Asas do Pecado escrita por Sasazaki Akemi
—Fora você que arrancou um sorriso dentre estes anos, fez eu esquecer um pouco das porcarias da vida. Você me salvou, de alguma forma – Ban dizia, ajoelhando-se a frente da mulher que não ousava fita-lo, ao murmurar as frases:
—Isto é o castigo por meus pecados... – Era o que Nathalia acreditava, o que sempre acreditou. Olhar e conviver com o homem a sua frente durante todos aqueles anos era divertido e confortante, mas isto era o que ela não aceitava, algo que era para causar-lhe tanta dor e sofrimento por todos os seus erros cometidos, não deveria arrancar-lhe sorrisos e risadas. Sendo que a dor apenas tornava-se latejante ao separar-se dele – Ó Deus, como este castigo é doloroso. Quando esta eu, uma pecadora e imunda, poderei descansar em uma felicidade e pura?
—Estas palavras... – Ele conhecia-os muito bem, havia escutado em uma das noites passadas com ela, mas nunca havia entendido o que significavam. Mas Nathalia havia finalmente compreendido o castigo divino que recebia: ver uma pessoa querida afastar-se e viver com esta dor por toda a sua vida, igualmente como qualquer outra perda que sofrera.
—Eu não mereço sua piedade, Ban. Esta eu que não há mais motivos para estar viva... – Nathalia dizia em meio as lágrimas.
—Então... Eu vou ser seu motivo de viver – Era o que Ban dizia, segurando o queixo da morena e erguendo-o lentamente para fita-la.
—Mas... – Ela não aguentava, logo voltou a olhar para baixo e tomou fôlego para dizer as palavras – Você deve me odiar.
Ban que não entendera as palavras, tremia em fúria por si mesmo ao não conseguir ajuda-la ou simplesmente por nunca ter percebido das verdades e dos sofrimentos que ela sentia por trás do sorriso que ele costumava ver, pois sabia que ela sabia de algo sobre o passado dele.
“É uma promessa, defenderemos a fonte até que seu irmão retorne!” Era o que Nathalia dizia a sua irmã Elaine quando ainda viviam juntas, antes de partir e retornar apenas após anos. Era também uma promessa que nunca fora cumprida, pois ela havia deixado o Reino das Fadas e sua irmã desaparecerem nas chamas.
—Por que eu... – Ban iria pergunta-la, sendo cortado:
—Eu deixei a Elaine morrer...!
“Por favor, cuide de Nathalia. Por favor... Foi tudo culpa minha...” Ban lembrava-se das últimas palavras de sua amada quando havia lhe reencontrado, pois ele não as entendia e principalmente a frase dita pela sua amiga a sua frente, pois sabia que havia sido seu próprio erro e seu pecado ter deixado Elaine morrer. Queria saber, descobrir a verdade em que conectavam as duas mulheres e o sofrimento de culpa que ambas sentiam.
—Crow, nunca tinha parado para pensar, mas vou perguntar... O que você é? – Com esta frase, com todas as outras ditas e com suas ações, não poderia mais esconder os segredos do homem em que mais confiava:
—Eu que nasci em terras muito distantes de Britânia, sou a segunda princesa de minha família – Ela começava em meio aos soluços, hesitando em relembrar de seu passado – Meu pai governava seu povo utilizando o medo, mas em um dos anos, uma terrível doença prevaleceu pelo reino e fez com que o povo fosse reduzido... – Ela contou tudo, até o momento em que fora capturada e manipulada por seu irmão – Se eu não tivesse partido naquele dia... A Elaine estaria...
—O que você teria feito contra mim se estivesse lá? – Ban perguntava, colocando a culpa da morte de Elaine nele mesmo, sabendo de que a história de que prevalecia era que ele havia matado a guardiã da fonte da juventude – Iria se sacrificar por ela?
—Você não a matou e quero acreditar nisso – Ela dizia em um sussurro, olhando finalmente para o rosto do imortal – Quero acreditar que foi o demônio que causou tudo isso – Com estas palavras, a reação surpresa de Ban era notória.
“O que foi que...” Nathalia perguntava-se horrorizada com a visão infernal que tinha. Em que finalmente conseguira retornar ao Reino das Fadas após todos aqueles anos, seu lar estava em chamas.
“Nathalia? Senhorita Nathalia, é você mesmo?” Perguntava uma das fadas em que costumava ver, aproximando-se ao voar em sua direção.
“O que foi que houve?”
“Um monstro enorme e vermelho atacou o reino...!”
“E onde estão todos?” Sem precisar receber a resposta, não perde tempo e voa em meio as chamas para salvar o seu povo. “Mas e a Senhorita Elaine?” perguntava aos berros.
“Ela é forte e ficará bem” Era o que respondera e queria creditar nestas palavras. Não demorando muito para conseguir finalmente ajudar o máximo de seres vivos em que estava preso nas chamas, faltando apenas a protetora da Árvore Sagrada. Ao observar de longe o centro do reino, sente seu corpo estremecer ao ver o enorme poder que vinha dali, mas ao tomar coragem, voa o mais rápido que podia para salvar a única que restara.
Ao aproximar-se da fonte de todo poder, seu corpo paralisa ao ver o demônio vermelho de que diziam estar selados há três mil anos. Seus músculos não ousavam mexer, vendo apenas um homem junto a sua querida irmã, próximo ao lugar em que deveria estar a fonte.
“Elaine...” Tentava gritar, mas sua voz não saía. Sendo finalmente derrubada pelo poder flamejante soltado pelo demônio, o fogo que queimara sua pele e suas asas, caíra sobre o pé da árvore sagrada. “Eu não consegui fazer nada...” murmurava a sai mesma, vendo que em suas condições, não conseguiria mais voar.
“Senhorita Nathalia!” Era a mesma fada que havia pedido socorro, junto as outras fadas, que se aproximava.
“O que estão fazendo aqui...?” Nathalia perguntava, pedindo para que todos largassem a floresta e fossem para um local seguro.
“Não podemos deixá-la aqui!” Diziam todos ao ajudarem a voar com as penas que ainda restavam. Indo todos para longe do incêndio.
“Obrigada” Nathalia agradecia a todos, levantando-se e forçando-se para voar.
“Onde pretende ir com estes ferimentos?”
“Vou buscar ajuda...” Ao dizer isto, desaparecera novamente.
Agora Ban entendia, entendia o porquê Elaine culpava-se e o porquê Nathalia culpava-se.
—Quero acreditar que você tentou proteger ela até o final... De que por isso tomou a água da fonte da juventude – Dizia Nathalia.
—E nisto realmente você está certa. Eu tentei protegê-la, mesmo que custasse a minha vida – Ban dizia desviando o olhar.
—Se eu não tivesse estas asas para tê-la abandonado naquele momento....
—Você se arrepende de ter tido todos os momentos comigo? – Ban diz com um tom de voz séria.
—Claro que não! Mas... – Nathalia defendia-se ao olhar para baixo.
—Então nunca mais culpe suas asas ou você mesma pela morte de Elaine – Dizia Ban ao finalmente abraça-la com carinho – Ou melhor, deixe-me te ajudar a carregar todo este fardo.
—Mas por que você está sempre me consolando...? – Nathalia diz ao retribuir o abraço.
—Pela primeira vez, eu não estou fazendo isso pela Elaine – Dizia ele sinceramente. “Me perdoe Elaine, mas mesmo que você não pedisse, eu vou proteger esta estúpida de qualquer jeito” Ban pensava com um sorriso gentil nos lábios – Estou fazendo isto por mim.
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