Haven't we met? escrita por liz doolittle


Capítulo 12
Capítulo 12




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Quando Elisabeta chegou em casa, ela se sentia contente por ter resolvido o mal entendido com Darcy. Ela já suspeitava que se sentiria assim, mas não imaginava que seria tão fácil ter um sorriso leve em seu rosto que insistia em ficar ali o tempo todo: um sorriso que, inclusive Ofélia, parada na porta de sua casa, conseguiu identificar ao vê-la se aproximar.  

— Onde é que cê tava, menina? Estou te esperando há horas!

Elisabeta caminhou em direção à mãe. Não queria falar a verdade, mas também não queria mentir, então disse apenas:

— Ora, eu estava cavalgando pelo Vale. Senti tanta saudade daqui e do Tornado que precisava fazer isso. Normal, não? — Elisabeta disse, dando de ombros.

— E por quê esse sorriso no rosto? — Ofélia riu. — Você tava com o lorde? Nem adianta me enganar, as meninas já me contaram tudo.

Ela poderia estrangular as próprias irmãs por contar sobre Darcy para a mãe delas. Justo a mãe!  

— E o que elas disseram? Não deve ter sido nada demais, mamãe. Não tenho nada especial para contar. — Elisabeta disse calmamente, se sentando num banco que havia em frente a casa e observando a paisagem. Se sua mãe a conhecia tão bem assim para perceber quando ela não estava sendo totalmente sincera, ela não sabia, mas na dúvida, era melhor não encará-la.

— Como assim, nada? Você conheceu o filho do lorde Williamson na cidade e não me contou nada? Ele até te ensinou inglês! Ora, Elisabeta, tenha compaixão pelos meus pobres nervos! Me conta tudo que aconteceu lá em São Paulo. As meninas disseram que ele é bonitão e ficou feliz em te ver. E eu que achei que minha potra selvagem ficaria pra sempre solteira, pra não usar outra palavra.

— Mamãe! — Elisabeta se levantou. — Darcy é um amigo, e como eu disse, não tenho nada para contar.

— Elisabeta, volte aqui! — Ofélia disse ao ver a filha caminhar para dentro de casa. — Amizade, sei! E se você não quer me contar sobre ele, eu mesma descubro.

Elisabeta paralisou no lugar. O que sua mãe estava planejando?

— Como assim? — Elisabeta se virou para Ofélia novamente.

— Pois é isso mesmo, vou conhecer o filho do lorde. Com o pai eu já falei uma ou outra vez quando o vi pela cidade, é meio sisudo, mas não parece ser má pessoa. — Ofélia olhou para o lado, pensativa. — O filho bonitão, solteiro e com posses, eu preciso ver com meus próprios olhos.

— O que você quer dizer? — A voz de Elisabeta era cautelosa.

— Enquanto cê passeava com Tornado, Julieta veio até aqui. Parece que o lorde e ela são sócios, e quando ela ficou sabendo que Darcy chegou à cidade, resolveu dar um jantar para que ele se sinta bem-vindo ao Vale. Convidou todos os Benedito, afinal seremos todos uma família só quando Jane e Camilo finalmente se casarem. Eu irei, é claro, para conhecer este lorde, seu “amigo”. — Ofélia disse, com uma expressão desconfiada.

Elisabeta arregalou os olhos. As chances de sua mãe cercear Darcy para obter detalhes sobre os dois eram grandes. Será que ele seria discreto? Será que sua mãe seria capaz de descobrir ao observá-los que eles haviam feito uma coisinha ou outra que amigos definitivamente não faziam?

Se sua família iria àquele jantar, ela precisaria estar lá também.

— Então já irei começar a me aprontar. — Ela respondeu e se foi para seu quarto, escutando de longe a risada de sua mãe.

 

~~~~~

 

Darcy não precisou se perguntar por muito tempo se Elisabeta iria ao jantar preparado por Julieta, pois pouco tempo após chegar à fazenda de sua sócia, os Beneditos tocaram a campainha, revelando a presença de seis membros da família: Elisabeta, Jane, Lídia, Cecília, Ofélia e Felisberto. Mariana não os acompanhou na visita, e Darcy estranhou sua ausência.

Julieta, que recepcionava os poucos convidados, recebeu a família e se apresentou a Elisabeta, demonstrando sua curiosidade em conhecê-la e admirando sua obstinação por se educar e conseguir um emprego como jornalista. Enquanto as duas conversavam, lorde Williamson e Camilo cumprimentaram o restante da família, e Darcy fez o mesmo após os dois. Ele beijou a mão das moças que havia conversado mais cedo e, assim que terminou, se dirigiu ao pai delas e apertou sua mão.

— Suponho que você é o sr. Felisberto?

— Muito prazer em conhecê-lo. — Felisberto respondeu após assentir.

— Digo o mesmo. Sou Darcy Williamson.

Darcy, então, se virou para Ofélia, que imediatamente levantou sua mão para que ele a beijasse.

— É um prazer conhecê-la, Ofélia. — Ele disse e sorriu, divertido.

— Ora! — Ofélia estava risonha. — O prazer é meu, lorde! Estava mesmo ansiosa pra te conhecer. Fiquei sab… — Ela não terminou sua frase, pois Elisabeta se aproximou e abraçou sua mãe de lado.

— Darcy, que bom que já conheceu minha mãe, a mulher mais maravilhosa deste mundo. — Elisabeta disse e sorriu constrangida.

— Sua mãe é realmente encantadora. — Darcy respondeu no mesmo momento em que Elisabeta dirigia a ele um olhar que dizia “me desculpe”. — Elisabeta, posso te apresentar ao meu pai? — Darcy estendeu sua mão para ela.

— É claro. — Elisabeta replicou e eles caminharam em direção a lorde Williamson, escutando a voz de Ofélia cochichando atrás deles:

— Mãos dadas, Felisberto! E ele ainda quer apresentar ela pro pai. É o primeiro e o segundo passo ao mesmo tempo!

Elisabeta riu nervosamente.

— Minha mãe e seus ímpetos casamenteiros. Me desculpe, Darcy.

— Não se preocupe, Elisa. — Ele respondeu segundos antes de seu pai notar a aproximação dos dois. — Espero que Mariana esteja bem.

— Está sim. Eu nem a vi depois de hoje de manhã, ela precisava resolver algo com Luccino e passou o dia inteiro fora.

Darcy assentiu e se dirigiu a lorde Williamson:

— Pai, esta é Elisabeta Benedito, uma amiga que conheci em São Paulo.

Darcy não gostou de usar o termo amiga, já que era pouco demais para os dois e para o que ele sentia por ela, mas ao mesmo tempo não havia outra palavra que fosse apropriada.

— É um prazer conhecê-lo, lorde Williamson. Darcy falou muito bem do senhor.

— Você é realmente muito bonita, minha filha. Darcy tinha razão. — Darcy corou.

Por que, por que, por que seu pai precisava revelar que ele havia falado dela e sobre sua beleza? Ele olhou para Elisabeta, receoso de encontrar nela um olhar reprovador, mas ela não expressou nada do tipo e apenas agradeceu sinceramente.

Eles trocaram algumas palavras nos próximos minutos enquanto aguardavam dois outros convidados: Susana Adonato, sócia de Julieta, e Olegário, seu funcionário e braço direito. Quanto estes finalmente chegaram, Julieta convidou todos para a mesa de jantar e direcionou-os para lugares específicos. Elisabeta se sentou de frente para Darcy, ao lado de Olegário e Cecília. Darcy tinha a seus lados Camilo e de Susana.

O jantar transcorreu bem e, de maneira geral, era Ofélia quem abordava algum assunto novo. Ela adorava conversar e, mesmo com o olhar mortificado de Elisabeta, dirigiu a Darcy diversas perguntas que ele respondeu de bom grado. Ele se sentia feliz de conhecer os Benedito. De certo modo, se encantou pelo jeito de Ofélia. Era bastante óbvio que ela já sonhava com um enlace entre sua filha mais velha e ele.

E Darcy desejava o mesmo.

Quando começaram a se deliciar com a sobremesa, a atenção de Ofélia se voltou para uma conversa com Julieta, Camilo, Jane e Felisberto. Nesta oportunidade, Susana perguntou a Darcy sobre São Paulo, sobre os negócios da família, se ele pretendia permanecer muito tempo no Vale do Café, entre outras coisas.

Ele respondeu suas perguntas sem realmente se atentar ao que dizia, pois, ao mesmo tempo, Elisabeta e Olegário começaram a conversar animadamente do outro lado da mesa e Darcy, por mais que não devesse, preferia tentar escutar o que os dois falavam. Sua tarefa era difícil, pois, logo após o jantar, um lacaio colocou flores na mesa para enfeitar e havia um vaso  grande em frente a Elisabeta, impedindo que um visse o outro claramente.

Darcy percebeu que Olegário sorria bastante entusiasmado. Em determinado momento, ele fez até mesmo uma piada sem graça sobre culinária e Elisabeta riu. Ela riu! Como ela pôde achar graça numa piada sobre caviar? Era bastante óbvio que o cavalheiro estava tentando ser engraçado propositalmente para fazê-la rir: era um flerte barato.

Por Deus, por acaso Olegário tinha acabado de olhar para a boca de Elisabeta? Ele pigarreou duas vezes, tentando chamar a atenção de dela... inutilmente. Ele se inclinou para o lado de Camilo para tentar olhá-la, mas ela nem pareceu notar que ele estava ali, pois estava sorrindo e olhando para Olegário. Camilo percebeu a atitude estranha do amigo e Darcy, contrariado, voltou ao lugar que estava.

— … e então me hospedarei na sua casa quando estiver na cidade. — Darcy assentiu em resposta a Susana. O que ela havia acabado de dizer mesmo? Ele não tinha escutado, porque novamente Elisabeta estava rindo de algo que Olegário disse. Ela nunca tinha rido para ele com tanto fervor, ele tinha certeza. Alguns linguistas certamente diriam que a palavra mais adequada para descrever o som seria gargalhada.

Darcy engoliu em seco. Aquela noite estava sendo uma verdadeira tortura.

 

~~~~~

 

Elisabeta se revirou em sua cadeira pelo que devia ser a vigésima vez naquela noite.

Quem era esta tal de Susana Adonato que parecia comer Darcy com os olhos? Ela não percebia que estava sendo despudorada ao agir desta maneira? Certamente todos estavam percebendo aquilo. Elisabeta olhou ao redor para checar se os demais também notaram o comportamento inadequado daquela mulher, mas ninguém parecia se importar.

Ela devia ter ficado fora do Vale por séculos e voltou numa época em que as pessoas não se importavam mais com a decência: esta era a única explicação para ninguém perceber o que se passava. Inclusive Darcy! Céus, por que ele não cortava de uma vez aquele crocodilo? Ela já havia passado a mão no ombro dele três vezes. Três vezes! E agora o olhava como um leão olha sua presa. Argh.

Não que estivesse com ciúmes, ela disse a si mesma, pois claro que não estava. É simplesmente que seus pais haviam lhe ensinado sobre como pessoas honradas deviam se portar em público e Susana, definitivamente, agia de modo contrário. Elisabeta prezava pelos bons modos. Isso era tudo.

Elisabeta se esforçava para prestar atenção ao que Olegário dizia, mas estava muito difícil quando ela havia dado a si mesma a tarefa de proteger Darcy daquela mulher interesseira. Ele realmente era muito bonito, charmoso, interessante e mil outras coisas, mas Elisabeta podia jurar que Susana queria apenas o dinheiro dele. E então ela simplesmente precisava observar quais passos a mulher dava, já que Darcy parecia incapaz de se proteger daquele olhar possessivo.  

Para não ser muito desrespeitosa com Olegário, ela decidiu agir de acordo com a situação — quando ele ria, ela fazia o mesmo, imaginando que ele estava contando alguma piada. Quando ele dizia algo e ficava sério, ela assentia, supondo que ele havia feito uma reflexão importante.

Elisabeta estava rindo de algo engraçado — ela não sabia o que era — quando Darcy concordou que Susana ficasse em sua casa quando ela estivesse em São Paulo. Foi então que Elisabeta decidiu que iria matá-lo. Simples assim. Como era possível ele aceitar o flerte de Susana? Darcy era muito educado — até com quem não merecia, ela acabava de descobrir —, mas ele devia parar aquela mulher. 

Neste momento, Julieta notou que todos acabaram de comer e sugeriu que voltassem para a sala para tomar um cálice de vinho ou uma xícara de café. Elisabeta foi a primeira a se levantar, pois, se continuasse naquela mesa, ela não mais responderia por seus atos: seria capaz de ensinar Susana a não ser tão assanhada daquele jeito com as próprias mãos.

Elisabeta se dirigiu ao toalete e passou uma água em seu rosto para se controlar. Quando voltou, procurou os dois objetos de sua apreensão. Darcy estava em meio a uma conversa com lorde Williamson e Felisberto. Ela respirou aliviada.

Susana estava conversando com Olegário. Ah, não seria maravilhoso se os dois se apaixonassem perdidamente, se casassem e fossem viver felizes para sempre em qualquer lugar longe do Vale do Café e de São Paulo?

Elisabeta se juntou às irmãs e começou a interagir com elas. O assunto era se Mariana conseguiria vencer a próxima corrida que participaria. Elas estavam discutindo os motivos pelos quais acreditavam que sim quando a própria chegou na casa de Julieta. Ela cumprimentou todos e caminhou até Elisabeta, com um envelope nas mãos.

— Elisa! Eu passei nos correios agora há pouco, pois estava esperando uma carta de uma loja para me informarem se vendem peças para a motocicleta. — Mariana sussurrou. — Me entregaram esta carta, é pra você. Tem o selo do jornal. Eu acho que talvez seja importante, então resolvi trazer aqui para você ler de uma vez.

Elisabeta agradeceu e uma sensação de inquietude surgiu em seu peito. Provavelmente era o resultado do processo seletivo e ela descobriria, naquele momento, se havia sido aprovada ou não. Ela suspirou fundo para tomar coragem e abriu o envelope. Fez uma leitura dinâmica e, quando terminou, seus olhos percorreram toda a sala em busca de alguém.

— Darcy! — Elisabeta falou alto, atraindo para si todos os olhares. Ele a viu, pediu licença aos que estavam a seu lado e começou a andar em direção ela, confuso.

Elisabeta, que estava ansiosa demais para esperar que ele chegasse até ela, também foi em sua direção e exclamou:

— Darcy, eu consegui. Eu fui aprovada no processo seletivo. Eu vou trabalhar no jornal! — Ela contou, emocionada.

— Elisa! — Com o polegar, ele enxugou uma de suas lágrimas. — Ah, Elisa! 

E então, no meio da sala, alheios a todos os presentes, eles se abraçaram. Quando Darcy levantou Elisabeta e a rodopiou alegremente, era como se não tivesse ninguém mais ali: nem Susana, nem Olegário, nem os Benedito, nem os Bittencourt.

Era como se existissem só os dois.

Só os dois.

 


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Notas finais do capítulo

Será que vai demorar pra Elisabeta pereceber e admitir que ama Darcy (ardentemente)? Ela já está no meio e ainda nem percebeu (totalmente) que começou.... ♥

Obs.: a cena do ciúmes foi livremente inspirada num livro da Julia Quinn que li há uns anos, e agora não me lembro qual. :(



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