Por toda vida escrita por larissacosta52


Capítulo 1
Per Tutta La Vita


Notas iniciais do capítulo

Hellou galero do Vale do Café! Como estamos? Isso mesmo, com o coração apertado de saudade de lutávio! E nada melhor para acalmar os ânimos do que ler uma história doce né? Uma pena que sou um pouco do contra, mas por maiores influencias de uma incrível amiga @coccriscosta, a partir de conversas e surtos noturnos essa ideia cresceu e cá está! E que venham muitas mais, esse mimo é pra você X-tina, e todo o fandom.

Divirtam-se! (e não me apedrejem)



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Vale do Café, 8 de março de 1910.

Luccino sabia que em algum momento, as coisas iriam desandar. O frio na barriga constante devido à felicidade que estava começando a se acostumar diariamente depois dele e Otávio finalmente se entenderem e darem passos à frente em seu relacionamento foram o suficiente para que o italiano se sentisse nas nuvens. Ainda que no Vale do Café houvesse uma constante tensão sobre a recente prisão de Xavier, e a situação mediada após Brandão ter sido considerado inocente e voltado ao quartel, Luccino, como o bom otimista que era, queria acreditar que o incomodo em seu coração era apenas um sentimento de precaução.

Mas o pior estava acontecendo, e hoje, no dia em que Luccino prometeu a si mesmo ser um dia que proporcionaria um sorriso largo no rosto da pessoa que era responsável pelos seus sorrisos mais bobos e apaixonados...

Só que agora, o terror que sentia ao ver a arma apontada para ele e Otávio nos fundos da oficina, era o infeliz contraste de que a felicidade deles acabou por ser passageira e dolorosa.

— Virgílio, deixe disso! Seja o que for que você tenha escutado, não vale a pena fazer o que você pensa em fazer. – Luccino tentava se manter calmo, mas seus olhos estavam fixos no movimento da mão do primogênito da família Pricelli em direção à ele, segurando uma arma. Não conseguia olhar para Otávio ao seu lado, pois sabia que poderia encontrar o mesmo pânico refletido nos olhos que aprendera a amar tão facilmente e tão intensamente.

—Quem você pensa que é pra dizer o que eu penso em fazer, Luccino? Acha que com essa conversa, tentando ser o miglior fratello, vai mudar alguma coisa? Depois de tudo? Sempre sendo o filho querido, o mais cuidado, o mais amado não é? – Virgílio despejava o seu sarcasmo, sem tirar os olhos dos rapazes à sua frente, o seu rosto transformando-se em uma expressão enojada. – Mas é claro que tinha que haver algo pra destruir essa ideia infeliz dos nossos pais de que você é um bom moço! Será que o seu Gaetano sabe que o seu filho mais novo anda se esfregando com outro homem, que para todo o Vale, deveria ser um exemplo de homem? Quando na verdade não passa de um...

Otávio deu um passo à frente, mas Luccino o segurou pelo pulso antes que o Major desse o primeiro passo.

—Meça as suas palavras, Virgílio. O que eu faço ou não na minha vida não desrespeita à você ou à ninguém! – O mais novo dos Pricelli sentia as batidas do seu coração se descompassarem, mas não iria temer agora, não quando ele e Otávio passaram por tantas inseguranças, medos e obstáculos perante aos outros para viverem o amor deles, ainda que as escondidas. Porque as pessoas não poderiam compreender? O que há de tão errado que os incomodavam? Os flashs da noite anterior ainda o assombravam,  mas não tanto quanto a arma apontada à eles.

  -Virgílio, se você tem algum respeito ou amor ao seu irmão, ou à sua própria família, abaixe essa arma e considere fugir o mais rápido o que puder, para que não descubram o que você está pensando em fazer. Poupe a vida do seu irmão, você não está pensando no que está fazendo. – Otávio o mirava com seriedade, sentindo o calor de Luccino ao seu lado, mas o major sentia suas mãos frias, e sabia que não estava preparado para ver o pior acontecer, não estava preparado em perder mais alguém que amava, sua família.  

A família que escolhera para amar, pra toda a vida.

Otávio sentiu as lagrimas subirem aos olhos, engolindo em seco quando sentiu os dedos de Luccino enroscarem aos seus, apertando-os, transmitindo tanto, com aquele um pequeno toque, mas que significava tanto para ambos. De uma forma que o Major não sabia, aquilo o acalmou brevemente, queria ser corajoso, queria lutar, lutar por ele mesmo, e por Luccino. Por eles.

—E desde quando você sabe alguma coisa de amor?! Tudo o que eu vejo aqui são duas aberrações, anormais! E achando que eu era uma decepção para a família Pricelli, mas parabéns irmãozinho, Dona Nicoletta deve estar mais do que orgulhosa de saber que o filho querido se presta a algo tão sujo e repugnante.  – Virgílio gritou, contagiado pelo ódio e cólera vibrando em todo o seu corpo, ansiando pra terminar com aquilo. Já não tinha nada a perder, nada a mais em sua mente que o impedia em terminar o que viera começar, e agora, depois de descobrir por acaso mais um motivo para se decepcionar, conseguiu mais coragem pra terminar tudo aquilo. Acabar com mais um motivo de desgosto para a sua família.

Otávio retirou a mão do aperto doloroso de Luccino, e quando deu-se por si, viu-se avançando em frente a Virgílio, cegado pela raiva e impotência de escutar tais palavras cruéis à Luccino. Mas, esse pequeno movimento desencadeou o pior pesadelo que Luccino poderia enxergar com os próprios olhos.

E o som do gatilho sendo apertado seria então, o som mais doloroso que Luccino poderia lembrar pelo resto da sua vida.

—NÃO! – Luccino correu pra frente segurando Otávio antes mesmo que o próprio percebe-se que havia tombado para o lado, tomado pela repentina dor que latejava insuportavelmente dentro de segundos logo abaixo do seu coração, que tentava bater, acelerado.

A intenção de Virgílio desde o início daquele dia, era terminar tudo. Não havia mais sentido em continuar ali, no Vale do Café, depois que os planos de Xavier foram destruídos. Sabia que seria o próximo a ser pego, mas antes tinha um acerto de contas a pagar, tinha que fazer justiça com as próprias mãos, e não poderia deixar de pensar em tudo o que vivera desde tão pequeno, as responsabilidades tão precoces, os gritos cheios de impaciência e raiva do seu pai, o acusando de não ajudar o suficiente, de não fazer nada certo, de fazê-lo se sentir desde tão novo, como algo imprestável, sem concerto. E ao mesmo tempo, ao fundo de toda a raiva que sentia, enxergava o amor de sua mãe tão incondicional aos filhos, mas sabia que Luccino era o favorito, sempre estava debaixo dos olhos amorosos de Mama Pricelli. Luccino isso, meu querido bambino... porque não poderia ser tão amado quanto ele? Quanto Fani e Ernesto?

As amargas lembranças do irmão mais velho dos Pricelli foram ofuscadas pelo choro de agonia que ouvia de seu irmão mais novo. Não teria mais tempo de fazer o que pensara há tanto tempo, e tomado então pelo desespero de alguém aparecer devido ao som do tiro ecoado pela oficina, saíra às pressas, deixando cair a arma no chão da oficina e entrando na floresta que rodeava o lugar, que agora, era testemunha do pior dia da vida de Luccino Pricelli, e porque não dizer, de um certo Major que tentava a todo custo manter os olhos abertos, encarando apenas os olhos transbordados de lágrimas da pessoa no qual dera a própria vida, e daria quantas vezes mais fosse preciso.

—Não, não, não, não feche os olhos, continue comigo Otávio, por favor, por favor – Luccino chorava em agonia de ver o sangue manchado no uniforme de Otávio, que mantinha sua mão entre as suas que tremiam como nunca, agora sujas, avermelhadas, mostrando que o horror que sentia era real e que ele não ia acordar e ser confortado com uma realidade diferente daquilo.

 -Me conta... – Otávio tossiu forte, fechando os olhos e voltando abri-los, olhando os fios despenteados do cabelo de Luccino grudados na testa, misturados pelo suor e lágrimas e ele pensou num instante, que se não fossem lagrimas de desespero pelas obvias circunstancias, Otávio queria guardar aquele momento, pra lembrar o quanto o amava. E que jamais queria ser a causa da dor que o seu amor estava sentindo agora. – Me conta o que você queria me contar antes, quando eu cheguei aqui mais cedo...

Luccino lembrou o que guardara com tanto cuidado e apreço por dias, ansioso pra entrega-lo, mas agora, a sua mente e seu coração estavam inundados de dor e desespero, sem saber o que fazer, seu rosto estava molhado por lágrimas que não deixavam de cair, sem ter controle sobre os seus próprios sons desesperados, ele só queria desver a cena de Otávio caindo em seus braços como uma marionete, e agora ali, deitado no chão da oficina que fora lugar de tantos momentos maravilhosos entre os dois, mas naquele momento, tudo o que viveram parecia ser abafado pelo terror de ver o amor de sua vida se esvaindo pelos dedos.

—O-Otávio, eu tenho que chamar alguém, eu tenho que fazer alguma coisa, você está perdendo muito sangue – O italiano tentava estancar o sangue com o lenço que quase sempre usava no pescoço, mas sentia que o pequeno esforço estava sendo em vão, aumentando impossivelmente o seu desespero.

Os olho de Otávio lutavam mais e mais para se manterem abertos, no entanto, um sorriso brotou em seus lábios, agora pálidos contra a luz fraca que emanava da oficina.

— Me conta... da aliança que você tentou esconder de mim... italiano bobo...

—Você sabia? – Luccino a tirou do bolso da calça, e colocando em frente aos olhos de Otávio. – Como eu não consegui esconder de você?

—Os seus olhos não mentem, amore mio... E você é um péssimo mentiroso... – Otávio fechou os olhos, sua respiração levemente ofegante começando a se dissipar, satisfeito em saber que suas suspeitas da animação mal velada de Luccino era por causa de um presente, que ele tanto dizia que queria dá-lo. – E isso só me faz te amar mais. Me desculpe, por não ter cumprido a minha promessa.

Luccino apertava os olhos, balançando a cabeça, negando ver a vida de Otávio distanciando-se.

—Você me fez feliz, e continuará fazendo! Por toda vida, Otávio. -  Luccino afirmou com a voz tremula, sentindo o aperto da mão do Major folgar-se dos seus.

—Por... toda vida. – Sussurrou, baixinho, quase inaudível ao contrastar com o choro dolorido de seu enamorado.

— Por favor, não, não! Eu imploro, não, eu, OTÁVIO! – Luccino segurou o rosto, os soluços ecoavam, agora solitários na oficina mecânica. Pricelli o segurava contra si, agarrando-o como se quisesse segurar o calor que ainda restava do corpo que amara tantas vezes em tão pouco tempo ali, onde tudo começara. E agora, onde terminara, da forma mais cruel, destruindo todos os seus sonhos e princípios de felicidade do lado de quem lhe mostrara o que era o amor, que era digno e merecedor de tal e que poderia amar alguém de forma que não sabia medir em palavras.

 Com os olhos fechados, o rosto afundado nos cabelos bagunçados de Otávio, Luccino chorava, desesperado para não sentir mais aquela dor, que rasgava-lhe o peito, o desespero de não saber o que fazer, de não acreditar que aquilo tinha acontecido, e que o sincero aceno de felicidade foi apenas uma miragem do que poderia ter sido. Do que poderiam ter vivido, em um futuro planejado aos sussurros com o seu Major, distantes de qualquer olhar que os condenassem.  

Pricelli não sabe ao certo quanto tempo se passou, encolhido no chão, mas ao abrir os olhos, encarou a oficina ao seu redor, seus olhos que antes, tão cheios de vida e de luz, agora estavam encobertos pelo vazio e dor, parando o olhar no carro ao seu lado. E ao lembrar da entrega que ele e Otávio tiveram ali, só fez com que seus pensamentos se confirmassem.

Não havia o porquê mais em estar ali. Não havia mais sentido. Acabou, está terminado.

Seus olhos então, miraram a arma, jogada a poucos passos, esquecida pelo autor do pesadelo vivido de Luccino. A certeza então, se concretizara. Sua mão ensanguentada, ainda segurava a delicada aliança dourada, que tanto namorava de longe, todos os dias, economizando o que podia para tê-la e ver então o olhar de Otávio ao coloca-la em seu dedo anelar, nas mãos que o seguraram, o amaram e o apoiaram. E que agora, estavam estarrecidas, quietas, frias. Silenciosas.

Luccino, com o coração pesado, ainda avistando de longe o objeto largado a poucos metros, tomou então a sua decisão.

— Por toda vida, amore mio.

Vale do Café, 12 de setembro de 2018.

Os raios alaranjados do pôr do sol brilhavam nas arvores que rodeavam a estrada, por onde andava à mais de 100k/m por hora. Ele adorava o som dos pneus correndo no asfalto, mais rápidos, mais ansiosos, assim como ele mesmo encontrara-se há semanas após receber uma oferta temporária de trabalho no interior de São Paulo, no Vale do Café, cidade com uma importância histórica para muitos naquela região. Apesar de ter nascido em outro país, encontrara no Brasil, um lugar para fixar-se e desenvolver sua carreira com tanta paixão, ainda que todos os dias, um constante incomodo o acompanhava, sendo assim, voltava-se aos estudos e ao trabalho.

Cada quilometro deixado para trás, mais ansiava em chegar em seu próximo destino, ainda que fosse uma viagem a trabalho. Algo em seus pensamentos o dizia que o melhor de sua vida seria vivido ali, mas não desconfiava que o tropeço para a reviravolta de sua vida, iniciaria naquele instante, ao dobrar na curva da estrada, na entrada da cidade, perto da antiga ferrovia de trem.

Tão distraído em seus devaneios e expectativas sobre o Vale do Café, desatentou-se por cinco segundos e não percebeu o carro que dobrara na curva ao lado, quase colidindo com a sua motocicleta, fazendo com que freia-se de súbito, caindo no chão e batendo a cabeça protegida pelo capacete no asfalto da estrada. Por vinte segundos, nada ouvia além do zumbido em sua cabeça, deitado na estrada, e ainda tão desnorteado, não sentiu alguém retirar o seu capacete e segurar-lhe o rosto.

Abriu-se os olhos, fechando-os novamente devido a luz forte do sol das cinco da tarde, mas o murmúrio tão próximo de seu rosto foi aumentando de tonalidade até que finalmente obrigou-se a abri-los.

—Você está bem? Eu sinto muito, eu não tive a intenção! Abra os olhos, vamos lá! – O estranho murmurava, aflito, os olhos castanhos assustados o encaravam atentos.  

Estranhamente, o incomodo que Luccino sentira por anos, dera margem a um sentimento que nunca sentira até naquele momento, com um estranho desesperado no meio de uma estrada deserta...

Pertencimento.


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