Haven't we met? escrita por liz doolittle


Capítulo 15
Capítulo 15




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Uma semana depois, Darcy e Elisabeta tiveram sua primeira discussão como namorados.

Na verdade, Darcy pensou, aquilo não podia ser considerado uma briga, pois o assunto não era nada sério e se fosse uma briga de verdade, ele certamente não estaria se segurando para não rir. Mas os dois pareciam um daqueles velhos casais que estavam juntos há pelo menos quatro décadas e discutiam por qualquer motivo.

Eles estavam no meio da estrada em direção a São Paulo. Elisabeta havia dito a Darcy que ele não precisava buscá-la no Vale do Café, mas da última vez que se viram, os dois passearam pelos jardins da casa dos Benedito e então Darcy a convenceu com métodos muito pouco convencionais que não seria incômodo algum para ele. E agora eles estavam discordando veementemente um do outro.

— Você está errado. — Elisabeta afirmou.

— Eu não estou errado.

— Darcy, você está inegavelmente errado. "Caminhante sobre o mar de névoa" é a pintura mais enigmática já feita.

Darcy balançou a cabeça.

— É “Mona Lisa”, Elisa. — Ele rimou propositalmente. Ela bufou e soltou uma gargalhada que estava segurando. — O sorriso de Mona Lisa faz do quadro de Da Vinci o mais enigmático.

Elisabeta suspirou.

— Muito bem. Podemos concordar, então, que ambos os quadros são enigmáticos? — Elisabeta propôs uma trégua.

Darcy assentiu.

— Ok, acho justo. Um dia iremos viajar pela Europa e visitar todos estes museus. — Darcy soltou uma mão do volante e pegou a de Elisabeta. — E então poderei te provar que você está errada.

— Ah! — Elisabeta indignou-se. — Errada, eu!? Eu nunca estou errada.

Darcy apenas riu. Ele gostava de provocá-la quando o assunto não era sério. Elisabeta continuava encarando a paisagem, mas vez ou outra ela comentava alguma coisa e sorria. Nos momentos que Darcy podia observá-la tão feliz e realizada pelas coisas que estavam acontecendo em sua vida, ele sentia seu peito se encher com os mais nobres sentimentos.

Ele estava prestes a mencionar outra obra de arte que admirava quando apareceram na estrada algumas placas indicando as direções que devia seguir. Ele conhecia muito bem o caminho até São Paulo, mas ver os nomes de diversos destinos fez com que tivesse vontade de levar Elisabeta a outro lugar.

— Você se importa se atrasarmos nossa viagem em algumas horas? — Ele perguntou.

Elisabeta se virou para ele, sorrindo.  

— Qual é a surpresa que você está planejando? — Ela percebeu a intenção dele. Darcy imaginou que ela pensaria que havia algo de errado com o carro ou algum outro imprevisto, mas não: lá se iam seus planos de ser um namorado surpreendente...

Ao menos ela não sabia para onde estavam indo.

— Confia em mim?

Elisabeta se remexeu em seu banco e, sem que Darcy notasse sua aproximação, beijou sua bochecha rapidamente.

— Cegamente. — Ela respondeu.

~~~~~

Elisabeta pensava que as lembranças da praia e do mar, que ela tinha visitado uma vez quando era criança, ainda estavam vívidas. No entanto, ao encarar a imensidão azul a sua frente, ela percebeu que sua memória não fazia jus à beleza do oceano. Ou talvez tudo a sua frente só estava mais bonito porque refletia a maneira como ela se sentia por dentro. Darcy já não havia havia dito algo assim?

Elisabeta e Darcy se sentiram inteiramente livres naquela praia, que era praticamente deserta: se abraçaram, se beijaram, correram, conversaram, se beijaram novamente, nadaram, deitaram na areia, contaram as estrelas que já começavam a aparecer no céu, fizeram uma espécie de piquenique, se beijaram mais uma vez, se esqueceram deliberadamente de olhar o relógio, se acariciaram, riram, caminharam e, para não perder o costume, se beijaram.

Horas depois, quando o céu já havia escurecido quase completamente, Elisabeta estava deitada na areia e abraçada a Darcy, pensando que nada poderia deixar aquele  dia menos perfeito… até que ela sentiu um pingo d’água sobre seu rosto.

— Acho que está começando a chover.

— Eu também senti. É melhor irmos. — Darcy sugeriu.

Elisabeta se levantou e começou a limpar sua saia, que estava suja de areia, quando olhou para o céu novamente e reparou que em poucos minutos diversas nuvens escuras haviam se formado.

— Pelo visto, vai ser um temporal.

Darcy se levantou também e os dois começaram a caminhar a passos largos em direção ao carro, mas antes mesmo de chegarem já estavam completamente molhados. A chuva fora repentina e, como Elisabeta previu, bastante forte.

Quando entraram no automóvel, Elisabeta perguntou:

— Você não acha que seria perigoso pegar estrada agora?

Darcy assentiu.

— Eu vi uma pousada a menos de um quilômetro daqui. Podemos passar a noite lá, se você quiser.

Ela concordou e eles foram até a hospedagem. Saíram do carro correndo rumo à recepção e, embora tivessem tentado se secar um pouco antes de entrar pela porta, ainda estavam encharcados. A camisa branca de Darcy colou em seu corpo e Elisabeta sentiu-se arrepiar.

Ela rezou para que as pessoas pensassem que a reação de seu corpo fosse por causa do frio advindo da chuva, não pela simples visão de Darcy. Ela ainda se surpreendia por admirá-lo tanto e de uma maneira diferente cada vez que o via, mesmo já estando acostumada a ele.

Elisabeta precisou parar de pensar nisso quando percebeu que um senhor viera em direção a eles, que haviam acabado de entrar no local.

— Boa noite, meus amigos. Estão procurando abrigo para essa chuva de verão? — Ele disse, simpático. — Meu nome é Virgílio, é um prazer recebê-los.

— Darcy Williamson. Igualmente. — Darcy apertou a mão de Virgílio, que então se virou para Elisabeta.

— Elisabeta Benedito. Sua pousada é adorável. — Elisabeta admirou o interior do ambiente e sorriu. Quando ela voltou a encarar Virgílio, percebeu que a expressão dele havia se tornado carregada.

— Williamson e Benedito? Sinto informá-los,  mas possuímos apenas um quarto. Para pessoas casadas. — Ele colocou ênfase na palavra. — Os quartos de solteiros estão ocupados.

Elisabeta e Darcy se entreolharam, sem saber o que fazer. A julgar pela expressão séria de Darcy, ele ia agradecer pela receptividade e procurar outro hotel na região. Elisabeta conhecia apenas outro homem tão honrado, digno e correto como seu namorado, e era seu pai.

Elisabeta ponderou rapidamente: não era um pecado tão grande contar uma pequena mentira, era? Do lado de fora ecoou um trovão e ela concluiu que ao menos tinha boa desculpa para fazê-lo. Estava frio — ou melhor, o tempo  estava congelante — e as ruas estavam molhadas, e por isso seria perigoso Darcy dirigir para procurar outro lugar para ficarem durante a noite.

— Nós somos casados. — Ela afirmou, surpreendendo a si mesmo pela veemência com que pronunciou as palavras. — Somos casados há poucos meses, mas tudo ainda é tão novo que às vezes me esqueço de falar meu nome corretamente. Elisabeta Benedito Williamson. E olha que eu adoro o sobrenome Williamson. É um sobrenome inglês, seu Virgílio. É muito bonito, você não acha?

Elisabeta pensou que, se falasse sem parar e envolvesse Virgílio numa conversa supérflua, ela seria capaz de disfarçar o nervosismo presente em sua voz, pois ela era péssima com mentiras.  Quando se virou para Darcy, viu que ele estava com os olhos arregalados e boquiaberto. Disfarçadamente, ela cutucou sua costela para que ele participasse do teatro. Ele engoliu em seco e envolveu Elisabeta num abraço de lado.

— Sei como é! O início do casamento é uma fase de novidades. — Virgilio recuperou seu bom-humor. — Logo vocês se acostumam. Não terão outra escolha, é claro, já que geralmente a família começa a crescer pouco tempo depois.

— Mal posso esperar até esta fase chegar. — Darcy repousou a mão na cintura de Elisabeta. — Espero ter meia dúzia de filhos, pelo menos.

Elisabeta engasgou com o ar, mas tentou se controlar para que não percebessem.

Meia dúzia!?

Ela já ia tentar amenizar os ímpetos paternos de Darcy quando o escutou dizer:

— … e eu sinto que o primeiro já está a caminho.

Desta vez, foi inevitável. Elisabeta começou a tossir freneticamente. Eles não haviam feito nada além de se beijar, e Darcy já estava dizendo aos outros que ela estava grávida!?

— Você está bem, senhora? — Virgílio perguntou.

Uma jovem moça que devia trabalhar no local se aproximou deles e ofereceu um copo d’água para Elisabeta. Ela tomou um gole e respondeu:

— Estou ótima. — Elisabeta olhou para Darcy, que tentava se conter. Maldito, ele estava se divertindo. Ele queria mesmo entrar nesta mentira, não é? Então era isso que ela faria. — Deve ser minha condição delicada que me deixa sensível e frágil desse jeito, sabe?

Darcy fingiu beijar os cabelos de Elisabeta para disfarçar o riso.

— Entendo. — Virgílio assentiu. — Com minha esposa foi igual, e mesmo assim ela me deu quatro filhos muito saudáveis e fortes como touros, então vocês não devem se preocupar.

Elisabeta assentiu e parabenizou-o pela família. Quando o assunto terminou, ela perguntou:

— Você poderia me mostrar o quarto? Eu gostaria de repousar.

— É claro. Venham comigo.

Virgílio os levou até a acomodação e perguntou se eles gostariam de jantar. Elisabeta recusou, pois havia comido há pouco tempo na praia. Darcy disse que iria mais tarde até o restaurante da pousada para comer algo.

Assim que Virgílio os deixou a sós, Elisabeta se virou para Darcy.

— Seis filhos!?

Darcy sorriu.

— Se você quiser, pode ser sete.

— Darcy! — Ela tentou falar seriamente, mas o sorriso dele era irresistível demais.

— O quê?

— Ainda nem demos… você sabe… — Ela sentiu suas bochechas queimarem. — ... o primeiro passo, e você já está planejando a quantidade de filhos que teremos? Aliás, já até inventou que estou grávida!

— Então… — Ele a puxou pela cintura. — Se este é o problema, podemos resolvê-lo agora.

— Uma proposta quase irrecusável. Quase! Apenas quase. — Ela deu um selinho nele.

Elisabeta estava sendo provocante, mas ela sabia que ele entendia cada sentimento e pensamento dela, mesmo que não houvessem falado sobre isso. Não que Elisabeta fosse apegada às convenções, mas ela queria se sentir inteiramente pronta para que os dois se amassem de corpo de alma. Ela tinha vontade, mas simplesmente não era a hora. Ainda.

— Eu te espero pelo tempo que for, Elisabeta. Tudo acontecerá no momento que tiver que ser. No nosso tempo.

Elisabeta havia pensado que o azul do céu de encontro ao do mar era a cor mais bonita que ela já viu, mas ela estava errada. Nada se comparava aos olhos de Darcy, que brilhavam mesmo sob a escassa luz do quarto.

— Eu amo você, Darcy Williamson.

— E eu amo você, Elisabeta Benedito. Você e este rapaz aqui. — Ele tocou a barriga dela e os dois riram.

Logo depois, eles se beijaram pelo que devia ser a centésima vez naquele dia. E Elisabeta desejou que pudessem fazer o mesmo pelos próximos cem anos.

Quando se separaram, Darcy foi se banhar e então desceu para jantar. Elisabeta preferiu ficar no quarto e se preparou para dormir. Ela só percebeu que estava tão cansada quando se deitou na cama e suas pálpebras se fecharam quase que instantaneamente.

Elisabeta não saberia dizer há quanto tempo estava adormecida quando viu Darcy entrar no quarto. Ele se aproximou dela e beijou sua têmpora, sussurrando boa noite e palavras de amor antes de se deitar a seu lado na cama.

Darcy provavelmente havia pegado outro cobertor, pois Elisabeta não sentiu o seu sendo puxado. Já que seu sono estava começando a se esvair, ela desistiu de manter seus olhos fechados. Encarando o teto, chamou-o:

— Darcy?

— Sim?

— Você pegou outro cobertor?

Elisabeta não podia vê-lo, mas de alguma forma sabia que ele assentiu.

— Eu não queria te incomodar. E também quero respeitar seu espaço.

Elisabeta sorriu. Gentileza típica de Darcy Williamson.  

— Darcy?

— Sim?

— Eu não gostei da sua ideia.

Elisabeta não podia vê-lo, mas de alguma forma sabia que ele sorriu. Darcy jogou no chão o cobertor que usava e puxou o dela para se cobrir.

— Darcy?

— Sim?

— Eu acho que você está longe demais.

Ela nem teve tempo de olhá-lo, pois em menos de um segundo Darcy chegou mais perto e a abraçou. Ela se virou de lado e os dois se encaixaram como se fossem uma conchinha. Para fazê-la dormir, ele ficou acariciando-a e esporadicamente beijando seu pescoço e seu ombro.

Elisabeta se perguntava, segundos antes de adormecer, se no futuro os dicionários viriam com fotografias representando as palavras que significavam. Se sim, alguém deveria registrar em uma foto seu sorriso naquele exato momento, pois ela tinha certeza que absolutamente nada no mundo, além dela, fazia jus ao conceito de felicidade.


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