E quando tudo foi fim, eles se tornaram começo... escrita por Juli06


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Então.. essa história saiu depois que eu fiquei na bad com a morte do Barão. Achei injusto e até um pouco de desperdício as pessoas não aproveitarem mais desse ícone. E o único modo que encontrei de descontar minhas frustrações foram através das palavras.
Espero que vocês gostem!



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E quando tudo foi fim, eles se tornaram começo...

Autora: Juliana Alves

Categoria: Julieta Sampaio Cavalcante, Aurélio Cavalcante, Aurieta, Afrânio Cavalcante, Drama, Angst

Advertências: Spoiler dos Capítulos 159 e 160

Classificação: R

Capítulos: 2

Completa: [x] Yes [ ] No

Resumo: Mesmo em meio a grande alegria do casamento de Julieta e Aurélio uma tragédia ocorre, o Barão de Ouro Verde é tristemente chamado para se juntar ao Imperador D. Pedro II.

Disclaimer: Orgulho e Paixão não me pertencem e sim a GLOBO. Aurieta e o Barão também não me pertencem e sim a Marcos Bernstein.

...

Capítulo 1

 

“E eu vos declaro marido e mulher, pode beijar a noiva” O padre falou com um grande sorriso.

Julieta encarou Aurélio por alguns segundos antes que os lábios dele se colassem ao seu, ela sentiu o peito inchar ainda mais de amor pelo homem em sua frente. Ela podia ouvir os aplausos e sorriu no meio do beijo.

Aurélio a soltou e voltou a face feliz para seus familiares e convidados, todos pareciam extremamente felizes. Ele olhou para o lado e viu o enteado com um sorriso idêntico ao seu, permitindo que o jovem casal saísse primeiro ele encarou Julieta e entrelaçou os dedos nos dela.

Os dois casais chegaram a porta da igreja e gargalharam enquanto uma chuva de arroz os banhava. Aurélio podia ouvir a risada do pai e da filha ao seu lado, ambos jogando punhais de arroz em sua direção e de Julieta.

Piscando rapidamente para a filha, Aurélio pegou a esposa nos braços e correu para o carro que os esperava. Julieta soltou um grito surpreso, mas naquele momento todo o Vale conheceu a risada encantadora da Rainha do Café.

Ao chegar na fazenda, Julieta se preocupou se tudo estava organizado e preparado para o baile de mais tarde, contudo antes mesmo de se afastar do marido, Aurélio segurou em sua cintura:

“Onde pensa que vai?”

“Eu preciso saber se tudo está em ordem e se..”

“Hoje não”. Ele sussurrou e a abraçou. Os olhos dele brilhavam com alegria e amor e ela se viu perdendo-se naquele mar azul. “Hoje você vai ter que controlar seus impulsos controladores”.

“Eu não sou controladora”. Ela parecia indignada e Aurélio gargalhou quando viu o biquinho que ela fez.

“Claro que não, Rainha do Café”. Ele debochou e a beijou. “Eu só quero que você relaxe hoje, meu amor. Tenória e Mercedes estão de olho em tudo. E antes que brigue comigo não foi a minha decisão, elas duas insistiram nisso. Elas sabiam que você tentaria colocar ordem”.

“Mas eu quero que tudo seja perfeito”. Ela disse com um suspiro enquanto brincava com a gravata dele.

“E será”. Ele beijou sua testa. “Já está sendo, Julieta. Hoje é um dos dias mais felizes de minha vida, eu mal consigo manter meus pés no chão”.

Julieta gargalhou com essa informação e o encarou feliz, o mesmo sentimento transbordando seu corpo. Ela traçou as mãos pelo rosto dele como se gravado seu rosto, os dela brilhantes e marejados com lágrimas de felicidade. Por fim ela escorregou a mão por seu pescoço e entrelaçou os dedos nos cabelos dele como gostava e o puxou para si em um beijou avassalador.

O Barão entrou logo em seguida e revirou os olhos para a demonstração de afeto do casal, ele sempre parecia flagra-los em posição tão constrangedoras. O ancião achava divertido e até gostava de vê-los juntos, nunca imaginou que seu filho encontraria a felicidade novamente e assistir a alegria que brilha em seu rosto toda vez que Julieta estava presente aquecia o coração do mais velho, contudo ele negaria essa afirmativa até fim. Pois o mesmo carinho era estendido para Julieta, ele sabia que o passado da Rainha do Café era um assunto delicado e mesmo que não soubesse o que era, podia ver que a mulher merecia ser feliz ao menos uma vez na vida.

Entretanto, o que mais gostava era atrapalha-los em seus gestos lascivos, assistir eles pularem para longe um do outro como dois adolescentes pegos em flagrante era sua diversão. E se ajeitando na cadeira ele preparou o grande pigarro que fingiria tirar da garganta. Ele sentiu Ema e Camilo se aproximarem e com um grande sorriso pediu que os dois fizessem silencio e apontou para os pais deles que ainda se beijavam sem nenhum cuidado no mundo. Ele contou até três e pigarreou.

Julieta e Aurélio se soltaram como se tocassem em fogo e encararam a entrada onde os filhos e o Barão estavam, ambos com grandes olhos surpresos e as faces afogueadas. Ema e Camilo não se contiveram e gargalharam com a reação do casal mais velho, Julieta revirou os olhos e pegou a mão de Aurélio o puxando escada a cima. Aurélio sorria agora e piscou divertido para o pai. Quando enfim os dois sumiram de vista o Barão se voltou apara os dois mais jovens com um grande sorriso.

“Aprendam vocês dois”. Ele disse com deboche. “Esse é o tipo de diversão que vocês terão com eles cada vez que se beijarem por aí sem qualquer cuidado”.

“Vovô, o senhor é muito maldoso”. Ema falou enxugando as lágrimas de riso.

“Mas eu tenho que concordar com o Barão, minha irmãzinha”. Camilo falou com um grande sorriso ao perceber que havia ganhado uma irmã para vida toda. “Isso é realmente hilário de se ver”.

“Bem, meu irmãozinho..” Ema sorriu testando a palavra feliz. “Contando que eu esteja presente nesses flagrantes posso pensar em me juntar a vocês”.

Os três voltaram a gargalhar com isso e se dirigiram para trocarem de roupa e descansar um pouco para o baile de mais tarde.

...

Julieta estava radiante, ela podia ouvir os acordes do violino e as risadas ao longe. Após a conversa com o Barão ela se sentia finalmente completamente feliz, mesmo que o homem mais velho não soubesse, a aprovação dele no relacionamento que tinha com Aurélio era de extrema importância.

E como prometido ela se aproximou da sala empurrando a cadeira do sogro, Aurélio a esperava com sua máscara e um grande sorriso. Jane e Camilo também esperavam para que juntos entrassem nessa nova fase da vida, o Barão a tocou suavemente e permitiu que ela entrasse ao lado de Aurélio enquanto ele ficava na retaguarda.

Os aplausos aos dois casais tomaram toda a sala e Julieta sorriu antes de começar um pequeno discurso.

“Eu agradeço muito a presença de todos vocês nesse dia tão especial. Essa festa marca um novo ciclo para os Bitten..” Contudo a mão de Camilo em seu braço a parou.

“Um novo ciclo para os Sampaio-Cavalcante”. Ele elevou a voz e sorriu para a mãe, mesmo sendo filho biológico de Osório, Camilo se recusa a levar um nome tão sujo como esse e ficou satisfeito em usar mesmo que no boca-a-boca o Sampaio da mãe. E agora casada com Aurélio nada mais justo que o seu Cavalcante se juntar mais uma vez aos grandes nomes do Vale.

“Exato, meu filho”. Ela sorriu um tanto quanto emocionada e respirou fundo antes de pegar na mão de Aurélio. “Um novo ciclo para os Sampaio-Cavalcante, já que decidimos morar de vez no Vale do Café”. Para sua surpresa, todos bateram palmas e ovações com a boa notícia. “E eu quero aproveitar a ocasião também para comunicar que dentro de poucos dias teremos a inauguração da nossa ferrovia. A primeira estação de trem do Vale do Café graças aos esforços desse investidor e entusiasta da nossa cidade, Darcy Williamson”.

Darcy se aproximou e apertou a mão de Aurélio, e logo em seguida se colocou ao lado da parceira de negócios e amiga de longa data.

“Em primeiro lugar boa noite, eu gostaria de agradecer a minha amiga e parceira Julieta Sampaio-Cavalcante”. Ele sorriu para ela com orgulho aprovando seu novo nome. “Muito obrigado, minha amiga. E queria dizer também que todos aqui presente estão convidados para conhecer e aguardar na estação do Vale a chegada do primeiro trem vindo de São Paulo para o Vale do Café”.

As palmas soaram ainda mais altas enquanto a comemoração dos convidados contagiava o local. Ela suspirou feliz e encarou as pessoas que um dia estavam contra ela, mas que terminou por aceita-la com carinho.

“E enquanto o futuro não chega ao Vale, por favor meus amigos, divirtam-se”. Ela desejou a todos e os acordes da valsa tomou o salão.

Estendendo a máscara para Aurélio ela sorriu e esperou que ele colocasse, ela repetiu o gesto e os dois se puseram a dançar. Ela estava tão feliz que entendia completamente o que Aurélio falou sobre sentir os pés flutuarem.

“Está feliz, meu amor?” Aurélio perguntou ao pé de seu ouvido a fazendo arrepiar.

“Sim, como nunca antes”. Ela disse e o encarou através da máscara e o beijou para matar a saudade que sempre tinha de seus lábios.

A festa transcorreu sem maiores incidentes, os dois casais recém-casados trocaram seus pares com divertimento. E todos pareciam envoltos em uma grande bolha de júbilo. O pequeno momento que Julieta se ausentou para ir até a cozinha, ela ouviu o alvoroço na sala e voltou rapidamente para encontrar Susana e Petúnia vestidas de freiras e arrumando confusão.

Determinada e um pouco irritada, Julieta expulsou as duas e viu com satisfações Olegário leva-las porta a fora junto com Uirapuru. Voltando ao clima ameno de antes, Aurélio beijou sua bochecha e ela se acalmou imediatamente.

“Uma última dança?” Ele pediu e Julieta afirmou com um sorriso satisfeito.

Assim que a valsa terminou, o Botânico entrelaçou os dedos nos dela e a puxou escada a cima, longe de olhos e ouvidos curiosos. Contudo, antes de entrarem ele a parou na porta.

“Eu tenho algumas surpresas para você”. Ele disse misterioso.

“Aurélio”. Ela disse com amor em sua voz. “Você não precisava fazer isso”.

“Eu queria”. Ele disse e se aproximou dela roubando um beijo. “Agora eu vou pegá-la em meus braços assim como manda a tradição, mas peço que mantenha os olhos fechados”.

Julieta estreitou os olhos desconfiada, mas o sorriso no rosto denunciava a empolgação que sentia. Ele então a pegou nos braços e ela gargalhou, sentir os braços dele ao seu redor a puxando para seu peito era a sensação que Julieta mais amava. E como ele pediu ela fechou os olhos e para garantir cobriu os olhos com a mão livre. A outra mão estava firmemente enroscada nos cabelos da base do pescoço de Aurélio.

A Rainha do Café ouviu a porta abrir e fechar, o cheiro doce de rosas encheu seu olfato e ela sorriu ainda mais, que Deus a ajudasse com a dor nas bochechas de tanto que ela estava sorrindo.

“Pronto!” Aurélio falou um pouco eufórico.

“Pode?” Ela o questionou ao mesmo tempo fazendo os dois rirem.

“Pode abrir”.

Julieta abriu os olhos e seus olhos encararam pétalas de rosas vermelhas espalhadas por toda cama e quarto.

“Ahhhh.. Meu Deus, rosas vermelhas. Como você me conhece, meu amor”. O tom emocionando dela o deixou emocionado também. E eles se beijaram rapidamente.

“Não”. Ele falou e a colocou no chão, mas a beijou novamente sentiu o corpo esquentar ainda mais. “Eu te reconheço. A mulher da minha vida, minha paixão. A mulher que quero passar o resto dos meus dias, até o fim”.

Dessa vez o beijou foi ainda mais intenso, uma pequena prévia do que viria a seguir. Contudo, antes de Aurélio a puxar para a cama ela o parou, Julieta precisava dizer algo que que estava em seus pensamentos há muito tempo.

“Quero lhe fazer uma confidência”. Ela desviou os olhos um pouco envergonhada. “Quando demos o nosso primeiro beijo eu quebrei um espelho de tanta...”

“Raiva?” Aurélio ainda lembrava bem daquela velha Julieta, a que ainda tinha muitas amarguras no coração.

“Eu pensei que fosse raiva por ter cedido ao momento”. Ela suspirou e colou os olhos ao dele, agora mais confiante. “Mas hoje eu vejo que foi uma emoção incontida por ter me deparado com amor. Eu vi o meu rosto no espelho. Quebrado, todo fragmentado e eu me dei conta de que eu havia me transformado numa nova mulher”.

“E desse dia em diante eu nunca mais parei de pensar em você, Julieta. Nem um segundo”. A alegria em sua voz, o brilho de amor em seus olhos, fez Julieta sorrir, mas ele não conteve a emoção e a levantou em seus braços os rodopiando pelo quarto.

Depositando-a na cama, Aurélio a beijou, mas em seguida se afastou para retirar o pesado casaco branco que vestia. Ele então estendeu a mão para ela, Julieta deixou que ele beijasse sua mão tão ternamente e a encarou com tanto amor que a subjugava.

Aurélio então se colocou em suas costas e abriu os botões lentamente de seu vestido revelando a combinação vermelha que usava. Sentindo o corpo reagir a linda visão em sua frente, o botânico beijou seu ombro, seu pescoço e sentia ela se aconchegando a ele e gemendo baixinho.

Quando eles estavam parcialmente despidos ele a empurrou suavemente na cama e a beijou com fervor, suas línguas duelando enquanto seus corpos se preparavam para ser tornarem um, mais uma vez.

Após enfim mostrarem mais uma vez a extensão de seu amor, Aurélio se levantou da cama com um sorriso travesso.

“Onde vai?” Ela o questionou enquanto ele desfilava desnudo pelo quarto sem qualquer vergonha.

“Eu tenho mais uma surpresa para você”.

“Meu amor, você sabe que não precisa”. Ela disse fingido está aborrecida. “Eu nem ao menos fiz nada para você”

“Não precisa, te ter já é presente o suficiente”. Aurélio sussurra enquanto volta para cama com uma caixa nas mãos.

“O que é?” Ela perguntou com um sorriso bobo.

“Abra”. Ele insistiu e a encarou esperando sua reação.

Julieta retirou o laço com rapidez e puxou a tampa. Aurélio sorriu abertamente com a reação dela, seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu em surpresa. Mas os olhos enchendo-se de lágrimas foi o que disse a ele que ela havia gostado. Dentro da caixa havia um par de sapatinhos azuis e detalhes vermelho, tão minúsculos que mal cabiam em seus dedos.

“Aurélio.. como..” Ela tentou falar, mas a voz embargada dela não deixou.

“Você realmente achou que poderia esconder de mim?” Ele sussurrou com a voz embargada e um sorriso no rosto, logo em seguida sentiu uma lágrima descer por seu rosto. Transbordando de emoção, Aurélio afastou o lençol que cobria sua amada e beijou carinhosamente seu ventre.

...

Ema estava na cozinha preparando a bandeja com o desjejum para o avô, ela havia prometido na noite anterior que faria esse mimo a ele, agora morando em casas separadas ela se via com saudades desses pequenos momentos que dividia com o patriarca da família.

Enquanto abria a porta do quarto ela entrou tagarelando com alegria juvenil: “Eu me atrasei, mas já está mais do que na hora do Duque acordar, eu trouxe muitas guloseimas. O dia está lindo pa...”

Ema para seu discurso ao ver o avô na cadeira. Ela achou estranho, como diabos ele foi parar ali? E ela expressa isso em voz alta e até um pouco aborrecida.

“Vovô, ué, o senhor dormiu aqui? Mas ontem eu deixei o senhor pronto para dormir...” Ela o toca, mas ele parece não perceber. “Vovô... vovô... vovô fale comigo. Mas que tolice é essa, vovô”.

Ema o balançou mais uma vez, mas ele ainda continuava imóvel, ela pegou a foto que ele segurava e sentiu o peito apertar. Era a foto que tiraram dias antes, O barão e seus três mosqueteiros.

“Vovô, que tolice é essa, o senhor está me assustando”. O nervosismo começou a toma-la quando ela percebeu o que poderia ter acontecido. “Vovô, pare com... eu vou contar até 3, está bem? 1... 2...” Ela sentiu as lágrimas chegarem lentamente. Com desespero ela pegou a mão dele. “Está frio. Foi o vento da janela que o senhor tomou a noite inteira, não foi?” Ema tentava se convencer do que já sabia, tentava ignorar a dor que aflorava sua alma. “Foi.. Vovô, o senhor não pode fazer isso comigo. Não.. não agora que estou esperando um bisneto do senhor. Não agora que tem tanto por fazer, vovô. Vovô não me deixa sozinha, agora”.

Os soluços agora já eram profundos, as lágrimas derramando em seu rosto e a dor dilacerando seu ser. Ela precisava do pai, mas não queria sair de perto do corpo do avô, suas forças acabadas e em meio ao seu desespero ela só gritou:

“PAPAIIIII...” Ela tentou soluçando. “PAPAIII... SOCORRO”.

...

Aurélio ainda estava adormecido, agarrado as costas de Julieta e tenho sonhos maravilhosos com a mulher em sua cama. Contudo ele foi despertado bruscamente com um grito. A voz de aterrorizada de Ema entrou em seu subconsciente de tal forma que ele praticamente caiu da cama em sua pressa de chegar a filha.

Seu desespero acordou Julieta também, ela se assustou e sentou na cama encarando Aurélio, ele se vestia rapidamente.

“Aurélio, o que..” Julieta não conseguiu terminar a frase, pois o grito de Ema soou novamente e dessa vez com um pedido de socorro, isso foi o suficiente para Julieta se levantar da cama também.

Aurélio correu em direção aos gritos, ele sabia que a esposa o seguiria. Camilo e Jane também saiam do quarto preocupados. Assim que percebeu de onde os gritos vinham, Aurélio sentiu sua espinha gelar.

“Ema, minha filha, o que houve?” Ele entrou no quarto e parou ao ver sua menina agarrada ao avô chorando copiosamente.

Aurélio encarou a cena trêmulo, pois mesmo sem tocá-lo sabia o que tinha acontecido. Ele respirou fundo e se aproximou dos dois, ele tocou as costas de sua filha e passou a mão lentamente pelo rosto do pai, quando o frio adentrou seus dedos foi a vez dele de soluçar.

Julieta finalmente se juntou a seu filho e nora que estavam na porta assistindo a cena tristes. Percebendo o que estava acontecendo ela suspirou e segurou as lágrimas, naquele momento ela precisava ser forte para eles dois.

“Meu filho”. Ela sussurrou para Camilo que a encarou esperando instruções. Ele conhecia bem a mãe e sabia que ela era a pessoa perfeita nesse tipo de situação. “Vá até a cidade e procure o Dr. Jonatas, informe a ele o que aconteceu e ele saberá o que fazer”.

“Eu vou, minha mãe” Ele falou e ia saindo, mas Julieta o impediu.

“Leve Jane com você”. Ela pediu e sorriu triste para a nora. “Minha nora, procure o Ernesto, se ele estivesse na mansão já estaria aqui ao lado de Ema. Talvez ele tenha ido resolver algo. Informe a sua família também do acontecido”.

“Pode deixar, D. Julieta”. Ela afirmou e os dois saíram de lado.

Respirando Fundo Julieta entrou no quarto e foi recebida com uma cena de partir o coração, Aurélio agora abraçava Ema apertado enquanto os dois choravam ambos ajoelhados aos pés do Barão. A menina parecia inconsolável e segurava a mão do avô firmemente.

Aproximando-se dos dois, Julieta tocou os cabelos de Aurélio e ele a encarou. A dor cura nos olhos dele a fez instável em sua armadura de apoio e ela se viu compartilhando a dor dele e as lágrimas também. Como estava em pé ela envolveu os braços ao redor dos dois tentando consolar os dois.

“Eu preciso.. eu tenho que..” Aurélio tentou se levantar, mas parecia relutante em sair de perto do pai.

“Eu já resolvi isso, meu amor”. Ela sussurrou. “Você quer um tempo a sós com ele?”

Aurélio afirmou e ela entendeu a necessidade dele se despedir. Julieta beijou a testa dele suavemente e se voltou para Ema.

“Venha, Ema. Vamos deixar seu pai a sós por um momento”.

“NÃO”. Ema balançou a cabeça com relutância. “Eu não vou deixar o Vovô sozinho, ele já ficou tempo demais só”.

“Ele não estará sozinho, minha querida. Seu pai ficará com ele”. Julieta tentou mais uma vez e se preocupou com o estado de Ema, ela estava grávida e emoções tão avassaladoras como essa poderiam ser prejudiciais para o bebê. “Venha, você ficará no nosso quarto até está mais calma”.

Ema não queria, mas a insistência de Julieta a convenceram a ir. Antes de sair, Julieta encarou Aurélio triste, por mais que ela quisesse consolar a enteada seu coração se partiu ao deixar o marido sozinho, mas os olhos dele apenas entenderam sua atitude e ele tentou sorrir para mostrar que estava tudo bem.

Já no quarto, Julieta levou Ema até a cama e ofereceu a ela um lenço para enxugar seus olhos. A menina estava respirando um pouco mais devagar agora, ela estava se acalmado, mas assim que elas se encararam Ema voltou a chorar e se atirou nos braços de Julieta.

Sentindo agora as lágrimas banhar seu rosto, Julieta a abraçou apertado e seguiu o instinto materno ao consola-la. As mãos alisavam os cachos da menina e ela sussurrava palavras carinhosas e de que tudo ficaria bem.

Enquanto isso no quarto do Barão, Aurélio murmurava desculpas por tudo o que não fizeram juntos e todas as conversas que não tiveram. O Botânico sabia que não precisava se disso, além do que eles conversaram antes do casamento e ele entendia toda aquela conversa emocional, seu pai estava sentindo que sua hora estava próxima. Isso só o fez chorar ainda mais.

“Então é verdade?” A voz de Tenória chegou em seus ouvidos e ele encarou a irmã e o sobrinho que já chorava baixinho.

“Sim, minha irmã”. Ele falou triste. “Nosso pai se foi”.

Tenória afirmou, mas controlou seu choro. Contudo, assim que Aurélio abriu os braços ela foi até ele e deixou a tristeza fluir através das lágrimas. Estilingue se aproximou do avô e o beijou na testa:

“Sentirei saudades, meu avô”.

Aurélio o puxou para o abraço também e eles ficaram juntos até que foram interrompidos pelo Dr. Jonatas.

...

Quando Aurélio apareceu no quarto, encontrou Ema deitada no colo de Julieta fungando baixinho, ela parecia agarrar Julieta como uma tábua de salvação. Ele encarou Ernesto que estava ao seu lado e pigarreou baixinho fazendo as duas encará-lo.

“Ernesto”. A voz embargada de Ema sussurrou e ela se levantou da cama, não antes de abraçar Julieta e sussurrar um obrigado.

A jovem correu para os braços do marido e os dois saíram do quarto deixando Aurélio e Julieta sozinhos. O Botânico não se mexeu, os olhos estavam vermelhos e ele ainda tinha marcas de lágrimas em seu rosto.

“O Dr. Jonatas chegou?” Julieta estava receosa de quebrar o silêncio, mas era preciso.

“Sim”. Ele suspirou sem saber o que fazer agora. Então com os olhos cansados e chorosos ele a questionou. “Esse colo está vazio?”

“Apenas a sua espera, amor”. Ela disse e abriu os braços.

Aurélio praticamente correu para ela e deitou a cabeça onde sua filha estava instantes antes, dessa vez ele deixou toda a dor sair. Os soluços altos abalavam seu corpo e ele sentia vagamente as mãos de Julieta em seus cabelos e rosto, as palavras sussurradas dela infiltravam lentamente em sua mente, mas mesmo assim a dor era quase sufocante.

Enquanto a calma voltava lentamente, Aurélio entendeu a atitude da filha, Julieta era realmente uma tábua de salvação, a voz suave, os toques doces. Era tudo o que precisavam naquele momento.

Quando enfim conseguiu se controlar ele beijou sua barriga e acariciou o ventre dela suavemente, uma vida havia ido, mas uma estava se formando e ele sabia que o pai ficaria feliz com isso.

Aurélio se levantou e abraçou Julieta, ela também precisava de consolo, eram todos da família agora, todos sentiam a mesma dor. Agradecendo baixinho a seus cuidados, Aurélio se preparou para os próximos dias, o velório e o enterro da maior figura do Vale de Café: O Barão de Ouro Verde.

Continua...


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