Cheiro de chuva escrita por larissaribeiro


Capítulo 1
Capítulo 1




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O barulho delicioso que ela tanto amava estava reverberando do lado de fora. Respirou profundamente e sorriu ao sentir o cheiro bom de chuva que se espalhava pela sala escura. Encolheu bem o corpo no moletom que usava para aninhar-se melhor no sofá, e quando decidiu olhar em volta, percebeu que todos os seus amigos estavam adormecidos.

Era noite de filme, mas provavelmente todos estavam muito cansados da semana difícil que tiveram para a obtenção da licença provisória que sequer conseguiram terminar de ver o filme. Uraraka sorriu de canto quando notou como estavam mergulhados em seus respectivos sonhos, agora com expressões mais relaxadas. Sentia-se tão orgulhosa de cada um que não conseguiu evitar que seus olhos marejassem.

“Se não vai mais ver a merda do filme, então melhor dormir também” A voz soou de repente em um tom desanimado, chamando a atenção da garota para o dono dela. Bakugou estava sentado no chão, do lado esquerdo do sofá com as costas apoiada no mesmo e uma grande tigela com pipoca em seu colo. Ochako notou que os dois eram os únicos que haviam chegado até ali vendo o filme.

“Estou sem sono.” Respondeu por fim, sem olhar em sua direção, e encolhendo-se ainda mais. Mesmo sendo difícil que ele a visse claramente, ela sentia-se desconfortável com o rubor que surgiu em seu rosto, afinal de contas, era como se ela estivesse sozinha com um garoto, e aquilo a deixou com borboletas no estômago. Bakugou no entanto ficou em silêncio, com os seus olhos vermelhos inexpressivos voltados para a televisão. Ela não soube se o silêncio que veio logo em seguida foi um alívio ou uma tortura. A chuva ainda caía bastante, trazendo um sentimento de calmaria para o momento, mas por algum motivo desconhecido, Uraraka já não conseguia sentir-se calma por causa do seu som preferido.

Agora, olhando para as imagens na tela, não era capaz de reconhecer o que se passava ali. Como se tivesse perdido completamente o fio da miada, e só aquela observação descompassou um pouco o ritmo de sua respiração. Por que sentia-se ansiosa assim? Poderia questionar-se mais sobre suas reações incomuns, mas o que veio logo depois a fez ficar definitivamente envergonhada. Engoliu em seco assim que sua barriga fez um som já conhecido por ela mesma. Acontece que o ronco fora tão alto, que foi capaz de atrair um olhar escarlate de soslaio. Ela congelou ao perceber tal olhar. Desviou automaticamente.

Ouviu ele suspirar pesadamente por um instante, e mesmo o loiro não estando dentro do seu campo de visão ela sabia que aquela expressão carrancuda estava estampada em seu rosto. Não levou tanto tempo até que ela o visse erguer a sua tigela de pipoca em sua direção, plantando pelos primeiros instantes um sinal de interrogação em sua mente, mas não demorando muito para que entendesse o que estava acontecendo, logo mais não foi capaz de evitar que seu coração falhasse duas batidas no mesmo momento em que testemunhou o rosto carrancudo na sua direção e a sua repentina atitude. O que foi motivo suficiente para as malditas borboletas se espalharem por todo o seu estômago.

“Toma logo essa merda” Ele sacudiu a tigela, fazendo com que as pipocas dentro dela balançassem e fizessem barulho. Ela temeu que alguém acordasse e se deparasse com a cena dos dois ali, os únicos acordados e dividindo a tigela de pipoca. Por isso agiu de imediato e abriu um sorriso tímido. “O-obrigada.” Ela ergueu o corpo com cuidado para não acordar Mina, que estava com a cabeça apoiada em suas pernas, e logo alcançou as pipocas.

Mas ela tocou em algo macio e quente.

Os dois se olharam.

Bakugou estremeceu, e os olhos de Ochako dobraram um pouco de tamanho ao reconhecer que havia tocado a mão dele por acidente. O loiro afastou a mão e ela segurou com firmeza no plástico para que não caísse. E os dois voltaram rápido para as suas posições.

Desconsertados. Mas, além tudo inquietos por dentro.

O loiro desviou o olhar da televisão dessa vez, e agora observava os braços cruzados em seu peito, na tentativa de esconder o rosto e juntamente dele o rubor que ardia irritantemente. Mas que porra é essa? Ele perguntou-se internamente ao sentir seu coração batendo mais rápido do que o comum. A sensação de formigamento na região em que a pele feminina lhe tocou estava o aborrecendo. Agradeceu mentalmente pelo escuro que os cobriam naquela maldita sala. Mas a grande verdade era que Uraraka tinha um coração tão mais louco no peito quanto o dele, o que a impedia de sequer tentar voltar a observá-lo. Ainda podia sentir o calor delicioso que vinha da pele dele, e sem que percebesse começou a imaginar como seu corpo, coberto por aquele moletom masculino, poderia lhe oferecer ainda mais calor do que um simples toque em sua mão.

Por que pensei nisso?

Voltou o olhar para ele. Sentia que seu corpo não a obedecia mesmo que sua mente alertasse que não era seguro encará-lo daquela maneira, mas quando o viu naquele estado depois de terem se tocado, a boca dela secou e todo o oxigênio em seus pulmões fugiu. Ele estava… Envergonhado? Uraraka já não conseguia desviar os olhos daquela imagem, deixando completamente de lado o filme que passava bem na sua frente.

Os fios loiros estavam praticamente cobrindo o rosto de Katsuki, o que de um jeito estranho fez com que as pontas dos dedos dela formigassem de vontade de tocá-los, na intenção de sentir a textura deles contra a sua pele, e dessa forma movê-los calmamente para que pudesse olhar com precisão a expressão em seu rosto que ele insistia em esconder dela. Uraraka suspirou pesarosa com o pensamento, mas logo percebeu que havia sido alto demais. O suficiente para que, outra vez, aqueles olhos viessem de encontro aos seus, de soslaio.

“O que é?” A voz saiu rouca. Dessa vez ela não se sentiu ansiosa, e foi isso o que pegou de surpresa. Ela se sentiu aquecida por dentro. Acalentada. Fazendo crescer uma vontade estupida de mover-se e sentar ao seu lado para ouvir mais de perto o tom rouco.

Oh céus. Estou ficando louca?

“Você não vai mais querer?” Levantou a tigela.

“Pode ficar. Ficou muito salgado” Ela protestou quando ele quebrou o contato visual.

Mas por que estou agindo assim?

Ignorou o pensamento que a levava sempre ao mesmo ponto. Não podia negar que de certo modo tinha medo do que poderia descobrir. Então, em poucos instantes a garota sentiu um peso comum atingir suas pálpebras. Então, Mina moveu-se, o que a deixou esperta por alguns segundos, notando que a amiga havia se afastado para deitar a cabeça em outra parte do sofá. Pensou em Bakugou e em como deveria estar desconfortável ali no chão, mas não teria coragem de dirigir uma palavra sequer para ele. Não sem corar lembrando do toque quente de sua pele. Era totalmente novo para ela se ver daquela forma, e perceber como seu corpo reagia tão timidamente e ao mesmo tempo ansioso por causa dele.

Não compreendia bem toda aquela ansiedade, muito menos suas espiadas constantes só para saber se em algumas dela ele também poderia estar a espiando. Contudo, isso não aconteceu.

Infelizmente…

Conhecia perfeitamente o temperamento do rapaz e por mais que a sua boca suja e falta de paciência fosse algo marcante em sua personalidade, naquele momento ela podia jurar que estava começando a perceber coisas além dessas. O semblante levemente sereno demonstrava um lado que ela sequer imaginou que ele teria, mexendo ridiculamente com todos os seus sentidos que haviam nela. Ele sabia que ela estava o observando, sem medo de que fosse repreendida novamente, e o que mais o assustou foi o fato de não querer fazer isso

Um calor esquisito cobriu o seu peito quando seus ouvidos se aguçaram para ouvir com precisão a respiração dela. Por um instante pensou em como não seria desagradável ouvi-la respirar mais próxima dele. Foda-se. Voltou a assumir uma expressão de aborrecido, o que divertiu a morena que observava cada mínima mudança nos movimentos dele. Sabia bem que havia nele uma confusão semelhante a sua. Tal percepção fez surgir um sorriso no canto dos lábios dela. Ninguém estava vendo, e ninguém saberia disso. 

A quietude do ambiente permanecia tão deliciosa, de maneira que aos poucos Uraraka deixou que a ansiedade desse lugar para um sentimento bom de calmaria. Pouco a pouco ela foi se acostumando com a sua vontade de ignorar o filme e olhar calmamente para o momento que aquecia o seu interior. As gotas já estavam se acalmando devagar, diminuindo a cada segundo que se passava, diferentemente do sentimento que crescia cada vez mais dentro de Ochako. Ela havia se dado conta do que se tratava no instante em que ele dirigiu a primeira palavra a ela. Ela notou na primeira vez que seu coração decidiu falhar suas batidas tão sincronizadas. E por mais que não soubesse o que fazer agora que sabia o que tudo aquilo significava, não se importava com o que viria depois. Só queria apreciar com carinho aquele episódio, na intenção de guardar cada minimo detalhe nele, dentro do seu coração que descobrira naquela noite o que é amar.


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