Predestinado escrita por GabusDramaticus


Capítulo 17
Capítulo Dezessete




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Eugene não queria adormecer novamente. Seus sonhos o deixavam cada vez mais confuso.

Ele se convenceu de que Hades estava colocando coisas sem sentido em seus sonhos e tentou ignorá-las. Tentou focar em sair daquele lugar, retornar ao mundo dos vivos. Mas… Para quê?
O que faria então? Voltaria para o Casino Lótus? Vagaria sozinho pelas ruas, esperando para ser atacado a qualquer momento? Para onde iria?
Não tinha família ou amigos. Não existia nenhum lugar em que se sentisse seguro.

Será… que ele realmente existia?

Ninguém o queria por perto, então que motivos tinha para seguir em frente? Que razões ele tinha para se agarrar à vida? Ele se perguntou, com uma angústia que nunca sentira antes, se não teria sido melhor se ele tivesse morrido assim que saiu do Casino. Por que Erika o tirou de lá? De que adiantava viver, se não tinha nenhum propósito? Sem mesmo perceber o que estava fazendo, ele ergueu a espada, mirando a ponta afiada para o próprio pescoço, mas algo o conteve.

Erika.

Ele apertou o punho da espada com força, os olhos ardendo e o rosto encharcado de lágrimas.

—Chega. — ele ordenou para si mesmo, sua voz trêmula. Apesar de se sentir fraco por não ter comido nada, ele se levantou e andou em direção à saída da caverna. A escuridão em volta dele tomava forma, mas ele não conseguia mais sentir medo. Na verdade, não conseguia mais sentir nada. As sombras dançaram em volta dele e ele escutou sussurros. Vozes que ele havia escutado quando o guerreiro morto-vivo lhe transportou para aquele lugar. Elas ficavam mais audíveis, mais fortes.

 

Ela mentiu.

Ela te arrancou daquele lugar perfeito e te largou no meio de gente que não te queria por perto.

Ela é o motivo de você estar aqui agora, a beira do desespero.

Ela está morta. Quer você morto também.

Não a deixe ganhar.

Mate a essência dela.

Mate o que já está morto.

Filho de Hades, você pode fazer isso.

Vamos mostrá-lo como.

Mergulhe sua lâmina no Estige.

Revele o que é seu por direito.



As forças de Eugene, que antes estavam quase escassas, pareceram ter retornado com total poder. As sombras rodopiavam em volta dele enquanto caminhava lentamente na direção do rio Estige. A água era lamacenta, oleosa e escura. Sempre havia algo flutuando na correnteza, em pequenos redemoinhos: Bonecas de pano, diplomas e cartas rasgados, fotografias encharcadas, rosas murchas, todos os sonhos que foram jogados fora, de incontáveis vidas diferentes.

Eugene pensou no que seria deixado por ele, se tivesse morrido ali, alguns instantes atrás. Mas logo se deu conta de que ele não tinha sonhos, não tinha objetivos.

De qualquer maneira, aquilo não importava. Ele não morreria ali.

Seguindo o que as vozes lhe disseram, ele se curvou à margem daquela água repugnante e afundou a lâmina da espada até a base. A escuridão pareceu reagir, girando com mais intensidade em volta do garoto até que ele se levantasse.

Quando fitou a espada, um arrepio lhe subiu a espinha. A lâmina antes de cor de cobre e brilhante, agora estava negra como o rio, tão sombria quanto a escuridão que serpenteavam em volta dele. As gotas remanescentes escorregaram pela base, formando um desenho singular que se fundiu com o cabo feito de osso, debaixo dos dedos de Eugene. Ele nunca vira algo parecido antes, mas sabia o que significava. Ainda corroendo o osso amarelado, um glifo em espiral com uma pequena cruz e um círculo fumegavam, gélidos como um cadáver: o símbolo de Hades.

 

 

As vozes soaram com mais autoridade:

 

Ordene que o rio lhe deixe passar.

Vamos guiá-lo para ela.

A lâmina que carrega é ferro estígio, engole almas para se fortalecer.

Mate o que está morto.

Você pode, filho de Hades. Você pode.

 

Com um gesto da espada, as águas negras se agitaram, pouco a pouco criando um estreito caminho para o outro lado da margem. Eugene seguiu, as vozes macabras o liderando na direção do palácio do Senhor dos Mortos. Seus olhos, da pupila à esclera, ficaram pretos e opacos. Já não tinham mais vida.


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Notas finais do capítulo

A imagem foi desenhada por mim e digitalizada por Maria Clara Lobão.


Desculpem pela demora!



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