Significados escrita por


Capítulo 1
Capítulo 1




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Significados

Embora estivesse em seu jardim, do lado de fora da casa onde moravam, Eulëyn escutou os passinhos de Ellen antes mesmo desta terminar de descer as escadas que levavam ao quintal. Mesmo assim, a ninfa continuou a cuidar das flores de seu jardim como se não houvesse escutado.

O jardim ficava atrás do castelo onde as entidades¹ moravam, e era suficientemente grande para acomodar diversas espécies distintas da coisa que a antiga rainha mais amava: flores.

Ellen andou de fininho até sua mãe e se jogou nas costas dela com um gritinho agudo de felicidade. Eulëyn riu e se sentou no chão, puxando a filha para seus braços e beijando-lhe a bochecha.

— Bom dia kýria²! — A garotinha cumprimentou, sorrindo. Ela tinha covinhas idênticas às da mãe, que apareciam sempre que ela sorria.

— Bom dia, minha princesa. Dormiu bem?

— Aham! — A criança riu e depois sentou-se no chão para observar a mãe. Com um gesto de mãos, Eulëyn fez as flores crescerem mais um pouco e adquirirem uma coloração mais brilhante. — Kýria, por que você gosta tanto de flores? — Ellen perguntou de forma curiosa e inocente, olhando o amontoado de flores que se estendiam pelo local onde estavam. A ex-rainha sorriu apenas com o olhar e se ergueu. Depois, puxou a filha para seu colo e a ajeitou, apoiando-a na cintura.

— Porque cada uma delas tem um significado. Quer conhecer alguns?

A garota sorriu e balançou vigorosamente a cabeça, fazendo os cabelos volumosos e ligeiramente ondulados balançarem atrás de si. Eulëyn colocou-a no chão e estendeu a mão para que sua filha a segurasse. Depois, caminhou de forma decidida até um pequeno local que ficava um tanto quanto escondido de olhares alheios.

— Todas as flores desse jardim são especiais para o reino, algumas inclusive só existem aqui, protegidas. Mas essas... — a ninfa apontou com a cabeça para o espaço reservado — são muito mais importantes para mim. Possuem um significado e um lugar especial. Qual você quer saber primeiro? — Ela se abaixou na altura da filha e sorriu. Seus olhos estavam violetas, atualmente sua cor favorita, e ficariam assim por um bom tempo. Instigada pelo olhar da mãe, a garotinha apontou para flores arroxeadas. Eulëyn ergueu uma sobrancelha.

— São lavandas. Significam “segurança”, então quando você estiver com medo, pode segurar um ramo desses. — Ela apontou florzinhas brancas pequenas que ficavam do lado das lavandas. — Essas aqui são alecrins.

— Como a música que a tia P canta? — A criança perguntou, e seus olhinhos brilhavam de alegria. A mãe assentiu.

— Aye. Significam “coragem e felicidade”. São uma das minhas flores favoritas. — A ex-rainha confessou baixinho, como se contasse um segredo. Ellen sorriu de volta, juntando as mãos para bater palminhas de entusiasmo.

— E aquelas amarelas? São tããão lindas, kýria. E elas parecem seguir o Sol. — Ela notou, apontando para um pequeno amontoado de pétalas cor de ouro.

— São girassóis, querida. E cada flor, na verdade, é um conjunto de mini florzinhas. Consegue ver? — A menininha assentiu, olhando mais de perto um girassol particularmente grande que se destacava dos demais. Seus dedinhos delicados tocaram as pétalas com uma reverência contida, a mesma que a mãe dedicava à natureza em geral. — Significam glória e dignidade, mas também podem significar ouro e paixão. Seu kýr me deu um buquê delas antes de casarmos. — As duas sorriram uma para a outra. Eulëyn segurou entre as mãos uma flor redonda e cheia de pétalas, de cor vermelha. — Essas aqui são camélias.

— Elas são perfeitas… — Ellen murmurou, aproximando-se para sentir o cheiro que emanava do canteiro.

— E essa aqui... você vai reconhecer. São miosótis. — Eulëyn sorriu para a filha. Os olhinhos da criança brilharam ao reconhecer o nome.

— Tharin me chama assim, mamãe. — A garotinha exclamou, encantada com a beleza das flores de tons azuis, também conhecidas como não-me-esqueças. Eulëyn sorriu e beijou a testa da filha.

— Significa amor sincero. Quando você era menor, ele costumava te chamava de benethiel, que significa pequena na língua da Primeira Era. Mas quando você cresceu, miosótis pareceu significar muito mais.

Eulëyn então se ergueu e sorriu ao ver Bruce, seu esposo, entrando no local. Ele trazia as mãos atrás das costas e um sorriso nos lábios. Esther correu para abraçá-lo sob gritos de “kýr”, que, em tradução literal para o Quyellos³, quer dizer papai. Ele se abaixou, com cuidado para que não revelasse o que tinha em mãos, e a abraçou de volta.

— Oi meu amor. — Ele cumprimentou e depois se aproximou da esposa. Beijou-lhe os lábios. — Quando cheguei em casa e não vi nenhuma das duas… imaginei que estariam aqui.

— Kýria estava me mostrando algumas flores, papai. Não são lindas?

Você e sua mãe são mais lindas do que qualquer flor desse jardim, pequena. — Bruce respondeu, fazendo Eulëyn ficar vermelha e Ellen mostrar-lhe a língua. Ele riu. — Mas, sim, elas são lindas. Como essa aqui. — Ele finalmente mostrou o que tinha em mãos.

Plantada em um pequeno vaso de barro, havia uma linda muda de uma flor antiga e quase extinta, que só era encontrada em terras distantes e inacessíveis. Ao reconhecer a planta, os olhos de Eulëyn encheram de lágrimas e ela pegou o vaso em suas mãos.

— Bruce… São flores celestiais, que deram origem ao sobrenome de minha família… Meus deuses, como conseguiu?! — Ela perguntou, ainda chocada. Bruce riu e se aproximou mais dela, enquanto Ellen observava tudo com interesse genuíno.

— Tive uma pequena ajuda das entidades e dos pais delas… — ele respondeu, rindo. Ellen não aguentou segurar sua curiosidade:

— Kýria, por que está chorando? — Perguntou. Bruce a pegou no colo enquanto Eulëyn respondia:

— Elas são as flores mais especiais pra mim, minha princesa. Lembra que a mamãe já foi casada milhares de anos atrás, com o pai do Tharin? Essas flores estavam presentes no meu casamento e eu achei que nunca mais as veria…

— Gi me pediu para suplicar que você cuide bem dessa muda. Não restam muitas pelos Mundos. — O homem pediu, sorrindo. Ellen se mexeu até ser colocada de volta no chão e caminhou até a mãe para ajudá-la a transferir a muda do vaso para o canteiro de flores.

— Eu vou cuidar. Creio que, com minha magia, essa muda prospere.

— Com sua magia, qualquer coisa floresce, mãe. — Uma quarta voz contestou, e Ellen gritou feliz enquanto corria ao encontro do irmão mais velho, que adentrava o jardim. Ele a ergueu nos braços e a colocou em seus ombros, tomando cuidado para que ela não se ferisse no arco que trazia nas costas. — Bom dia, miosótis.

— Bom dia. — Ela respondeu, segurando-se nele enquanto sorria. O híbrido cumprimentou Bruce com um pequeno aceno de cabeça e beijou a testa da mãe. Depois, colocou Ellen no chão.

— Pensei que hoje eu poderia te ensinar alguns truques com a adaga, pequena. O que acha? — Ele perguntou, sorrindo travesso. — Se a mamãe concordar, claro. — Ele piscou. Ellen se virou para os pais.

— Podemos?? Por favoor!? — Pediu, juntando as mãos em forma de prece. Eulëyn trocou um rápido olhar com Bruce antes de suspirar.

— Vão indo na frente, eu já alcanço vocês. — Quando os irmãos se ergueram e começaram a correr em direção da saída, Eulëyn ergueu a voz:

— Me esperem. E nada de irritar os gnomos de novo, Ellen!

Bruce riu e puxou a esposa para si, beijando-lhe os lábios. Eulëyn cruzou os braços atrás do pescoço dele e olhou-o nos olhos.

— Eu não acredito que você me deu uma muda de flor celestial… Bruce, eu já te disse isso muitas vezes, mas eu te amo.

— Eu faço qualquer coisa pra ver você sorrir, Brilho. Qualquer coisa.

Eles voltaram a se beijar. Ellen apareceu novamente na porta do jardim e bateu as mãos nas coxas de forma irritada.

— Va-mos, kýria! Não temos o dia todo!

Bruce riu e se separou da esposa, segurando-lhe pela mão.

— Impaciente como a mãe… — ele sussurrou. A antiga rainha revirou os olhos.

— Impaciente como o pai, você quis dizer. Agora vamos, antes que aquela baixinha volte aqui e nos arraste para longe.

Os dois riram e, de mãos ainda dadas, caminharam para fora do jardim de significados.


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Notas finais do capítulo

1 As entidades são os regentes do reino onde essa história se passa
2 Kýria quer dizer mamãe em uma tradução literal
3 Quyellos é a chamada Língua Comum do meu universo

Espero que tenham gostado de um pouquinho da vida familiar de Eulëyn. Sintam-se à vontade de ler outras histórias do meu universo, estão todas nesse perfil ♥



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