Rebel Mermaid escrita por nekokill3r


Capítulo 2
O chicote ensanguentado




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Sou acordada por um forte chute na minha perna, fazendo eu me levantar depressa e assustada. Não me lembro de quando consegui dormir, mas devo ter ficado chorando até adormecer porque conseguia sentir as lágrimas secas no meu rosto.

Olho para frente a fim de saber quem havia me batido; de primeira consigo ver apenas o chicote pingando sangue no chão branco, depois ouço sua risada fria invadir meus ouvidos. Ergo a cabeça e reconheço seu rosto de imediato e seu nome pisca em minha cabeça.

Romulus Thread.

Ele já havia sido Pacificador no 4 fazia um tempo, exatamente quando eu estava começando a desobedecer as ordens dos superiores, e sua diversão favorita era poder machucar os outros sem que o impedissem —– até mesmo eu não conseguia encará-lo por muito tempo quando passava pela praça e ele estava lá, com seu famoso chicote, rindo enquanto acabava com as costas ou com o rosto de alguém. No pouco tempo em que ele permaneceu como Pacificador chefe no meu distrito, muitas pessoas começaram a ameaçar ir embora ou denunciá-lo para o Presidente Snow pela forma que ele era autoritário e maluco, então graças a isso Thread depois de uns dois meses desapareceu, dando lugar para um Pacificador mais calmo e menos torturador.

Tenho certeza de que ele também se lembra de mim, porque eu era uma das únicas pessoas que ajudava suas vítimas depois que as mesmas desabavam no chão desacordados. E eu costumava ficar muito na praia até uma certa hora não permitida para minha idade, o que fazia Thread ir até lá e me ameaçar, mas não era sempre que eu costumava ouvi-lo e voltar para casa. E se ele sentia algum ódio por mim por não obedecê-lo naquela época, agora ele certamente faria eu pagar por isso.

—– Bom dia, rebelde —– deseja ele sem ânimo algum, se agachando perto de mim. —– Hoje tenho um trabalho a fazer, que consiste em tirar toda a verdade que sabe. E para mim vai ser um prazer se você não cooperar.

Toda a verdade? Que verdade se eu nem mesmo tinha uma noção de onde estava, se nem sabia se tinha passado apenas um dia ou semanas, se sequer imaginava o que tinha acontecido? Será que é essa a verdade que ele se refere?

—– Eu não sei do que está falando —– digo sincera, tentando não deixar claro que estava o enfrentando.

A chicoteada vem na mesma velocidade que meu grito ao senti-la. Minha bochecha queima, sei que está começando a sangrar e sem querer acabo deixando que lágrimas aparecessem.

—– Não minta ou posso fazer algo muito pior do que isso! —– rosna ele, sem ter de mudar de expressão para me assustar. —– Agora, me diga: como você e Everdeen conseguiram sair da arena? Quem tinha o plano de destruí-la? Aonde ela está nesse momento? Quantos rebeldes a mais existem e em que distritos estão?

Minha cabeça começa a absorver as coisas que ele quer saber e aos poucos tudo começa a se encaixar; não sabiam como saímos da arena, não sabiam quem tinha o plano de acabar com tudo, não sabiam aonde Katniss tinha se metido, não sabiam em que distritos os rebeldes estavam agindo. E muito menos eu. Eu não sabia de nada que ninguém pudesse estar planejando fazer, sequer pensava que sairia de lá ainda com vida.

—– Eu não sei, não tenho nada a ver com isso! —– exclamo apertando as sobrancelhas com raiva. —– Ninguém me contou nada sobre plano algum! Sei lá aonde Katniss se enfiou! Se vocês mesmos não sabem controlar o próprio povo, por que esperam que eu saiba?

—– Ah, então agora você não sabe? —– exclama ele de volta, a voz tropeçando de tanto ódio. —– Mas fez parte do plano, participou desse ato de rebeldia!

—– Se eu realmente soubesse que tal ato se tornaria isso, acha mesmo que eu iria participar de uma coisa assim? Acha mesmo que eu seria burra a esse ponto?! —– grito e sem poder evitar, cuspo em seu rosto.

Aquilo foi o ápice para a paciência curta dele. Thread se levantou depressa e tirou o chicote novamente, o acertando em qualquer parte do meu corpo sem se importar. Eu tentava proteger o rosto o tapando com os braços, mas sabia pela ardência que ele era o que mais estava sendo machucado.

—– Onde está a garota desobediente que adorava me desafiar?! —– grita ele enquanto ainda me bate, me fazendo também soltar alguns gritos de dor. —– Por que não consigo ver a rebelde que tanto amava confrontar a Capital?!

Quanto mais ele me bate, mais sei que é inútil lutar. Não somente por ele ser maior e mais forte do que eu, mas também por entender que passaria por aquilo de qualquer forma. E sua risada só aumentava cada vez mais conforme via o sangue começar a escorrer do meu corpo.

Depois de alguns minutos ele para, tira um controle do bolso e aperta um botão que faz as paredes brancas se tornarem vidro. Ao meu lado Peeta estava acordado, encostado entre a parede e o chão tremendo e embora não parecesse machucado, era visível que estava tão abalado quanto eu. Um pouco mais à frente consigo enxergar Johanna, quase sem roupa e deitada, também sem ferimentos, e por um segundo imagino vê-la com medo pela primeira vez.

—– Já que você não quis cooperar, espero que seus colegas me digam a verdade no seu lugar —– anuncia Thread, saindo da minha sela e se dirigindo na direção da de Peeta.

Assim que entendo o que ele quis dizer quase seguro nas grades na intenção de sair, mas no último segundo me lembro do campo de força. Levar mil chicotadas seria menos doloroso do que vê-lo acertar Peeta na perna o fazendo cair de costas, enquanto repetia que não sabia de nada, que Katniss não havia lhe contado nada, que não tinha participado de nada. Thread contava quantas vezes eu e ele tínhamos dito que não sabíamos de nada, o que era verdade, e dobrava o número de chicotadas para o próximo. E Johanna se contorce, também grita tão alto que não consigo simplesmente não ver toda aquela cena sem desviar os olhos.

Ele se retira após algum tempo, porém ainda deixa as paredes como vidros. No começo pensei que queria verificar se os outros dois também estavam acordados, mas a intenção era que ficássemos vendo o sofrimento de cada um sem ter para onde fugir, sem ter como ajudar.

Tento me levantar, mas meu corpo dói tanto que acabo caindo. Além de estar toda machucada meu estômago parece querer se partir em dois por não ter comido nem bebido nada desde ontem, e é nesse momento que agradeço por ter crescido com meu avô que às vezes me deixava muitos dias sem nada ou eu estaria começando a me desesperar com a possibilidade de permanecer assim pelo tempo seguido que ficarei confinada aqui.

—– Peeta... —– sussurro, o vendo tentando fazer o machucado na perna parar de sangrar. Ele olha para mim. —– O que vão fazer conosco?

Por um segundo imagino que ele vai me responder algo, mas ao invés disso apenas nega com a cabeça tão confuso quanto eu.

—– Peeta... —– sussurro novamente, as lágrimas já se formando em meus olhos. —– Vão nos matar aqui sem ninguém saber...

Estico o pescoço para dar uma olhada em Johanna, que parece ter desmaiado. Como havia levado o maior número de chicotadas, era um pouco óbvio que acabaria adormecendo. Seu corpo me faz lembrar de uma árvore maltratada, exatamente como as de onde ela tinha vindo, e é inevitável pensar que ela sobreviveria por muito tempo se aquelas torturas aumentassem.

Peeta ainda parece refletir sobre o que eu havia dito, muito perdido nos próprios pensamentos. Mas ele me surpreende quando, em silêncio, eu consigo ler em seus lábios a verdade que tento não acreditar todos os dias:

—– Já estamos mortos, Krystal. Só não temos o direito de estar dentro de um caixão.


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