Por Elisabeta

Tentei me mexer e senti os braços dele a minha volta. Por um momento cheguei a pensar que a noite de ontem havia sido apenas um sonho, mas com Darcy me abraçando, constatei que era verdade, era real. Eu havia passado a noite com ele. E que noite! Que noite a-v-a-s-s-a-l-a-d-o-r-a! Só de pensar eu me arrepiava.

Consigo me desvencilhar do seu abraço e olho o seu rosto, ele parece estar sorrindo, dormia tão sereno, eu o olhava com adoração, ele estava tão lindo. Eu estava tentada a beijá-lo mas não queria atrapalhar o seu sono, travava uma luta interna se deveria ou não fazer aquilo, por fim não resisti e beijei o seu rosto suavemente, com cuidado para não acordá-lo.

Passado esse primeiro momento, me sento na cama e penso na realidade. Será que eu agi certo? Nós mal havíamos conversado ontem e viemos parar aqui. Ontem Darcy parecia mais disposto que eu a seguir seus instintos, admitiu que agiu mal e me pediu desculpas pelos seus erros, mas ainda havia muita coisa a ser resolvida entre nós. Eu fui impulsiva, devia ter resolvido as coisas com mais calma, ter pensado no meu filho. Mas Darcy.. daquele jeito.. com aquele olhar.. aquelas palavras.. eu não consegui ser racional, perto dele eu ficava tão fraca.

Mas eu não me arrependo um segundo sequer do que aconteceu. Foi muito bom. Agora tínhamos que olhar para frente, e resolver as nossas questões juntos e com calma.

Começava a escutar o barulho da cidade então olhei para a janela e via alguns raios de sol passando por ela. Já estava amanhecendo! Meu Deus, estava amanhecendo! E eu ainda estava aqui, na cama com Darcy. Não deveria ter dormido aqui. Thomas estava na casa de Jane sem mim. Eu nunca havia dormido longe dele, ele iria se assustar.

Levantei apressada e comecei a me arrumar, fazendo todo silêncio possível para não acordar Darcy, mas acho que não fui bem sucedida já que quando estava quase pronta ele começou a se mexer na cama e me chamar confuso.

— Elisa? Elisa? - ele me procurava pela cama começando a ficar assustado, quando percebeu que eu não estava mais lá.

— Eu estou aqui! - respondi, ele me olhou aliviado e eu sorri pra ele, que retribuiu o gesto.

— Que bom, pensei que havia sido apenas um sonho, ou que você havia me abandonado novamente como daquela vez que partiu - ele disse cabisbaixo, e essa frase mexeu comigo, ele ainda remoía o período em que o deixei.

— Não, Darcy! - eu me aproximei dele novamente, e acariciando o seu rosto depositei um beijo terno em seus lábios - eu nunca mais farei isso! - me levantei e continuei a me vestir - Me ajuda a fechar esse zíper?

Ele se levantou para me ajudar com a roupa.

— É um sacrifício te ajudar a se vestir!

— Sacrifício? - perguntei confusa.

— Sim, é um sacrifício te ajudar a se vestir quando o que eu queria mesmo era te despir. - ele ostentava um sorriso sedutor, estava satisfeito com o que acabava de falar e eu não pude deixar de sorrir, ele era incrível! Aproveitamos o momento de descontração e nos beijamos com vontade.

— Mais que menino abusado! Continue assim e eu te coloco de castigo! - disse após o beijo,  entrando na sua brincadeira.

— Não, por favor, um castigo seu é muita crueldade. Esses 5 anos de castigo que você me deu já foram suficientes - ele disse rindo - Vem cá, pra que essa roupa toda? - me agarrou por trás e continuou tentando me fazer desistir.

— Tenho que ir!

— Ah não.. já? Hoje é sábado, e é cedo… é cedo, não é? - ele ainda estava um pouco desnorteado.

— Sim, ainda é cedo - eu ri e voltei a colocar meus brincos na frente do espelho - mas meu filho nunca dormiu longe de mim, quero chegar antes que ele acorde.

— Claro.. seu filho.. - notei um tom de desânimo na sua voz, tentei ignorar e pensar que era apenas manha.

— Aliás, sobre o meu filho..

Pensei em contar a ele a verdade sobre Thomas, aquele parecia o momento ideal, mesmo que depois nós tivéssemos uma baita discussão. Mas quando me virei e vi o seu rosto, acabei desistindo. Ele estava com uma expressão de tristeza, de decepção.

— O que houve, Darcy? Que cara é essa? - disse de forma dura.

— Nada. - ele tentava evitar o assunto e começou a vestir suas roupas ignorando olhar nos meus olhos.

— O meu filho? É esse o problema?

— Elisa, é que .. - ele não conseguia falar e aquilo me irritava.

— É o meu filho, Darcy? Pensei que você já tivesse aceitado.

— Eu.. eu estou tentando, mas.. imaginar você com outro é tão.. doloroso! - mesmo pedindo desculpas pelo modo como agiu no nosso último encontro, ele ainda achava que eu era uma posse dele.

— Nós estávamos separados, Darcy. Eu não sou uma coisa.. sua! - eu podia mais uma vez contar a verdade, mas ele estava sendo extremamente imaturo, possessivo e machista.

Já havia terminado de me arrumar então me virei e saí do quarto, respirei fundo e desci as escadas, quando estava na porta de saída Darcy me parou. Ele estava completamente desarrumado, vestia a calça e a camisa, seus cabelos completamente desalinhados, sua camisa abotoada de qualquer jeito, o olhar desolado. Se o vissem assim na rua confundiriam com um bêbado, logo ele que andava sempre tão garboso, como Dona Ofélia costuma definir.

— Espera Elisa, não faz assim.. - preciso admitir que aquela visão dele me afetou - Vamos conversar? - ele acariciava meu rosto.

— Sim. Vamos conversar. Há alguns anos nós dois fomos vítimas de uma armação sórdida, isso nós dois sabemos agora. Mas naquela época não tínhamos conhecimento deste fato. Eu tomei uma decisão muito difícil, eu pensei que você havia escrito aquilo, então eu decidi seguir com minha vida, sem você. E muitas coisas aconteceram de lá pra cá, e nós estávamos separados, Darcy. Mas não há culpados, nem vítimas. Não podemos estagnar e viver uma vida baseada no passado, precisamos seguir em frente, resolver. E o meu filho é real, ele existe, você precisa aceitar isso, ou então não poderemos ficar juntos..

— Elisa tenta me entender.. da minha parte, eu.. eu vou tentar aceitar o seu filho, só.. ainda não consegui..

Aquelas palavras me atingiram em cheio, o fato de saber que ele não conseguia aceitar o meu filho só por pensar que era de outro homem, me deixava incomodada, pois tenho certeza que se dissesse a ele que Thomas era dele também, sua reação seria outra. Mas mesmo assim eu estava disposta a conversar mais, resolver as coisas. Mas a porta se abriu e fomos interrompidos novamente pela entrada daquela sem sal da Briana, o que aquela garota fazia aqui a essa hora da manhã? Nós a olhamos surpresos e logo depois notei certa raiva nele.

— Briana o que você faz aqui?

— Darcy, me perdoe pelo horário, não queria interromper, mas é que mamãe me pediu para trazer pra você esse doce que eu sei que você adora, para o café da manhã - ela deu ênfase no “eu sei” para me passar a ideia de intimidade, aposto.

— Você não interrompeu nada, nós já havíamos terminado a nossa conversa. Se me dão licença! - me preparava para sair enquanto aquelazinha entrava sala a dentro sem qualquer cerimônia.

— Não vai, Elisa.. por favor.. fica!

— Tchau, Darcy!

Fechei a porta e fui embora. Darcy estava sendo imaturo, mas eu fiz o que ele me pediu, tentei entender.. se fosse o contrário, se fosse ele tendo um filho com aquela Briana, eu também teria dificuldades em aceitar. Talvez, aquela história já estivesse indo longe demais. Talvez deveria poupá-lo de passar por isso, e falar a verdade e desencadear novas brigas, só que essas seriam mais necessárias já que sabia que sua reação não seria nada branda.

Não sabia o que pensar, o que fazer .. precisava de um tempo para esfriar a cabeça e organizar minhas ideias.

A nossa noite tinha sido maravilhosa, inebriante e inesquecível, não vou negar. Pena que nos deparamos com tantos problemas de manhã, o que me fez pensar que talvez tenhamos nos precipitamos em passar essa noite juntos, mas o tempo mostraria o que aquela noite havia significado.