Contratos escrita por Ju Do


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem a leitura! =D



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Era uma noite muito escura, e ventava. A moça andava apressada pela rua vazia, olhando para os lados para se certificar de que não estava sendo seguida. Quando achou a entrada, andou para dentro do beco.

Ela piscou no escuro. As luzes do beco onde estava haviam acabado de se apagar com um estalo. Um vento súbito entrou da rua, uivando. As luzes piscaram levemente, e então, um metro à sua frente, ela viu o vulto parado, vestido em roupas pretas, claramente encarando-a. Viu isso em um relance, antes de tudo ser mergulhado novamente em breu.

Carol suspirou, irritada, e soprou uma franja de cabelos ruivos da frente do rosto. Ouvira falar que todas as bruxas tinham uma queda para o dramático, e agora estava constatando isso ao vivo.

— O que você deseja? - veio o sussurro rouco em meio à escuridão.

— Pelo amor de Deus... - Carol murmurou para si mesma, exasperada, antes de levantar a voz e responder. - Você sabe o que eu desejo, nós marcamos de nos encontrar aqui, lembra?

O vulto ficou em silêncio, mas a garota sentiu a irritação emanando da escuridão. Aparentemente, a mulher não estava muito feliz em ter seu teatro dramático interrompido.

— Muito bem, - a voz tentou mais uma vez reproduzir o sussurro rouco, ação arruinada pelo tom de irritação que a fazia parecer uma criança cujo truque de mágica foi descoberto. - se você está tão impaciente. Só devo advertir que, em contratos mágicos, os impulsivos e impacientes sempre encontram o pior destino.

Carol revirou os olhos, mas se absteve de fazer qualquer comentário. Era melhor deixar a bruxa levar adiante sua fantasia de mistério, se era aquilo que ela desejava. Para a garota, só importava o resultado.

Ela deu alguns passos decididos no escuro antes de trombar com alguém.

— O que você está fazendo?! - a voz sibilou, não mais rouca e misteriosa, mas surpresa e irritada; parecia surpreendentemente a voz de uma mulher jovem.

— Eu estou tentando chegar perto de você.

— Para quê?

— Eu sei lá, nós não tínhamos que negociar um contrato ou algo assim? Como vou fazer isso a cinco metros de distância? E além do mais, no escuro? - uma suspeita começou a tomar forma na sua cabeça. - Você ao menos pensou nisso direito antes de marcar esse encontro aqui? Ao menos sabe o que está fazendo? Você disse que já tinha feito isso antes.

— Já fiz, droga! Não importa o que digam... - a voz se calou subitamente, parecendo conter a custo a sua raiva. - Esqueça. Já fiz isso antes. Não importa, só vamos assinar logo a droga do contrato, tá bem?

— Apoiado! - Carol jogou os braços para o alto. Após alguns momentos de silêncio, ela acrescentou o óbvio. - Preciso de alguma luz para enxergar o contrato, se você quer que eu assine.

A pessoa na escuridão bufou e, após um barulho de tecido se remexendo, uma pequena chama apareceu com um estalo. Carol se aproximou e deu uma boa olhada.

A bruxa continha a chama na mão esquerda, mas o resto de seu corpo estava coberto por um sobretudo preto. Ela tentou se aproximar para enxergar o rosto escondido nas sombras do capuz, mas a figura recuou, sibilando, rouca e teatral novamente:

— Aqui está o contrato.

Na mão direita ela segurava um pedaço de pergaminho. Carol estendeu a mão e trouxe para perto do rosto para ler.

Ele estava cheio de cláusulas de um contrato, todas escritas numa letra cursiva tão uniforme que só poderia ter sido produzida por um programa de texto e impressa. Ela tentou ler com calma, mas a maioria das frases estava em um juridiquês incompreensível. Com a sensação crescente de que estava se metendo em algo muito sério, sobre o qual não tinha a menor ideia, ela escaneou o documento à procura de termos óbvios que conseguisse entender. Não havia nada indicando a venda de sua alma imortal ou sua transformação em algum tipo de animal, o que ela supunha que era bom. E, lá no fim, estavam as palavras que ela queria. “Cura da enfermidade... neoplasia maligna diagnosticada na data... em troca a contratante promete o(a) filho(a) primogênito(a)....” Era isso.

— Onde eu assino? - ela murmurou, subitamente sentindo o peso do que estava prestes a fazer e decidindo fazê-lo antes que tivesse tempo de pensar e perder a coragem.

Sem uma palavra, a bruxa apontou, com uma mão enluvada, uma linha no fim da página e, depois, forneceu uma caneta vermelha vazia.

Carol respirou fundo...

— Espere! - a bruxa exclamou, assustando-a.

— O quê?!

— Ah... só um... - ela pigarreou e voltou a falar no tom misterioso e rouco. - Só um aviso. A caneta beberá do seu sangue para escrever.

Carol a encarou por alguns segundos.

— Bem. - ela voltou os olhos para o contrato. - Obrigada pelo aviso, eu acho.

E então ela assinou o próprio nome com sangue. Na sua cabeça, a coisa parecia bem mais dramática, mas na vida real, era apenas como se ela tivesse escrito com o que parecia ser tinta vermelha de aspecto bem comum.

Quando ela terminou, a bruxa puxou o pergaminho e verificou sua assinatura, antes de enrolá-lo e guardá-lo na capa.

— Está feito.

— Certo. - Carol retrucou, cansada daquilo. - Posso ir pra casa agora?

— Pode.

— E a doença do Pedro?

— Curada. Você tem a minha palavra. - a bruxa fechou o punho e tudo mergulhou na escuridão novamente. - Eu voltarei para coletar a criança quando for a hora.

— Ótimo. - ela retrucou de novo. Dessa vez, nada na escuridão a respondeu. Com u m suspiro e sentindo a consciência pesada, a moça saiu do beco, de volta à rua.

 

 

9 MESES DEPOIS

 

Carol estava colocando o molho pronto na macarronada quando as luzes se apagaram. Ela xingou. Aquela era uma péssima hora para faltar luz; Pedro chegaria a qualquer instante e ela estava aprontando um jantar romântico surpresa. Após pensar um pouco, ela se virou para a gaveta da cozinha e tateou em busca dos fósforos. Podia sempre fazer um jantar à luz de velas.

Após procurar um pouco, finalmente ela colocou algumas velas na mesinha da cozinha. Riscou um fósforo e a chama pequena iluminou um vulto de pé do outro lado da mesa.

Carol berrou e atirou a primeira coisa que viu no vulto; uma vela.

— AI! - a pessoa gritou, e a moça puxou uma faca da gaveta, partindo para cima do último lugar onde vira o vulto, o coração saltando no peito....

— PARE! PARE! - as luzes se acenderam de repente, cegando-a, e ela conseguiu enxergar vagamente um vulto preto caído no chão. - SOU EU, DROGA!

Seus olhos se acostumaram com a claridade e ela distinguiu uma figura sentada no carpete com a mão erguida para proteção. Ela estava envolta em um sobretudo preto estranhamente familiar.

— Você é a bruxa! - Carol reconheceu. Ela relaxou a mão na faca, mas não a baixou. - O que está fazendo aqui?

— O que você acha que estou fazendo aqui? - a bruxa resmungou, se levantando com dificuldade. - Eu vim pegar a criança que você me prometeu!

Carol a olhou, subitamente distraída. O capuz havia caído, e por baixo dele estava o rosto de uma garota mal-humorada que não podia ser muito mais velha do que ela própria. Furiosa, ela apontou para a jovem com a faca.

— Você é uma garota! - ela acusou. - É só uma garota! Você me disse que era uma bruxa experiente!

— Eu sou! - a moça protestou, ofendida. - Idade não é tudo, sabia?

— Você me enganou! - Carol a acusou novamente.

— Não enganei, não. - a jovem bruxa cruzou os braços. - Eu disse que tinha experiência, e é verdade. Não é minha culpa se a maioria de vocês só magina uma velha sebosa quando pensa em bruxas.

A garota observou, furiosa, a outra mexer distraidamente em um piercing no nariz. Não conseguia acreditar que contratara uma jovenzinha rebelde que gostava de brincar de mágica.

Entretanto, agora não havia jeito. E, afinal de contas, a doença de Pedro fora curada, então não havia nada do que reclamar. Respirando fundo, ela decidiu ignorar a bruxa e começou a recolher os pedaços da vela no carpete.

— Então? - a outra garota interrompeu o silêncio.

— O quê?! - Carol perguntou, sem se virar.

— A criança! A criança que você me prometeu.

A moça se virou para a bruxa, erguendo as sobrancelhas.

— Não tem criança.

As duas se entreolharam o queixo da bruxa lentamente caindo.

— O QUÊ?! - ela explodiu.

— Não tem...

— De jeito nenhum! - a bruxa interrompeu, procurando freneticamente no sobretudo até achar o contrato, abrindo-a na cara de Carol. - Olhe! Tem uma cláusula especialmente para isso, você não podia ter prometido a criança para mais ninguém! Não, não, eu não vou cair nessa novamente....

— Do que você está falando? - Carol afastou o contrato com a mão. - Eu não dei a criança para ninguém.

— Então onde ela está? - a bruxa pareceu confusa.

— Ela não está. - Carol suspirou, exasperada, jogando os pedaços da vela no lixo. Virou-se para dar de cara com a bruxa, que parecia ainda não entender. - Não tem criança. Eu ainda não tive um primogênito. Não dei a luz a criança nenhuma. Entendeu?

A bruxa a encarou por mais alguns segundos antes de relaxar.

— Ah. Aaaah! - ela suspirou, aliviada. - Então pra quando é?

— Quando é o quê?

— O nascimento. Para quando a criança está prevista?

— Não tem como prever isso. - Carol fez uma careta.

— Claro que tem! É só fazer o pré-natal, e eles te dão uma previsão de quantos meses faltam.

— O que? Não! - Carol apertou a base do nariz com os dedos. - Você não está entendendo. Não tem. Criança. Não tem. Previsão. Eu não estou grávida.

As duas se encararam.

— Mas... mas... - a bruxa balbuciou. - O quê? Por quê? Faz nove meses já!

— E daí?

— E daí o que você ficou fazendo esse tempo todo?

— Vivendo minha vida, ué. Pedro e eu andamos muito ocupados; esse tipo de coisa não tem sido prioridade.

— Mas... você me prometeu uma criança! Você não pode fazer isso comigo!

— Eu prometi meu primogênito sim. Mas não tinha prazo nenhum para ele ser “produzido”. Enquanto ele não existir, eu não tenho obrigação de entregar.

A bruxa puxou o contrato, furiosa, e o leu. Carol a deixou lá e voltou para a preparar o jantar. Quando ela se virou para a mesa com a travessa nas mãos, a bruxa estava bem na sua frente, lívida.

— Você me enganou.

— Eu não. Não é minha culpa se vocês só imaginam bebês instantâneos na hora que pensam nesses contratos. - ela sorriu secamente.

— Você me paga.

— Hum-hum. - Carol discordou. - Eu não descumpri nosso contrato. Não há nada de mal que você possa fazer comigo.

A bruxa grunhiu alguma coisa sobre contratar advogados.

— Não vou te deixar em paz até você me arranjar essa criança! - ela ameaçou.

— Fique à vontade. - Carol pousou a travessa de macarrão na mesa e sentou.

A bruxa estreitou os olhos para ela e, com um estalo, desapareceu. Carol suspirou.

— Bom! Isso foi mais tranquilo do que o esperado. - ela olhou ao redor. Franziu a testa. Pedro estava atrasado.

 

 

1 SEMANA DEPOIS

 

Carol estava lendo as contas de luz quando um estalo alto a assustou. Bem na sua frente, a bruxa a encarava de braços cruzados.

— Olá. - ela cumprimentou, e voltou a olhar para as contas.

— Alguma notícia nova sobre a criança?

— Sem criança. Eu e Pedro nem ao menos transamos essa semana.

A bruxa jogou os braços para cima.

— Mas que raios! Como você espera me arranjar uma criança assim?

A garota bebeu calmamente da xícara de café que estava na mesa. Estava ficando frio.

— Paciência. Não estou com a menor pressa.

A bruxa fez um som de raiva, apertando as mãos nos cabelos e, com um estalo, desapareceu.

 

 

2 SEMANAS DEPOIS...

 

O estalo assustou Carol. Ela estava no meio do banho, e gritou quando deu de cara com a bruxa em seu banheiro.

— PELO AMOR DE DEUS!

— Santa...! - a bruxa cobriu os olhos. - Eu não vi nada!!!

— O que está fazendo aqui?!!!

— Estou atrás da criança!

— Não tem criança! Me deixe tomar banho!

Com um estalo, a bruxa desapareceu.

 

1 SEMANA DEPOIS....

 

Um estalo alto.

— Alguma notícia...?

— Na-não. - Carol cantarolou.

Um grunhido de raiva.

Outro estalo.

 

 

2 SEMANAS DEPOIS...

 

PLEC!

— E aí? Alguma notícia de...

— Hum-hum.

Suspiro.

PLEC!

 

 

1 SEMANA DEPOIS...

 

— Dá pra a gente ao menos tentar entrar em acordo?

Carol suspirou. A bruxa havia aparecido novamente em seu apartamento, dessa vez enquanto ela tentava secar os cabelos com uma toalha, e agora estava perseguindo-a pelo lugar, tentando negociar, quase implorando.

— Olha, é sério... Esse negócio de conseguir o primogênito de alguém é super importante na comunidade bruxa, é tipo um rito de passagem, dá pra entender? Não vão me respeitar se eu não conseguir, então é bem importante pra mim, será que realmente não tem como você colaborar um pouquinho? Só pra me ajudar?

— Eu não vou ficar grávida do nada só pra te ajudar. Eu e Pedro já paramos de usar os métodos contraceptivos, então será que dá pra você relaxar e esperar acontecer naturalmente?

— Eu... argh... - a bruxa esfregou os olhos. - Por que eu nunca consigo fazer isso direito? Sabia que devia ter contratado um advogado pra redigir o contrato.

— Se meter em assuntos legais sem ajuda profissional é sempre uma furada. - Carol concordou distraidamente.

A bruxa a fuzilou com os olhos, mas Carol continuou indiferente.

Percebendo que não ia conseguir nada ali, a outra jovem bufou e, com um estalo, desapareceu.

 

 

1 MÊS DEPOIS....

 

Carol ouviu um estalo, mas nem ao menos se virou.

— E aí, algum sinal de.... O que raios aconteceu aqui? - a bruxa interrompeu a frase. Carol fungou e olhou para trás de seu sofá. A outra moça estava olhando, enojada, para o apartamento. As caixas de pizza vazias estavam começando a formar torres no lugar. Ignorando-a, Carol voltou a olhar para a TV e comeu mais uma colherada do pote de sorvete em seu colo.

A bruxa contornou o sofá, confusa, e parou na frente da TV com as mãos na cintura.

— O que raios está acontecendo?

Carol fungou e a ignorou. O silêncio reinou por mais alguns segundos.

— Tá, esqueça, então. Algum sinal da criança?

Aquilo foi demais. Carol largou a colher no pote de sorvete.

— Não! Não tem sinal da criança! - ela berrou. A bruxa recuou, assustada. - E nem vai ter! Aquele idiota acabou comigo!

Ela tentou se controlar e conter as lágrimas que estavam vindo.

— O... o quê?!

— Ele acabou comigo, droga!

— Não! - a bruxa protestou, colocando as mãos na cabeça. - Isso não pode ter acontecido!

— Eu sei! - Carol concordou. - Quase cinco anos de relacionamento e ele simplesmente vai embora assim! Depois de tudo que eu fiz por ele...

— Como você vai arranjar uma criança agora?! - a bruxa se lamentou.

— Quem se importa com isso?! - Carol explodiu, se encolhendo no sofá, absolutamente infeliz. - É só nisso que você consegue pensar?! Meu namorado foi embora!

E com aquilo, ela finalmente explodiu em lágrimas.

A bruxa a olhou em silêncio, horrorizada.

— N... Não, espera, calma.

— Eu nunca mais vou arranjar ninguém como ele!

— Não é bem assim, olhe... - a bruxa se aproximou e deu leves tapinhas cautelosos na sua cabeça, como se ela fosse um cachorro. Quando aquilo não fez com que a moça parasse de chorar, ela recuou e coçou a cabeça, olhando para os lados.

— Nunca mais vou namorar ninguém. O amor é uma merda! - Carol resmungou, enxugando o nariz.

— Você não pode...! - a bruxa pensou melhor e não completou a frase. - Olhe, não é bem assim, isso... Isso vai passar, você vai amar de novo e...

Ela suspirou. Olhou ao redor por alguns segundos e então de novo para a garota chorosa na sua frente.

— Qual foi a última coisa que você comeu?

Carol fungou.

— P... Pizza? Ontem à noite?

A bruxa suspirou e se dirigiu à cozinha. Ela afastou algumas embalagens de fast-food e procurou até achar a chaleira, que encheu de água e colocou no fogo. Depois, pegou algumas folhas de dentro de seu sobretudo e as colocou na água.

Por um bom tempo, Carol a ignorou e voltou a assistir ao filme triste que estava passando na TV. Quando finalmente ela começou a estender a mão novamente para o pote de sorvete já meio derretido, a mão da bruxa a impediu, segurando o seu pulso.

— Pare de comer porcaria. - ela estendeu uma xícara de chá quente. - Tome.

— Não gosto muito de chá. - Carol protestou fracamente.

— Tome. - a bruxa insistiu, de cara feia. - Vai fazer bem.

Resmungando, a moça pegou o chá e o aconchegou em suas mãos. A bruxa se afastou novamente em direção à cozinha.

— Você tem que parar de comer esse monte de porcaria. Não vai conseguir se recuperar sem comida de verdade. - ela começou a remexer os armários e a geladeira, resmungando. Carol a ignorou, carrancuda, tomando breves goles do chá. O calor da xícara era bom em suas mãos.

Após algum tempo, um cheiro bom começou a vir da cozinha, e o estômago da moça roncou. Ela olhou e viu a bruxa cozinhando alguma coisa em uma panela.

— O que você está fazendo?

— Comida de verdade.

Carol esperou, até que a bruxa veio com uma tigela em sua direção.

— Tome. Canja de galinha sempre faz bem.

A garota tomou.

— Está deliciosa! - ela se surpreendeu. Fazia tempo que não comia nada com gosto de feito em casa.

A bruxa sorriu, orgulhosa.

— Culinária é apenas uma das muitas habilidades mágicas que cada bruxa de respeito aperfeiçoa.

— Nunca aprendi como fazer... - Carol resmungou. - Pra mim poderia muito bem ser mágica.

Cautelosamente, a bruxa se sentou ao seu lado no sofá. Ela observou o filme por alguns minutos, franzindo a testa.

— Credo! Você não tem nada melhor pra assistir? - ela agarrou o controle e começou a mudar de canal, sem pedir permissão.

— Ei! - Carol protestou fracamente, mas quando a outra não lhe deu atenção, voltou os olhos para seu prato de canja, resmungando.

— Melhor! - a bruxa se recostou no sofá, satisfeita, quando encontrou um canal que estava passando reprises de “Sabrina, a Aprendiz de Feiticeira”. As duas assistiram em silêncio por alguns minutos, até que a outra quebrasse o silêncio. - Então. Por que exatamente vocês acabaram?

Os olhos de Carol se encheram de lágrimas novamente, mas ela as conteve.

— Ele não gostou muito da ideia de entregar o primogênito a uma bruxa.

— O que?! Mas... Você falou pra ele antes de assinar, não falou?

— Claro que falei.

— E a coisa toda foi pra salvar ele, não? Não era ele que estava com câncer terminal?

— Exato. E agora que foi salvo, ele foi embora e me deixou aqui, com meu primeiro filho prometido pra uma bruxa.

A bruxa a olhou, estarrecida.

— Que bostinha!

— Exato! - Carol exclamou.

— Mas... mas que cara desgraçado!

— Isso mesmo! - por alguma razão, xingar Pedro era altamente catártico.

— Minha nossa... - a bruxa sacudiu a cabeça e voltou a olhar para frente. - Bem. Está bem claro que ele não te merecia.

Carol tomou mais uma colherada de canja.

— Obrigada.

— O que significa - a bruxa ergueu um dedo. - que tem muito mais homem por aí que vai te tratar bem! Então você não precisa desistir.

As duas se entreolharam.

— Você está tentando me convencer a sair com outros caras só pra conseguir o seu primogênito? - Carol perguntou, sem emoção na voz.

— Não...? - a bruxa respondeu, lentamente.

Elas se encararam.

— Chega. Sai da minha casa. - Carol se levantou, ameaçadora.

— Ei, você entendeu tudo errado, não era isso que... - a bruxa ergueu as mãos, com uma cara culpada.

— Sai! Agora!

Houve um estalo e a bruxa havia desaparecido.

Carol resmungou e se sentou no sofá novamente, olhando para a TV sem realmente assistir ao que estava passando. Após alguns minutos, ela pegou novamente a tigela de canja e voltou a comer. Estava realmente boa.

 

….

 

1 SEMANA DEPOIS...

Carol estava tentando apertando os botões do micro-ondas quando o estalo a distraiu. A bruxa estava de braços cruzados, parecendo um tanto culpada, no meio de sua cozinha. Ela a ignorou.

— E aí? - a outra tentou começar uma conversa. Quando Carol não respondeu, ela continuou. - Só... Vim checar... O que você está fazendo?

— Macarrão.

— No micro-ondas?

— Vai embora.

A bruxa se aproximou e olhou o que ela estava fazendo.

— Você está realmente fazendo macarrão instantâneo no micro-ondas? - a bruxa perguntou. - Você não sabe o mínimo sobre cozinhar?

Carol apenas cruzou os braços e a ignorou.

— Você não pode viver de macarrão instantâneo e pizza.

— Me obrigue.

A bruxa suspirou e apertou o botão de parar no micro-ondas.

— Ei!

— Pelo amor de Deus, olhe aqui! - a bruxa exclamou. - Você tem que superar essa coisa toda com o namorado!

— Pra que? Pra que você possa arranjar um primogênito?

— Não, eu... Argh! - a bruxa exclamou e colocou as mãos na cintura. - Não consigo ficar olhando isso! Vamos lá, o que você tem pra cozinhar aqui?

Sem ser convidada, ela abriu a porta da geladeira. Havia alguns vegetais, três ovos e água. A bruxa ergueu as sobrancelhas para Carol.

— O quê?

— Você andou fazendo compras?

— Comida é caro!

— Então compre coisas baratas! Arroz, frango, sei lá! Do jeito que as coisas estão aqui, logo você vai ter que se alimentar de luz da geladeira e água.

— Cozinhar demora e é difícil e... por que eu estou falando com você?

— Porque sua vida está um caos e você precisa de ajuda, pelo visto. Vamos, dá pra fazer ao menos um omelete com isso aqui.

A sessão de culinária durou basicamente cinco minutos.

— Como você não sabe quebrar um ovo sem causar o caos?! - a bruxa gritava, com um pedaço de casca de ovo pendurado nos cabelos.

— Eu não sei, por isso prefiro comida pronta, droga! Por que você não me deixa em paz?

A bruxa apertou a base do nariz, ostensivamente tentando achar paciência.

— Ok. Ok! Eu vou fazer comida para você hoje, mas é a única vez, estamos entendidas?

 

 

1 MÊS DEPOIS...

— Aqui. As refeições estão separados por potinhos, então basta você sair descongelando um toda vida que quiser comer. - a bruxa terminou de empilhar os potes no congelador. - Deve dar para mais uma semana, então próximo domingo eu estarei de volta.

— Hmn. Obrigada. - Carol respondeu, sem jeito. Estava começando a ficar envergonhada de aceitar os favores culinários da bruxa, mas não incomodada o suficiente para reclamar. A comida era boa demais para que ela recusasse. Houve alguns momentos de silêncio incômodo. - Ei... qual o seu nome, afinal de contas?

A bruxa coçou a cabeça.

— Kansa.

— O meu é Carol.

— Bom. Prazer em conhecer, eu acho.

Antes que a bruxa pudesse ir embora, Carol a interrompeu.

— Ei! Ah... eu vou ter que perguntar. Por que está fazendo isso?

— O que?

— Me ajudar desse jeito.

— Bom... nós temos um contrato. Se você não sair dessa, acho que eu não ganho criança nenhuma, né?

Após alguns momentos, Carol assentiu.

A bruxa sorriu, hesitante, e com um estalo, desapareceu.

 

 

1 SEMANA DEPOIS...

 

Carol xingou. Sabia que devia ter comprado a toalha de mesa em um tamanho diferente. Toda vida que tentava puxar uma das pontas, outra parte se descobria. E logo a bruxa... Kansa estaria chegando...

Como que atraída pelo seu pensamento, um estalo ressoou pelo apartamento. Ela se virou e deu de cara com a bruxa, que batia na calça jeans, tentando tirar alguma sujeira.

— E aí? Eu não sei você, mas pra mim essa semana foi... - Kansa se interrompeu quando viu a mesa posta, com pratos, talheres e travessas todos nos lugares.

— Surpresa! - Carol exclamou, tentando esconder com o corpo a parte da mesa que a toalha não cobria.

— O que... O que é isso?

— Eu fiz almoço! Achei que já estava na hora de retribuir ao menos um pouco.

Kansa a olhou, surpresa.

— Vamos, sente!

Cautelosamente, a bruxa se sentou e olhou para a comida.

— Parece... boa.

— Eu espero que sim. Levou a semana inteira pra que eu aprendesse a fazer.

Kansa se serviu da macarronada e, após mastigar cautelosamente a primeira garfada, sorriu.

— Está boa!

Carol sorriu, tentando não mostrar o quanto estava aliviada.

— Claro que está! Eu consigo aprender. Talvez chegue um dia em que você não precise cozinhar para mim toda semana.

O silêncio reinou por vários minutos, enquanto as duas mastigavam. Finalmente, Carol não conseguiu mais aguentar. Tinha que fazer a pergunta, ou aquilo assombraria seus sonhos para sempre.

— Então... - Kansa ergueu os olhos do prato ao ouvir sua voz. Ela tinha olhos negros que pareciam dois buracos de escuridão sem fim. Definitivamente olhos de bruxa. Carol tentou fazer sua atenção voltar ao presente e impedir que o calafrio que perpassou a base de sua espinha fizesse seu corpo se arrepiar. - O que exatamente vocês... ah... fazem? Com as crianças?

Kansa inclinou a cabeça para o lado.

— Você não sabia?

Antes que ela pudesse continuar, um estalo alto ressoou pelo ambiente, e algo caiu em cima da mesa, espalhando macarronada para todos os lados. Carol gritou e caiu da cadeira.

— Mas o que...?! - ela ouviu a bruxa gritar. Ao mesmo tempo, outra voz gritou:

— Ba! Finalmente!

Carol observou, atônita, uma garota que não podia ter mais que dez anos se levantar e se por de pé em cima de sua mesa, limpando o macarrão que agora pregava em sua roupa.

— Eu procurei você por toda parte! - a criança reclamou.

— M... Mas... Lilith! - a bruxa gritou. - O que você está fazendo aqui?

— Vim visitar você!

— Você devia estar com o seu pai o fim de semana todo!

— Eu não quero! - a criança resmungou. - O Inferno é chato e o papai é um tédio!

— Lilith, você não pode fazer isso! Seu pai deve estar louco te procurando, ele vai achar que...

Houve outro estalo alto, e um homem apareceu na sala, rosnando. Só que não era um homem. Carol deu uma boa olhada e sufocou um grito.

A criatura era enorme, tinha pele roxa e chifres, e asas de morcego saiam de suas costas. Caninos enormes e afiados se projetavam de sua boca, mesmo com ela fechada, e malévolos olhos vermelhos espiavam a sala.

— MORTAL! - a voz trovejou, fogo saindo de sua boca, e as luzes da sala piscaram. Sombras pareceram crescer de forma não natural. Carol gritou e se encolheu. - O QUE ESTÁ FAZENDO ROUBANDO MINHA FILHA?

Kansa enfiou o rosto na própria mão.

— Eu não a roubei, Alastor. Ela fugiu pra cá por conta própria.

A criatura arregalou os olhos e se voltou para a criança, que ainda estava de pé em cima da mesa.

— LILI! VOCÊ FUGIU DO PAPAI? - o monstro parecia profundamente magoado.

— Eu não quero ficar com você, o Inferno é chato!

— MAS EU IA LEVAR VOCÊ PARA BRINCAR COM TODOS OS CACHORRINHOS INFERNAIS... VOCÊ ADORA CACHORRINHOS!

— Sim, mas eu já vi os cachorrinhos na vitrine da Pet Shop semana passada, não preciso ver mais!

— MINHA FILHA...

— Não quero ficar com você, quero ficar com a Ba agora!

— EU POSSO ENSINAR A VOCÊ VÁRIOS TRUQUES NOVOS COM FOGO INFERNAL...

— NÃO QUERO! - a criança berrou, fazendo a sala tremer. Ela parecia prestes a dar um escândalo. Só então Carol percebeu os olhos vermelhos e os pequenos chifres aparecendo no meio dos cabelos da menina.

— Lilith... - Kansa interveio, a voz surpreendentemente firme. - Tem que passar os fins de semana com o seu pai. Já expliquei para você.

— Mas Ba...

— Nem mais nem menos. Eu e seu pai temos sua guarda compartilhada, o que significa que você passa a semana comigo, e os fins de semana com ele.

— Mas eu não quero...

— Seja uma menina boazinha agora, vamos lá. Depois eu lhe ensino alguns truques mágicos novos quando você voltar para minha casa amanhã.

A menina fez beicinho, mas, quando viu que não havia mais nada a ser ganho com a discussão, grunhiu e estendeu a mão para a criatura roxa. O mostro a pegou carinhosamente no colo e, com um olhar final para a sala, desapareceu com um estalo.

O silêncio reinou por alguns minutos.

— O que foi isso?! - Carol finalmente conseguiu articular, sua voz tão aguda que estava quase inaudível. A bruxa grunhiu.

Isso foi o que aconteceu da última vez que eu tentei negociar um primogênito com alguém. - ela esfregou o rosto, cansada.

— Aquilo era...

— Um demônio, sim.

Carol se ergueu, trêmula, e conseguiu se sentar novamente. Olhou para Kansa por alguns momentos, boquiaberta.

— Vai explicar?

A bruxa suspirou.

— Por onde eu começo... Ah, bem, aquela era Lilith. Foi a primeira e única primogênita que eu consegui em um contrato. E eu consegui, não importa o que aquelas velhacas do Coven falem! - ela resmungou e recomeçou. - Eu fiz um contrato com a mãe da menina na época em que ela estava grávida. A mulher ficaria com muito dinheiro e riquezas e eu com a filha. Quando a criança nasceu, ela simplesmente veio e a entregou a mim, sem qualquer problema, e sumiu. Tudo bem. Eu tinha uma aprendiz. Até que no mesmo dia apareceu o demônio.

Ela apertou a base do nariz com os dedos.

— Acontece que a criança era filha daquela criatura. A mulher tinha feito outro acordo antes com o monstro, concordando em dar a luz à prole dele em troca de imortalidade. Ela havia enganado nós dois. E aí eu fiquei com uma criança nos braços, um demônio furioso na minha casa e um mega problema judicial pra cuidar. - ela resmungou. - Depois de muitas sessões de conciliação, discussões de competência entre o Coven e o Inferno e o diabo a quatro, ficou decidido que eu e o prezado sr. Alastor ficaríamos com a guarda compartilhada da menina.

— Só que - ela ergueu o dedo. - de acordo com o Coven das bruxas, guarda compartilhada não conta como ter efetivamente conseguido um primogênito. O que significa que eu tecnicamente, ao menos nos dizeres delas, ainda não consegui uma criança em um contrato mágico!

Ela bateu com as mãos na mesa, frustrada. Carol ainda a encarava, boquiaberta.

— O que?

— Ele... você... demônio... - Carol sacudiu a cabeça. - Então você fica com as crianças que consegue como aprendizes?

— É claro! Eu própria fui criada assim. Minha mãe me prometeu a uma bruxa. Eu tenho duas “mães”, por causa disso. O que você achava que eu ia fazer?

— Eu... eu não sei! Só fiquei sabendo da existência de bruxas por causa de uma amiga minha que também tinha feito um contrato e me recomendou, eu não sabia que tinha todo um mundo mágico escondido por aí...

— Você não sabe de nada? - Kansa ergueu as sobrancelhas.

— Bom. Não. Como assim, nada? Tem mais coisa além de bruxas e demônios?

Kansa gargalhou, batendo na mesa com a palma da mão.

 

 

2 MESES DEPOIS....

Carol passava maquiagem na frente do espelho quando Kansa apareceu.

— Merda! - ela xingou baixinho. Havia esquecido completamente da bruxa.

— E aí? - a moça sacudiu uma caixa na mão. - Pronta pra sessão de cinema? Eu escolhi um ótimo filme hoje, tenho certeza de que você vai gostar...

— Ah... Kansa. - Carol interrompeu. - Eu... ah, droga.

Ela esfregou a nuca.

— Eu... não vou poder assistir filme hoje.

— Não vai? Mas por que?

— Bom, eu... eu meio que... - ela sorriu, envergonhada. - Tenho um encontro.

— Ah. - a bruxa pareceu confusa. Ela franziu a testa, olhando para o nada, e então um sorriso estranho se formou em seu rosto. - Ah! Bom! Isso é bom! Encontros! Um cara novo, ahn? Isso quer dizer que você superou!

O sorriso se alargou, mas continuava estranho. A bruxa parecia confusa, mas Carol estava empolgada demais para dar muita atenção.

— Sim! E olha, isso é bom pra você também, porque assim talvez você consiga um primogênito, ahn?

— Ahn? Ah, certo, sim, o primogênito. É! Isso é bom. - ela pareceu um pouco mais animada.

— Então... que tal você voltar de novo próximo domingo? Vou tomar cuidado para não marcar mais nada nesse dia, e aí nós podemos assistir a um filme, que tal?

— É. É uma boa. - finalmente o sorriso da bruxa pareceu mais normal. - Um filme. Então tudo bem. Até a próxima!

E, com um estalo, Kansa desapareceu. Carol sorriu, animada, e voltou a se maquiar.

 

 

3 SEMANAS DEPOIS...

 

O familiar estalo fez Carol erguer os olhos da panela.

— Oi K... Droga! Droga, droga, droga! - ela gritou quando o molho de tomate começou a estourar e molhar o lado de fora.

— O que você está fazendo? - a bruxa exclamou, se protegendo com os braços.

— Tentando... Ai! - Carol colocou a panela na frente do corpo como um escudo. - Tentando cozinhar. Thomas vai vir aqui para o jantar.

— Ah. E o nosso filme? - Kansa franziu a testa.

— Perdão, não vai... ai que droga! Não vai dar, tenho que cozinhar e realmente marquei com ele...

— Minha nossa, me dê isso aqui. - Kansa tomou a colher de pau das mãos da outra garota e abaixou o fogo. Ela deu uma olhada na panela do lado, identificando o que poderiam ser os restos carbonizados de um bife, e balançou a cabeça. - Então! Estamos cozinhando para o namorado agora?

— Bom, dizem que o caminho para o coração de um homem...

— É pela boca. Sei.

— E ele não é meu namorado ainda.

— Ênfase no ainda.

— Exato! - Carol sorriu. - E com esse jantar, talvez eu esteja um passo mais perto de conquistar o garoto.

A bruxa suspirou.

— Se você conseguir cozinhar.

Carol olhou ao redor e franziu a testa.

— Eu fiz uma bagunça, não foi mesmo?

— Basicamente sim.

— Droga. Eu realmente queria cozinhar para ele.

— Por que não faz o mesmo prato que fez para mim? Deu certo, não?

— Aquele é muito simples! Pra um encontro tem que ser algo mais sofisticado.

Elas permaneceram em silêncio por mais alguns momentos, Carol com as mãos na cintura, olhando para a bagunça na cozinha como se estivesse fazendo um cálculo matemático bem complicado. Finalmente, a bruxa suspirou.

— E se eu ajudar você com o jantar?

Os olhos de Carol brilharam.

— Você faria isso?

— Faria. Mas uma parte da comida teria que ser para eu levar pra casa em uma quentinha.

— Claro! O quanto você quiser!

Kansa sorriu.

— Então pronto. O que você quer fazer?

 

 

1 MÊS DEPOIS...

 

— Eu só não sei o que eu fiz... - Carol choramingou.

Kansa suspirou e lhe passou mais um lenço.

— Você não fez nada. - ela falou, pela centésima vez. - O cara é só um mala.

— Talvez eu não devesse ter checado o telefone dele quando ele não estava... ele falou que eu não tenho respeito pela privacidade dos outros...

— Ele está tentando fazer você ser a culpada, caramba! - a bruxa exclamou, frustrada. - Ele traiu você, e vocês não têm nem duas semanas de namoro completas!

Carol assoou o nariz.

— Eu me sinto horrível.

— Não é sua culpa.

A bruxa abriu a sacola que tinha trazido e puxou uma garrafa do que parecia ser whisky.

— Aqui. Que tal a gente só assistir a um filme, beber e jogar conversa fora até altas horas da madrugada? De preferência xingando o tal do Jonas.

— Thomas.

— Tanto faz.

Finalmente, Carol sorriu.

 

 

1 SEMANA DEPOIS...

 

— Você não pode estar falando sério!

Kansa perseguia Carol pelo apartamento, enquanto ela procurava as chaves.

— Completamente sério.

— Mas... Carol! Ele traiu você! Como...? Como...?

— Ele me ama. Ele próprio falou. E não vai acontecer de novo, não é da índole dele fazer isso.

— E como você explica ele ter feito?

— Foi um deslize. - Carol encolheu os ombros. - Todo mundo erra.

A bruxa soltou um som lamentoso e jogou os braços para cima.

— Eu não acho uma boa ideia...

Carol girou nos calcanhares e encarou a bruxa.

— Bom, ainda bem que não é você que está namorando com ele, não é? - as duas se encararam. Kansa recuou, olhando para o chão.

— Tá... tá bom. Eu espero que você esteja certa. - ela fez desenhos imaginários no chão com a ponta do pé. - Então... e sobre aquele filme? Você disse que tinha algo de fantasia hoje...

— Ah. Não vai dar. Eu e Thomas vamos sair hoje.

— Você...! - a bruxa se interrompeu com esforço. - Certo! Você pensou em mencionar pra ele que já tem coisas pra fazer no domingo?

— Acho que eu mencionei que saía com uma amiga... mas de passagem. Ele deve ter esquecido.

— Certo. - a bruxa suspirou, abrindo e fechando os punhos. Ela parecia estar tentando se conter. - Bom... Bom encontro, então.

— Obrigada.

Sem se despedir, a bruxa virou de costas e, com um estalo, desapareceu.

 

2 SEMANAS DEPOIS...

 

— Eu não consigo... creditar... - Carol tentou falar. Sua língua estava estranha, e as palavras se arrastavam. - Shtúpido.

— É, é, estúpido. - a bruxa estava ao seu lado no sofá, olhando-a com cautela. - Escuta, você não acha que já bebemos demais?

— Ãh-ãh. - Carol ergueu o copo de whisky e virou. A bruxa arregalou os olhos. Parecia supremamente arrependida de ter trazido álcool. - Isky é bom. Me deixa fliz.

— Certo.

— Quer dizer, eu tava bem d'ladele! E ele ficou... qual a palavra? - ela pensou um pouco. - Flertando! Cua otra bem na minha frente.

— Foi bem errado.

— E ia ser uma noitão boa! A gentia dançar! Eu tô até com meu vshtido preferido e chic. - ela se ergueu e apontou para a própria roupa. - Num tô maravilhosa?

— Rainha. - a bruxa falou lenta e cautelosamente.

— Zato! Eu devia tá dançando. - ela pensou um pouco e se ergueu. - Vamo sair pra dançar.

Carol ficou em pé e tudo rodou. De repente, a bruxa estava puxando-a pelo braço.

— É... que tal não? - Kansa sugeriu. - Que tal a gente só ficar aqui por hoje à noite, ahn?

— Mhum. É. - Carol ergueu o copo. - Vamo dançar aqui.

— Não era isso que eu queria...

Carol tentou dar um passo de dança, mas tudo rodou novamente, dessa vez pior do que antes. Ela riu quando a bruxa teve que segurá-la novamente.

— Ops...

— Carol, que tal a gente só... só sentar?

— Naah! - ela se agarrou no pescoço da bruxa, que parecia ser a única coisa que não rodava na sala. - Tô com vshtido pra dançar, vamo dançar!

— Ah, certo, só que você não consegue ficar em pé...

— Tô em pé.

— E não tem música.

— A gente sempre podemaginar. Ou cantar! - seus olhos brilharam. - “Fly me to the moon, and let me play among the stars...”

— Ah, que tal não...

— “Let me see what spring is like in Jupiter and Mars...”

Kansa parecia bastante assustada, o que na cabeça de Carol era hilário, por alguma razão. Ela se segurou com mais força no pescoço da bruxa e continuou a cantar.

— Eu nem ao menos consigo entender o que você está cantando...

— Dança comigo, vamlá!

— Eu não...

— “In other words, hold my hand...”

— Seu inglês é só péssimo...

— “ In other words, darling kiss me...”

Carol escorregou e a bruxa a agarrou para impedir que caísse. A garota riu, e de repente o rosto da outra estava perto de mais e sua testa batia em algo duro.

— AI!

— Hahaha... - Carol soluçou.

— Pelo amor de Deus!

— Você tem colocar a mão aqui... - ela tentou puxar a mão da bruxa para sua cintura, mas a outra a puxou como se tivesse se queimado.

— Eu não vou...

— P'favor... - Carol choramingou, olhando para os olhos pretos assustados na sua frente. Eles pareciam poços de escuridão nos quais ela podia cair, no estado em que estava. - Só qria dançar hoje à noite, mesm sem Thmomas...

A bruxa suspirou.

— Certo! Certo. Mas eu não sei dançar!

— Vai ser divagar. Eu canto uma musca bem divagar.

— Ótimo. Música lenta. Como se isso não pudesse ficar...

A bruxa se calou quando Carol encostou o rosto em seu ombro. As coisas pareceram girar menos daquele jeito. Ela começou a cantar baixinho e a tentar mexer os pés.

A bruxa estava segurando-a perto, talvez para impedi-la de cair de novo. O ombro dela cheirava a incenso, e Carol fechou os olhos. O leve balanço do corpo era calmante. Um... dois... um... dois...

Ela acordou no dia seguinte com uma dor de cabeça horrível. Correu para o banheiro e vomitou até não poder mais. Quando saiu, não havia nenhum sinal de Kansa. Apenas um queijo quente deixado feito no balcão da cozinha e um bilhete no qual estava escrito “BEBA ÁGUA” pregado num ímã da geladeira.

 

...

 

2 SEMANAS DEPOIS...

 

— O que é esse cheiro? - a voz da bruxa veio da sala. Carol terminou de amassar o último pedaço de papel alumínio no cabelo.

— Estou aqui!

Kansa apareceu na porta do banheiro.

— O que você está fazendo?

— Pintando meu cabelo.

— Pintando...? Por que?

— Só queria dar uma mudada no visual, só isso.

A bruxa agarrou a caixa de tinta e a revirou nas mãos.

— Por que você ia querer virar morena? Você é ruiva! É o sonho de todo mundo.

— De onde você tirou isso?

— É senso comum! Quem ia querer ter cabelo castanho quando pode ter cabelo naturalmente vermelho? Vermelho é bem mais interessante. Você própria já falou isso.

— Isso não é senso comum, Kansa, nem todo mundo pensa assim.

As duas ficaram em silêncio por alguns segundos, até que a bruxa começasse a estreitar os olhos para ela.

— Thomas...?

— Ah, pare de culpar o Thomas por tudo! - Carol jogou as mãos para cima e saiu do banheiro para a sala.

— Ele realmente falou para você pintar o cabelo?!

— Claro que não!

— Então o que foi?

— Não estou pintando o cabelo por causa dele!

Kansa cruzou os braços.

— Você mente muito mal, Carol! O que foi que ele fez?

— Ele não disse nada! Só porque ele mencionou que preferia morenas...

— Aquele merdinha! E eu tenho certeza que ele fez isso dando o exemplo de uma garota que estava bem ali perto, não era? Logo depois de você ter passado a tarde arrumando o cabelo num penteado...

— Não é assim, Kansa! Ele não pediu nem nada, eu só quis, ora...

— Por alguma razão isso parece difícil de acreditar. - a bruxa cruzou os braços.

— Bom, você vai ter que confiar em mim, não é? E talvez parar de se meter tanto na minha vida. - Carol retrucou, aborrecida.

— Tá! - a bruxa desistiu, frustrada. - Tá, eu não quero brigar. Vamos só assistir ao filme de hoje, ahn?

As duas se sentaram no sofá, suspirando.

 

 

 

2 SEMANAS DEPOIS...

 

— Sério?

— Vamos, não precisa ficar assim....

— Sério, Carol?!

— É só...

— É bem a décima vez que isso acontece!

— Não é culpa dele!

— Como não é culpa dele?! Ele sabe que você tem coisa para fazer aos domingos, e ainda assim insiste...

— Não é nada demais!

— É sim! - a bruxa bateu o pé no chão. - Você não está vendo?! Ele está tentando te isolar, fazer com que você perca contato com o resto do mundo!

— Não seja paranoica, é um dos poucos dias que ele está livre, Kansa!

— É o único dia que eu estou livre, e ele sabe!

— Bom, e dai?! - Carol perdeu a paciência e abriu os braços. Estava exausta e seriamente aborrecida. - Por que você se incomoda tanto? Você não é nada meu, então por que eu deveria deixar de sair com o meu namorado pra ficar mofando em casa com uma garota que só aparece de uma em uma semana com o único propósito de saber se eu já estou grávida pra que ela possa sumir com o meu primogênito?! Você nã0 é nem minha amiga!

A bruxa estacou como se tivesse levado um tapa na cara. As duas se encararam por vários segundos, até que Kansa endireitou a postura.

— Certo. - ela falou, a voz bem baixa e calma. - É assim então. Certo. Essa relação é estritamente profissional.

Ela acenou para si mesma.

— Eu volto próxima semana.

Ela lançou um último olhar de olhos negros, que informou à Carol que ela havia, mais uma vez, magoado profundamente alguém. E então, com um estalo, desapareceu.

 

...

 

2 MESES DEPOIS...

Houve o estalo. Carol nem virou a cabeça, apenas continuou inclinando a taça para ver o vinho se mexer.

— Alguma novidade? - a voz da bruxa veio de suas costas.

— Não.

— Certo.

Outro estalo.

Carol suspirou. Havia tentado falar com a bruxa nas primeiras vezes que ela aparecera, mas Kansa apenas a ignorara até que ela desse a resposta pra pergunta que fazia, e então desaparecera. Os olhos negros não tinham demonstrado mais calor nenhum. Eventualmente, Carol desistira.

Ela bebeu mais um gole de vinho, esperando que o bolo em sua garganta descesse junto com a bebida e que seus olhos parassem de arder.

Não funcionou.

 

...

 

2 MESES DEPOIS...

 

Carol estava tentando misturar os ingredientes no balcão da cozinha fazia quase meia hora. O mexer do garfo era hipnotizante, e ela simplesmente continuava misturando e misturando...

Mal notou o já familiar estalo.

— Alguma...? - a voz se calou.

Carol continuou mexendo. Após quase um minuto, ela ergueu os olhos. A bruxa a encarava, e se endireitou quando os olhares se encontraram. Carol baixou seus olhos para a travessa.

Após mais alguns momentos de silêncio...

— Você está horrível.

— Obrigada. Estamos passando para a fase de insultos agora? - Carol continuou mexendo, tentando não alterar a velocidade, embora sua mão tremesse.

— Não é isso... - a bruxa se interrompeu. - Tem olheiras debaixo dos seus olhos e... você só parece péssima.

— Ótimo. - Carol colocou o garfo de lado e pousou a travessa no balcão, finalmente erguendo os olhos novamente para a bruxa. - Tenho boas notícias pra você.

— Boas...?

— Vai ter seu primogênito.

O queixo da bruxa caiu. Por um bom tempo, as duas ficaram em silêncio.

— Você.... Você... Você está...?

— Sim. Grávida. Um bebê.

— Há quanto...?

— Faz quase dois meses agora. Eu fiz o teste e tudo.

— Isso... isso é... isso é ótimo! Quer dizer... - a bruxa não parecia conseguir esboçar uma reação.

— É. Agora você vai ter seu aprendiz.

A bruxa ficou calada.

— O seu... Seu namorado sabe disso? - ela finalmente perguntou.

— Sim.

— E ele concordou em me dar o filho?

— Ele exigiu que eu abortasse, então não acho que vá fazer muita diferença. - Carol apertou as mãos no balcão, tentando que elas parassem de tremer.

— Ah. - por um momento, pareceu que a bruxa ia falar alguma coisa, mas então ela se calou. Baixou os olhos para as mãos da outra garota. - Você...

Carol seguiu o olhar.

— É. É sim. - ela ergueu a mão, ainda em punho, para mostrar o anel. - Noiva. Ele me pediu em casamento um pouco depois que soube. Afinal de contas, eu vou parecer grávida, mesmo que não vá ficar com o bebê, e todo mundo sabe que eu sou namorada dele. A barriga vai crescer, não tem como as pessoas não notarem. Então a coisa honrada a fazer era casar comigo, claro. Pra criar a criança, como todo homem de respeito faria. Não que vá fazer muita diferença quando eu “abortar espontaneamente” no fim da gestação. Vai ser bem trágico.

Ela riu fracamente, fechando os olhos.

— Você não pode fazer isso.

Carol abriu os olhos.

— O quê?

— Não pode. - a bruxa a olhou, e então desviou o olhar para a janela. - Ele é um babaca, olha pra isso, você não pode casar com ele!

— E o que você espera que eu faça?

— Como... Como assim?

— Aqui está a situação, Kansa. - ela não falava o nome da outra fazia tanto tempo que ele pareceu estranho em sua boca. Como logo no começo, quando elas haviam se conhecido. Espalmou o balcão da cozinha. - Eu não tenho família. Ao menos não uma família que vá me apoiar. Meus pais me colocaram pra fora de casa há algum tempo, depois que eu me recusei a entrar na faculdade que eles queriam. Não tenho dinheiro. Queria fazer uma faculdade e poder ter filhos algum dia, mas hoje eu mal consigo manter o aluguel desse apartamentozinho com o meu trabalho de merda.

— Você vai conseguir aos poucos...

— Não, não vou. A minha melhor chance... minha única chance de conseguir alguma coisa de bom na vida é com Thomas.

— Não, não é! - a bruxa protestou, parecendo cada vez mais desesperada. - Isso é uma péssima ideia!

— Eu vou casar com ele, e vou ser a esposa de troféu que ele sempre quis, e nós dois podemos nos aproveitar bem um do outro.

— Isso não é saudável! Você... você não ama ele! - Kansa tentou argumentar. Carol apenas encolheu os ombros.

— Muita gente se casa sem amar.

— Isso é tão errado! Você devia ficar com alguém que goste!

— Só que todas as pessoas que eu gosto são babacas! - e de repente, Carol estava gritando e seus olhos estavam queimando de novo. - Eu nunca tive um, nem um namorado que me tratasse bem! Thomas foi o melhor que eu achei, e talvez eu nunca ache alguém assim de novo!

— Não faz qualquer sentido! Vão ter várias outras pessoas que vão gostar de você! Pessoas boas, que vão se apaixonar de verdade...!

— Isso nunca vai acontecer!

— Por que é tão difícil de acreditar...?

— Porque ninguém decente nunca gostou de mim!

Eu gosto de você! - a bruxa gritou. Ela fechou as mãos em punhos. - Eu posso não ser a melhor pessoa do mundo, mas eu...

Ela baixou os olhos e levou as mãos à testa.

— Eu... eu me apaixonei de verdade por você. - a bruxa terminou com um sussurro. A sala ficou em silêncio. - Mas que droga!

E com aquela explosão, a bruxa se dirigiu ao sofá e afundou nele, enfiando o rosto nas mãos.

Carol abriu e fechou as próprias mãos. Tentou digerir tudo.

Vários minutos se passaram. O apartamento começou a ficar escuro.

Carol andou até o sofá e se sentou ao lado da bruxa, que permanecia imóvel.

— Kansa.

A bruxa sacudiu a cabeça em negação, ainda com o rosto enfiado nas mãos.

— Olhe pra mim.

Após alguns momentos, a bruxa ergueu o rosto, enxugando discretamente o canto dos olhos, e olhou para frente.

— É verdade?

— Eu não sei exatamente quando aconteceu. Quando eu menos esperava, só... - a bruxa balbuciou. - E... e é estúpido, mas... é. Faz algum tempo.

— Por que você não me contou?

— Porque eu contaria? Você tinha um namorado e... e eu não queria que acabasse com essa... essa... amizade. Ou sei lá que relação a gente tinha. Gostava de passar tempo com você, por mais que não fosse do jeito que eu queria, mas era melhor... do que nada. Só não queria... Só não queria estragar tudo. Foi tão estúpido. - ela apertou os olhos com força. - Só não... só não case com ele. Por mais que você não queira ficar comigo, mas não case com ele. Eu não conseguiria suportar saber que ele te trata mal todo... todo dia.

— Kansa? - finalmente a bruxa a olhou nos olhos. - Não vou casar.

A moça aproximou o rosto com cuidado e beijou a bruxa.

As duas se entreolharam e então olharam para frente. A TV estava desligada, mas as duas encararam a tela preta.

— Isso foi... - Carol começou, finalmente, antes de se interromper.

— Eu não esperava por essa. - a bruxa comentou.

— Ãh-hã.

— Foi bom pra você também?

Carol a encarou.

— Eu não acredito que você acabou de me perguntar isso.

A bruxa encolheu os ombros.

— Eu gostei. - ela se calou.

— Devíamos tentar de novo. - Carol se virou para ela. - Ver se é menos estranho da segunda vez.

A bruxa a encarou e abriu um sorriso.

 

 

 

1 ANO DEPOIS...

 

Kansa tentou ignorar o barulho e fingir que estava dormindo. Mas era impossível. O choro era estridente demais. Carol resmungou do seu lado e a bruxa gemeu de volta.

— É sua vez. - ela gemeu de novo.

— Nah. Sua primogênita.

— É a sua filha.

— E o nosso contrato diz que você comprou ela. O Coven também reconheceu.

— Carol...

Sua primogênita, sua responsabilidade de madrugada.

Cansada demais para discutir, Kansa se levantou e se arrastou para o quarto do lado. Quando estava quase passando pela porta, o choro parou. Ela franziu a testa e se aproximou lentamente, olhando pela porta entreaberta.

Lilith estava debruçada em cima do berço. Ela estava com a mão perto da criança, e os chifres apareciam no topo do cabelo emaranhado.

— Pare de chorar. - ela ouviu a garota mais velha sussurrar.

Houve um barulho de bebê balbuciando.

— Você vai ser uma bruxa, não pode ser uma coisa molenga e chorona. - ela falou, severamente. - Ba diz que você é minha irmã, e eu agora tenho que passar o dia nessa casa pequena e apertada, enquanto a Ba fica cozinhando com a sua mãe, tudo por causa de você. Então ao menos seja uma irmã legal.

O bebê fez barulhinhos em resposta.

— Quando você ficar mais velha, vou te ensinar todos os truques de mágica que Ba me ensinou. Mas só se você não chorar mais. - o bebê agarrou um dos dedos de Lilith. - Re-be-ca. O seu nome é Rebeca. Você consegue falar?

O bebê riu.

— Então fale o meu. Lilith. Liiiiliiiith. - sem resposta. - Você vai ser uma irmã legal algum dia, quando aprender a falar. Vai poder sair desse berço e passear comigo, e com a Ba e com a tia Carol, e meu pai. Talvez eu até te leve no Inferno alguma vez, se você se comportar. Agora vá dormir.

Kansa tentou não rir. Silenciosamente, voltou para a cama e deitou. Carol estava ressonando levemente.

A bruxa se enrolou nos cobertores e fechou os olhos, sentindo o calor da outra garota dormindo ao seu lado.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Críticas, elogios e qualquer outra coisa que queiram comentar são todos bem-vindos!



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