Broken escrita por Robin Kep


Capítulo 2
Capítulo 2




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Darcy tocou a campainha de sua antiga residência assim que o sol se pôs. Ele sabia que Elisabeta quase não dormia quando os negócios em seu jornal iam mal. O homem não tinha certeza sobre quais eram as suas perturbações, mas independente do que havia acontecido, desejava que as coisas fossem colocadas nos eixos com rapidez. Sua ex mulher era apaixonada pelo que fazia.

Darcy pigarreou ao tocar no objeto pela segunda vez, era incômodo ter que pedir permissão para entrar naquela enorme mansão que ele mesmo comprara em conjunto com Elisabeta. O mais desconfortável não era nem se sentir um estranho ali, era começar a se sentir indesejado em seu antigo local de conforto.

O homem não esperou muito mais para ser atendido, Elisabeta logo se colocou em sua frente assim que a porta se abriu.

— Bom dia. - Ela disse em um tom monótono. Não esboçou nenhuma expressão.

— Bom dia. - Darcy tinha o rosto fechado.

Elisabeta deu espaço para Darcy entrar na casa, ele o fez.

— Bom… - Elisabeta voltou a falar. - Tom ainda está dormindo. Eu deixei tudo pronto para ele comer, é só esquentar. - Ela o encarou. - Não quero que o leve a restaurantes, ele está melhor, mas, como o Doutor Henrique colocou, ele ainda precisa se fortalecer. Comida caseira é sempre melhor que em qualquer lugar.

— Bem pontuado. - Ele concordou. - Mas você tem consciência que eu sei cuidar de meu filho, como sempre o fiz. Não preciso de ordens.

Elisabeta respirou fundo. Era inacreditável a capacidade de não conseguir manter cinco segundos de conversa com Darcy sem ter que buscar todo o ar do ambiente.

— Eu vou ignorar seu comentário. - Darcy revirou os olhos. Essa era a expressão que mais aparecia em seu rosto quando conversava com a ex. - Agora eu tenho que ir.

— Sei cuidar de nós. - Ele se referia a Tom.

— Espero que não seja da mesma forma que cuidou de mim. - Ela sentenciou antes de sair e bater a porta com uma força maior que o normal.

Darcy puxou o ar profundamente, sentando-se no sofá e deixando as costas relaxarem naquele móvel que ele escolheu há alguns anos.

Ele encarou a grande sala com pesar, todo aquele local havia sido decorado por ele. Elisabeta sempre dizia que não sabia fazer esse tipo de coisa e ele tinha um gosto muito mais refinado que o dela, que nascera em uma família sem muitas posses. Ela não tinha o olho tão bem apurado.

Mas, apesar da insistência de Darcy, ele logo entendeu que ela falava sério em relação a isso, então tentou colocar todos os ambientes que eles morariam com uma identidade que pertencessem a ambos.

A maioria dos móveis da sala eram escuros, da cor marrom. Era uma representação da tradicionalidade da personalidade conservadora de Darcy. Mas, em contraponto, os estofados e a decoração dos objetos tinham a cor vermelha. A cor representava a Elisabeta por completo, além de ser a tonalidade da maioria dos seus vestidos, vermelho também é uma cor viva, quente. É a cor do espírito revolucionário, da rebeldia, da paixão, desejo. É a cor do pecado.

Elisabeta sempre fora um pecado pra ele. Ele se lembra do quanto havia resistido quando a conheceu, ele estava destinado a outra. Seu casamento era dali há 2 meses.

Encontrou Elisabeta no Vale do Café, quando os negócios da família se expandiram para o local. Ela era a melhor amiga de sua prima Ema Cavalcante Williamson.

Seria clichê dizer que fora amor à primeira vista, mas sua relação com Elisa fora um grande clichê.

Logo que conheceu seus olhos, ele adentrou-a.

Não entendeu como aquilo havia acontecido, mas não conseguiu não dizer o quão bonito era o tom dos seus olhos quando disse a primeira frase a mulher que entrou no quarto de sua prima como um furacão.

Ele costumava dizer que Elisabeta era, realmente, um furacão que adentrou a sua vida.

Não demorou muito para o primeiro beijo, que aconteceu um dia após a primeira visão. Também não demorou muito para a primeira vez, que aconteceu duas semanas depois do primeiro beijo.

Eles eram urgentes. E juntos eram a melhor combinação do mundo.

Darcy se tornou impulsivo depois de sua dama vermelha, tão impulsivo, que depois da primeira vez juntos, tomou a atitude de mandar um telegrama ao pai dispensando o seu casamento arranjado e informando o seu novo casamento com Elisabeta Benedito.

E ela aceitou de pronto.

Elisabeta quase o engasgou de beijos quando ele a pediu em casamento na frente de seus pais, que tomaram um susto com a decisão inusitada da filha que proferia a todos ali que não tinha anseios de casamento. A cerimônia foi o segundo melhor dia de sua vida, ficando atrás do nascimento de seu filho.

Darcy não deixava de se perguntar, todos os dias ao acordar, quando tudo havia virado pó.

Os primeiros anos de casamento com Elisabeta foram tão bonitos que ele nem gostava de descrever, ele nunca conseguiria ser fiel às palavras que sairiam de sua boca.

Eles eram amor, companheirismo, desejo e luta.

Elisabeta nunca quis o dinheiro de Darcy e, com o talento na escrita, logo conseguiu uma ascensão estrondosa na cidade de São Paulo.

A casa havia sido comprada pelos dois quando Elisabeta se estabeleceu em um grande Jornal da região, as prestações pelo imóvel foram quitadas alguns anos depois. Ele achava admirável a força de sua mulher.

E a admiração só aumentou quando Elisabeta lhe dera o primeiro filho. A gravidez não fora tardia, a descoberta se fez logo depois do casamento. Eles desconfiavam fortemente que Darcy a engravidou na primeira vez em que ficaram juntos. E Thomas nasceu como um presente bom que a vida lhes tinha agraciado.

Darcy balançou a cabeça negativamente, sem entender o rumo que se encontrava agora.

Eles tinha fogo, desejo, sexo. Muito sexo.

Não conseguiu evitar o frio que se alojou em suas entranhas quando a palavra atingiu seu cérebro.

Sexo.

Darcy e Elisabeta faziam sexo todos os dias e mais de uma vez por dia. Eles amavam a atividade e a desenvoltura que descobriram juntos. O casal fazia qualquer especialista em sexo ser considerado puritano em relação ao assunto. Quando o seu maior desejo cessou?

Será que a comodidade os invadiu? Será que a vida exaustiva e o trabalho os afundou?

Ele se lembra que eles começaram a ficar mais distante quando um dos sócios de suas empresas lhes roubou boa parte do dinheiro, eles descobriram os desvios por uma denúncia anônima de algum colaborador.

Darcy se afundou no trabalho, com o intuito de salvar a empresa. Ele admite que ficou mais distância de Elisabeta naquela época, mas não poderia se distrair quando o seu futuro e de sua família pareciam escorrer pelos seus dedos.

Briana apareceu como uma solução em sua vida. Ela é uma economista, uma das melhores do país. Darcy a conheceu em uma de suas idas ao banco para negociação de algumas dívidas da empresa.

Briana se solidarizou com as angústias de Darcy em relação a empresa e ofereceu um auxílio técnico para a situação.

Como mágica, ela conseguiu um empréstimo com juros consideráveis e replanejou todo o aparato econômico das empresas Williamson. Não demorou muito para ela, que cansada da vida bancária, aceitasse um cargo de confiança na empresa.

Com o tempo, Briana virou uma grande amiga para Darcy. Juntos reconstruíram a empresa, e juntos colocaram-na em um patamar acima do que estava anteriormente.

Elisabeta não entendeu essa proximidade.

Ela sabia do acordo financeiro, da situação empresarial e ficara satisfeita com o trabalho de Briana, mas constantemente reclamava da proximidade - dita exagerada - que tinha com a mulher.

Ele conseguiu entendê-la, já que por todo um ano, passou mais tempo com Briana que com Elisabeta. A desconfiança era palpável.

Mas ele nunca tocou em Briana. Nunca sequer teve vontade para tal, mesmo que a amiga demonstrasse por vezes um carinho maior do que o amigável. Elisabeta não era de todo errada.

Darcy se arrependia todos os dias do muro que criara com Elisabeta, Darcy se arrependia todos os dias de ter deixado o amor de lado por dinheiro, de ter deixado de saciá-la por mais de um ano, enquanto tinha encontros - mesmo que de forma não-romântica - com outra mulher.

Ele engoliu em seco enquanto levantava do sofá. Sabia que o filho estava dormindo e o ar mórbido daquele local já começava a sufocá-lo. Ele se encaminhou ao escritório de Elisabeta.

Darcy sorriu ao entrar na grande sala, que tinha todo o ar imponente de sua Elisa. A sala era coberta de livros e folhas de papel. Elisabeta era um livro aberto e bonito de ser explorado.

Ele sabia que era invasivo, mas não conseguiu evitar folhear aqueles escritos.

No primeiro, encontrou um texto que provavelmente havia sido publicado em seu jornal, era sobre a situação de trabalho das mulheres. A segunda folha, já tinha um conteúdo romântico, era sobre um casal que se apaixonou dentro da enfermaria durante a Segunda Guerra Mundial. Era triste, e lindo.

A terceira carta o surpreendeu, estava embaixo deste conto. Parecia mais um bilhete que uma matéria. Ela dizia:

“Algumas palavras são como canivetes. Cortam. Cortam. E dilaceram. 

Algumas cartas são como monstros que se escondem em um papel pálido, mas possuem laterais que cortam. Cortam. Cortam. E dilaceram.

Não duvide da capacidade de cartas e palavras sangrar seu sangue.

Elas trairam sua amante.

Vermelho,

Cartas,

e Palavras.

Eu.”

Darcy olhou confuso para aquele trecho. Elisabeta falava dela, de seu vermelho, de suas cartas, de suas palavras. Ela não olhava para o seus três itens preferidos com encantamento que sempre teve. Aquele trecho os desprezavam. Era como se alguém houvesse roubado sua identidade.

Elisabeta Benedito sangrou.

Não conseguiu pensar profundamente sobre o valor que aquilo queria passar e nem sobre o que aquele papel poderia dizer, já que a próxima folha reconhecível atrás do bilhete pareceu lhe dar a resposta da pergunta que ele sequer havia formulado.

Ele encontrou os papéis do divórcio enviados para Elisabeta.

E só havia uma assinatura.

O campo de Elisabeta estava em branco.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo é pra ela. ♥



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