Mike se levantou rapidamente e da maneira mais silenciosa que conseguia. Puxou a mochila anteriormente preparada de debaixo da cama e a colocou nas costas. Estava muito próximo do horário que tinha combinado com El.

Pela terceira vez revisou se seu relógio estava no pulso e a carteira no bolso. Se olhou no espelho do quarto antes de sair. Não acreditava que aquele dia finalmente havia chegado.

Saiu do quarto ainda sem fazer barulho, desceu as escadas devagar e, ao chegar na porta da frente, estacou. Ele estava preparado para isso desde sempre, ele sabia, mas agora sair parecia que pesava um pouco mais do que ele achou que pesaria. Respirou fundo. Estava esquecendo de algo? Claro! Deu meia volta e foi até a cozinha pegar as chaves do carro. Olhou para a geladeira. Se lembrou da sobremesa que comera mais cedo. Eleven certamente adoraria um pedaço. Olhou no relógio, teria tempo. Abriu a geladeira, encarou a torta de cereja enquanto partia um pedaço e colocava num pote pequeno que encontrara em cima da bancada, afinal não teria como ficar procurando outros. Abriu a mochila, colocou o pote e se lembrou de pegar um talher para que ela conseguisse comer. Fechou o zíper, conferiu se as chaves estavam consigo e partiu.

O garoto ligou o carro e torceu para sua mãe não acordar após tantas taças de vinho no jantar. Seu pai ele já sabia que não acordaria. Saiu com o carro com toda a prática recém adquirida e minutos depois estava chegando no local combinado, onde encontraria Eleven. Ele estacionou o carro, desligou o motor e os faróis e esperou. Olhou no relógio, já era hora. Começou a mexer a perna, impaciente. Será que ela havia desistido? Olhou pelo retrovisor regulando-o mais uma vez, inquieto. Olhou em volta, nenhum barulho, nenhum vulto. Ninguém. É isso, algo tinha dado errado.

Ele desceu do carro, dando a volta no mesmo e parando do lado do carona. Colocou as mãos nos bolsos, olhando em volta ainda atento. Não seria possível que ela não viesse, seria? Olhou no relógio. Estava atrasada. Ele respirou fundo e esperou. Se encostou no carro e vidrou o local por ela chegaria, afinal só havia um caminho por entre àquelas árvores. Olhou no relógio uma última vez. Era isso, ela não viria.

Quando Mike se ergueu no ímpeto de dar a volta do carro novamente para entrar pelo lado do motorista, ouviu um barulho próximo a uma árvore não muito longe. Ele franziu a testa e inclinou a cabeça em direção ao barulho. Quando pensou ter identificado de onde vinha, resolveu chegar mais perto. Pisou com passos leves por entre as folhas e gravetos, tentando não fazer mais barulho do que fosse necessário. Caminhou cerca de dois metros até achar que estava ouvindo coisas e se virar para voltar para o carro. Assim que se virou, a viu.

Ela abafava o riso encostada em uma árvore mais afastada. Seus cabelos caíam soltos ao lado de seu rosto, o que não era usual. Mike abriu a boca para protestar, se adiantando em direção a ela.

— Você precisava ver a sua cara! - Ela disse quando ele se aproximou.

— Que... - Ele começou a dizer quando ela o abraçou, o beijando logo em seguida.

Mike desistiu ao sentir os lábios quentes de El juntos aos seus. Ela o encostou no lugar onde estivera anteriormente, escondida esperando por ele, pressionando o corpo contra o dele.

— Não faça isso, El. - Ele pediu quando ela se afastou por um segundo. - Eu achei que algo tinha acontecido com você no caminho... - Ele a encarava nos olhos, ajeitando o cabelo dela atrás da orelha, delicadamente.

Ela o olhava de volta, com um sorriso travesso brincando nos lábios. Sabia que o que fizera fora sem sentido, mas sempre quisera saber qual seria a reação de Mike caso isso acontecesse. E se depois de tanto tempo planejando isso, ela resolvesse não aparecer? Será que ele partiria sozinho?

— Me desculpe. - Ela falou, aproximando os lábios dos dele novamente.

Mike a beijou, puxando-a para mais perto, acariciando sua nuca, suas costas, sua cintura. Ela o beijava de volta com força, e sabia que não era a hora, mas sentia uma vontade crescente de dizer a ele para irem logo para o carro, no banco de trás que já os vira fazerem isso tantas vezes antes.

— Pronta para o primeiro dia do resto da sua vida? - Ele perguntou entre um carinho e outro enquanto a garota recuperava um pouco do fôlego.

Ela o beijou de leve antes de encará-lo mais uma vez.

— Eu diria que mais do que pronta, e para o resto das nossas vidas... - ela respondeu, o puxando pela mão em direção ao carro.