Querido Diário

Todos me olhavam, o professor, meus amigos, o resto da turma.

— Pode entrar.

Faraize permitiu que o ruivo entrasse na sala e ele o fez. Veio caminhando em minha direção e se sentou na fileira do meio. Pude ouvir algumas pessoas cochichando a respeito da situação. Não era possível isso estar acontecendo, não é real, eu tenho certeza.

Me belisco para tentar acordar, mas é real, o Castiel, meu Castiel, é real, e está sentado na fileira ao lado.

Ao termino da aula de história, me sinto sendo puxada por meus amigos em direção aos armários.

— Como assim aquele gato é seu namorado ? - Começa Alexy.

— De onde você o conhece ? - Acrescenta Armin.

— Por que não nos contou sobre estar namorando ? - Questiona Íris.

Suspiro olhando para o chão.

— Pessoal, eu juro, nem eu sabia. - Sussurrei. - Não estou namorando.

— Amor! — Ouço uma voz atrás de mim. 

Me viro para olhar, mas ele me beija antes que eu pudesse ter certeza. Um beijo apaixonado, daqueles de filme clichê. Suas mãos se entrelaçam a minha cintura, eu não sei muito bem o que fazer, é o meu primeiro beijo. Espera ... É O MEU PRIMEIRO BEIJO.

Dou um pequeno empurrão no menino que se afasta com um sorriso malicioso.

— Não está namorando né ? - Alexy arqueia a sobrancelha.

Trouxe Castiel para o jardim, procurando uma explicação lógica para isso, não é possível, ele não existe, eu o criei.

Enquanto ando de um lado para o outro, ele está sentado no gramado observando atentamente cada movimento meu.

— Certo! - respiro fundo - Você vai ter que me responder algumas perguntas, certo ? 

Ele assente.

— Ok, primeiro , quem é você ? 

— Ailina, você não lembra ? Eu sou seu namorado Castiel. - Ele sorri.

— De onde você vem ? De onde nos conhecemos ? - Indago.

— Venho de Seattle, nos conhecemos numa viagem que sua escola fez para lá, então eu vim para cá, fomos ao lago você lembra ? Tomamos sorvete, eu te acompanhei até em casa, e te beijei.

Espera, Seattle ? Escola ? Oh meu Deus, eu escrevi isso no diário.

— Fica aqui! - Exclamo antes de sair correndo.

Ao chegar no meu armário folheio as páginas do meu diário e vejo, realmente, eu o descrevi exatamente assim, mas sobre o parque, eu não escrevi isso, quer dizer não com Castiel, escrevi sobre a noite com Nathaniel , mas como ele ...

Fui interrompida por alguém.

— Ailina ?

Me virei bruscamente.

— Rosalya ? 

— Podemos conversar ? 

Estávamos em uma sala de aula vazia, Rosalya se senta em uma mesa, e eu me apoio em outra frente a ela.

— Então, eu ouvi que você está namorando, meus parabéns. - Ela sorriu.

Sério que ela vai se fazer de amiga ? 

— Obrigada.

— Nathaniel me disse que te contou sobre o nosso namoro, e eu posso te explicar melhor se ...

— Rosalya para, - eu a interrompi - você não precisa me explicar nada, o que acontece entre você e Nathaniel é entre vocês, eu não tenho que me envolver ... 

Se acho você a maior vaca do mundo ? Acho!

— Além disso, - continuo - não somos amigas nem nada do tipo - me doeu falar isso— e eu e Nathaniel nunca tivemos nada - isso doeu ainda mais - então, boa sorte com o namoro.

Me preparei para ir embora.

— Ailina, eu ...

Ela ia começar a falar quando escutamos uma música vinda do pátio. Corremos em direção a ele, e vemos uma multidão aglomerada.

"It's been said and done.

Every beautiful thought's been already sung.

And I guess right now here's another one So your melody will play on and on, with the best of 'em."

As pessoas vão abrindo passagem e vejo Castiel se aproximando lentamente enquanto toca o violão - que eu não tenho a menor ideia de onde ele tirou.

"You are beautiful
Like a dream come alive, incredible
A centerfold miracle, lyrical
You've saved my life again
And I want you to know baby"

Ele ficou cara a cara comigo e fez uma pausa dramática - ele só podia ter surgido da minha mente mesmo.

Todos estavam olhando fixamente quando ele continua:

"I, I love you like a love song baby
I, I love you like a love song baby
I, I love you like a love song baby

I love you, like a love song"

Todos aplaudiram, ele sorriu e foi inevitável não sorrir também. Eu não sei quem é esse garoto, não sei como ele veio para aqui, mas sinto que ele vai mudar tudo , de algum jeito.

Ando com Castiel em direção a minha casa, será que ele tem casa ? Será que ele come ? 

— Ok, onde você mora ? - Indago.

— Seattle. - Ele responde.

— Tá, mas você tem alguma casa aqui ? 

Ele apenas sorri.

Talvez ele só saiba o que eu escrevo no diário.

— Tenho uma ideia. - Paro no ponto de ônibus perto da minha casa e tiro meu diário da mochila. Começo a escrever algumas linhas.

Castiel se mudou recentemente com sua família para Paris, e começou a estudar em Sweet Amoris, seus pais trabalham viajando, então ele é emancipado, ele tem o cachorro, e uma irmã de seis anos, chamada Ana Mel.

— Pronto. - Fecho o diário.

Castiel fecha os olhos por alguns segundos e logo os abre novamente.

— Na verdade, eu moro ali. - Apontou para uma casa que eu jurava que estava a venda a cinco minutos atrás, mas agora parecia totalmente uma residência habitada por uma família americana.

— Incrível. - Sussurrei.

— Vem, tenho algo para te mostrar. - Castiel segura minha mão. E me guia até o jardim da casa dele.

Nos sentamos em um banco.

— Olha, eu não sei quanto tempo isso vai durar. - Eu disse.

— Vai durar o quanto você quer que dure. - Ele sorri.

— Ok, mas até eu me acostumar com isso precisamos estabelecer algumas regras.

Ele apenas assente.

— Você não pode me beijar, quero que meus primeiros beijos sejam verdadeiros.

— Aí! - Ele murmura.

— Desculpa. - Sorri timidamente - Continuando, saiba que eu ainda gosto um pouco do ...

— Nathaniel ? - Ele me interrompe - É, eu sei, li muitas coisas sobre ele.

— Então, não se iluda ok ? 

— Ailina - ele se aproxima e tira uma mexa do meu cabelo e põe atrás da minha orelha - É mais provável ser ilusão sua do que minha, não ? 

Merda, ele está certo!

— Ok! Então, nos vemos amanhã na escola, se isso ainda estivar acontecendo. -  Eu disse, me levanto para ir embora.

— Eu te pego em casa. - Ele sorri e se levanta.

Agora pude reparar um pouco nele, seus olhos cinzas, seu cabelo vermelho, exatamente do jeito que eu sonhava.

— Até amanhã. - Eu me virei para sair.

— Até amanhã Ailina.