Correio Eletrônico escrita por Angelina Dourado


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Fiz essa one levinha sobre essa série de jogos maravilhosa e desse OTP supremo que é Rosawatts, ainda mais quando vi que está faltando fics desse fandom em português.
A fic leva em conta alguns acontecimentos dos minisódios disponíveis, mas dá para ler de boas sem ter jogado os mesmos. Espero que gostem, boa leitura! ^-^



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Era o final do expediente e grande parte dos funcionários da Sigmund Corp já havia ido embora ou estavam se preparando para saírem do trabalho. As luzes eram desligadas, portas de escritórios trancadas, computadores desligados, lentamente o grande prédio da corporação tornava-se vazio. Algumas poucas pessoas permaneciam no local, esperando por casos da madrugada, ou terminando projetos inacabados.

Eva Rosalene era uma dessas pessoas, estando determinada a finalizar os relatórios de caso ainda aquela noite. Não havia sido sua intenção atrasar aquela parte burocrática – isso combinava muito mais com certos colegas — mas aquele já não era um trabalho comum, do qual exigia um grande controle emocional e cuidado para tomar as decisões certas, afinal tratava-se da memória dos outros. Relembrar aqueles casos e colocar toda a experiência em um texto técnico era mais difícil do que aparentava ser, fazendo com que a doutora ficasse longos minutos encarando a tela do computador sem escrever uma única linha, apenas pensativa e almejando encontrar as palavras certas.

A doutora Rosalene revisava os últimos parágrafos de sua escrita, enquanto segurava com a mão direita uma caneca fumegante de café. Seu escritório estava escuro, iluminado apenas pela tela do computador que apesar de novo ainda possuía um monitor datado e gigantesco. Tinha a expressão séria para a área de trabalho até que uma notificação a fez se sobressaltar. Era um e-mail de Neil Watts, fazendo Eva se questionar o que o colega tinha a lhe dizer ou mostrar sendo que o próprio havia estado ali não fazia muito tempo.

Ainda mais quando o título de tal mensagem era ‘’Especialmente e exclusivamente para Dra.Eva Rosalene ’’. A doutora tinha suas suspeitas do que poderia ser, pois seu radar de idiota estava apitando, provavelmente era algo que apenas ele mesmo achava engraçado enquanto Eva apenas sentiria vontade de revirar os olhos, como aquela vez do vídeo do gato tocando piano. Abriu a mensagem, começando a ler sem muita pretensão:

Não, isso não é uma pegadinha ou qualquer tipo de piada. Sei que é a primeira coisa que passou por sua cabeça e lhe dou todos os motivos para pensar isso, mas dessa vez afirmo que este é um documento 100% sério.

Anexado com a mensagem havia um arquivo de apresentação de slides, com o nome ‘’Motivos para ir a um encontro com Dr. Neil Watts.’’

Primeiramente Eva não levou a sério, ainda mais pela estética das páginas com cores vibrantes e fontes em 3D, parecendo uma propaganda esquisita direto dos anos noventa. Mas a mensagem anteriormente não parecia ser parte de uma brincadeira totalmente sem graça de Neil, o fato de ser diretamente endereçado a ela também não deixava brechas para outras interpretações. Apesar de toda bizarrice, a doutora viu que não havia outro motivo lógico senão aquele: Neil estava a convidando para um encontro com uma apresentação de slides.

Ao aceitar tal fato, sentiu um arrepio por todo o corpo e o coração palpitar ao ter consciência da dimensão de tudo aquilo. Há tempos que lidava com um dilema interno sobre a queda que tinha por Neil Watts, algo que tentava procrastinar de tomar uma atitude assim como os relatórios daquela noite. Era uma situação complicada, afinal não apreciava a ideia de se envolver com um colega de trabalho, além da questão de não aceitar que de todas as pessoas do mundo ela havia se apaixonado justamente pela mais idiota.

Mas agora o problema estava ali, encarando-a de frente e gritando com um megafone para que resolvesse aquilo ali e agora, sendo menos impressionante o fato de a culpa ser do próprio Neil.

Passava as páginas em um misto de sentimentos, de ansiedade e nervosismo que por vezes eram mascarados com um riso, pois obviamente se tratando de Neil aquele era um trabalho longe de parecer sério e profissional.

História

Nos conhecemos desde os primeiros anos do Ensino Médio, cursamos a faculdade juntos e pelo jeito o destino realmente não quer nos separar visto que fomos selecionados para o mesmo emprego para sermos parceiros. Nossa amizade só não é mais forte que Adamantium!

Junto com o texto havia diversas fotos antigas da qual Eva nem se lembrava de existirem, mas lhe causando uma alta dose de vergonha alheia e nostalgia daqueles momentos. Entre as imagens estava uma selfie pré-histórica do tempo das máquinas digitais de baixa qualidade, da época de escola onde Neil ainda usava aparelho nos dentes e tinha acne no rosto, enquanto Eva usava uma quantidade absurda de lápis de olho e uma franja estilo emo escondendo quase todo seu rosto. A vontade era de se enfiar em um buraco e não sair de lá nunca mais depois de ver isso.

Excluindo o fato de querer jogar a fotografia nas profundezas do inferno para nunca mais ser encontrada, Eva realmente nunca havia parado para pensar nos tantos anos em que os dois já se conheciam. Haviam passado por diversas etapas juntos, permanecendo unidos ainda nos dias atuais. Era uma amizade rara de se ter, da qual Eva só parou para pensar no quão grata era por tal naquele momento.

Passou outros slides, falando sobre confiança (por ter regado suas plantas uma vez quando estava viajando), humor (este era tão óbvio que Eva não achou necessário cinco páginas inteiras dedicadas a isso), responsabilidade (na verdade não, mas como uma autopromoção Neil conseguiu enrolar bastante nesse tópico), inteligência, carisma, coragem, talentos, ‘’Não sou o Rob’’, e diversos outros tópicos. Foi inevitável não soltar alguns risos durante a leitura e ter um singelo sorriso se formando em seu rosto conforme passava pelas páginas.

Família

Caso essa relação for pra frente – uma situação hipotética, claro – não precisa dar grandes explicações para sua família, muito menos teremos de sofrer aquela situação humilhante de apresentação de namorado/namorada. Até por que convenhamos, sua irmã não aguenta nem olhar pra minha cara de tão enjoada que já está de me ver por aí.

Havia junto da mensagem mais uma foto, dessa vez uma que Eva especialmente adorava que era do Natal do ano passado, quando convidou Neil para passar o feriado junto com sua família. Na fotografia, Eva segurava um vaso com um cacto que havia sido o presente dado por Traci, enquanto abraçava com um braço os ombros de seu sobrinho Jamie que sorria olhando para a câmera. Ao fundo, era possível ver um Neil muito animado com o sabre de luz de brinquedo que Jamie havia ganhado, segurando-o em uma pose de ataque com um largo sorriso no rosto.

Eva apoiou o rosto com uma das mãos, divagando em suas próprias memórias enquanto olhava para a fotografia. Era o processo natural de uma lembrança, o sentimento nostálgico abrasando o coração e deixando as memórias fluírem pela mente, trazendo sentimentos advindos de um tempo que não mais retorna e que ficou gravado para sempre. Algo diferente do trabalho que exerciam, de moldar tais lembranças intocadas a maneira que precisassem, um processo que mesmo depois de tanto tempo exercendo a doutora ainda tinha conflitos em sua cabeça sobre o certo ou errado daquela questão.

Perguntava-se se Neil também possuía essas mesmas dúvidas, ou o que realmente achava de tudo aquilo. Por mais irônico que fosse nunca haviam tido uma conversa a fundo quanto a isso, provavelmente por ser um assunto tão delicado em um ofício que ainda causava protestos pelas ruas.

Era desgastante. Talvez fosse por conta disso que a Dra. Rosalene procrastinasse tanto seus relatórios, mesmo sendo o exemplo de organização perante todos os outros empregados. Apesar de todo o estresse envolvido em lidar com seu colega, Eva sabia que se não fosse pela personalidade excêntrica de Neil para contrabalancear toda a melancolia, seu emprego tornar-se-ia insuportável.

Também convenhamos, olhe para a beleza divina desde homem.

A foto não era a que mais favorecia o Dr.Watts, mas conhecendo o humor ridículo do mesmo Eva sabia que essa era exatamente sua intenção. Fruto das férias do ano passado, o técnico estava com uma camisa havaiana e um shorts que não escondiam o corpo queimado de sol, além da combinação horrorosa entre sandália e meia, finalizando com as mãos sinalizando positivo para a câmera.  A doutora não conseguiu conter o impulso de levar uma palma até o rosto, olhando descrente para a tela não sabendo se ria ou desligava o computador e ia embora.

Neil Watts era um palerma e por mais que Eva odiasse esse lado dele, também o amava na mesma proporção, por mais que não quisesse admitir.

Se estiver disposta a aceitar essa proposta magnífica, não hesite em me chamar para tomarmos um café. Sabe onde me encontrar.

Com amor, Dr. Neil Watts (me imagine fazendo pistolas com os dedos em sua direção).

Eva Rosalene ficou encarando pensativa a mensagem, matutando a decisão a ser tomada e qual ação prosseguir com ela. A decisão veio mais rápida do que achou que seria. Respirou fundo, clicando no ícone de resposta e começando a digitar sem mais nenhum bloqueio em sua mente que antes a afastava do teclado.

                                                                          ***

Não havia outra coisa no quarto do técnico para iluminar que não fosse a própria luz da lua tímida pela janela aberta, esvoaçando as cortinas com o vento. Tudo estava em silêncio, visto que o Dr. Watts havia adormecido em sua escrivaninha com uma chave de fenda na mão e uma pizza pela metade na outra. A sua frente estava o protótipo de máquina que tentava desenvolver, rodeado de planilhas, livros e restos de comida espalhados. Por mais que o jaleco estivesse pendurado no cabide, Neil continuava trabalhando com suas próprias ideias, longe dos olhos da Sigmund Corp.

Contudo, aquele silêncio um tanto caótico foi interrompido com um toque de seu celular, vibrando na mesa e iluminando parte do ambiente escurecido. Neil acordou em um sobressalto, derrubando a pizza e apontando com a chave de fenda para pontos aleatórios do ambiente como se fosse uma arma, resmungando coisas inteligíveis. Os óculos em seu rosto estavam se equilibrando em uma só orelha, ficando tortos e quase caindo, deixando os olhos esverdeados serem vistos sem as lentes espelhadas. Tudo ao seu redor aparecia borrado por causa disso, mas mesmo assim Neil pode perceber a tela iluminada a sua frente.

Ajeitou os óculos, ligou as luzes do quarto e pegou o celular, percebendo que havia um e-mail novo. Foi então que sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha, lembrando-se do que havia feito horas atrás depois de ter terminado a apresentação de slides para Eva – um verdadeiro exemplo de arte, diga-se de passagem. Havia ficado tão nervoso com a resposta da doutora que mal havia conseguido se concentrar em sua máquina naquela noite, ficando impressionado por ter conseguido dormir no processo, não tinha notado o quão cansado realmente estava.

Já estava bolando milhares de possibilidades em sua cabeça, a maior parte sendo terríveis, xingando-se mentalmente e culpando Roxie por tê-lo convencido de ter feito aquilo. Abriu a caixa de mensagem com as mãos estremecendo ao ver a resposta de Eva Rosalene, com uma mensagem cujo título era: ‘’Somente ao encargo de Dr. Neil Watts.

Havia um anexo de um documento de texto para ser baixado, mas junto havia uma mensagem que apesar de curta foi o suficiente para Neil sentir o coração ir ás alturas:

‘’Eu não acredito que você me convenceu com uma apresentação de slides. ’’

Deu certo?Neil se questionou atônito, não conseguindo conter um sorriso de uma ponta de uma orelha até a outra. – Isso realmente deu certo?!

Não tão rápido percebeu que havia mais do que simplesmente aquilo, dado que o anexo chamava-se ‘’Condições para ir a um encontro com Eva Rosalene. ’’

Regra número um:

Parar com as pegadinhas no ambiente de trabalho. Estou ficando sem ideias para revidá-las.

 

Regra número Dois:

Pare de criar videogames sobre nossos casos, principalmente me fazendo ser a vilã da história.

— Droga. – Neil lamentou com um suspiro. – Todo o trabalho para criar os sprites de Zombievas para nada.

 

Regra número Três:

Eu dirijo. O falecido esquilo é argumento o bastante.

 

Regra número Quatro:

Não ouse me levar em um encontro na Comic-Con

Ainda bem que Neil ainda não tinha comprado os ingressos.

 

Regra número Cinco:

Esse relacionamento não pode afetar nossa postura de trabalho

 

Regra número Seis:

Gosto de comida vegetariana, isso é só uma dica.

 

Justo, muito justo. Neil pensou não conseguindo tirar um sorriso bobo do rosto, ainda sem desviar os olhos do documento enviado por Eva. Ficou daquela forma por alguns segundos, questionando-se se estava ainda sonhando ou se realmente a sorte havia virado ao seu favor. Bem, se ainda estivesse dormindo não gostaria de acordar tão cedo.

Girou sua cadeira de escritório para o outro lado do quarto, dando de cara com uma fotografia na parede que exibia todos os funcionários da Sigmund Corp reunidos no Natal de dois anos atrás. Todavia, Neil só tinha olhos para uma única figura no canto, com um sorriso singelo enquanto olhava para a câmera com o canto dos olhos. Era incrível como Eva Rosalene era linda mesmo usando um suéter de Natal ridículo. Ao menos era o que o Dr. Watts pensava.

— Ninguém consegue resistir ao Doutor Neil Watts. – Divagou sem desfazer aquele mesmo sorriso exaltado, ajeitando a gravata frouxa em seu colarinho com o maior estilo que conseguia, admirando a imagem de Eva a sua frente.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem até aqui! Comentem o que acharam.



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