Karen. escrita por Alquemist


Capítulo 1
Amor?


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a quem está tirando um tempinho pra ler. Boa leitura ♥



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Mitsuru despertou num sobressalto. 

Seus olhos arregalados imediatamente percorreram o espaço no qual se encontrava. Era sua área de trabalho. Reconhecer sua localização tranquilizou a respiração desregulada do armeiro e fez com que o aperto de sua mão na arma relaxasse. O material gélido do cabo da pistola - agora aquecido pelo contato constante - e as dores corporais provenientes do chão frio e rígido sob ele, faziam com que Mitsuru lentamente retomasse seus sentidos.

Apesar disso, ao recapitular o que vira no curto período no qual manteve seus olhos fechados, a frequência cardíaca se recusava a diminuir. Ainda estava suando. Um suspiro fraco escapuliu por entre seus lábios, enquanto o mesmo passou uma mão pelos cabelos, visivelmente frustrado.

Por que alguém como ele?

Outro suspiro e alguns instantes de silêncio se seguiram, preenchidos pelo bater ritmado de seu coração. Mitsuru lentamente colocou-se de pé, envolto pela escuridão do cômodo. Seu corpo doía. Talvez fosse pela posição desconfortável que tinha assumido para se proteger ou talvez fosse a intensidade de sua imaginação anterior. Moveu-se pelo ambiente pouco clareado sem hesitação, como se não houvesse qualquer necessidade de luz.  

Outra vez sua mão atravessou o próprio cabelo, deixando-o tão transtornado quanto se sentia. Aquilo vinha se tornando frequente. Mais do que havia se acostumado a lidar. Mais um suspiro. O armeiro direcionou-se até a própria escrivaninha, num canto da sala. Tateou a superfície dela e num movimento súbito, empurrou quase todo o material sobre ela para o chão. Queria desocupa-la. Tinha pressa.

Em seguida, levou uma mão até o interruptor de uma luminária e o acionou. O brilho intenso chegou a faze-lo comprimir os olhos por poucos segundos. Após se acostumar à luz, o armeiro abriu uma das gavetas e encarou a pilha despejada ali. Era uma das poucas coisas que se dava ao trabalho de manter organizado. Desenhos.

Vasculhou desajeitado por entre os rascunhos, em busca de uma folha em branco. Quando a encontrou depositou-a sobre a escrivaninha e fechou a gaveta. Mitsuru alcançou um lápis de aparência gasta e marcado por mordidas no topo. Contribuiu com mais uma, antes de posiciona-lo entre seus dedos e respirar fundo. Fechou os olhos por um instante, sentindo uma rajada de calor atravessar o seu peito como um tiro do qual não conseguia se defender. Quando os abriu, começou a deslizar a ponta do lápis pelo papel.

Eram linhas firmes. Monótonas como quaisquer outras, características de qualquer artista, traços simples e imóveis. Ainda assim, aos olhos do armeiro essas linhas em especifico eram mais graciosas. E belas. E vivas. Não era exatamente à pessoa retratada ali que Mitsuru estava dando vida, mas sim aos desejos que afloravam dentro de si.

Deixaria que os sentimentos fluíssem e escorressem através de seu lápis. Deixaria que o calor que lhe aquebrantava o peito se instalasse naquele papel. Que aquele desejo fosse aprisionado ali e parasse de lhe dar a permissão de imaginar algo tão acolhedor.

Alguém como ele jamais mereceria paz, todavia também não era digno desse tipo de tormento. Ainda que traçada por alguém cujo interior transbordava turbulência, a figura que era transmitida ao papel provocava certa tranquilidade. Aos poucos o coração dele acalmou-se, envolto por uma chama que aos poucos se esgotava. 

Ele aproximou os dedos do rascunho e traçou o cabelo dela. Imaginou sua mão percorrendo-o num gesto cuidadoso, como forma de conforta-la numa situação em que a voz chorosa que escutava através do telefone não estivesse tão distante. Traçou os seus olhos, será que conseguiria encara-los sem ser remetido a esse tipo de pensamento? Será que naquele instante, não estariam vermelhos? Tomados pela amargura das lembranças?

Seguiu a desenha-la, impedindo-se de continuar a pensar ou refletir sobre o turbilhão de emoções que se moviam em seu interior.

Ao chegar na boca encontrou um dilema. Não sabia como continuar. Lábios encolhidos em tristeza? Erguidos num sorriso? Indiferentes? Suspirou mais uma vez e largou o lápis sobre a folha. O sentimento quente de antes tomou uma proporção mais fria e pesada. Mitsuru inclinou parte de seu corpo para pegar o celular que estava dentre os objetos derrubados por ele. Buscou um nome entre a lista de contatos e engoliu em seco. 

Karen. 

Fechou os olhos por um momento e então guardou o celular. Não só ele, como também abriu a gaveta e largou o desenho não-terminado junto aos outros. Fechou a gaveta num baque e desculpou-se em silêncio. Talvez para si mesmo. Talvez para a detetive. 

Queria arrancar aqueles sentimentos e enfia-los no papel. E então enfiaria o papel numa gaveta qualquer e não o veria novamente. Provavelmente na esperança de que conseguisse se livrar da sensação em seu peito dessa forma. Acumulando-a na gaveta e a deixando fora de vista. Até que sufocasse. 

Mas o armeiro sabia que sempre abriria aquela gaveta outra vez e revisitaria o próprio fracasso em deixar o que sentia ir. E então, desenharia novamente. Um desenho transbordando da detetive que existia em seu coração. Riu de si mesmo, frustrado.

Isso é amor?


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Notas finais do capítulo

Obrigada a quem leu até aqui! xD



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