Atravessar escrita por Florence Lee
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura!
Falar com Eileen depois da aula Escreveu no post-it.
Eu não sei por que insistia em achar que eu esqueceria daquilo.
— Falar o que com a Eileen, Dave? – Um garoto que leu o que eu tinha escrito gritou na sala, fazendo todos rirem.
Damn it! Eu virei um pimentão quando toda a classe olhou para mim inclusive a dona do meu tormento, Eileen. Levantei as pressas e fiz uma nota mental “é agora”. Aquilo não fazia muito sentido, mas teria que ser agora. Esperei ela sair do colégio, fiquei cerca de trinta minutos a sua espera, não seria hoje que eu falaria com ela, mas no fundo eu estava feliz com aquilo e triste, contraditório. Rumei para casa e naquele meio tempo encontrei Eileen com seu grupo de amigas, esperei que todas elas se afastassem, não queria passar vergonha na frente da turma novamente; observei que elas tinham me visto, Eileen acenou para mim e meu coração disparou, “é agora” repeti mentalmente.
— Eileen! – Gritei enquanto ela se despedia de sua ultima amiga que a acompanhava.
— Olá Dave, não sabia que pegava esse caminho para ir para casa. – Ela disse com sua doce voz.
— Não... Sim, na verdade eu... Eu queria falar com você - Disse um pouco desconcertado por reparar como meu nome saia ainda mais doce em sua voz. Passei tanto tempo esperando por esse dia que não sabia o que eu iria dizer cálculos errados, talvez devesse mudar de área.
Ela fez uma cara de interrogação e disse:
— Eu entendi que quer falar comigo, mas não tem como ir direto ao assunto Dave?
Eu balancei a cabeça em concordância, apenas isso.
Ela fazia sinais afobados com as mãos para estimular minha fala, mas aquilo me deixou ainda mais desastrado com as palavras.
— Desculpa, eu gostaria de pegar o assunto de matemática que não anotei hoje – Disse apressado. VACILÃO DAVE, VACILÃO. Minha consciência gritou.
— Oh – Ela disse com um pouco de desapontamento na voz. Abriu a mochila e tirou de lá um diário rosa com uma caneta grudada na capa e numa folha em branco anotou o pedido do garoto destacando-o em seguida. – Gostaria de me dizer mais alguma coisa Dave?
Eu sorri tristemente para ela enquanto uma de minhas mãos tremula esticavam-se para pegar o pequeno papel. Ela retribuiu o sorriso acenando e esperando sua vez para atravessar a avenida, cada um indo para seu lugar. Enquanto isso minha mente me culpava “aquele era o gatilho”, mas eu não poderia deixar aquela oportunidade escapar mais uma vez.
Decidido, gritei:
— EILEEN!
Carros correndo contra o tempo e eu estava distante, desci da calçada em direção ao outro lado da rua, meus olhos estavam fixos nela e abri a boca mais uma vez para dizer o que eu desejava.
— CUIDADO!!! – A menina gritou, no momento era tarde demais.
Quando os paramédicos chegaram ainda estava um pouco consciente, pude me lembrar vagamente de ter gritado o nome dela antes de atravessar o sinal fora da faixa e os carros passando em alta velocidade, um deles me arremessou longe, agora estou sendo cuidado no meio da rua, sentindo pessoas me tocar e vozes ressoarem.
Gostaria de estar sem o casaco e poder sentir a sua pele contra a minha mais uma vez. Ela me olhava em desespero e gritava, mas eu sorria abobado para o amor da minha vida. Ah, menina, gostaria de não estar morrendo, gostaria de ouvir sua voz doce e calma, mas você estava gritando.
Descontente. Deveria ter lançado fora todo o meu medo e ter me declarado há você, mas procrastinar esse encontro foi angustiante. Nenhuma palavra saia da minha boca e havia uma carência em meu coração, a necessidade de dizer que a amava ou a morte se aproximando. A garota que me fazia ter vontade de ir ao colégio todos os dias, que fazia o inverno virar verão, ela é personificação da primavera e eu não vou ver mais suas flores desabrochar.
E eu vi uma luz negra e ele me disse venha. E eu senti ódio dele, mas levantei-me e fui. Perguntei-lhe porque estaria me levando, ele respondeu que eu entenderia... Eu queria chorar e desistir da eternidade para toca-la, mas não sentia exatamente nada.
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