Reflexo escrita por Mitsuki Hayashi


Capítulo 1
Num velho reflexo abandonado




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O início do inverno era marcado pelo perfeito cenário esbranquiçado. Os flocos caíam sem pressa do céu carregado de nuvens, cobrindo as árvores do enorme jardim ao lado do lago congelado.

De dentro da mansão ao centro daquela paisagem, Seijuro olhava o túmulo de sua mãe ser, cada vez mais, envolto em neve. Igual ao resto da cena, ele se tornava branco e seria facilmente esquecido após um tempo.

O ruivo não sabia a quanto tempo estava lá, apoiado na janela e encarando o Sol se pôr no horizonte e, através da porta, ouvindo os passos dos criados correndo enquanto realizavam seus devidos serviços.

Vencido pelo tédio, saiu do quarto vendo a bagunça que se encontrava a mansão. As cortinas foram trocadas, a maioria dos quadros – todos com a presença de sua mãe – agora não estavam nas paredes; sem sombra de dúvida, Akashi tinha certeza de isso que fora ordem de seu progenitor.

Pelo canto dos olhos, percebeu de relance uma das empregadas indo em direção a escada, carregando umas das caixas empilhadas no primeiro andar.

Faria quase duas semanas que ele estava naquela casa, e, talvez pelo fato de ter ficado a maioria do tempo dentro do quarto lendo, nem lembrava que tinha um terceiro andar, sequer imaginava o que tinha nele. Uma vez, após ser chamado pelo pai para conversarem, sem intenção acabou ouvindo um dos criados perguntarem onde deveriam colocar alguns pertences do antigo dono da casa – seu avô – e tendo como resposta o sótão. Depois de pensar, chegou a conclusão de que o terceiro andar era todo o espaço do sótão.

Lembrava das histórias que sua mãe contava sobre aquele casarão, principalmente que ela adorava investigar cada canto, o dizendo que mesmo estando em um lugar completamente diferente, assim como ela, encontraria algo para fazer.

O algo para fazer que tinha, sem contar as poucas vezes que saía do quarto para as refeições, era olhar repetidamente o mesmo campo, se perdendo nas memórias que nunca mais voltarão. De repente a presença mais marcante em sua vida se foi, o deixando sozinho e sem apoio para quando seguir os passos de seu pai.

Entediado, e derrotado pela curiosidade sobre o andar que desconhecia, subiu as escadas, parando em mais um dos enormes corredores da residência. A decoração não era muito diferente da do resto da casa, pelo contrário era mais simples que o resto. Poucas portas, no máximo três pelo que pode contar de primeira vista, de uma delas o barulho de pessoas conversando e andando, o peso que tocavam o chão indicando que carregavam coisas pesadas.

Adentrou no cômodo, sendo cumprimentado por alguns serviçais, e explorou. Caixas, pinturas, livros empilhados – os quais folheou em busca de algo bom para ler, não encontrando nada. Móveis cobertos por longos panos brancos, empoeirados pelo tempo, e mais caixas.

Velharias que não teriam valor algum além do sentimental por todos os lados, mesmo um velho espelho era encontrado. O objeto de corpo inteiro chamou sua atenção em especial, com uma borda chique, moldada no mármore e pintada de dourado, dando-lhe a aparência de velha relíquia de ouro.

O vidro, cujo deveria refletir a contente imagem de um garotinho ruivo, sorriso algum de alegria mostrava, totalmente marcada com sujeira de mãos que o pegaram para o transporte do mesmo para o lugar esquecido perto da parede.

Por algum motivo, ficou fascinado com o reflexo manchado. Os olhos tomadas por um tom carmesim, frias com um pouco de um azul reconfortante, logo assumidas por completo a cor calma. O mesmo ocorrendo com os fios do rebelde, porém arrumado, cabelo antes ruivo. Aquele refletido no espelho era ele?

Emaranhou a mão na cabeleira, não sendo ‘copiado’ pela imagem no espelho. Ela apenas ficou lá, parada, o encarando, e Akashi fez o mesmo.

O garoto, que mesmo não sendo si, era parecido, deu-lhe um sorriso de canto, tímido, e desapareceu, deixando a imagem retorcida pelas manchas de antes. E Seijuro focava o espelho, espantado.

Tocaram-lhe o ombro, e ele se virou. Um dos criados o dava um olhar preocupado, buscando entender o que se passava com o menino para o mesmo ter ficado tanto tempo na frente do antigo enfeite de quarto da governanta de antes da casa.

Rapidamente, o herdeiro da família retirou brutalmente a mão de si, lançando ao homem uma repreensão e indo para a porta, parando na mesma. Segurou um suspiro, relaxando a expressão de raiva e olhando para uma das empregadas. “Quero que leve esse espelho para meus aposentos, o quero lá até depois do jantar.” ordenou, e vendo a mulher se concordar com a cabeça, saiu, pronto para comer, o delicioso cheiro da comida da cozinheira já de idade espalhado pela casa.

Um por um, desceu os degraus da escada do terceiro ao segundo andar, chegando enfim no primeiro. A sala de jantar após o saguão, ninguém havia. Nenhuma presença que desejava ter como companhia à mesa. Nem mesmo seu pai estava, provavelmente dentro do escritório, cuidando dos negócios da empresa. Esquecendo da família, de Seijuro.

Ainda assim, comeu solitário na grande mesa, o silêncio sendo a única coisa presente.

Quando terminou, agradeceu a refeição, e se retirou do lugar. Sem paradas, ou outros pensamentos em mente, apenas se dirigiu ao quarto, esperando que sua ordem tenha sido obedecida. Claramente tendo sida, quando logo ao entrar, notou o espelho ao lado a cômoda.

Fechou a porta do quarto, e se aproximou dele. O vidro sujo indicava que não tinha sido limpo, e pegando uma roupa que não usava mais de uma das gavetas do armário, passou sobre sua imagem o limpando, com um cuidado incomum de sua parte.

No fundo, esperava que o garoto de antes aparecesse, mesmo sendo uma ideia que seu lado lógico negasse. Seria aquilo, talvez, uma brincadeira que seu lado infantil havia criado. Um amigo imaginário criado apenas para ocupar o espaço que sua falecida mãe deixara.

Terminou, jogando a peça de roupa no chão, e apoiando as mãos na parte que acabara de limpar ao mesmo tempo que se ajoelhava, esperançosamente aguardou. Buscava não piscar, procurando qualquer indício de que não era falso o garoto no espelho. Nas vezes que piscava, deixava os olhos fechados por um curto tempo, e os abria rapidamente, querendo – e desejando – que a visão se repetisse.

Um bom tempo se passou enquanto fazia aquilo, e só parou quando o relógio antigo marcou vinte e uma horas e as badaladas ecoaram por toda mansão. Deveria se preparar para dormir, não podendo mais sair por aí, andando livremente.

O suspiro que havia guardado de mais cedo escapou, a tristeza misturada com a decepção. Levantou-se do chão, olhando para a representação no espelho mais uma vez. Tentou, uma última vez, sorrir da mesma maneira que o garoto de cabelo azul sorriu. Falhou, diferente do dele seu sorriso era triste, não igualmente belo e cativante.

Afastou-se.

Após se banhar, um lanche da noite e de ler umas páginas de um dos livros que tinha trago, deitou-se no conforto de sua cama. O sono lhe caiu sobre os ombros, e já sonolento, fitou mais uma vez o espelho que tinha virado em direção a cama. “Boa noite.” desejou a ninguém, sem esperar a resposta comum que sempre recebia de sua mãe. Durma com os anjos, meu pequeno.

Palavras surgiram no espelho, bem escritas, não como uma cópia invertida, visto como era difícil escrever ao contrário.

Durma bem.”

Tomado pelo cansaço, Akashi sorriu, e vislumbrando a mensagem sem pensar de quem era, adormeceu.

Naquela noite, sonhou com o impossível se tornando possível, e o garoto que não conhecia ao seu lado. Brincavam como as crianças que eram, sem o peso da realidade. Corriam e pulavam felizes, Seijuro ria e conversava coisas aleatórias com o garoto azulado.

Ei, pode me dizer qual é o meu nome?” e antes que o ruivo pudesse responder qual o nome do garoto, sendo que nem mesmo ele não sabia, despertou.

[…]

Permaneceu deitado na cama, lembrando do mundo irreal que criara. Se virou pro espelho, se assustando com o que estava nele. E levantou de uma vez, correndo pra confirmar o que via.

O garoto de cabelo azul, sorrindo da mesma maneira que o sonho, e escrevendo na superfície que agora parecia papel. “Bom dia! Dormiu bem?”

Assentiu, nada dizendo, e mesmo se dissesse alguma coisa, o que seria? Como ele havia ido para no espelho? Por que ele estava lá? Qual era seu nome?

Desde pequeno, fora educado com uma rígida educação, seria errado o perguntar essas coisas sem que se apresentasse primeiro, e assim o fez.

Seijuro Akashi.” admirando o garoto, começou, sentindo ser observado. “Meu nome é Seijuro Akashi, o atual dono do espelho.”

É um prazer, Akashi-kun.” o azulado, com a voz serena o cumprimentou. - Em que posso ajudá-lo?

O ruivo o mirou, confuso com a pergunta. “Me ajudar?” o garoto concordou com a cabeça. “Com o que?”

Não está triste?” negou em resposta. “Solitário?” negou novamente, não tinha motivo para estar tão solitário, apenas queria alguém para conversar.

Mexendo-se minimamente, o menino coçou a garganta com uma tosse, desconfortável por não saber o que faria a seguir.

Como foi parar no espelho?” a pergunta saiu dos lábios de Akashi naturalmente, e esse nem fez questão de pará-las, afinal era algo que buscava saber desde a primeira aparição do garoto.

Parando?” Seijuro não se deu por convencido, porém optou seguir para outra pergunta.

Seu nome é…?”

Sentando-se, o menino sorriu. “Como prefere me chamar?” e mais um retorno vago.

O ruivo respirou fundo. “Não tem nome?” e atualmente, é possível alguém não ter nome? “Se não tem nome, por que está aí?”

Meu nome é do que quiser me chamar. E estou aqui porque irei te ajudar com o que quiser, e com o que precisar.” ele explicou, arrumando o sobretudo azul-escuro que vestia.

Akashi ajoelhou no chão gelado, pensando em como continuaria a conversa. Relutante, olhou para a porta, lembrando-se do café da manhã que deveria tomar. “Quando eu voltar, você ainda estará aqui?”

Caso me dê um nome, sim, estarei aqui.” e ele ainda não tinha um prenome. Erguendo-se, foi para a estante do outro lado do quarto, e pegou o primeiro livro que alcançou, logo voltando para o garoto.

A obra que havia pego era de um dos seus autores favoritos, o homem usava como pseudônimo Kuroko Tetsuya, e desde que leu um de seus livros pela primeira vez, o nome se tornou especial para Seijuro, preenchendo cada vez mais suas leituras.

Pode ser algo assim?” apontou para a palavra em itálico no canto inferior da capa do livro e o menino concordou. “Então, seu nome agora é Kuroko Tetsuya?”

Exato.” o outro sorriu, desaparecendo do reflexo do espelho. Akashi piscou, desnorteado. O tinha dado um nome, certo? Então por que ele tinha ido embora?

Antes que começasse a chamar Kuroko, ele apareceu novamente, agora com roupas semelhantes a que o ruivo usara no dia anterior “Prazer, Akashi Seijuro-kun. Meu nome é Kuroko Tetsuya, gostaria de conversar?” e se apresentou, sorrindo mais abertamente que antes.

A imagem do garoto sorrindo fascinou o ruivo. Ele tinha o mesmo brilho no olhar de Seijuro antes de sua mãe falecer. Era quase uma versão mais feliz, e inocente, de si.

Akashi-kun…?” Kuroko o chamou, e o mesmo saiu do encanto que tinha entrado.

Vou tomar meu café da manhã agora. Você disse que estará aqui ainda quando eu voltar, certo? Agora vai cumprir isso, Tetsuya?” o cobrou.

Claro.” o azulado tombou a cabeça pro lado, exibindo os dentes brancos. “Estarei aqui.”

Apreensivo, Seijuro saiu do quarto, andando de costas para a porta, o olhar fixo no espelho – o qual tinha virado para a porta.

Não suma daí, por favor.” saiu, batendo a porta num baque, e a abrindo novamente, checando o espelho. “Daqui a pouco volto.” trancou a porta e correu, os passos apressados ecoando pelo corredor até desaparecerem.

Não irei tão cedo, Seijuro.” Kuroko riu do ato, sentando-se no chão e tomando um caderno e uma caneta.

 

 

Como deveria agir quando estava contente e ansioso? Anos de aula de etiqueta sendo destruídos pela ansiedade de inúmeras coisas que queria comentar com Kuroko.

Assim que a porta se fechou, saiu disparado para comer, um enorme sorriso estampado em sua face. No caminho acabou por encontrar alguns empregados e mordomos, e desculpou-se ao esbarrar neles. Akashi Seijuro desculpou-se para um servo. Por mais que fosse estranho, os trabalhadores da mansão não reclamaram, até elogiaram o ruivo por isso, o dizendo o quão felizes estavam por ver sua mudança de humor, considerando que a um dia ele ainda estava deprimido.

Não os escutou, apenas corria pela enorme casa como criança que realmente deveria ser, ainda que no fundo agradecesse por seu pai não ter o visto dessa maneira.

Seus pés, tão apressados para comer e voltar ao quarto, logo o fizeram chegar na sala de jantar, a comida pronta na mesa e a cozinheira de idade servindo seu copo.

Seijuro-sama, está cedo, não?” ela assustou-se com a presença da criança sentando-se na cadeira, o medo de ter atrasado ao fazer a refeição. Antes que estava assustada, apavorou-se quando o ruivo começou a comer rapidamente, e a respondeu – coisa que pouquíssimas vezes aconteciam.

Acordei cedo. Não está atrasada, não se preocupe.” bebeu todo o líquido do copo e limpou com a manga comprida da blusa. Mais rápido que podia, terminou de comer, empurrando a cadeira e descendo. “Estava uma delícia, obrigado!” dirigiu-se para fora, voltando para o quarto.

S-Seijuro-sama?”

Absorto em pensamentos, sequer notou quanto chegou ao cômodo e adentrou, arrastando o espelho para perto da cama e sentando-se na borda da mesma. O estômago embrulhou ao não ver o rosto pálido.

Tetsuya?”

Um alívio quando Kuroko reapareceu, um livro em mãos e da mesma forma que o deixara. “Sim?” o azulado o olhou, confuso.

Achei que tinha ido embora.” Akashi confessou, desviando o olhar para a parede, a gostosa melodia da risada do azulado tocando seus ouvidos.

Disse que não iria, por que se preocupa tanto? Eu prometi, não é mesmo?”

O ruivo corou, um biquinho fofo aparecendo em seus lábios. “Não me assuste mais.” disse irritado.

Vou tentar.” Tetsuya respondeu tocando no vidro que os separava.

Não é para tentar! É pra fazer, é uma ordem Tetsuya!” Seijuro fez o mesmo com ambas as mãos enquanto ordenava

Sim, sim, senhor imperador.” debochou da ordem, rindo da cara desesperadamente fofa dele; lágrimas no canto dos olhos, as bochechas coradas e o cabelo bagunçado o faziam parecer mais inocente que realmente era. Da maneira que conversavam até parecia que se conheciam a muito, não a só um dia.

 

 

Semanas, não, meses passaram-se naquilo, e com os meses, anos vieram juntos.

De uma criança necessitada de amigos, Akashi se tornou um adolescente, perto de se tornar um homem, e Kuroko o acompanhou nessa transformação.

E sabe, Tetsuya, acho que eu deveria sair com ela.” o ruivo comentou enquanto olhava pro teto e brincava com a franja. O azulado, que estava de costas para a superfície de vidro, escrevendo algo até então, virou o rosto o encarando inexpressivo e voltou a escrever, apenas murmurando um ‘Você que sabe.’

Seijuro o encarou do canto dos olhos. “O que você acha?” o perguntou, esperando a resposta e recebendo a mesma de antes. Bufou. “Sabe, poderia me dar sua opinião.”

O jovem do espelho fechou o caderno de capa escura, o deixando ao seu lado, e virou-se pro ruivo. “Talvez não seja uma boa ideia.”

Akashi ergueu uma sobrancelha, “Não era essa opinião que eu queria.” reclamou e sentou-se na borda da cama, de frente pro espelho.

Então o quer que eu fale?”

Sua opinião. Vamos sair daqui a pouco, com que roupa acha que eu tenho que ir?” mais dependente que aparentava, Akashi buscava saber o que o melhor amigo achava das coisas, ainda mais que ele era muito observador.

Kuroko se levantou rapidamente. “Daqui… a pouco?” abaixou a cabeça, inúmeros pensamentos passando pela mesma. Pensamentos que Seijuro, infelizmente, não podia ler. “Quer dizer que não vai voltar cedo essa noite?” lembrou-se do momento que a Lua cheia aparecera no céu.

O ruivo tombou a cabeça. “Antes da meia-noite estou aqui, por que?” agora estava se preocupando, quantas vezes tinha visto Tetsuya daquele jeito? Duas, não, menos.

Nada, só… sinto que algo não vai dar certo.” ele abraçou o próprio corpo, desviando o olhar das olhos heterocromáticos.

Um sorriso se formou nos lábios de Akashi, logo sendo seguido por uma gargalhada. “Não vai dar nada errado, garanto.” colocou uma mão no espelho, ato que faziam a muito tempo para um acalmar o outro. Mas Kuroko não colocou a mão sobre a sua, ele deu um passo para trás. Não sabendo o que fazer, Seijuro tirou a mão, a levando ao cabelo e jogando a franja pro lado. “Vai dar tudo certo. Afinal, quando eu voltar, você ainda estará aqui.”

Você me deu um nome.” o azulado lhe deu um fraco sorriso, concordando com a cabeça apesar da insegurança, e viu o ruivo ir para o guarda-roupa, se arrumando. “E quero que ele não mude.”

Se despedindo, Seijuro saiu, deixando Tetsuya sozinho no quarto, para se encontrar com a garota.

O azulado apoiou a testa no espelho, suspirando. Do mesmo jeito que o melhor amigo tinha feito antes, colocou a mão no mesmo lugar, a outra segurando o caderno.

Esperaria ele voltar, como sempre fez.

 

 

A noite não poderia ter sido pior. Foram a um restaurante local, ao parque, ao shopping, tudo que tinha para ser perfeito o encontro. Mas não.

Preferia esquecer tudo que acontecera, subindo as escadas da mansão, entretanto não deixaria de a comentar com Tetsuya. Com isso em mente destrancou a porta do quarto, vendo o espelho velho da mesma maneira que deixara.

Tetsuya?” o chamou enquanto tirava a camisa, parando em frente ao espelho, esperando o reflexo do amigo e sua voz calma agraciar seus ouvidos. “Tetsuya?” talvez ele não tivesse escutado, por isso o chamou novamente. Nada.

Nada?

Somente seu reflexo estava lá, não o cabelo azul e olhos da mesma cor, inexpressivos porém com um brilho indescritível neles. O ser da sua idade – era o que achava – não estava.

Agarrou os lados do espelho com força, “Tetsuya?!” e gritou, importando-se de menos se o ouviriam. “Kuroko Tetsuya!!”

O objeto brilhou, a imagem dele aparecendo por míseros segundos algo falando, e desaparecendo, dando lugar a um caderno de capa azul e detalhes em preto e branco. E o caderno passou pelo vidro, caindo aos seus pés.

Pegou o caderno, o analisando, marcados em algumas partes por marca-páginas de cores diferentes. Primeira folha, um nome, não o seu, um de alguém desconhecido. Passou as páginas, e as mesmas coisas, nomes e nomes. Estaria ele escrevendo um diário?

Seu nome aparecera no último marca-página, o mais detalhado. Vermelho e dourado, as cores de seus olhos.

Não quis saber o porquê de seu nome ser o último, leu a última folha do caderno, uma letra extremamente caprichada.

Diga meu nome, o qual me deu.

Daquela forma gentil, unicamente sua.

Kuroko Tetsuya.

Não deveria existir. Kuroko Tetsuya não deveria existir.

Sempre esperará por você.

Estou retornando para você tudo o que me deu.

Seus sorrisos, suas lágrimas e suas várias feições.

Akashi Seijuro.

As lágrimas de Akashi passaram a cair no caderno, manchando o resto e o impedindo de ler. O jogou longe, irritado, e olhou pro espelho.

Você prometeu, Tetsuya.” apoiou a mão no vidro. “Você prometeu!” a mão se fechou em um punho. O socou, não uma vez, muitas. Até o vidro se quebrar e os cacos voarem ao chão.

Parou com o ato, tampando a boca e olhando pro vidro no chão, chocado e sem reação, o choro aumentando a cada segundo. O que tinha feito?

A vidraça no carpete brilhou, mais uma vez a imagem do azulado sorrindo, agradecido, o olhando. No que restara do espelho que refletia seu deplorável estado, uma mensagem apareceu em letras pequenas escritas a mão, mas estava ocupado demais para a ler.

Espere por mim, Sei-kun.


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