Predestinado escrita por GabusDramaticus


Capítulo 7
Capítulo Sete




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Logo depois do café da manhã, Travis me escoltou pelo acampamento. Aparentemente, todos deveriam frequentar as aulas de grego e monstrologia no anfiteatro. As aulas de combate eram de livre escolha para todos, tanto no campo de treinamento quanto na Arena. O pavilhão ficava ativo das sete da manhã às oito da noite. A parede de escalada que cuspia lava era para poucos, sátiros na maioria. O lago de canoagem era supervisionado por náiades e a pista de corrida, por ninfas. Haviam também aulas de música com a prole de Apolo e Afrodite, por mais que eu não entendesse muito bem como elas seriam úteis. As corridas de bigas não me atraíam muito também.

—Você também pode se voluntariar para limpar os estábulos e os banheiros, mas as náiades costumam cuidam dessa parte. – disse Travis, me acompanhando para uma estrutura com algumas chaminés e barulhos de metal sendo esfriado. Aqui são as forjas. Os filhos de Hefesto a frequentam mais, mas todos podem tentar a sorte e construir o que quiserem.

Um garoto pardo e magrelo com roupas um pouco chamuscadas e sujas de graxa saiu das forjas com uma lâmina curva em cada mão e cabos metálicos debaixo das axilas. Acenou com a cabeça para Travis e seguiu a caminho dos chalés murmurando algo sobre ímãs mágicos.

—Aquele é o Dreus. Ele é genial com armas sob encomenda, mas você tem que pagá-lo. Vamos seguindo. – disse, continuando o tour para o arsenal, que parecia ter sido recém pintado. Tinha a aparência de um armazém de acampamento qualquer vermelho com detalhes em dourado e com o símbolo de Ares, uma lança e uma espada cruzadas, na porta.–Aqui você pode escolher qualquer arma que quiser. Curto, médio e longo alcance. É só escolher.

Dei um passo à frente e olhei em volta. Todo o armamento estava bem organizado. Lanças e arcos pendurados na direita, armas de fogo e martelos de guerra logo adiante e espadas, machados e punhais de todos os tamanhos na esquerda. A maioria tinha uma cor dourada ou cobre. Travis explicou que todas as armas eram feitas de Bronze Celestial, um metal concebido pelos deuses para enfrentar monstros e outras criaturas mágicas. Era possível até ferir deuses com aquilo.
Peguei uma lança poucos centímetros maior que eu e a manuseei um pouco, mas ela não parecia certa. Tentei um martelo, porém mal consegui levantá-lo. Passei a ponta dos dedos por algumas espadas e parei numa que me chamou a atenção. Era uma xiphos de pouco menos de sessenta centímetros ao todo, com uma lâmina brilhante e um cabo esbranquiçado modelado e um tanto encardido. A apanhei e a balancei de um lado para o outro, sorrindo. aparentava ser exatamente o que eu precisava.

Virei-me para Travis e ele sorriu de volta.

—Engraçado, não lembro dessa belezinha aí. De que é feito esse cabo aí?

—Osso, ao que parece. – disse, sentindo-o com os dedos. —Parece perfeita.

—Ótimo. Vamos conseguir uma bainha para ela. Temos bastante na lojinha. Tudo pronto?

Assenti e olhei mais uma vez para a arma. A lâmina refletiu minha imagem e eu pisquei. Fazia algum tempo que eu não me olhava com mais atenção num espelho, então nunca realmente parei para uma autoanálise. Não tinha percebido até então que tinha olhos verdes, não como a grama do acampamento, era mais parecido com musgo velho. O cabelo dourado escuro descia em duas ondas do lado das têmporas e pairava pouco acima dos ombros depois de um ano sem cortá-lo. Acho que seria considerado um garoto bonito se não fossem as olheiras roxas e o olhar rabugento que eu tinha.

—Sim, - eu disse, tentando expulsar o pensamento da cabeça. –Tudo pronto.

Seguimos para a Casa Grande - onde tive minha breve conversa com Quíron na noite passada – depois de eu escolher um cinto de couro acoplado a uma bainha onde estava agora minha espada. A bainha deixava metade da lâmina de bronze à mostra, pendurada ao lado da minha cintura. Alguns campistas me lançaram olhares curiosos.

—Você vai agora conversar com o Sr. D. Ele está na varanda com Quíron. – Travis disse, parecia cansado. –Boa sorte, e bem-vindo de novo.

E saiu em direção ao anfiteatro. Respirei fundo e segui pela varanda da casa, seguindo o barulho de cascos batendo no chão. Quíron estava de pé do lado de fora da varanda, conversando com um homem de cabelos cacheados e tão escuros que brilhavam num tom roxo. Ele vestia uma camisa de estampa de leopardo e tinha uma lata de Diet Coke na mão. Quíron parou quando me viu e limpou a garganta. O homem virou para me observar e fungou.

—Esse é o moleque que te preocupou? – ele resmungou, revirando os olhos. -Não parece grande coisa.

—O senhor mesmo disse que também sentiu a presença dele, Senhor D. – Quíron se virou para mim. –Eugene, chegue mais perto.

—Ah, certo. Mas a presença que senti foi um pouco mais interessante que isso. – o Sr. D. disse, apontando para mim. –Deixe-me dar uma olhada em você...

—É um prazer também, Dionísio. – disse, semicerrando os olhos. O olhar do Sr. D mudou de entediado para perigoso.

—Bem, parece que temos um novato mal-educado, hein? Espere um pouco... – ele parou. —A sua voz... Você falou aquilo, não é? Que se fodam os deuses.

Aquilo me pegou de surpresa, mas tentei não demonstrar. Dionísio me lançou um sorriso presunçoso.

—A sua petulância foi escutada por cada deus que você possa nomear, moleque. Todos ouvimos o que você disse. Eu plantaria uma doença lenta e dolorosa em você, mas creio que mereça acertar contas com o resto de nós. Vamos rir quando Hades te punir pela eternidade no reino dele. Ah, se vamos.

Quíron não pareceu entender.

—Você disse isso, Eugene?

—Disse. –minha voz soou fraca, mas tentei mudar a postura. –Não me arrependo.

—Tem raiva dos deuses, criança? – ele perguntou com apreensão.

Agarrei a borda da camisa com raiva, olhando para meus pés.

—Por que não teria? Nada fizeram para me ajudar quando quase morri centenas de vezes lá fora. – encarei Dionísio. -Não lhes devo absolutamente nada.

—Como te ajudaríamos, seu serzinho de mentalidade mínima? – rosnou o deus do vinho. –Não ouvi nenhuma prece sua. Ora, nem mesmo sabia que você existia até pisar no acampamento!

Pisquei, o ar escapando de meus pulmões.

—O quê?

Quíron coçou a barba nervosamente.

—Era sobre isso que estávamos conversando nessa manhã, criança. Você simplesmente apareceu aqui sem que nenhum de nós percebêssemos. Os sátiros são especializados em encontrar vocês para que sejam acolhidos. Eu mesmo teria percebido você a quilômetros. Queremos saber o que aconteceu enquanto esteve lá fora.

A explicação foi longa e dolorosa.
Falei sobre a fuga do Cassino Lótus e como Erika me acompanhou desde então para Long Island. Falei sobre as direções incorretas e os monstros que me perseguiam, mas não pegavam a oportunidade de me fazer em pedacinhos. Dei ênfase nas vezes que pedi ajuda aos deuses e não fui atendido, falei também da fúria que nos atacou. Quando acabei, percebi que minhas mãos estavam tremendo.

Dionísio e Quíron se entreolharam e tiveram uma rápida discussão em o que devia ser grego antigo. Eles olhavam para o céu vez ou outra. Quando acabaram, Dionísio suspirou.

—O fantasma que te trouxe até aqui te escondeu dos nossos olhares, afinal. Não se pode dizer o motivo, mas é por isso que não o percebemos mais cedo, garoto. Mesmo chamando a atenção de todos. – ele olhou para Quíron com um ar de expectativa. -Certo, então seus insultos foram perdoados, rapazinho. Mas vou ficar de olho em você. Sobreviver todo esse tempo e matar uma Erínea sem qualquer arma não é um feito pequeno.

Não entendi bem o que estava acontecendo, mas mesmo assim, disse:

—Ahn... Obrigado...?

 

Ele soltou um barulho que pareceu um riso, e andou para dentro da casa. O centauro olhou para mim e conseguiu lançar um olhar curioso para minha espada embainhada.

—Espada, hein? - tentou soar como se não estivesse óbvio que estava escondendo algo de mim —Venha comigo, vamos começar suas aulas de esgrima.


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Notas finais do capítulo

Comentem, ó porra.



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