Lyunn Wang

Bebo o café calmamente enquanto olho para o computador e me levanto, pegando o Particle Transfer e passando a Imagem do computador para o Telão de carbono. Estalo os dedos ativando o sistema, tendo as luzes do galpão sendo apagadas. Ajeito o óculos no rosto e pego os pequenos sensores, os colando na ponta dos dedos da mão direita.

Começo a mover a plataforma na placa, passando os dados para o sistema. Me assusto ao ouvir abrirem a porta e vejo pelos cabelos, reconhecendo Marcelo.

—Conseguiu projetar certinho no galpão, parabéns.- Falou e eu sorri fraco.

—Eu estudei o suficiente para saber me virar em momentos como esses.- Falo simples e ele ri fraco, parando ao meu lado.

—Isso é mercúrio?-Perguntou apontando para os sensores e eu reviro os olhos.

—Carbono-Aponto para a Placa- Chumbo.- Aponto para os sensores e encaro o circuito que eu tinha passado para a tela, vendo alguns pontos falhando.-Preciso da Aurora.

—Eu sei disso.- Escuto sua voz e a encaro, vendo ela estalar os dedos e as luzes se ligarem.- A placa interna não foi reconfigurada.

—O seu trabalho é esse.- Relembro e ela bufa indo para a cadeira.- Aurora, não seja mal educada.- Pedi e respirei fundo enquanto pegava o bloco de anotações.- Marcelo, pega aqueles tubos de ensaio ali.

—O seu trabalho é cuidar da Amanda.- Aurora falou e me encarou.- Você estava levando ela para tomar sorvete.

—Ou sua sem graça, por que não me levou?-Marcelo perguntou e eu prendi o cabelo.

—Você não é a Amanda. Aurora, eu sei o carinho que você tem pela nossa prodígio, mas entenda uma coisa, estamos em uma metrópole enorme e temos várias oportunidades. Diferente de todos nós, os irmãos Leal não decidiram estar lá dentro ou não, Mitsuri sempre deixou eles confinados, isso é um mundo bonito e a Amanda tem o direito de conhecer.

—Não é bonito não, Lyunn.- Marcelo falou e eu o encarei por cima do óculos.- Isso é horrível, lembra o porquê da gente estar aqui.

—É bonito sim, humanos que são o problema.

—Você é humana-Aurora lembrou.

—E você é uma hipócrita capitalista- Aponto para ela e respiro fundo.- Não tive a chance de ser algo melhor, se eu tivesse eu seria. A questão é que a Amanda se culpa todos os dias por não ser normal e diferente de vocês, tirando o Marcelo é claro, eu me preocupo com a saúde mental da Amanda. O corpo dela está reagindo de forma negativa já tem tempos, eu digo isso mas ninguém me escuta.- Falo e ponho algumas amostras que eu havia coletado do corpo dentros dos tubos de ensaio.

—Ela anda um pouco estranha mesmo.- Marcelo falou.-É ótimo ela conhecer isso, ver que as vezes tudo não precisa ser tão sério , mas temos que ir devagar, Lyunn.

—Eu sei, eu não entendo porque você está tão zangada- Falo olhando Aurora e respiro ajeitando o óculos.- Eu preciso por lente de contato.

—Põe não, seu óculos é parte sua.- Marcelo falou e eu fiz bico, frustrada.

—Estou irritada porque não quero ela se apegando a esse mundo, vamos voltar para base quando tudo acabar, ela não precisa ficar encantada com isso tudo. Vai que ela se apaixona?

—Tá repreendido- Marcelo falou e eu dei risada.- Não criei essa menina por 18 anos para ela se apaixonar por um mero mortal desses.

—Falou o Imortal.- Escuto a voz de Isobell e sou risada.- Salve, Lyunn.- Passou atrás de mim e bateu na minha mão.

—Eai.- Dei risada e peguei o copo de café que ela trazia.

—Olha, eu tô muito ocupada para ser vela.- Aurora falou quando viu Izie dar um selinho em Marcelo.

—Concordo com a Olsen.- Falo os encarando.- Posso saber porque os dois insignificantes não se assumem?

—Somos novos demais, e outra, se caso pegarem a gente é melhor que não tenha apego.- Izie falou simples e eu notei que Marcelo ficou um pouco triste.

—Você é muito dura.- Falo e ela nega lentamente com a cabeça.

—E você, Wang?Não vai namorar não?- Aurora perguntou.

—Você tá um pé no saco, vai achar alguém pra tirar a teias de aranha do corpo.- Izie mandou e eu a encarei.

—Não sou tão idiota quanto vocês que se apegam aos prazeres da carne, obrigada.- Falo e levo uma amostra de pele para o escaner.- Acelera isso ai, Aurora.

—Calma, CPU.- Falou e eu revirei os olhos sentando.- Qual o plano?

—Estudar os locais onde podem ter pessoas suspeitas reunidas e se infiltrar.- Marcelo falou.- Está chegando o aniversário da cidade, precisamos dar um jeito de estar dentro dessa comemoração.

—Bota a Amanda, ela é melhor que todos nós, falando nisso onde ela está?-Aurora perguntou.

—Ela dormiu, cansou coitadinha.- Falei e dei risada arrumando o jaleco.

— Cansada do quê?- Izie perguntou se sentando em cima da mesa, tomando um pouco do meu café.

—Levei ela para tomar sorvete.- Falei a olhando e Izie sorriu.- Acha que eu fiz besteira?

—Não, ela merece.- Falou rindo.- Na verdade, todos nós deveríamos dar uma trégua. Uma cientista de 22 anos, um Agente especial de 20, uma entendedora de programação de 19 e eu, uma engenheira mecânica com 19 anos, precisamos de uma vida normal.- Riu fraco e cruzou os braços.- Quero dizer, se fomos se basear na vida aqui, nós formamos com 14 a 15 anos de idade. Todos nós estamos precisando de uma vidinha um pouco normal.

—Dá muito para ser normal com tudo acontecendo.- Aurora falou rindo e se levantou, indo pegar os sensores da minha mão.-Lyunn, vamos fazer uma luva depois, fica mais fácil.- Falou e eu concordei.- Isobell, infelizmente não somos normais.

—Eu sou completamente normal, só sou inteligente demais para minha idade.- Falou e me encarou.- Foi bom levar ela para conhecer a cidade, obrigada.

—Acha que não tem perigo ela se apegar a isso aqui e depois ficar mal quando voltar?-Marcelo perguntou.

—Vamos pensar um pouquinho, vamos? Quando é que a gente vai ter a chance de sair de novo? Vou relembrar a vocês o que somos, Lyunn por favor me ajude.

—Lá vai…- Aurora negou enquanto digitava algumas coisas no teclado virtual refletido pela luz negra.- Apaga essa luz ai por favor.

—Somos uma companhia secreta do governo Sul-Coreano e patrocinados pelos EUA, Somos pessoas no mundo que se destacaram para estar ali, tirando Marcelo e Amanda porquê os dois estão lacrando desde o nascimento.- Izie falou e Marcelo deu risada.- Eu fui descoberta aos 10 anos, quando construí um sistema subterrâneo para fugir de casa. Lyunn foi descoberta aos 13 anos, quando as pessoas começaram a estranhar seus inúmeros prêmios nas feiras de ciências. Aurora invadiu o sistema do exército dos Eua aos 11, então somos pessoas diferentes das outras, não anormais. Ok, agora lembrem que desde isso nunca mais vimos pessoas comuns. Entendem o que eu quero falar?

—Espera...Quantos prêmios você ganhou para assustar tanto assim?-Marcelo me encarou e eu sorri sem graça.

—5.985 para ser exata.- Cocei a nuca e ele arregalou os olhos.

—Você é uma gênia maluca.-Falou e eu soltei o ar da boca, estalando os lábios.

—Você é um boçal e eu não jogo na sua cara.- Falo sorrindo e ele me olha como se estivesse ofendido.- Se a carapuça serviu, se cale e a deixe continuar.

—O que essa lerda quer dizer e que somos pessoas diferentes e que merecemos conhecer o que é o mundo enquanto podemos, porque ninguém sabe quando vamos poder voltar.

—Obrigada, Aurora.- Izie falou e passou a mão pelos cabelos bagunçados.- É exatamente isso que eu quero dizer, quando voltarmos, pelo menos vamos voltar sabendo que esse mundo é real, que tem pessoas precisando de ajuda e que a gente tem que ajudar. Deus nos deu uma dádiva maravilhosa. Olhem o que a gente pode fazer, quem pensaria que poderíamos ter um computador 90% virtual? Ou que poderíamos passar a imagem do computador para o nosso mundo e ampliar ela da forma que queremos?- Perguntou e eu a encaro.

—Sabe muito bem que por religião no meio disso é furada, não sabe?- Pergunto e ela sorri fraco.

—Ah minha cara cientista, no dia que você me explicar o porquê de sermos tão inteligentes sem ser com a teoria que Deus nos deu, você me fale algo.

—Até porque querendo ou não, sabemos que você acredita em Deus.- Marcelo falou.- Nem tente.

—Ainda tenho falhas.- Falo massageando os braços.- Alguém aumenta a temperatura daqui.

—Acreditar te faz inteligente, sua metida estúpida.- Aurora falou e eu dei risada, concordando com a cabeça.

—A Amanda é o foco, o Marcelo já é criado na vida de maldade faz tempo.- Falo e encaro Izie que bebia o café.- Precisamos fazer com que ela conheça o mundo e que seja feliz por estar com a gente. E por favor, parem de comparar ela com as coreanas, ela fica mal.

—Quem fez isso?-Aurora perguntou e sorriu começando a dançar.- Sistema tá atualizando.

—Não sei, só sei que ela ficou mal.- Falo simples e encaro Marcelo.- Pegue leve com ela.

—Fala como se ela fosse uma santa, se você soubesse os socos que ela me dá não diria isso.

—Sei e apoio, empoderamento feminino querido. Metade da equipe aqui presente é mulher, tome cuidado com o que diz.- Mando e Izie gargalha alto.

—Se ferrou, otário.

—Você não fala isso pra mim dentro de quatro paredes.- Ele falou e ela corou.

Abro a boca incrédula e olho para Aurora que estava da mesma forma.

—Não era só depois do casamento?-Pergunto.

—Marcelo, agora você ganhou meu respeito.- Aurora falou e gargalhou alto.- Tinha que ser irmão da Amanda mesmo.

—Revelações às 02:21 da manhã, muito bom.- Falo enquanto clico no botão, esperando o resultado das análises.- Ok, o que estão achando das pessoas daqui?

—O delegado é um bundão, os...oficiais ou seja lá o que aqueles idiotas são, não passam de idiotas. Policiais eu não vi nenhum...Um bando de incompetentes reunidos em um local só precisando de muita ajuda.- Aurora falou e Izie deu risada.

—O delegado não é de se jogar fora.- Falou e eu comecei a rir.

—Eu estou aqui, Hallkins.- Marcelo falou a encarando com raiva.

—E eu não me importo, Leal.- Devolveu dando risada.

—Ele foi muito educado comigo, devo dizer até que talvez o delegado seja o único que realmente está...digamos que aceitando a gente numa boa, na medida do possível e tem o Taehyung, que é uma ótima pessoa.- Falo e respiro frustrada.- Ta demorando demais.

—Eu arrumo.- Izie falou e sorriu correndo para a fonte que estava no canto do galpão.

Encaro Marcelo que a olhava bobo e bato em seu peito, ele me olha e eu sorrio fazendo um ‘Jóia’ com a mão.

—Bonita demais. Parabéns soldado.- Falo e ele deu risada, concordando.

—Querida, entendo que queira ser lerda, mas eu preciso de você agora.- Escuto Izie falar e ela passa os dedos por cima das entradas dos fios, os reconectando e indo para a fonte do sistema. Deu o comando novamente e eu me assustei quando ouvi o som de concluído. Sorrio batendo as mãos e todos se aproximam.

—Vamos ver…-Aurora falou animada

—Eu ainda descubro como você consegue ser tão boa nisso.- Marcelo falou e Izie sorriu.

—É isso que você me fala quando estamos entre quatro paredes.- Falou e eu gargalhei mais alto que devia, junto de Aurora que me abraçou. Puxo Izie para o abraço e gargalho mais alto.

—Essa mulher é um ícone.-Gargalhei alto e Aurora me acompanhou.- EU QUE CRIEI.- berro e beijo a cabeça dela.

Marcelo pisca fraco e depois encara o telão, se desfazendo da feição assustada para uma feição séria. Encaro o telão e faço careta ao ver uma ficha descer.

—Os resultados das amostras são compatíveis com o DNA de Kim Sunhee.- Falo e vejo a foto da mulher.

Quem era Kim Sunhee?