“Alguém tem que ceder, alguém tem que partir. Mas tudo que eu faço é dar e tudo que você faz é tomar. Alguém tem que mudar, mas eu sei que não vai... Nenhuma razão pra ficar é uma boa razão para ir.”

Eram exatas três e dez da manhã quando Edythe ouvira o suspiro indecifrável.

A vampira virou-se na cama tendo cuidado para não machucar o corpo quente deitado ao lado do seu. Bella não dormira um minuto sequer desde que haviam deitado-se juntas ao final da noite do dia treze de setembro. As duas saíram para comemorar o vigésimo oitavo aniversário da morena — nada muito extravagante, apenas alguns shots de tequila no bar favorito de um dos amigos de Bella. Não fora o suficiente para deixa-la bêbada já que iria bem cedo para seu plantão na manhã seguinte, mas fora o suficiente para reacender o estranho clima instalado entre o casal meses atrás.

— O que está pensando? — as palavras escaparam dos lábios gelados.

Mesmo após tantos anos ao lado de sua amada, jamais conseguira saciar seu desejo de entrar em sua mente, de entender e conhecer cada pequeno pensamento que lhe ocorria.

Bella virou-se devagar na grande cama para encarar os olhos escuros da vampira, mordendo o lábio inferior da forma que fazia quando necessitava organizar os próprios pensamentos.

— Estou pensando no que Lauren disse. — confidenciou.

Lauren Mallory, melhor amiga da Swan, insinuara que Edythe jamais comia ou bebia quando saíam em grupo.

A ruiva até esforçava-se, mas era impossível conter as caretas de desagrado com tudo que lhe era oferecido — conquistando com isso uma fama ruim entre seus conhecidos. Além disso, havia a questão de suas idades discrepantes. Bella já aproximava-se dos trinta anos, as feições tornando-se maduras, o corpo curvilíneo tomando cada vez mais forma, de mulher. Formara-se em Medicina pela NYC — a ruiva havia feito questão de se mudar para NY e assim acompanhar essa nova fase da vida da morena; o período acadêmico, observara enquanto a tímida garota pela qual se apaixonara tornava-se uma forte e admirável mulher.

Fizera novos amigos, iniciara sua carreira em um dos melhores hospitais da cidade, viajara e experimentara coisas novas... Enquanto Edythe continuava congelada em seus 18 anos.

Não era capaz de evoluir com ela, não fisicamente.

Já estavam habituadas com as constantes piadas que lhe eram dirigidas, a vampira era — ironicamente — sempre a mais jovem no círculo social da namorada. Os amigos de trabalho da morena consideravam-na uma criança, ainda uma adolescente enquanto Bella caminhava para a vida adulta.

— Você sabe que... Eu daria qualquer coisa, faria qualquer coisa, para ser humana novamente. Por você.

A vampira deixou os ombros caírem em vergonha. Odiava-se em momentos como esse.

Odiava seu corpo morto e gelado, odiava ter tantas vozes em sua mente, odiava não possuir uma alma.

Repugnava a si mesma em noites de frio onde gostaria de poder aquecer a Swan durante seu sono, amaldiçoava-se imensamente quando deixava marcas arroxeadas em seu corpo após uma noite de carícias apaixonadas.

— Edy, amor... Não vamos começar com isso novamente. — a morena sussurrou sentindo o peito contrair-se ao encarar a expressão derrotada da vampira. — Eu amo você, assim como você é. — tocou seu rosto com a ponta dos dedos e selou seus lábios com carinho.  — Não me importava quando te conheci e não me importo agora.

— Não diga que não se importa, sei que está mentindo. — a ruiva afastou-se abruptamente — Talvez você realmente não se importasse dez anos atrás, mas as coisas mudam, os humanos mudam.

A Swan levantou-se da cama, agora levemente irritada, ignorando o olhar que a vampira lançou-lhe por estar apenas de calcinha.

— Eu não sou qualquer humana, Edythe.

— E eu não disse isso, Isabella. — bagunçou os cabelos de forma nervosa enquanto também saía da cama — Apenas ressaltei o fato de que você não é mais uma adolescente.

A ruiva agradeceu mentalmente quando Bella cruzou os braços de forma emburrada, cobrindo os seios de forma mínima. Mal conseguia pensar com clareza quando a morena encontrava-se tão próxima de si, a pele nua irradiando calor.

Suspirou.

— Aos dezesseis você realmente não se importava. Não dava a mínima que eu não iria envelhecer, que eu não poderia acompanhá-la a certos lugares... Mas você não tem mais dezesseis anos, babe. Você cresceu, a vida seguiu o curso natural e, acredite, eu sou a pessoa mais orgulhosa do mundo por vê-la onde está hoje. Mas odeio não poder amá-la por completa, angustia-me que você fique chateada com os comentários que é obrigada a ouvir por minha causa.

Bella deixou os olhos marejados caírem em direção a seus pés, desconcertada com as palavras da vampira. A irritação de antes fora empurrada para o esquecimento assim que ouvira o tom angustiado em que a mulher declarava sua situação.

— Isso é inútil. — afirmou, limpando os olhos. Aproximou-se da ruiva lentamente sendo dominada por um olhar que Edythe já conhecia bem. — Não vamos mais discutir por coisas que não podemos mudar, certo?

Edythe conhecia a morena o suficiente para saber o que viria a seguir.

Bella não gostava de discutir o relacionamento entre ambas, detestava expor seus sentimentos e frustações para a vampira, então utilizava do sexo como uma fuga. Aquele ditado de que reconciliação é na cama? Havia adotado para a vida e abusava disso desde o primeiro momento em que percebera que a vampira era facilmente manipulável, bastava alguns beijos provocantes.

A morena sequer sentia-se culpada por isso.

As mãos quentes apertaram os ombros frios da vampira enquanto a língua molhada escorregava pelo queixo e por toda a linha de sua mandíbula. Automaticamente as mãos da ruiva pousavam sob a cintura da menor, puxando-a para mais perto, mesmo que estivesse hesitante, insatisfeita.

— Ainda acho que precisamos conversar sobre isso... — a vampira suspirou, jogando a cabeça para trás.

— É inútil. — Bella repetiu — É perda de tempo.

Sua língua habilidosa abriu caminho pelo longo pescoço pálido fazendo as pernas da vampira fraquejarem. Sentia os dedos longos em sua cintura, apertando, e levou as mãos aos seios da amada para dedilha-los como Edythe fazia com as teclas de seu piano.

A ruiva não contou o rosnado que rasgou sua garganta, molhando completamente a garota colada a si.

— Droga, Bells. Tudo que preciso... Que quero da sua parte... É que se comunique...

Perdeu a voz quando seu corpo foi empurrado com certa violência, caindo sentada na cama, observando atentamente cada movimento da morena a sua frente.

— Sim, Edy, você sempre quer conversar a respeito de tudo. — murmurou com desdém enquanto arrancava a pequena calcinha de renda e jogava-se sob o colo da outra.

Edythe suspirou novamente, excitada e frustrada.

Há muito tempo permanecia assim, vivendo com baixas expectativas.

Desejava não ter expectativas.

Desejava poder entrar na mente de Bella Swan.