Bloodstream escrita por Lady Liv


Capítulo 1
Ela.


Notas iniciais do capítulo

Wake up,
Look me in the eyes... again.
I need to feel your hand upon my face.



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Havia uma luz forte. Talvez fosse o sol.

O que quer que fosse, não permitia que ele abrisse os olhos pesados.

Forçando-se a se sentar, Logan sentiu o líquido quente e familiar descer por seu peito desnudo; sangue.

Onde estava? Nunca estivera tão cansado. Marie...

Droga, Vampira! Ela estava presa no carro quando fora atacado pela bola de pelos gigante. Será que ela tinha morr... Não, não, não. Não podia pensar nisso agora.

Levantar primeiro, procurar depois.

E por que diabos doía tanto? Nunca havia doído daquela forma.

Dor física não era permanente no corpo de Logan — talvez na vida, mas corpo? —, seu fator de cura agia em segundos, o colocando de pé para um novo round.

Era a dor emocional que ficava, as lembranças incompletas o atormentando dia e noite.

Acompanhadas da garota ruiva de olhos marcantes.

“Hey.”

E lá estava ela, surgindo em sua frente, se transformando na própria luz, ou seria sol? As madeixas ruivas pareciam pegar fogo. Era hipnotizante. “Acorde, Logan.”

Então era um sonho? Bom, não seria novidade, mas geralmente em seus sonhos ela tinha menos roupa.

“Acorde, Logan.” A garota repetiu, aproximando-se do mesmo jeito que ele conseguia se lembrar e ao mesmo tempo, diferente.

Estava mais bonita, mais real, mais jovem. Céus, como sentia nojo de si mesmo. Embora não soubesse da própria idade, considerava qualquer pessoa uma criança perante sua presença.

Quantos anos ela tinha? Provavelmente da mesma idade de Marie. A face angelical expressava inocência e enquanto acalmava Wolverine, despertava em Logan outros sentimentos.

A garota havia entrado em sua mente e nunca mais saído.

“Logan... Hey...”

Ela sabia seu nome. Qual seria o dela? Rose... Madelyne... Por noites, ele se aventurou questionando-se.

— Está aqui. — Sussurrou admirado.

Quantas vezes havia se chamado de covarde nos últimos anos? Não importava quantas brigas de bar vencesse, não mudaria o fato que havia fugido dela! Correndo pela mata como uma criança chorona, confuso e com medo. Definitivamente vergonhoso.

Agachando-se na sua frente, a jovem franziu o cenho, a expressão conturbada.

Logan não gostou de vê-la com aquela expressão, preferia vê-la sorrindo, apesar de nunca ter visto-a sorrir. Imaginava que devesse ser como o nascer do sol, brilhante; caloroso, deixando o coração em paz e calmaria.

“Você precisa acordar.” A ruiva repetiu com insistência.

— Não consigo... Não quero.

Acordarei e você não estará mais aqui.

“Logan...” Os dedos dela tocaram o peito e a dor presente no local foi-se aliviando. “Venha comigo.”

Era como se estivesse flutuando, envolvido numa bolha de ela.

Sua mão tocou seu rosto, a mexa ruiva caindo sobre os olhos. Logan sentiu os dedos coçarem para tocar suas madeixas vermelhas. Seriam suaves como pensava que seriam? Admirando sua face, atentou-se nas suaves e pequenas sardas em sua pele, e tolamente, tentou contar quantas haviam.

“Logan.” Ela murmurou mais uma vez, antes de seus lábios se encontrarem.

Ele permaneceu paralisado. Os lábios dela eram macios, do jeito que ele tanto imaginava. Mas como um algodão doce, se foi rápido demais, deixando o fantasma de uma sensação deliciosa no passado.

— Não! Espere! — Ele ergueu-se, os olhos arregalados, finalmente acordado.

A primeira coisa que reparou foi o ambiente, estranhando-o. Amplo. Vazio. Não era como no seu sonho, e certamente não era como a estrada onde viajava com Vampira.

O cheiro de éter o atingiu logo depois. E aqueles objetos metálicos... Estava em um laboratório.

Seus sentidos lhe avisaram da presença atrás de si bem a tempo de sentir o toque em seu braço. Sem dar a chance de defesa, Wolverine pulou agarrando-lhe com uma mão o braço, enquanto a outra ia em direção ao pescoço. Era uma mulher, e ele a arrastou até que as costas dela batessem contra a parede.

A fera dentro de si rugiu.

— Estava louca para fazer experimentos em mim, não estava? Não vai acontecer! Não de novo! — Rosnou, buscando seu rosto, mas a mesma olhava para baixo; atordoada. — Onde eu estou?! Cadê a guria?!

Tremendo, a mulher ergueu o braço livre e segurou seu pulso. O toque foi afetuoso, quase tenro, e o fez afrouxar o aperto ao redor de seu pescoço.

E então os olhos verdes lhe encararam brilhantes, cheios de lágrimas.

— Logan. — Murmurou, frágil.

A fera pareceu ter levado um choque, e Wolverine pulou pra trás, libertando-a.

Era ela.

Ela.

Claro, já eram mais de dez anos desde que tinha a visto pela última vez. Concentrou-se tanto em sua imagem, em medo de esquece-la, que ignorou o fato que ela devia ser uma mulher agora.

E Deus! Que mulher linda. Os fios ruivos saltando para fora do coque que ela devia estar ostentando, antes dele ataca-la como um animal.

Observou-a tossir, culpado, querendo correr para longe como um dia havia feito e fingir que aquilo nunca tinha acontecido.

— Logan, — a ruiva repetiu, dando um passo em sua direção. — Está tudo bem.

Atordoado, deu um passo pra trás.

— Quem é você?

— Eu... Meu nome é Jean Grey. — Jean. O nome dela era Jean. — Eu não vou machucar você. Eu prometo.

Jean. Jean. Jean. O nome se repetia em sua mente como uma oração silenciosa.

Suas palavras fizeram seu coração pesar.

— Mas eu machuquei você. — Deu outro passo para trás, vendo o vermelho pouco a pouco tingir o pescoço dela.

Em segundos, Jean estava próxima novamente, deixando-o tenso.

— Não, fique aí!

— Acha que eu devia ter medo de você. — A ruiva constatou, franzindo o cenho. — Mas eu não tenho. Eu nunca tive e não vou ter agora.

Deveria, ele quis dizer.

— Você estava na minha cabeça.

— Para acorda-lo, sim. A luta contra Dentes de Sabre o deixou num estado de coma, embora seus machucados tenham sido curados. — Ela desviou o olhar de seu peito nu, acanhada.

Certo, isso não passou despercebido. Porém tinha outro foco no momento:

— Não, não agora. Antes.

— Antes?

— A primeira vez que você esteve na minha cabeça, Jean Grey.

Quase contra sua vontade, Logan ignorou o próprio pedido e aproximou-se dela, repetindo:

— Eu lembro de você.

Sabia que deveria se afastar, afinal tinha-a ferido a pouco, mas havia um instinto quase animal lutando contra a razão, num impulso, ergueu as mãos e segurou cada lado de seu rosto, do modo mais gentil que conseguia.

— Eu procurei por você, Jean. — Ele suspirou, o ar repentinamente carregado de algo que não se podia nomear. — E depois de anos, eu ainda podia te sentir na minha mente. Eu podia te sentir por trás dos meus olhos.

— Eu... Que bom que nos encontrou. — Ela tocou o segurou pelo pulso, parecia se forçar a buscar foco. — O Professor gostaria muito de falar com você.

— Jean.

— Logan-

— Olhe pra mim.

Ela o fez, e ambos se perderam entre o verde e o castanho profundo, como um dia haviam feito.

—Você está na minha mente, no meu coração... Você está na minha corrente sanguínea.

Enquanto falava, inclinou o rosto em sua direção, sua respiração pesada fazendo-a engolir em seco, os lábios flutuavam em um deleite próximo.

E ela estava paralisada.

O toque em sua pele, a fragrância embriagante, os olhos confusos que podiam afogar-se em sua mente, Jean Grey chamava; clamava; suplicava por Logan.

E ainda assim, Wolverine havia respondido.

Ela merecia bem mais do que isso, bem mais do que um homem seguindo desejos egoístas, bem mais do que um... Monstro.

— Jean. — Ele sussurrou afastando-se lentamente, fazendo-lhe um carinho com a ponta dos dedos. — Obrigado.

Se doeu quando ela pareceu respirar aliviada? Foi pior que suas garras saindo de seus punhos!

Mas então, o mais meigo dos sorrisos tomou conta de seu rosto e Logan não podia nem mesmo acreditar. Era exatamente como ele imaginava! Como o nascer do sol, brilhante e caloroso.

No entanto ao invés de fazer seu coração se acalmar, ele sentia-o acelerado contra o peito.

— Vem, vou te levar até o Professor. — E segurando sua mão, ela o guiou para fora do laboratório.

Minutos depois, após ser apresentado aos outros membros da equipe, e ficar cara a cara com o tal Professor, o homem na cadeira de rodas falou em um tom sábio:

— Vejo que já conhece a Dra. Jean Grey.

Sim, pensou. Agora ele a conhecia.


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Notas finais do capítulo

I think I might've inhaled you,
I could feel you behind my eyes,
You've gotten into my bloodstream...
I could feel you floating in me.



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