apoio silencioso de sua família.

Ela sabia porque a verdade é que não havia como não saber, ainda que eles já não se falassem há anos. Ainda que ela tivesse sido queimada da tapeçaria genealógica dos mui honoráveis Black no instante mesmo em que decidira se mudar com Ted, apenas horas depois de sua formatura em Hogwarts. Ela sabia porque ela conhecia cada um de seus parentes e os valores que eles haviam tentado, sem muito sucesso, costurar nela nas entrelinhas.

Andromeda sabia porque sabia. E nem por isso doía menos. Nem por isso ela conseguia dormir a noite, assustada com a ameaça invisível e imanente daquele que não devia ser nomeado. Ela resistia— e isso ela faria sempre – encontrando pequenas alegrias diárias na vida que ela construíra para si. Ao longo dos anos, ela sofreria muitos golpes – físicos e, principalmente, psicológicos – e sobreviveria a todos. Mas, por algum motivo, aquele, que parecia o primeiro, aquele que sofrera naquele exato instante, numa noite sem grandes peculiaridades, exceto pela visita incomum da única pessoa de seu núcleo familiar mais intimo com quem mantinha um estranho e raríssimo contato e que acabara por confirmar todas as suas suspeitas, sempre lhe voltaria a mente com uma nitidez impressionante, como uma assombração:

Não começava com a briga horrorosa que precedera. Mas sim com Narcisa já na porta. No rosto bonito, uma confusão de ignorância, ingenuidade e petulância. Havia um pedido último, uma urgência, uma vontade de apoio. E havia em Andromeda, para além da frustração, uma imensa vontade de acolher sua irmã mais nova. Mas o abismo já estava criado, e não por sua vontade. Não era mais sobre perspectivas diferentes, era sobre um projeto inteiro de sociedade baseado em intolerância e ódio com o qual ela não podia compactuar. Por isso, foi com o coração doendo que ela se negou a cruzar aquele limite moral.

— Ele não. – Foi tudo que conseguiu murmurar, antes de Narcisa aparatar. Era a ultima vez que elas se veriam por livre vontade.  Andromeda permaneceu na porta por muito tempo, as mãos tremulas no batente gasto da casa pequena onde compartilhava a vida com Edward. Ela continuaria amando a irmã pelo tempo de vida que lhe coubesse. Assim como continuaria amando e lutando por uma sociedade bruxa mais justa. Se, na superfície, o contexto fizesse com que ambas as coisas parecessem diametralmente opostas, em seu coração elas jamais seriam.

No fim, ter o amor como bussola moral era o que lhe salvaria em tempos sombrios ou não.


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