Os raios ainda eram tímidos. Reclinavam-se sobre o cabelo de Atena com delicadeza, deixando-o levemente dourado. Nada ainda muito brilhante. Mas essa luz cálida, seu pequeno despertar depois de um inverno tão frio, pincelado de cinza, tocava a pele dela e abria seus olhos de forma tão leve que era quase um suspiro.

Ela gostava, em épocas clarinhas como essa, de andar seus passos pelas cidades. Iam mais devagares, deixando-se pelas calçadas, enquanto os olhos cinzas encontravam a cada flor um encanto pequeno.

Seu andar encantado, de quem anda no próprio sonho, sabe que cada cenário florido é realidade.

Escora-se em um banco, deixa os olhos caírem sobre o parque. Vê a luz entrar por entre algumas poucas nuvens, e entende que presencia um momento rosa claro: como se tudo, o mundo todo, florescesse em seu colo. Atena sente a textura de cada flor, seus cheiros estonteantes e o pedido baixinho que lhe fazem. Não deixaria de cuidar delas, as responde no mesmo tom delicado, enquanto acaricia suas pétalas.

Percebe, pela luz cálida, um deus de mar, que não sabe manter viva nenhuma flor. Não é de sua natureza. Não se lembra de nenhum cuidado, muito distraído, cheio de ideias pairando no ar. Anda pela primavera como se não a visse, incapaz de registrar seu aroma, incapaz de se preocupar tanto com elas.

Saber disso, olhando-o tão de perto, quebra o coração dela em muitos pedaços. Ele está sentado ao seu lado, ainda assim não percebe as flores que ela carrega tão próximas a si.

Ela se sente desmanchar. Então ele olha em seus olhos, e o verde água os invade intensamente. Atena nunca soube como lidar com ele. É incapaz de entender como ele pode transbordá-la, e percebe que, se ela é primavera, ele é verão. Ele é um verão escaldante que esquenta sua pele mal a toca. Ele é verão nos raios intensos, cheios de sol, que saem de seus olhos. É verão no pequeno sorriso que lhe entrega de graça, esperando sorri-la por dentro.

Ele não sabe ser delicado, suas chuvas e raios de sol são intensos demais, violentos demais. Mas sabe deixar no peito dela, pelo mais mínimo contato entre seus olhos, um encanto que ela transformará em flor inevitavelmente.

Ao voltar para casa, um delicado rosa claro em suas mãos, Atena o colocará na água. Sonhará com os olhos dele, e aquela luz alimentará a flor por todo o tempo que a primavera durar.