Insaciável escrita por Vênus


Capítulo 1
— When I saw you, I fell in love.




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Ele era mais do que qualquer um já fora.

Draco Malfoy balançou a cabeça, tentando reprimir seus pensamentos absurdos. Não era possível que estivesse pensando dessa forma sobre seu colega de classe. Se é que os dois eram colegas. Draco preferia pensar que não fossem nada, e era assim que parecia ser, já que o garoto de olhos azuis o ignorou desde o primeiro instante que aparecera ali.

Tentava não se importar, mas era praticamente impossível a cada manhã que acordava e tinha que enfrentar aulas que ele mesmo deixara de prestar tanta atenção. Atenção que agora se encontrava completamente voltada para o moreno. Nos primeiros dias, os detalhes físicos sobre ele eram fracos na memória de Draco. Mas, com o passar dos dias, bastava piscar os olhos para ver em seguida uma visão quase fantasmagórica de Harry Potter.

As únicas vezes que tivera oportunidade de ouvi-lo falar era na sala de aula, no momento da chamada. O garoto permanecia quieto, sentado quase no fundo da sala. Os professores pareciam preferir continuar deixando-o da mesma forma, e ele não parecia se incomodar com isso. Draco quase podia ter acreditado que o garoto era tímido demais ou retraído demais para qualquer coisa, no entanto...

— Está me dizendo que Harry Potter é perigoso? — Draco perguntou ironicamente para o amigo, que viera contar tal fato como um fofoqueiro.

— Eu juro! — disse Crabbe, irritadiço. — Ouvi dizer que ele vende drogas em várias festas e sempre sai ileso. E aquela cicatriz na testa? Uma das marcas de um acidente de moto que teve por dirigir bêbado.

Draco não pôde deixar de rir.

— Você quer que eu acredite nesses boatos...

— Não são boatos! Parece que ele disse isso para os amigos e algumas pessoas que ouviram saíram espalhando.

— E claro que as pessoas espalharam a verdade, não é?

Crabbe, parecendo indeciso diante dessa possibilidade, continuou firme no que acreditava. Draco, no entanto, continuou cético. Mas isso só serviu para que seu interesse no garoto aumentasse, fazendo com que ele o observasse mais que o normal, embora ao mesmo tempo tentasse impedir que os amigos percebessem seu interesse. Se nem mesmo Draco sabia a razão de estar sentindo aquilo, não queria que mais ninguém soubesse. Nem os amigos, nem os pais e — se a vida fosse boa com ele — nem o próprio Harry Potter.

Mas a vida não era boa.

Teve uma festa a qual todo o Ensino Médio daquele colégio fora convidado, razão de um dos alunos mais populares dali ter parentesco com umas pessoas da universidade que estava organizando. A festa era badalada, rolava a noite inteira e as pessoas dormiriam por ali mesmo até a manhã seguinte. Logicamente havia formulários para as pessoas menores de idade, mas Draco preferiu forjar a assinatura de seu pai que pedir para ele, sabendo que a resposta seria não.

Se arrependeu, no entanto, assim que chegou no local.

Era um salão grande, e a música era ouvida no início daquela esquina. Foi assim que Draco e os amigos que o acompanhavam encontraram o lugar, e todos correram diretamente para lá, exceto Draco que já começara a se sentir entediado. Mas não podia deixar de observar que o ambiente era quase agradável, apesar da quantidade de pessoas que estavam lá. E do tanto de bebida que as pessoas já começavam a ingerir.

Quase se amaldiçoou por andar devagar demais e perder os amigos de vista, preferindo mandar pelo celular uma mensagem rápida e curta para eles perguntando onde eles estavam. O lugar era enorme! Tentando ir para um lugar mais vazio enquanto olhava para a tela do celular, surpreendeu-se com uma exclamação e, quando seus olhos se ergueram confusos para decifrar o que estava acontecendo, constatou com clareza o que era.

E sentiu-se engasgar.

Harry Potter o olhava com igual surpresa.

— Desculpe por esbarrar em você, foi sem querer... — Draco se desculpou entre gaguejos, parando quando viu Harry sorrindo para ele.

— Tudo bem, a culpa não foi sua. — E piscou para ele. — Mas é estranho um cara bonito como você andando por aí com o celular quase enfiado na cara.

Draco corou, guardando o aparelho em seguida no bolso de sua calça. Em seguida, surpreendeu-se ao perceber que fora chamado de “bonito” e se atreveu a olhar mais uma vez para Harry, que o observava com um sorriso um tanto... Malicioso.

— Eu... Meio que me perdi dos meus amigos e...

Harry o interrompeu, olhando-o com fascinação que fez com que Draco se calasse na hora.

— São cinzas? — O moreno perguntou, erguendo o queixo de Draco com as pontas dos dedos médio e indicador, olhando diretamente para os olhos dele.

Draco sentiu seu coração disparar no mesmo instante e desviou os olhos de Harry, lutando para se afastar dele sem parecer rude.

— São...

— Incrível. Te deixa com um ar misterioso.

Ele estava sem chão. Não entendia como o garoto que praticamente não falava em sala de aula pudesse agir daquele jeito ali, como se fosse a pessoa mais espontânea do mundo. Ainda assim, o sentimento intenso que partia dele aumentava cada vez mais conforme ficavam próximos um do outro, como naquele instante. Mesmo que estivessem conversando.

Estava reorganizando seus pensamentos quando viu Harry pegar de um dos bolsos da sua calça um filtro um pouco amassado. Percebeu que não se tratava de um cigarro normal e arregalou os olhos.

— Quer dizer que é verdade? — Draco perguntou, parecendo mais chocado do que estava e suspirando consigo mesmo por causa disso.

Harry pareceu confuso.

— O quê?

— Você trafica drogas em festas? — perguntou mais uma vez, sentindo-se estúpido logo em seguida.

E o sentimento intensificou quando viu Harry rindo, enquanto colocava o filtro entre os lábios e o acendia.

— Como assim “trafico”?

Draco ruborizou.

— Quero dizer... Me disseram várias coisas sobre você que achei ridículas, desacreditei no mesmo instante, mas agora...

— Venha, vou te pagar uma bebida.

E Draco, como que enfeitiçado pelo moreno, seguiu-o, obedecendo-o de imediato — pois aquilo fora como uma ordem. Harry desviava das pessoas com maestria enquanto tragava o que Draco pensava ser um baseado. Franziu o cenho ao pensar naquilo, mas seguiu-o sem muita sutileza. Sentiu o celular vibrar no bolso da calça, mas o ignorou. Depois poderia dar um jeito de falar com os amigos; não iria desperdiçar a chance de falar com Harry Potter, que parecia tão interessado nele naquele instante.

Ficou um pouco atrás de Harry enquanto esse comprava e pagava duas bebidas. Percebeu que ele apresentou uma carteira de identidade convincente demais para ser falsa. Então ele realmente tinha repetido de ano, assim como outras “más línguas” não tardaram em dizer. Mas aquela não era a hora de Draco se preocupar; já estava inebriado com a presença daquele que parecia antes tão indiferente a ele.

— Aqui tem muito barulho, vamos beber na parte de fora. — Harry, após entregar a Draco uma das bebidas, falou próximo ao ouvido dele, fazendo-o se arrepiar.

Respirou fundo e assentiu, seguindo mais uma vez o rapaz enquanto ele se dirigia com calma até a saída do salão de festa. O local era parecido com uma chácara pela paisagem — o córrego que corria por ali, as árvores que cercavam o lugar e formavam um pequeno bosque para a extremidade esquerda, próximo do córrego. Enquanto seguiam para lá, viram alguns casais já se beijando. Os que se escondiam em alguns pontos estratégicos pareciam já estar fazendo algo mais que isso, e a noite mal começara. Draco bebeu um gole de sua bebida como se aquilo lhe desse coragem, sendo surpreendido ao olhar para Harry e ver que esse o observava enquanto andavam.

— Nervoso?

— Não...

— Se o que o deixa nervoso é a possibilidade de eu vender drogas, garanto que não precisa mais ficar preocupado. — Harry o assegurou, voltando a sorrir. Quando Draco suspirou, continuou: — Só vendo quando as pessoas me pedem.

— Então é tráfico!

— Claro que não. Não se pode sair dando drogas para qualquer um, Malfoy.

Draco sentiu algo bem maior que o coração disparado ao ouvir seu nome pronunciado por Harry. Era maior, fazia um arrepio se formar em sua espinha e agitava a sua região mais sensível. Engasgou um pouco com a própria saliva e desviou os olhos de Harry.

— Sabe meu nome?

— Claro. Estudamos juntos, Draco Malfoy. Não pode ser que tenha se esquecido disso.

— Não... Não me esqueci.

— Foi o que pensei.

Caminharam mais um pouco até que chegassem próximo ao bosque. Estavam, pela primeira vez, sozinhos em um lugar. E juntos. A mente alucinada de Draco focava apenas em pensar isso enquanto olhava Harry, mas era difícil raciocinar sobre qualquer coisa com os olhos azuis fixos em seu rosto. Parecia perceber o quão desajeitado e inseguro ele estava, debochando dele.

— O que mais?

— O quê? — Draco perguntou, parecendo mais uma vez confuso.

— Disseram algo mais?

— Ah... Algo sobre você ter sofrido um acidente de moto por estar bêbado, e aí o porquê de ter essa cicatriz na testa.

Harry sorriu, bebendo alguns goles de sua bebida e sendo acompanhado no ato por Draco.

— Bem, eu já dirigi bêbado, mas nunca sofri ou provoquei um acidente. Nada do tipo.

Draco arqueou as sobrancelhas.

— E a cicatriz?

— Um primo fez. — Harry murmurou, dando de ombros.

— Por que ele fez isso?! — Draco parecia horrorizado diante da calma de Harry.

— Algumas pessoas fazem esse tipo de coisa. Acho que poucas pessoas fazem coisas boas nesse mundo, Malfoy...

— Concordo.

— Tipo seus olhos. — Harry completou, fazendo Draco arregalar os olhos e engasgar com a bebida.

— O quê?

— Sim, tipo seus olhos. É algo bom que foi feito neste mundo. Posso até considerar acreditar em Deus depois de vê-los.

Draco corou, bebendo mais que o necessário de uma só vez e sentindo a garganta arder. Desviou os olhos, agradecendo por estar escuro o bastante para que não fosse possível notar seu rubor. Mas os olhos dos dois brilhavam àquela altura.

— Pensei que você nem sabia o meu nome. — Draco murmurou, olhando brevemente para Harry a tempo de vê-lo se surpreender.

— Por que pensar nisso?

— Você sempre pareceu... Não sei, alheio a muitas coisas. Principalmente a mim.

— Não é verdade, Malfoy. Seus olhares, assim como sua existência, não passaram despercebidos por mim.

Draco ofegou.

— O quê?

Harry, percebendo que o pegara de vez, apagou seu cigarro e terminou sua bebida para, só então, esboçar um sorriso beirando a malícia em direção ao loiro. Estavam próximos demais, Draco ainda não havia terminado sua bebida quando a deixou cair, mal se importando ou prestando atenção naquilo. Era como se nada mais houvesse ao redor, nem mesmo a brisa que erguia suavemente o cabelo de ambos. Pela primeira vez na noite Draco não desviou o olhar.

— Eu vejo. — Harry continuou, e Draco sentiu a respiração dele contra seu rosto. O cheiro que vinha dele já o inebriava.

— Eu...

— Você? — Harry perguntou, aproximando-se mais dele.

— Eu não...

— Exatamente. Não precisa dizer mais nada.

Draco nunca poderia descrever o que sentiu quando Harry o beijou.

Parecia magia. E impossível. Parecia magia porque era impossível que aquilo estivesse realmente acontecendo. Irreal. Surreal. Draco nunca sentira nada parecido, e o coração de ambos estava disparado com o que corria em suas veias. Parecia que todos os meses em que nunca conversaram estivessem contidos ali, numa intensidade inominável. Draco sentiu-se embriagado por Harry — como se ele realmente fosse tudo aquilo que diziam que ele era. Sentiu a língua dele percorrendo a sua, e o que antes tinha a timidez do beijo inicial se tornara lascivo. Os dois já se exploravam com as mãos. Draco foi empurrado por Harry que, depois de jogá-lo na grama fofa, pusera-se sobre ele. O corpo dos dois estavam mais próximos que instantes antes; parecia que aquilo sempre fora real. Era tão natural quanto respirar, e Draco, esquecendo-se da timidez, só conseguia pensar em ter o corpo de Harry junto ao seu.

Instantes depois os dois se afastaram. Havia brilho tanto nos olhos cinzas quanto nos azuis, e a face dos dois estava ruborizada. Com a respiração ainda ofegante, Harry afundou seu rosto no pescoço de Draco e começou a beijá-lo ali, intercalando com mordidas e chupões que fizeram Draco suspirar e gemer.

— Meu Deus... — Draco suspirou, decidindo por fechar seus olhos.

— Você é o meu.

Quase pôde ouvir o sorriso na voz de Harry.

Não houve tanto durante a festa, mas os dois continuaram juntos. Os beijos eram avassaladores, mas nada passou deles e das mãos bobas. Uma noite inteira conversando e conhecendo mais um sobre o outro fez com que Draco e Harry quisessem que aquilo não acabasse; era agradável demais para ser real, mas era. E não houve mais tanta timidez quando os olhos se encontravam, ou quando as mãos exploravam o corpo um do outro. Era clichê, mas pelo menos viram o pôr-do-sol juntos. Não estavam sozinhos, claro. Muitas pessoas da festa estavam lá.

Na hora de ir embora, Harry o puxou para um canto afastado de todo mundo e o beijou mais uma vez como despedida.

E Draco, enquanto o via se afastar, mal acreditava em tudo o que havia acontecido.

A única coisa da qual tinha certeza é que estava se apaixonando.

When I saw you, I fell in love, and you smiled because you knew.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. ♥