Haven't we met? escrita por liz doolittle


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Será que ainda existe público para fanfics Darlisa? Espero que sim!
Acompanho todas aqui no site e elas sempre me inspiram demais, por isso resolvi criar a minha. É minha primeira história e espero que gostem!
Este primeiro capítulo é apenas o prólogo.



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PRÓLOGO

Elisabeta Benedito sempre soube que seria independente.

Na realidade, ela não era consciente disso aos 5 anos de idade, quando a governanta recém-contratada por sua família para educar as irmãs Benedito percebeu a aptidão da menina com as palavras e começou a lhe ensinar francês e inglês. Com tão pouca experiência de vida, era improvável que a pequena compreendesse a limitação imposta pela sociedade às mulheres de sua época.

Possivelmente a filha mais velha de Ofélia e Felisberto também não tinha ciência de seu futuro independente aos 6, 7 ou até mesmo aos 8 anos, quando, após sua família dispensar a governanta devido à renda que se tornava cada vez mais escassa, sua mãe se encarregou da disciplina das filhas. Ofélia era uma senhora tradicional, com uma visão de mundo condizente com a da época, que compreendia e ensinava a suas cinco filhas que uma mulher encontra satisfação exclusivamente ao formar e cuidar de uma família. Embora Elisabeta já havia ouvido seu pai dizer que ela era excepcionalmente criativa e inteligente, e que possivelmente sua vida seria mais do que Ofélia planejava para ela, Elisabeta não possuía muitos planos para o futuro, uma vez que suas aventuras pelo Vale do Café eram sua única preocupação.

Mas todas estas eram lembranças demasiadamente vagas para a menina… até seu aniversário de 9 anos, quando decidiu ser independente.

Naquele dia, Elisabeta se sentia triste por seu pai não estar em sua festa de aniversário organizada por sua amiga Ema Cavalcante em sua mansão. Felisberto era seu confidente e, embora não pudessem passar tanto tempo juntos, pois ele se trancava todo o dia em seu escritório para cuidar de questões financeiras da família, Elisabeta não imaginava conseguir se divertir inteiramente em uma festa sem que pudesse dançar com seu pai, rodopiando e rindo pelos salões. Ele havia ido a São Paulo para tentar conseguir um empréstimo para o sustento da família. Ema, ao perceber o olhar distante de sua amiga que estava afastada de todos em um canto do salão, se aproximou.

— Elisa! Não me diga que não está gostando da festa que preparei com tanto carinho para você!

— Estou adorando, minha amiga. — Elisabeta exclamou, forçando um sorriso. — Eu só queria que meu pai estivesse aqui também.

Ema riu, e Elisabeta lançou-lhe um olhar questionador.

— Então é melhor você se animar e preparar os pés para dançar, pois tenho uma surpresa para você. — Ema olhou para o relógio no canto do salão e sorriu. Se virou, caminhou até Ofélia e cochichou algo em seu ouvido, tendo como resposta seu assentimento e o riso de Mariana e Lídia, irmãs de Elisabeta, que se encontravam ao lado da mãe.

Elisabeta acompanhava a interação com bastante curiosidade, já que estava alheia ao segredo que as demais pareciam compartilhar. Ema, então, fez um sinal com a mão para Elisabeta segui-la e correu para a porta de entrada da mansão, abrindo-a rapidamente. Do lado de fora, Felisberto segurava sua mala e uma bolsa e sorriu ao notar a surpresa da filha ao vê-lo.

— Papai! O que o senhor faz aqui? Não achei que viria para minha festa! — Elisabeta exclamou com lágrimas nos olhos, buscando o abraço do pai.

— Eu queria surpreender você. — Felisberto abraçou a filha — É claro que viria para sua festa! Mas eu tinha que resolver duas questões em São Paulo: sobre aquele assunto que já conversamos e, claro, eu precisava comprar um presente para você. — Felisberto entregou a Elisabeta uma bolsa. Ela a pegou e correu para o sofá para abri-la.

Na bolsa, a mais velha das irmãs Benedito encontrou vários jornais e livros, escritos em português, francês e inglês. Ela lia jornais esporadicamente quando visitava a casa de Ema, mas raramente os assuntos tratados lhe interessavam tanto, pois costumavam ser técnicos demais. Não queria decepcionar seu pai demonstrando desinteresse, embora acreditasse que os livros seriam leituras prazerosas. Antes que pudesse agradecer, Felisberto se aproximou e explicou:

— Pedi a um amigo que mora em São Paulo para guardar estes jornais para você, Elisa. São títulos que eu costumava ler há alguns anos e sei que neles há várias colunas sobre pessoas extraordinárias que não se contentaram com o que a vida lhes oferecia gratuitamente. Pessoas, inclusive mulheres, que querem sempre mais, e que são mais. São diferentes dos jornais aos quais você já teve acesso e, minha filha, acredito que você irá gostar da leitura. — Elisabeta se contentou ao ver seu pai tão animado com o presente.

Ao chegar em casa após a festa, a menina foi para seu quarto e começou a ler. Se maravilhou com os escritos: história de mulheres que exerciam as mais diversas profissões; história de mulheres que puderam estudar em universidades; história de mulheres que, Elisabeta riu ao imaginar, usavam calças no dia-a-dia; história daqueles que lutavam pela conquista do direito ao voto universal; história de nobres que haviam abdicado da vida luxuosa para trabalhar por causas que consideravam importantes.

Seu coração batia mais forte cada vez que lia as palavras que nos textos eram tão recorrentes: liberdade e independência. Sua imaginação ia longe ao se imaginar vivendo tudo que aquelas pessoas viviam, pessoas tão diferentes àquelas que habitavam o Vale do Café. Havia tanta vida fora daquele lugar, ela percebeu.

Elisabeta leu durante toda a noite, com o auxílio da luz de velas e do luar, o material presenteado por seu pai, e se reconheceu em cada uma das palavras escritas. Na manhã seguinte, ela já havia tomado uma decisão: assim como todas aquelas mulheres dos textos, ela iria atrás de sua independência. Decidiu que, apesar dos desejos de sua mãe, o casamento não seria sua prioridade. Ser independente, ela refletiu, não era uma vontade, mas uma uma necessidade que ela sentia que sempre existiu dentro de si. Ela apenas não havia percebido antes.

Elisabeta ainda não sabia o quê exatamente faria de sua vida e como colocar em prática os planos que começava a fazer. Esta descoberta ela fez apenas com 23 anos, quando visitou Ema. Após conversarem, a Benedito se sentou no sofá com uma xícara de café para ler o jornal do dia enquanto sua amiga tocava piano, e então se deparou com um anúncio de vaga de emprego para colunistas iniciantes num jornal de São Paulo.

Elisabeta sorriu, confiante de que aquela era sua chance. Ela soube, naquele momento, que seu futuro avassalador estava prestes a começar.


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