Meu amor....

Nesses dezoito anos de casamento as vezes em que eu te escrevi foram em bilhetinhos de quatro linhas com declarações, obviamente, breves (mas não menos sinceras), muitos sem razões algumas que não fossem te conquistar diariamente no meio da nossa vida rotineira. O motivo para a minha falha pode ser explicado lá atrás, em nosso aniversário de um ano aonde eu captei por breves segundos um olhar triste seu após receber o enorme cartão que acompanhava meu presente. Eu soube na hora o porquê daquele olhar, te trouxe de volta para o passado, para o que eu tinha feito e por isso resolvi não repetir. Claro que naquela época não éramos tão bem resolvidos com o que aconteceu como hoje somos (não estaria te contando isso se não fossemos) mas a verdade é que eu nunca soube definir o momento certo em que '' superamos'' de vez aquelas páginas. Quando nos reconciliamos o trato que fizemos foi simples: Não comentar sobre o que passou, esquecer e fingir que não existiu. Quem sabe esse tenha sido um erro que cometemos nessa jornada, a crise que passamos depois do aniversário de seis anos poderia ter sido evitada caso, lá atrás, tivéssemos sentado e conversado sobre o que houve, caso eu tivesse te detalhado minuciosamente como me sentia e a minha culpa eterna; erramos em outras coisas também naquela época, deixamos o prejuízo do falho projeto de levar a ECOMODA para o Japão interferir em casa, aí lançamos coisas pessoais na cara um do outro e o resultado foi o que vimos: duros cinco meses de brigas. Eu tinha até os dias contados na minha cabeça martelando de modo louco e você sabe bem como são as minhas paranoias, infelizmente quase nada em mim é leve e equilibrado.

Entretanto se tem uma coisa que eu aprendi vivendo e amando você é em como as coisas ruins sempre trazem coisas boas pois finalmente conversamos sobre tudo, confessamos cada sentimento pro outro e a partir dali posso apostar que foi quando começamos a superar de verdade. É estranho como tudo com nós dois é ao contrário do normal, enquanto os casamentos despencam após o prazo de cinco, seis, anos foi justamente quando o nosso melhorou e eu que achava na ingenuidade daqueles primeiros quatro anos que era impossível ficar melhor do que aquilo. Não só por isso agradeço aquela crise, mas também por que foi pela reconciliação que viajamos de segunda lua de mel para a Grécia e concebemos nosso segundo milagre (três dias trancado em um quarto, você me matou ali espertona).

Parece que o universo se alinhou logo que voltamos e tudo passou a dá certo, a empresa se recuperou mais rápido do que imaginamos, meus pais voltaram para o país, a obra da casa de praia em Santa Marta passou sem problemas e, principalmente, essa gravidez pra você foi tranquila e sem os inúmeros enjoos da primeira. Camila já demonstrava seu temperamento desde a barriga, um furacão, e disso também assumo a culpa e divido com seu pai e com o meu, essa garota é o clássico exemplo da frase: '' as filhas pertencem ao pai'', muitas vezes eu tentei incentivar que ela tivesse a proximidade que tem comigo e com eles para você e nossas mães mas acho que falhei nisso também, acredito que seja uma questão de personalidade, ela é igual ao seu pai no sentido de querer tudo do jeito dela e da maneira dela, nenhuma opinião que não seja a própria tem razão para essa garota, mas também tem o senso de racionalidade do meu pai (ainda bem) e a minha determinação em correr atrás do que quer, somamos todas essas figuras masculinas nela e não deu em outra '' Uma garota dos homens'', só espero de coração que não duvide jamais do amor de Camila por você pois foi inclusive ideia dela que eu te escrevesse essa carta de presente de aniversário de casamento.

Ontem telefonei pra ela enlouquecido por não saber o que colocar aqui e falamos ti por horas, me parece inimaginável como alguém tendo uma pessoa extraordinária feito você de mãe consegue ser tão mais apegada logo à mim, mas ela respondeu o que eu já esperava '' Era mais fácil conseguir as coisas do senhor papai'', afinal mamãe quem colocava de castigo, dava as broncas, dizia o que podia/não podia e toda a parte chata, quando ela foi crescendo e meu temperamento de pai super-protetor começou a negar as festas do pijamas, festas de amigos e amigas, saídas ao shopping, ao cinema e você quem tinha que se dobrar em mil com suas psicologias reversas para me convencer, ali as coisas poderiam ter se invertido e vocês teriam se unido porém usando as palavras de nossa própria filha '' Já era tarde demais'' e ela já era '' minha''. Foi tão estranho para mim ouvir isso dela Beatriz, ouvir que eu era o maleável e você a rígida apesar da sua doçura que ela mesma destacou, mas é que desde sempre quando eu via minhas primas, amigos, conhecidos com filhos e eles faziam algum tipo de birra, eu costumava pensar o quanto seria diferente comigo se eu um dia tivesse um (algo que eu nunca quis, mas SE TIVESSE) e eu tinha a absoluta certeza de que não permitiria faltas de educação, seria duro e intolerante, conseguia visualizar perfeitamente meus gritos de impaciência, pois detestava as crianças mal criadas... Falei tanto para ser o completo oposto de mim mesmo, não sei dizer se tê-las me fez quebrar a cara ou se a sua presença sempre tão certa do que fazer e como fazer me impediu de demonstrar a essas crianças o gênio que eu posso ter. Já pensou eu sendo pai solteiro? Não dá.

Não dá pra eu fazer nada nessa vida sem você.

Quando o Júnior nasceu, ainda na maternidade enquanto o ninava no meu colo pela primeira vez eu fiz um pedido para aquele bebê, pedi que ele fosse como você e para você. De mim somente o sangue e o nome. No primeiro ele me obedeceu em partes, tem muito seu e tem muito dele próprio e tudo de uma maneira boa, mas no segundo ele me acatou completamente. Não tenho chance alguma no meio de vocês e esse menino deve agradecer até o último dia por ser um dos únicos homens que chegam tão perto de você e não me faz arder de ciúmes. Me estimula as conversas de vocês dois pela manhã sobre qualquer clássico literário que ele está lendo e quer a sua opinião, quando ele corre até você com entusiasmo para te mostrar um vídeo sobre algum fato interessante ou uma notícia importante e eu adoro assistir o brilho que acende nos olhos dos dois durante seus diálogos tão cultos. Você encontrou seu par ali e eu encontrei minha tranquilidade sabendo que se algo acontece comigo haverá alguém pra te proteger, pra te zelar como eu faço. Soube disso já nos primeiros meses de nascimento onde ele chorou em três ocasiões no justo momento que eu estava pronto pra te dar amor. Isso me lembra a fase dos pesadelos, anos mais tarde, em que insistia tanto pra dormir com a gente que tínhamos que apelar para o banheiro no meio da madrugada. Pelo menos durou pouco.

Já são doze anos vivendo pela loucura do que acontecia na vida dos dois: a catapora do Junior que me passou infectando até minha língua (horrível), quando descobrimos que eles estavam resgatando animais de rua dentro de casa e não nos contaram, quando a Camila ainda bebê rabiscou as folhas inteiras daquela papelada importante que tinha que ser apresentada no dia seguinte aos fornecedores, quando em um lançamento fui ao banheiro trocar a fralda do Junior e voltei sem perceber pro salão com a fralda na mão na frente de toda a imprensa, a saga interminável da festa de quinze anos dela que praticamente mobilizou a família e toda Bogotá... Enfim... Muitas histórias e eu passei por cada uma delas indo dormir com certo alivio, não importa o quão estressante estava sendo, por que no fim eu amo a minha vida e eu sei que você também é feliz. Ao nos casarmos, durante o discurso do padre, eu lembro de fazer uma promessa à mim mesmo naquele altar: que eu ia recompensar tudo que eu fiz te fazendo extremamente feliz, que essa seria a minha prioridade de vida, meu objetivo número um ao acordar, que eu daria a minha pela sua em qualquer ocasião necessária, essa era a minha redenção. Fiz essa promessa passando por cima de toda a minha insegurança por duvidar se eu conseguiria ou não, passando por cima do meu medo por me julgar desmerecedor de você, passando por cima desse eterno remorso que nunca ia embora martelando dentro de mim cada vez que eu te olhava. Foi um desafio diário por anos e hoje eu posso dizer que vencemos, pois vivemos espontaneamente e eu descobri que meu amor por você não foi fruto de uma culpa.

Meu amor por você foi fruto da admiração, as vezes eu olho pra você e me pergunto se você realmente existe ou se eu te imagino por que me parece impossível o fato de que tanto foi feito pra mim e essa admiração não vem dos fatores óbvios como a sua extrema inteligência, seu cuidado maternal, sua ternura... Vem de coisas muito mais profundas. Por muito tempo eu te considerei quase que um horizonte: tão distante, longe, inalcançável, só que ao mesmo tempo que é esse mistério, essa incógnita que eu nunca sabia o que pensava ou o que sentia, você também é entregada, é verdadeira. Ao mesmo tempo que era submissa, também é controladora e quando abre a boca ninguém consegue retrucar, tem tanta opinião, sempre sabe o que falar. É tímida, mas bem humorada. É feliz e alegre, mas taciturna e fechada. Sonhadora menina ingenua, mas tão madura e sagaz. Sensível e de sangue frio... Você me fazia sentir como se eu estivesse com mil mulheres ao mesmo tempo e não conseguia me aproximar de nenhuma delas. Na minha angústia eu só pensava '' O que ela pensa? O que ela sente? Nunca me fala nada'', desejava ser apresentado a cada centímetro da sua mente, saber quem você é por inteira. Hoje eu já tenho muitas respostas para essas perguntas e não por que você me disse, mas porque eu tive que aprender a te ler. Ainda estou nessa luta, nessa eterna descoberta. Entende agora a fonte desse sentimento que parecia me enlouquecer, me desesperar, me fazendo perder completamente qualquer possibilidade de equilíbrio, eu sentia seu amor levando até mesmo a minha respiração. O Mário uma vez me disse: '' Naquele primeiro beijo onde você disse à ela que o causava obsessão, aquilo não foi uma mentira... Foi uma premonição''.

A parte mais difícil dessa carta é justamente essa, dizer o que você é pra mim por que eu já nem sei mais se é possível, acho que você sou eu. Por que está na minha alma, no meu coração, na minha mente, na minha pele, em cada decisão que eu tomo até nos meus sonhos então deve ser isso, você deve ser eu, tomando tudo por completo como um espirito que eu recebi e não sai mais. Por anos antes de te conhecer eu condenava esse traço da minha personalidade, tudo em mim é muito, é grande, é intenso, nada é comedido e hoje eu sei que eu sou feito justamente assim pra poder amar a ti exatamente como uma mulher igual você merece ser amada, feito um menino, um adolescente tremendo perto da primeira namoradinha, desesperadamente, puro sentimento, idiota, doido. Por mais que eu tenha mudado em muitas coisas, sei bem que nunca vou ser perfeito e tenho total ciência de que você não escolheu o melhor homem, pelo contrário quis a pior opção, mas com certeza escolheu aquele que te ama mais, porque eu posso chegar a afirmar que ninguém nesse mundo ama alguém como eu amo você e brigarei eternamente com seu pai por isso caso ele insista que o amor dele é maior que o meu.

Obrigado por tudo, obrigado por zelar pelos meus pais como se fossem seus e sei que não foi fácil conquistar a minha mãe e unir as duas famílias (devemos parte disso ao poder de sedução das crianças também), obrigado por aceitar o Mário (ele, a filha e a nova namorada de cada semestre, pelo menos agora não é pra cada dia. O mulherengo sem filhos agora é o Nicolas que se aproveita de modelos interessadas no seu cargo), obrigado pela ponderação na qual você administra a ECOMODA, obrigado pela generosidade com os nossos funcionários, dando oportunidade de crescimento pra tantos, obrigado por regar o jardim todo sábado, obrigado por saber exatamente qual volume da televisão eu consigo assistir sem me deixar ou louco ou sem conseguir ouvir nada, obrigado por se oferecer pra fazer a minha barba porque sabe como eu amo te observar concentrada em qualquer que seja a situação e obrigado por ter nascido como nasceu, ter tido a família tão fechada que teve, por ter descontado toda sua solidão, incentivo dos pais e aparência nos seus estudos, ter se tornado tão capacitada, ter sido demitida daquele banco por um motivo tão idiota, ter sido rejeitada em todas as empresas possíveis até se cansar, comprado o jornal naquele dia, obrigado por ter enviado seu curriculum para nós, obrigado por ter sido aprovada, por não ter perdido o ônibus, ter feito aquela entrevista de emprego e salvado a minha vida. Obrigado por tudo isso. E eu te agradeço assim: Agradeço os problemas de fertilidade da minha mãe que fizeram meu pai, achando que nunca teria um filho, se apegar tanto no Daniel, o mais velho do melhor amigo e sócio dele, agradeço que por isso eu, que nasci de milagre, cresci sempre com muita inveja da relação próxima deles, me sentindo um pouco rejeitado. Agradeço a aposentadoria do meu pai, a da secretária dele, a ida da minha antiga, agradeço por essa rivalidade com o Daniel que me fez criar aquelas metas. Agradeço ter sido alguém irresponsável, impulsivo, explosivo, orgulhoso, mulherengo. Agradeço ter todos os defeitos que eu tinha (e tenho), agradeço todas as desgraças que eu fiz e que atraí por que assim, sem elas, eu não precisaria tanto de você como eu precisava e não teria necessitado do seu salvamento. Agradeço ter posto aquele anúncio. E é por isso hoje que esse casamento dá certo, porque precisamos um do outro, eu preciso do seu equilíbrio para a minha loucura, do seu senso de prudência para o meu exagero e você precisa da minha determinação para sua timidez, do meu desbravamento para a pessoa contida que você é, nos complementamos, aprendemos um com o outro e nos salvamos todo dia e é esse o nosso ingrediente secreto: a evolução que fazemos juntos através da troca.

Apesar dessa visão de tentar passar tudo sem arrependimentos, eu questiono coisas sim na minha imaginação. No nosso primeiro dia de casados quando te observava dormir eu me recordo de um pensamento sobre mudar o destino, eu pensava em como eu gostaria de ter te conhecido no meu primeiro dia de vida, de ter você sempre lá, que você fosse do circulo de amigos dos meus pais ou filha de algum funcionário da empresa, eu queria você lá desde o começo. Me pegava imaginando eu construindo uma máquina do tempo e indo até mim mesmo no dia que te conheci e gritado para aquele Armando '' Ei, é a mulher da sua vida ai na sua frente'' '' É com ela com quem você vai se casar'', me imaginei fazendo isso em várias outras ocasiões nossas enquanto convivíamos como chefe e assistente. Me imaginei fazendo isso quando levantei da cama naquele dia '' Olha Armando hoje você vai conhecer a mãe dos seus filhos, passe muito perfume'', ou naquela semana, naquele ano, na infância quando brincava pela ECOMODA na sala de reuniões que fomos apresentados, na produção que nos reconciliamos... Como aquela pessoa iria imaginar o que viria pela frente ali naquele lugar? Queria ir até aquele adolescente, dá o endereço da sua casa e pedir que ele fosse até lá e te conhecesse. Me vi chegando ao ponto de me perguntar '' O que eu estava fazendo quando ela nasceu?'' '' O que estava fazendo quando ela chorava brincando sozinha?'' ou '' O que estava fazendo quando aqueles desgraçados....'' enfim.... E foi ai que eu cheguei a conclusão do porque eu estava tendo tanto esse tipo de pensamento e ela é muito simples: me sentia mal por não poder tá lá protegendo você, desde o primeiro dia contra tudo e contra todos. Me sentia culpado por ter passado trinta e três anos da minha vida sem saber que você existia, que você sofria e não ter ido atrás, não ter adivinhado que você estava lá. É loucura, mas eu até hoje me sinto dessa forma as vezes.

Bom, acho que já devo ter cansado a sua vista de tanto ler... Quero dá uma rápida passada pelo presente e realmente não tem sido fácil você sabe. A ida da Camila para Nova Iorque tem me matado, surtei, me isolei, chorei, me estapeei até que chega um ponto onde se tem que entender que não dá mais, eu não queria ela aqui me odiando; julguei que nada poderia superar o primeiro namoradinho três anos atrás mas errei, agora sim eu gostaria que eles não tivessem terminado ano passado, porque o pensamento dessa menina lá solteira me causa insônia. Mas eu sei que em breve a dor irá amenizar e será substituída pelo orgulho assim que ela me contar sobre suas notas e exibir o diploma de Biomédica, a proximidade que Junior e eu tivemos nesse último mês tem sido meu alicerce principal nessa reabilitação, já terminei dois livros do que ele me recomendou e em breve vou focar nossas conversas nisso, ontem quebramos uma regra sua e falamos sobre a ECOMODA, ele quer isso e, não vou negar, me tranquiliza (e te tranquiliza também que eu sei). O outro problema você sabe bem: O divórcio do Daniel, incrível como nesses anos todos temos conseguido criar uma boa convivência até mesmo com a Marcela que nem casada ou comprometida é e poderia ocasionar atrito entre vocês duas e nada, (se respeitam apesar de não serem amigas) é com ele que continua tudo igual. Com a Vitória do lado dele era mais fácil controlar meus nervos de pular na jugular desse cara cada vez que ele te lançava um olhar insinuante, só que agora me preocupa não me conter mais e para isso eu sei que vão vir arrependimentos novos, brigas e eu quero que estejamos preparados, não precisa ter pena de mim pois provavelmente farei por merecer, sabemos como ciúmes é complicado pra mim e essa deve ser a grande área em que eu infelizmente não melhorei em nada. Eu não sei você, mas tenho a impressão de que ele só se casou e teve aquele menino para garantir sua parte futura na empresa, é tão estranho que logo depois que anunciamos a gravidez do Junior ele tenha pedido a primeira que viu em casamento. Aprovo o que você tem feito, estimulando uma boa relação entre eles dois e também a filha da Marcela, essa rivalidade não pode continuar por mais uma geração e é graças ao seu poder de cura a tudo que está em volta que eu confio que dará certo, tenho total fé nos seus métodos, no seu discernimento e seu poder de decisão, não há nada que você não alcance com excelência e sei que a minha confiança pode ser depositada sem hesitação em momento algum, tenho paixão em observar como você lida com as pessoas e nem você mesma tem noção do que faz e de como transforma, se me disserem que é por isso que você continua comigo eu acredito, ontem eu vi seu sorriso de lado quando ouviu aquelas duas modelos dizendo o quanto era sortuda por me ter de marido. Betty, elas mentem cegas pela ignorância: EU SOU O SORTUDO. E antes que você venha com o mesmo argumento de sempre de que ''eu me apaixonei por você, mas que eu não estou com a mulher dos meus olhos e você sim está com o homem dos seus'' saiba de algo, era improvável que você fosse a mulher dos meus sonhos porque nunca que eu acharia possível que alguém como você existisse, você transcende meus sonhos, você transcende tanto eles que eu nunca nem tive uma mulher dos sonhos, eu tinha uma mulher para momentos, momentos que logo em seguida evaporavam pelo ar.

Mas para não dizer que eu não sinto falta de nada eu vou te contar algo, as vezes me pego pensando na versão que eu conheci antes e não falo só do óculos enormes, o aparelho, as grossas sobrancelhas, as roupas antiquadas e a franja incomum (Deus, como eu sinto falta dessa franja É SÉRIO), falo da menina, com aquela personalidade ingênua como se estivesse descobrindo o mundo, encantada e com um ar de criança, eu sei que essa não voltará e não somente pelo obvio amadurecimento que o tempo nos dá mas por que parte dela morreu na abertura daquela carta. Eu matei. Nesses anos todos cada momento em que eu captei um traço pequenino dela em um gesto mínimo seu era como uma festa no meu corpo e não por preferir ela do que quem você é agora, a verdade é que eu só quero você independente de qualquer versão (é livre para mudar mais se quiser), mas por que me demonstra o quanto você é forte e que eu não destruí tudo, me da orgulho de você e da mais dignidade pra mim.

Eu não queria que essa fosse uma carta triste, queria que celebrássemos essa vida que estamos construindo só com histórias boas e lembranças gostosas, mas duas pessoas com um amor como o nosso, que viveram tanta coisa juntos como nós dois normalmente também tem o outro lado da moeda e eu não quero cometer o mesmo erro de ignorá-lo tudo para causar tempestades na frente.

São dezoito anos na qual você continua tão linda como sempre, se entregando pra mim do mesmo modo apaixonado que me fez perceber que você já havia sido minha até mesmo em outras vidas, que fez o cara dessa vida desaparecer em mim mesmo sem chances de volta e acredite meu amor eu tentei trazê-lo de volta, porém o concorrente, no caso você, o meu desejo, o meu amor, o seu amor, eram fortes demais, fazer com que eu resistisse ao meu desejo por você era uma missão impossível e que eu já entrei perdendo. Não existe paixão como a sua, não há boca mais doce e nem corpo mais acolhedor. Você é meu mais e meu tudo, mais/tudo que eu quero, mais/tudo que eu preciso.

Sabe muito bem onde iremos hoje, certo? Gostaria de fazer surpresa, mas sei que você me conhece demasiado pra isso. Ao mesmo hotel. Ao mesmo quarto daquele ponto de virada onde tudo começou e onde tudo, ao mesmo tempo, terminou. Dia de minha morte e da minha ressuscitação sempre caminhando juntos. Sempre que vamos lá não existe saudosismo é como se nos renovássemos a cada vez, o mundo, as convenções, as responsabilidades, nada existe... apenas dois amantes ávidos para provarem um do outro sem relógios, telefone, controle, obrigações... Tudo deixa de existir e a vida externa pausa somente para nos esperar e assistir por uma fresta se tiver sorte, invejando lógico. Te amo meu amor, minha loucura, minha doença, minha cura, meu vício, meu tratamento, é graças a esse amor que eu sei que existe mais além desse mundo porque só a possibilidade desse sentimento deixar de existir um dia não faz sentido, ainda mais depois de tantas voltas do destino pra gente se encontrar. Tomara que goste do chocolate que está ai no criado-mudo do lado do envelope, sei que desfruta mais de um trunfado do que de muitas joias, feliz aniversário meu universo. Nos vemos no escritório, te mando um beijo e aguardo o meu de bom dia, me avisa quando tiver saindo de casa (NÃO NO TRÂNSITO). Te espero anjo, hoje vem três compradores importantes bem cedo e quis preparar tudo, acabei saindo primeiro. Dirige com muito cuidado e não se esqueça que te amo, não quero nem imaginar o ataque de ansiedade que vou estar te esperando e te imaginando lendo isso, Deus ajude os funcionários dessa empresa hoje. Te amo, como sempre.

Seu, mais do que de mim mesmo... Armando Mendoza (Thatcher).