Play Pretend escrita por pffwhocares


Capítulo 6
Capítulo 6




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09 de Outubro, 1910

“Mamãe, a senhora sabe que eu não sei cozinhar!”, Elisa reclamou jogando em cima da mesa o livro de receitas.

“Ara, Elisabeta! Eu sei que você finge não saber para não ter que ajudar. Pode vir misturar a farinha do bolo!”

“Mamãe, eu não cons-“

“Agora!”

A manhã começou cedo na casa dos Benedito. Dona Ofélia tirou as meninas da cama assim que as galinhas começaram a cantar graças à promessa da vinda de Rômulo Tibúrcio para um almoço em família. Cecília tinha ganhado o passe livre, afinal ela deveria estar linda quando o namorado chegasse, então estava fazendo companhia para Lídia, a enferma, na sala. Mariana, Jane e Elisa ficaram encarregadas de limpar a casa e acabaram gastando grande parte da manhã nessa tarefa com a esperança de que eventualmente a mãe desistisse de arrastá-las para cozinha. Não foi o caso.

“Olha, Elisa!” Mariana gritou quando finalmente conseguiu equilibrar um ovo na cabeça.

“Mariana, isso vai não vai dar certo...” Jane alertou enquanto dona Ofélia gritava que ela parasse de fazer graça. Elisa estava perdida no meio daquela confusão. Tentava ao máximo dar o seu melhor para ajudar mas ela realmente não sabia cozinhar, apesar da opinião contrária da mãe. Desde criança a matriarca insistiu que esse era um dos dotes que ela deveria ter se fosse fisgar um bom partido no futuro e talvez esse fosse o motivo pelo qual Elisabeta não se arriscava a nem mesmo quebrar um ovo. Não queria ceder aos bons costumes da época.

Além disso, ela estava mais distraída que o normal. Tinha ido dormir tarde na noite anterior, o sono sendo perturbado por um par de olhos verdes. Sonhou com olhos carinhosos, olhos tristes e olhos questionadores, todos eles atribuídos a um só homem que parecia ter o poder de tirá-la do sério ao mesmo que a colocava no centro da razão. Elisabeta estava perturbada, para dizer o mínimo.

Foi pensando nele e na teoria que ele havia mencionado no baile que ela derrubou o pacote inteiro de farinha na mesa, fazendo com que o pó cobrisse a superfície e caísse em cima dela. Ela tampou o rosto com a mão e fechou os olhos para não ver a reação da mãe.

“Elisabeta, em nome de São Benedito, Santo Protetor da cozinha, não desperdice a comida”, ela berrou. A menina se abaixou numa tentativa de arrumar a bagunça que tinha feito mas Mariana decidiu que não haveria nada mais engraçado do que jogar a farinha que estava na mesa em sua cabeça e quando ela fez isso, Elisabeta gritou e foi atrás da irmã. As meninas correram pela cozinha ao som dos gritos de reprovação da mãe e de Jane e das risadas de Lídia e Cecília na sala até que Mariana pegou um punhado de farinha e virou o jogo, correndo então atrás de Elisa. A primogênita correu pela sala com o intuito de descer as escadas da varanda mas assim que abriu a porta de entrada ela viu Darcy parado ali, com a mão erguida para anunciar sua chegada. Ele a encarou como se ela estivesse completamente louca e Elisa ficou estática.

“O que está acontecendo?”, ele perguntou com um sorriso torto.

Ela abriu a boca para responder mas fechou quando não encontrou as palavras. Talvez por ter ficado tempo demais associando ele a uma pessoa temporária na sua vida, apenas uma peça para o seu plano maluco, acabou não enxergando-o de verdade. Agora via o homem na sua frente com um olhar diferente e não sabia o que fazer. Mariana tirou Elisa do seu estupor quando chegou correndo e trombou na irmã, jogando ela bem nos braços de Darcy.

“Meu Deus, Elisa”, ele riu, segurando ela pela cintura.

“Darcy! A que devemos a honra de ter você aqui hoje?” Mariana perguntou, olhando o casal com um sorriso malicioso.

“Vim trazer bombons para Lídia”, ele explicou levantando a sacola que estava segurando. “Mas acho que as senhoritas estão muito ocupadas.”

“Claro que não! Venha, entra”, ela disse oferecendo a mão, fazendo Darcy rir.

“Mariana, a farinha”, Elisa esclareceu. A irmã sorriu, jogou o que restava do pó no seu rosto e voltou correndo para a casa. Elisabeta suspirou. “Acho que vou cometer um crime hoje. Você pode ser minha testemunha que foi legítima defesa.”

“Se serve de consolo”, ele respondeu, correndo os dedos pela sua face e tirando a farinha, “eu acho que a senhorita ficou bastante moderna com os cabelos brancos.”

“Mesmo?”, ela perguntou com os olhos semicerrados. Ele concordou com um sorriso e pediu para que ela fechasse os olhos. Quando fez, ele soprou seu rosto deixando-o razoavelmente limpo.

“Pronto, assim está melhor”, ele disse. Abriu a sacola e tirou uma rosa vermelha de dentro. “Trouxe para você.”

Elisabeta sentiu suas bochechas queimarem. Se fossem namorados de verdade, ela teria agradecido com um beijo mas exatamente por não serem, o presente parecia significar ainda mais. Acabou agradecendo com um sorriso e os dois entraram juntos na casa de mãos dadas.

“Ah, senhor Darcy”, Ofélia gritou, correndo para um abraço. “Que felicidade! O senhor pode me fazer um favor?”

“Se estiver ao meu alcance, claro.”

“Tira Elisabeta dessa casa! Em nome do Senhor, eu não aguento mais a bagunça que ela faz na cozinha.”

“Mamãe, a culpa é de Mariana!” Elisa protestou.

Ofélia sacudiu a mão, dispensando seu comentário fazendo ela bufar e Darcy rir.

“Com certeza, dona Ofélia. Passar tempo com Elisabeta é uma oferta que não posso recusar”, ele disse num tom de deboche que passou despercebido por todos menos por ela. Elisa deu uma cotovelada nele e foi até a cozinha colocar sua flor na água. Escutou os gritinhos de agradecimento de Lídia quando recebeu seus chocolates e sentiu seu coração arder quando voltou para sala e viu as irmãs interagindo naturalmente com o namorado. Pouco importava, ela percebeu, se eles estavam forjando um relacionamento. Sua família era completamente apaixonada por Darcy Williamson. Dona Ofélia estendeu o convite do almoço para ele também com a intenção de recompensar o fatídico dia que Darcy não pode comparecer e ele aceitou prontamente.

“Posso chamar Camilo também?”, Jane questionou.

“Jane, eu sinto muito mas Camilo foi para São Paulo hoje” Darcy lamentou.

A menina dos cabelos loiros franziu a testa, parecendo confusa. “Mesmo? Ele não me disse nada ontem sobre viajar.”

“Foi tudo muito repentino.”

“E você sabe quando ele volta?”, ela perguntou e Darcy negou com a cabeça. “Ah, tudo bem.”

“Bom, eu vou tomar um banho para tirar essa bagunça que Mariana fez”, Elisa anunciou, tentando mudar de assunto.

“Nada disso”, Ofélia gritou. “Quis fazer graça? Agora vai passar vergonha desse jeito!”

“Mas mamãe, a culpa não foi minha!”

“Vamos, vamos. Pra fora os dois!”

Elisa só teve tempo de pegar sua bolsa e seu livro antes que a mãe colocasse ela e Darcy para fora da casa. A menina bufou frustrada e seguiu caminho enquanto ele ria atrás dela.

“Meu amor, pense pelo lado bom! Se nós nos perdermos é só nós seguirmos o caminho de farinha que você está deixando.”

“Por Deus, fique quieto!”

“Só estou tentando ver as coisas pelo lado positivo”, ele se defendeu quando se aproximou. “Para onde estamos indo?”

“Tem uma cachoeira aqui perto onde eu posso tomar um banho.”

Darcy franziu a testa. “Eu não estou com trajes de banho.”

“Então é só você não entrar”, ela concluiu com um sorriso e ele riu.

Seguiram caminho conversando sobre a noite anterior. Ninguém mencionou o provável-quase-beijo e os dois estavam confortáveis assim. Elisabeta nem tanto, já que aquele breve momento foi motivo suficiente para deixar ela acordada até de madrugada, mas Darcy não parecia nem mesmo lembrar o que tinha acontecido.

Quando chegaram na cachoeira ela entregou seus pertences para ele e desceu rapidamente pelas pedras, mergulhando na água e limpando seu corpo. Ficou ali por um tempo, boiando na superfície enquanto Darcy a observava de longe. Ela viu ele tirando seu paletó e por um momento achou que ele iria se juntar a ela, mas ele apenas dependurou a roupa num galho da árvore mais próxima e se sentou na sombra.

 “Eu adoro como o Vale tem cachoeiras nos lugares mais inusitados”, Darcy mencionou quando ela saiu da água. Elisa se sentou longe da árvore, esperando que o sol forte a secasse logo.

“Seja bem-vindo ao campo”, ela respondeu, penteando seus cabelos com os dedos. “Um lugar que é uma caixinha de surpresas.”

“Não me surpreende que você tenha nascido aqui”, ele disse com um sorriso, enquanto se levantava e caminhava até ela com sua bolsa e livro em mãos. “Nunca ouvi falar sobre esse livro.”

“É um autor brasileiro. Foi publicado há uns dez anos atrás.”

“Qual é o enredo?”, Darcy perguntou, sentando-se do seu lado.

“Se Capitu traiu seu marido, Bentinho.”

“Só isso?”

“Não é isso!”, ela protestou. “É o questionamento da década e ouso dizer que será o questionamento do século também!”

“Tudo bem”, ele levantou as mãos defensivamente. “Talvez eu leia eventualmente.”

O casal caiu em um silêncio confortável e isso permitiu que Elisa pudesse observar os traços do homem ao seu lado sem que ele percebesse. Tantas coisas passavam na sua mente naquele exato momento, coisas que ele jamais saberia.

Estava tão concentrada nele que quando Darcy suspirou e virou o rosto na sua direção, Elisa sentiu sua pele queimando de vergonha por ter sido pega num momento tão íntimo. Darcy fingiu não notar mas ela conhecia ele bem o suficiente para saber que ele estava reprimindo um sorriso.

“Eu preciso te perguntar uma coisa”, ele disse e ela assentiu. “O que você iria fazer se eu não tivesse concordado com esse seu plano?”

Elisa suspirou. Já havia pensado bastante nisso e não conseguia nem mesmo imaginar quais seriam suas possibilidades. “Eu não sei”, ela respondeu.

“Não havia ninguém que você pudesse eventualmente se comprometer?”, ele perguntou e ela negou com a cabeça. “E sua mãe queria que você casasse mesmo assim?”

“Você tem que entender que poucas mulheres se dão ao luxo de casar por amor. Esse é um privilégio para poucas. Acho que em algum momento eles fariam algum acordo com algum homem solteiro de posses da cidade. Xavier, talvez.”

“Xavier? O concorrente de Julieta?”, ele riu e ela concordou. “Nossa, ainda bem que eu pude te salvar dessa.”

Elisa sorriu. “Seria uma boa opção. Mas eu não quero casar tão cedo. Sei que já estou ficando velha mas há tanto que eu quero fazer ainda.”

“Como o que, por exemplo?”

“Eu quero trabalhar. Quero conhecer o mundo. Quero ser independente. Sair do Vale do Café. Quero viver. Eu sinto como se todo o mundo estivesse seguindo em frente, evoluindo, enquanto eu estou parada no tempo. E um casamento só vai me deixar mais presa.”

“Elisa,” ele começou e ela sentiu seu coração arder por ele ter a chamado pelo apelido pela primeira vez. “Eu conheço muitas pessoas de vários lugares do mundo e eu posso dizer com toda certeza que nenhuma delas é tão viva quanto você.”

Ela sentiu os olhos brilhando de emoção e abaixou o rosto para que ele não visse. “Não consigo me ver assim.”

“Bom, eu queria que você pudesse se ver como eu te vejo”, ele disse e ela sorriu. “Você falou sobre trabalhar. Eu lembro que quando mencionei as cartas que trocávamos para sua família, Lídia disse algo sobre você escrever. Seu trabalho teria algo a ver com isso?”

A menina assentiu. “Escrever é tudo o que eu mais amo nessa vida.”

“Talvez a senhorita gostaria de saber que eu tenho um amigo em São Paulo que tem um jornal independente. Posso enviar alguns dos seus textos para ele.”

“Você faria isso?”, ela perguntou e ele assentiu. Elisa queria pular em cima dele e abraçá-lo. Queria agradecê-lo de maneiras que nem mesmo as palavras seriam capazes. Mas ela apenas colocou sua mão na dele e, tomada por uma coragem repentina, beijou as costas da sua mão assim como ele tinha feito na noite anterior. “Obrigada.”

“Tem outra pergunta que eu queria fazer”, ele falou com os olhos intensos sobre ela. “O que você vai fazer quando decidir que já fingiu o suficiente comigo?”

“Você me faz perguntas que eu não sei responder.”

“E eu achava que era você que me deixava sem resposta”, ele admitiu. Ela deitou na grama e fechou os olhos, deixando o sol bater no seu rosto. O que iria fazer? Se ele tivesse feito essa mesma pergunta uma semana atrás ela responderia que eles iriam terminar em Novembro e continuariam sendo amigos graças ao relacionamento de Jane e Camilo. Mas agora não sabia formular uma resposta coerente. Talvez não fosse amor ainda, mas gostava de ter ele do seu lado mais do que deveria e isso trazia novas questões: deveriam terminar antes que os sentimentos crescessem? Será que Darcy sentia a mesma confusão que ela?

“Darcy, me conte como é a Inglaterra”, ela pediu, tentando desviar o assunto.

“Linda”, ele respondeu e ela abriu os olhos, cobrindo-os com a mão. Ele estava encarando-a e Elisa questionou se ele se referia a algo que não fosse o país. “Apesar de ter muita fumaça em todos os lugares.”

“Parece péssimo”, ela brincou.

“É um gosto adquirido. Apenas pessoas com um gosto refinado como o meu sabem apreciar a beleza da Inglaterra.”

Ela riu e jogou sua bolsa nele. “Meu Deus, mas como você é convencido.”

“Mas existe alguns lugares que são mais tranquilos e verdes como o Vale.”

“Espero um dia poder conhece-los.”

“Tenho certeza que você vai”, ele sorriu.

Ficaram ali por algumas horas até terem que voltar pro almoço. Darcy se deitou de bruços junto dela e convenceu Elisa a recomeçar a leitura de Dom Casmurro com ele. Prometeu que iria na biblioteca local no dia seguinte pegar uma cópia e os dois leriam juntos um pouco todo dia. Elisabeta odiava ler o mesmo livro mais de uma vez. Gostava da empolgação de um livro novo, histórias e personagens novos. Mas para ele fez uma exceção. Ficou com o coração aquecido ao ver o homem do seu lado lendo as frases que tanto a cativavam e maravilhado pela escrita de um dos seus autores favoritos. Ele lia suavemente e ela alternava seu olhar das páginas para seu rosto mais vezes do que era necessário. Queria colocar os fios negros que caiam quando ele se inclinava para ler para trás. Queria encostar a cabeça no seu ombro. Mas não fez nada disso e quando eles voltaram para casa ela se sentia uma covarde.

A casa estava cheia quando chegaram. Felisberto já tinha voltado do centro e Rômulo já estava sendo ovacionado pela família.

“Elisa, seu cabelo está péssimo”, Lídia comentou assim que o casal entrou na sala. Elisa nem tinha pensado nisso. Tinha deixado o cabelo secar ao vento, deveria estar uma verdadeira bagunça.

“Vou prendê-lo.”

“Não, deixa assim”, Darcy pediu com um sorriso.

“Para você poder me irritar mais tarde?”

Ele riu. “Não, porque você fica linda de cabelo solto. Acho que é a primeira vez que te vejo assim.”

Elisabeta revirou os olhos para disfarçar como ficou vermelha. Pediu licença para trocar a roupa úmida e quando voltou eles já se preparavam para almoçar. Tão logo que sentaram na mesa o assunto se voltou para Rômulo e Cecília. Darcy estava sentado na sua frente e ela observava com carinho como ele estava atento aos detalhes do relacionamento da irmã com o médico da cidade e como ele sorria a cada comentário impróprio da mãe. Sabia que ele não era muito dado a interações sociais e grandes aglomerações mas ele parecia extremamente confortável na presença de sua família.

“Rômulo, eu soube que você passou uma temporada na Europa”, Darcy comentou.

“Sim, eu efetivei meu curso de medicina na Universidade de Paris.”

Darcy sorriu parecendo chocado. “Não pode ser! Teríamos sido amigos. Quando você se mudou?”

“1901.”

“Meu Deus, é um milagre que nós não nos encontramos lá. Minha família mudou em 1902.”

“Acho que a distância dos campus interferiu um pouco nisso”, Rômulo riu. “Mas eu lembro das pessoas comentando sobre você, afinal, não é todo dia que temos um lorde na Universidade.”

Elisa achava que iria morrer sem ver isso mas Darcy ruborizou de verdade. “Darcy fazia sucesso? Por favor, me conte mais!”, ela pediu.

“Não há necessidade”, Darcy implorou enquanto todos riam.

“Aposto que ele fazia o maior sucesso com as moças da Europa”, Lídia comentou.

“Lídia!”, as irmãs gritaram em uníssono.

“Ué, mas se ontem no baile ele causou todo aquele... como é a palavra? Alvoroço? Imagino que na Europa tenha sido assim também.”

 Elisa revirou os olhos. “Não infle o ego dele, Lídia.”

Darcy ergueu a sobrancelha e a encarou com um olhar debochado, sem responder.

“Ara, pouco importa! Fico muito feliz que meus genros são tão viajados assim”, Ofélia interrompeu fazendo todos rirem.

O almoço continuou e a família estava radiante. Rômulo e Cecília estavam no centro das atenções e pareciam mais felizes do que nunca. Rômulo lidou bem com as inquisições constantes da mãe e Cecília brilhava de orgulho pelo namorado.

Mais tarde, depois que todos já estavam fartos, eles foram para a sala e dona Ofélia obrigou todos a comerem um pedacinho de bolo. Darcy estava sentado no sofá ao lado de Lídia, com Elisabeta sentada no braço do sofá ao seu lado. A caçula dos Benedito obrigou que Darcy ajudasse ela em uma das suas novas palavras cruzadas e Elisa ficou observando a interação com um sorriso no rosto, enquanto ele ajudava sem reclamar.

“Ah, esqueci de comentar”, Darcy exclamou de repente. “Charlotte vai nos fazer uma visita em Dezembro.”

“Sua irmã? Por quê?”, Elisa perguntou, parecendo confusa.

“Eu acabei mencionando que estava namorando em uma das ligações que ela me fez. Ela ficou desesperada e disse que quer te conhecer logo. Disse que vai organizar algumas coisas em Londres e pegará o navio para o Brasil no final de Novembro.”

Elisa concordou com a cabeça e ficou em silêncio, deixando o burburinho para as irmãs que comentavam como estavam ansiosas para conhece-la.

Então era por isso que ele queria saber por quanto tempo ficariam juntos? Estava preocupado que Charlotte chegaria e encontraria o irmão solteiro? E porque ele teria dito que estava namorando se na realidade estavam fingindo?

Elisabeta ficou com esses questionamentos na cabeça a tarde toda até que Darcy avisou já estava na hora de ir. Eles foram juntos até a entrada da casa depois que ele se despediu de todos e assim que Elisa fechou a porta ele se explicou.

“Eu peço desculpas por ter contado para Charlotte. Ela perguntou o que eu iria fazer e quando eu disse seu nome ela quis saber mais e mais e eu acabei contando que estávamos namorando. Vou tentar convencer ela de desistir dessa viagem”, ele disse rapidamente, parecendo desesperado.

“Darcy, está tudo bem”, ela o acalmou suavemente. “Estou curiosa para conhecer sua irmã.”

“Você não está brava?”

“Às vezes eu acho que o senhor tem uma visão um pouco errada da minha pessoa”, ela disse com um sorriso.

“E a senhorita tem que admitir que é culpa sua. Eu não menti quando disse que conversar com você é como pisar em ovos.”

“Por que você não sabe o que dizer?”

“Porque eu nunca sei como você vai reagir. Você sempre parece ter o dom de me surpreender constantemente.”

Ela sorriu, colocando para trás da orelha o cabelo que insistia em cair. “Espero que o senhor se sinta mais confiante eventualmente.

“Esse não é o problema”, ele esclareceu. “Eu estou confiante sobre muitas coisas. Só acho que não posso dizer o mesmo sobre você.”

“Está me chamando de insegura?”

“Jamais, Elisabeta”, ele respondeu e se despediu. Estava perto da pontezinha na frente da casa quando ela chamou ele novamente. Darcy se virou parecendo confuso.

“Pois não?”

“Eu estava pensando”, ela começou enquanto ele se aproximava, “sobre semântica.”

“Semântica?”

“É o estudo do significado de uma palavra ou frase num contexto.”

Darcy sacudiu a cabeça e subiu as escadas, parando na frente dela. “Eu sei o que significa semântica só não estou entendendo porque você está me dizendo isso.”

“Quando fizemos nossas regras, eu disse que deveríamos decidir o que poderíamos ou não fazer na presença de outras pessoas”, ela explicou e viu o seu rosto escurecer. Talvez ele estivesse começando a entender.

“Eu me lembro”, ele disse com a voz grossa.

Elisa respirou fundo e concluiu seu raciocínio. “Eu não vejo mais ninguém aqui agora.”

“Elisabeta, talvez você devesse ser mais clara”, ele comentou. “Não estou compreendendo.”

Ela sabia muito bem que ele entendia tudo que estava sendo dito porque seu rosto contorcia de vontade de rir mas ela explicou mesmo assim.

“Você disse que eu sou insegura. Já eu acho que tenho certeza absoluta do que eu quero. Acho que estamos num impasse.”

“Então por que você não faz o que quer?”, ele perguntou, a sobrancelha levantada desafiadoramente.

“Por preocupação do que você vai achar de mim.”

Ele sorriu e se aproximou. “Por que você não me deixa decidir?”

Elisabeta calou a parte racional do seu cérebro, ignorando que se fizesse o que queria tudo mudaria. Ela ignorou toda lógica e toda razão. Ficou na ponta dos pés o máximo que pôde e quando isso não foi suficiente, ela puxou o pescoço de Darcy e colou seus lábios no dele.

Ela não sabia o que esperar. Imaginava que toda a inquietação fosse ficar ainda maior se ela o beijasse, o calor fosse ficar insuportável e os pensamentos ficariam confusos. Não foi isso que aconteceu. Ela se sentia gelada, as mãos trêmulas e o coração batendo tão devagar que ela pensou que fosse desmaiar. Além de tudo, se sentia em paz. Como se tivesse adiando uma certeza tão grande que agora se sentia estúpida por não ter beijado esse homem assim que o viu.

Darcy se afastou, segurando suas mãos. Ele parecia maravilhado. “Eu falo que você não cansa de me surpreender.”

“Espero que tenha sido uma surpresa boa”, ela disse passando a mão no seu cabelo como queria fazer mais cedo.

“Sempre é”, ele respondeu, dando um beijo na sua mão.

“Toda vez que te vejo eu quero mandar a razão às favas”, ela admitiu.

Ele sorriu lentamente e encostou sua testa na dela. “Então por que não mandamos juntos?”

E quando ele encostou sua boca na dela novamente, ela sentiu. Agora que seu choque tinha passado, Darcy não estava sendo educado. Ele encostou ela no batente da porta e a beijou até que ela ficasse sem ar. Elisabeta não era puritana ao ponto nunca ter beijado alguém na vida, mas nunca havia beijado alguém assim. Sentia as pernas bambas e se segurou na camisa dele, não porque queria mas para impedir que ela caísse. Ela se sentia viva, o corpo todo em alerta sentido cada parte dele nela. Quando ele finalmente se afastou, ela ficou escorada na porta arfando. Darcy observou sua reação com um sorriso no rosto.

“Eu sabia que minha teoria estava certa.”

Elisa o empurrou fazendo com que ele risse. “Eu não te suporto. De verdade.”

“Não parece”, ele argumentou com um sorriso. Se aproximou e beijou o canto da sua boca. “Boa noite, Elisabeta. Sonhe comigo.”

“Seria um pesadelo”, ela respondeu enquanto ele descia as escadas, rindo.

Mais tarde, quando ela deitou a cabeça no travesseiro, ela não pode deixar de rir que no dia anterior ficou acordada até altas horas da noite tentando entender o que estava sentindo e hoje não conseguia dormir por um motivo completamente diferente.


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Notas finais do capítulo

Os anjos dizem amém! Finalmente Elisabeta! E aí, o que acharam?



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