Novos Rumos escrita por nrodlobato


Capítulo 6
Capítulo 6




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Por Elisabeta

Olho o movimento nas ruas e percebo que o lugar continua o mesmo, ao mesmo tempo que acho que ele mudou. Após quase 6 anos estou de volta à São Paulo, e somente estando aqui novamente para perceber o quanto que tinha sentido falta do lugar, e mais ainda do meu Vale do Café, tinha planos de visitar minha família em breve, afinal, estava morrendo de saudade de todos, mas primeiro precisava resolver algumas pendências aqui.

Andando pelas ruas, olhando as lojas e demais comércios pude constatar mais mudanças, e olhando para mim, pude ver a maior de todas. E quando vejo os olhinhos verdes de Thomas encantados com toda aquela agitação, sinto algo indescritível. Meu filho, meu pequeno príncipe de cabelos dourados, com seu sorriso encantador e jeito sapeca, prestes a completar seus 5 anos, ele era minha razão para viver, era quem me dava forças quando eu pensava em desistir. E por ele eu faria qualquer coisa.

Flashback

Quando descobri que estava grávida, fui tomada por um choque, eu não esperava que isso pudesse acontecer tão depressa, não naquele momento. Eu e Darcy nos relacionamos apenas uma vez e nessa única noite geramos o nosso filho, uma vez foi o suficiente, que sorte.

Eu não sabia o que pensar e nem como agir, havia acabado de me mudar, já estava em um emprego, tudo parecia se encaminhar perfeitamente e então eu descubro que estou grávida. Em momento algum desgostei ou rejeitei o meu bebê, só estava assustada com  tudo, eu estava sendo atropelada pelos acontecimentos e agora tudo ficaria mais complicado. Deveria retornar? Contar a Darcy que estava esperando um filho dele? - estava pensativa.

Nessa noite eu chorei tudo o que estava reprimindo, precisaria tomar uma decisão que poderia mudar tudo novamente. Deitei na minha cama mas pela primeira vez em dias, não consegui pegar no sono, não parava de pensar no serzinho que agora crescia dentro de mim.

Foi então que lembrei do conteúdo da carta de Darcy para Camilo, ele me acusava de querer apenas vantagens ao me relacionar com ele, disse que o meu objetivo era apenas engravidar dele … e foi nesse ponto que tomei a minha decisão.

Não, eu não poderia retornar, não iria expor o meu filho a essa situação. Darcy não me amava, tinha medo de que se contasse a ele que estava grávida ele me acusasse de tentar dar o golpe, como insinuava na carta. Seria como a concretização dos seus pensamentos e eu não suportaria. Meu filho merecia crescer em paz, rodeado por amor, e eu daria isso a ele. Ele era minha prioridade agora.

Na manhã seguinte sai cedo e fui ao médico apenas para confirmar o que já sabia, estava grávida e dentro de alguns meses eu estaria com meu pacotinho nos braços.

Cheguei a pensão ainda abalada, e isso não passou despercebido por Neto que me chamou para conversar.

— Elisa, sei que você não quer me falar sobre seu passado, mas está acontecendo alguma coisa? Ontem você saiu estranha do jantar, hoje está com essa cara.. nunca tinha a visto desse jeito, precisa desabafar? - Ele disse preocupado.

— Ah Neto, nos conhecemos há algumas semanas e você parece me decifra tão bem - eu disse, e decidi contar a ele toda a história.

— E foi isso, ontem descobri que estou grávida de Darcy e hoje pela manhã eu confirmei. - revelei a ele que pareceu surpreso, acho que cheguei a vê uma sombra de sorriso em seus lábios, ele estava feliz?

— Sei que a situação é difícil, minha amiga, mas um filho é uma benção! - ele disse deixando transparecer o seu sorriso, mas logo o conteve.

— Eu sei, Neto. Mas a situação é complicada.. logo agora que as coisas já estavam se ajeitando.

— Primeiro, fique calma, tudo vai se ajeitar. Mas gostaria de dizer que esse Darcy é um babaca. Como mesmo depois de conhecer você, conviver com você, possa pensar dessa forma a seu respeito? Se eu o conhecesse daria uma bela surra nesse inglês metido. - Neto disse revoltado e eu ri da sua agonia - Mas enfim, você já decidiu o que irá fazer? Vai voltar para São Paulo?

— Não, eu vou ficar aqui! Sei que Darcy merece saber e que meu filho mereça saber de seu pai, conhece-lo, mas tenho medo. Não é justo que meu filho passe pelo que eu passei e ser rejeitado pelo próprio pai, tenho medo que Darcy pense que engravidei de propósito e pense isso do meu filho. Eu não vou permitir isso!

A minha decisão estava tomada, eu ficaria por aqui e tentaria criar meu filho da melhor forma possível.

Desde que me mudei sempre trocava cartas com Jane, mas pedia a ela para ser discreta e não contar nem mesmo a Camilo, ele era amigo de Darcy e não queria ter que correr o risco. Eu confiava em Jane, sabia que mesmo que sendo uma romântica e não concordando com todas as minhas atitudes ela as respeitava. Mas decidi ocultar a ela sobre Thomas. Eu havia pedido a ela que comunicasse nossa família que havia me mudado, ela disse que mamãe estava furiosa, mas eu não esperava que fosse diferente e me passou o sentimento de saudade de todos os Beneditos. Pedi a ela que não falássemos sobre Darcy e ela pareceu aceitar.

Durante toda minha gestação ansiava ter Darcy ao meu lado, vê-lo acariciando minha barriga, beijando, conversando com nosso filho … mas ele não estava aqui. Por diversas vezes escrevi cartas para ele contando sobre nosso filho, mas nunca tive coragem de enviar. Eu estava próximo dos dias de ter o meu bebê nos meus braços e decidi pedir que Dona Isabel me indicasse alguém para me ajudar com ele quando eu tivesse que retornar ao trabalho e fiquei surpresa quando ela disse que amava crianças e que ela mesmo cuidaria de Thomas na minha ausência, e segundo ela, ele seria o neto que ela nunca teve. Eu não podia me conter de emoção com tanta generosidade e dia após dia ela e Neto traziam presentes para o meu filho. Neto havia se tornado um grande amigo e Dona Isabel uma segunda mãe. E foi nesse clima que Thomas nasceu, cercado de amor e felicidade.

Os anos foram se passando e meu menino ficava a cada dia mais lindo, me lembrava tanto seu pai, seu cabelo era liso como o dele até mesmo o seu sorriso ficava a cada dia mais parecido com o de Darcy, o que me fazia pensar nele.

Mas foi quando já grandinho, após voltar da escola, Thomas perguntou porque só ele não tinha um papai, todos os seus amigos tinham um que iam buscar eles na escola, mas onde estava o dele? Eu disse a ele que em breve contaria a ele, e por hora ele pareceu aceitar a minha resposta.

E então eu decidi que era o momento de voltar. Meu filho começava a questionar sobre o pai e eu não poderia mais mentir pra ele. E ele também merecia conhecer seus avós, suas tias, tios e  seus primos.

Eu andava nas ruas segurando as mãos do meu filho, ele não parecia nem um pouco incomodado com a mudança, diria que estava até animado demais, ele olhava pra tudo com uma admiração infantil e eu sorria com a constatação.

Já eu estava com um contraste em relação ao meu filho, sentia medo desse retorno, medo do encontro inevitável que precisaria ter com o passado, onde teria que revelar o meu segredo mais precioso e mais medo ainda do que poderia acontecer a partir dali.

Já anoitecia quando chegamos à pensão onde ficaríamos, decidi não ir para o cortiço para não ter que encontrá-lo antes do que planejava, queria contar sobre Thomas antes que eles se encontrassem .. então decidi mandar um recado para Jane, contando que estava de volta e que precisaria falar com ela amanhã e pedi que guardasse segredo.

— Mamãe, mamãe, amanhã eu vou conhecer a tia Jane? Ela é bonita como a senhora - Thomas não se aguentava de tanta ansiedade.

— Talvez. Mas agora garotinho você precisa dormir! - disse sorrindo, meu filho era tão gracioso.

— Mas mamãe… - comecei a fazer cócegas nele e ele dava a gargalhada mais gostosa que o sistema solar já presenciou.

— Nada de “mas”, a mamãe vai contar uma história pra você, vem! - me deitei com ele na cama e comecei a contar e logo ele adormeceu.

No dia seguinte fui até a biblioteca do centro, fiquei sabendo que havia uma vaga de emprego lá, e eu precisava de um para me sustentar. Felizmente consegui a vaga, ainda não era onde eu queria trabalhar mas já era alguma coisa. Agora eu só precisava arrumar alguém para ficar com Thomas enquanto trabalho, falaria sobre isso com Jane.

Foi então que eu o vi na rua, foi como se eu nunca tivesse ido embora, todo o passado diante dos meus olhos. Por sorte ele andava distraído e não nos viu, meu coração batia descompassado, e um turbilhão de sentimentos me inundou, raiva, amor, saudade, medo, tudo ao mesmo tempo.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que estão achando? Como será esse reencontro?



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