O Último Nevoeiro escrita por Invernia Silva


Capítulo 1
Capítulo 1 - Tempos de tempestades




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Há muito tempo existia cinco aldeias bem distantes, onde tudo era calmo e tranquilo. Havia festas durante o ano inteiro, comemorando cada boa colheita, cada fenômeno astral, cada passagem de estação, cada dia de sereno, cada período de paz com a natureza.

 

Os ancestrais tinham uma proximidade aos misteriosos astros e eventos do universo, sempre foram fascinados a tal beleza profunda, mística e quase indecifrável. Outra relação forte era com a natureza, que se encontrava mais próximo ainda. O ambiente era tão importante que, era palco de  histórias antigas contadas por eles em noites frias de lua crescente aos mais jovens. Cada história ganhava vida com a fumaça e o fogo que queimava os gravetos formando cenas assustadoras e curiosas, deixando um ar de mistério, pois no final da história sempre restava uma pergunta, o que aconteceu depois?

 

A noite era fria e os uivos de lobos incessantes, já era muito tarde e, aos poucos, todos adormeceram e o ancião era o último a dormir, já que o sono tardava de vir, até que o cansaço e a fadiga tomou conta do seu corpo, e assim, adormecia profundamente com as crianças e jovens em uma espécie de cabanas de gravetos, folhas e galhos rusticamente grossos. O vento zunia forte e uns redemoinhos começavam a se formar à meia légua à frente. O barulho das ventanias trataram de despertar à todos e o ancião tinha notado que depois de cem anos os tempos de tempestades ressurgiram e voltaram com mais força do que antes. Percebendo o perigo de permanecerem ali, o ancião começou a recolher as crianças e os jovens que já se aprontava e uns tempos após todos estavam prontos e uma tempestade se aproximava cada vez mais. Todos iam juntos procurando abrigo em alguma aldeia vizinha, e mais aterrorizante tornava-se à ficar com seus raios cortando o céu com suas barulhentas trovoadas, até que o ancião e as crianças haviam chegado na Aldeia Silêncio Do Norte e prontamente os aldeões os acolheram daquela tempestade de ventos que já dava início às chuvas.

 

Mais tarde um pouco, o chefe da Aldeia Silêncio Do Norte perguntou:

De que aldeia vocês são?

E rapidamente, o ancião responde:

Todos somos da Aldeia Fragmentos De Lótus, inclusive eu.

E continua:

Só que eu sou um sobrevivente, desde pequeno da Aldeia chamada Poeira Do Deserto, que havia sido extinta a cem anos atrás, quando essas mesmas tempestades destruíram o meu povo, inclusive a minha família.

Em seguida, é interrogado novamente pelo chefe, que perguntou:

Então a sua aldeia foi extinta por uma dessas tempestades? Certo?

E responde com uma face triste, o Ancião:

Sim, infelizmente.

E curiosamente, o chefe da aldeia pergunta:

E como você sobreviveu?

E surpreende à todos com sua resposta:

Eu fui protegido pela Deusa dos Espíritos Puros. E me recordo da sua aparência divina presenciada por uma luz mais forte  que o próprio Sol.

E sem acreditar, o chefe perguntou:

Mas como?

E o ancião completa:

Ela me deu esse medalhão, que me protege de qualquer mau, qualquer temporal, qualquer tempestade.

E o chefe insistente perguntou:

E os outros, ela não protegeu?

E assim, surpreende à todos novamente, pois respondeu:

Não, pois os outros algum mal haviam feito e foram condenados à morte por um desequilíbrio da natureza. E assim a história do meu povo se apagou, desapareceu como poeira do deserto.

 

E sem ter palavras, o Chefe da Aldeia Silêncio Do Norte, fica em silêncio e não volta à perguntar nada ao ancião, deixando-o descansar  com as crianças e os jovens.

 

Depois de um bom descanso, todos tomam um bom chá de Ginseng, acompanhado de cereais, sementes comestíveis e milho, tudo oferecido, cordialmente, pelo chefe da aldeia que, se encontrava preocupado com a alimentação de todos.

 

A paz nas aldeias tornava-se cada vez mais rara aos olhos dos anciãos, principalmente pelas chuvas fortes que assolavam os aldeões, que a partir dali viveriam tristes espantados, com medo, trancados em suas casas.

 

Procurando entender o motivo dessa mudança tão forte da natureza, no terceiro dia de lua cheia do segundo mês de inverno, cada chefe de cada aldeia invocou os seus deuses da natureza.

 

O chefe da aldeia Silêncio do Norte invocou o Deus da vegetação. Já o chefe da aldeia Folhas de Outono invocou a Deusa das Águas Profundas. O chefe da aldeia Tempestade Perdida invocou o Deus do Fogo. O chefe da aldeia Fragmentos de Lótus invocou o Deus das Ventanias Eternas.

 

Enfim, logo os três chefes da aldeia Peregrino do Amanhecer invocaram a Deusa dos Espíritos Puros.

 

Esperando pacientemente pela resposta, passaram-se oito luas até que então em uma noite, num sonho uma criança chamada Líris da aldeia Peregrino Do Amanhecer ouviu a resposta da Deusa dos Espíritos Puros e, ao despertar espantada, saiu correndo ansiosa pra contar aos seus avós sobre o sonho que tivera. Só que acabaram não acreditando na sua história, e ela saiu triste e cabisbaixa pelos avós não terem acreditado nela.

 

Na madrugada seguinte, o Profeta da aldeia Folhas de Outono, ao caminhar tranquilo e sereno nas fronteiras das aldeias, é surpreendido repentinamente por uma folha de uma das árvores mais antigas de sua aldeia. Nela estava escrita uma mensagem do Anjo celestial da Deusa dos Espíritos Puros, na qual o avisava que uma criança chamada Líris tinha recebido a resposta tão esperada que explicava o motivo dos temporais tão fortes, que tirara a vida tranquila dos aldeões por turbulentas catástrofes nas colheitas, na natureza, em todas as extensões das terras das aldeias.

 

Logo, fascinado e apressado, o profeta foi correndo atrás da criança Líris. Depois de nove horas de caminhada, encontrou Líris brincando com as outras crianças da aldeia, só que antes que desse tempo de perceber a movimentação estranha e se aproximar, os avós a chamam para almoçar.

 

Então veio uma ideia na cabeça, e daí foi até a casa da criança. Ao bater na porta, foi muito bem recebido pelos avós da criança, que logo após pediram-lhe para entrar. Por sua vez aceitou de forma grata.

 

Tendo entrado ofereceram-lhe chá de ginseng, para recuperá-lo do cansaço de sua viagem , pois notavam a  presença de cansaço e fome em sua face. Quando aceitou de muito de bom grado, perguntaram-lhe a causa dessa visita tão inesperada. Respondeu-lhes, que foi por uma carta-folha que caíra sobre si, que informava a neta deles como a pessoa escolhida para ouvir a resposta tão esperada. E os avós um pouco sem acreditar, disseram:

Isso só pode ser bobagem, pois a nossa neta e como qualquer outra criança, sempre com a imaginação fértil.

Continua o avô:

Qualquer pessoa de má fé poderia ter escrito numa folha de árvore até uma criança.

Mas o profeta logo interveio dizendo:

Sim, mas quem escreveu essa carta não tem mãos mortais e sim mãos de um ser de luz e mais puro que as próprias águas cristalinas das nascentes dos rios pela forma angelical que foi escrita com todo o cuidado e atenção.

 

Logo, sem o que dizer, ficaram em um tempo em silêncio. Daí o profeta falou:

Por favor, vocês podem chamar a Líris ao meu encontro. E espantados pelo fato de que o profeta tinha conhecimento do nome de sua neta, chamaram-lhe a criança que já havia acabado de almoçar. Veio ela correndo toda feliz e entusiasmada.

 

Ao chegar, o profeta a cumprimentou e ela fez o mesmo, em seguida ele perguntou a ela:

Menina, você não tivera um sonho diferente?. E ansiosamente a criança disse: Sim, eu tive.

Então o profeta continuou:

Então como foi esse sonho?

E ela empolgada começou a contá-lo com brilho nos olhos.

 

Líris fala:

 

“ Há muito tempo a paz e a tranquilidade reinava nas cinco aldeias da constelação Norb. Só que em um dia havia desaparecido do salão do Trono do Deus das Ventanias Eternas, um retrato cravado em fractais de diamantes, do qual era o único objeto que simbolizava a recordação dos seus pais Deus do Tufão da Escuridão e Deusa dos Relâmpagos de Cristais. Irritado, o DEus das Ventanias Eternas jogou uma tremenda tempestade fortíssima, que amedrontou cada aldeão a não sair de suas casas. O medo permanecia e aumentava dias e dias, luas e luas, estações e estações, pois triste, magoado, aborrecido e desconsolado  ficava cada dia mais o Deus das Ventanias Eternas, logo aumentava o seu sofrimento.

 

 

 

Daí em diante, a única forma de recuperar essa recordação dos pais do Deus das Ventanias Eternas, é o procurando por todas as aldeias, em todas cavernas, montanhas, relevos, oceanos, em cada canto do mundo até achar. Por isso, deixo nesse sonho essa mensagem de extrema importância, o tempo que vocês têm é curto, logo cada aldeia deverá se unir para guardarem o máximo de alimentos e roupas de frio. No dia de amanhã, eles vão se unir e assim formarão uma única aldeia chamada de Luar da Aurora Infinita.

 

 

 

Finalizo, falando que as aldeias devem escolher os seus guerreiros mais fortes, corajosos, destemidos e espertos para seguirem rumo a essa viagem cansativa, perigosa, arriscada e sem volta. Essa é a única chance que vocês têm para amolecer o coração do Deus das Ventanias Eternas. Protegerei à todas os aldeões e os nossos jovens guerreiros, nessa incrível jornada de luta, resistência e sobrevivência. Boa sorte pra todos.”

 

 

Incrivelmente pasmos e impressionados com tal história, os avós pedem perdão à neta, que sem pensar os perdoa. E o profeta agradece aos avós e à neta, por terem o tratado tão bem e por ter tido a oportunidade de ouvir a neta deles contar o sonho pra ele, e antes de partir falou:

Essa mensagem preciosa tem de ser comunicada aos chefes dos aldeões o mais breve possível.

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