O Intruso escrita por thierryol1


Capítulo 12
Chamada Perdida - Parte 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/767726/chapter/12

"Eu quero morrer. Eu quero parar de sentir essa dor. Desculpe."

 

06h00min

— Então... Dá pra falar logo? – Disse a garota, impaciente.

— Senhora Freewood, a primeira tarefa é simples: Amanda foi interrogada ontem, você só precisa ir até a casa dela e descobrir tudo que ela falou. Depois me mande tudo numa mensagem de texto.

— Tudo bem... – Isso era algo simples. Não precisava de muito. Lucie desligou o telefone e andou em direção ao parque, já que a casa de Amanda ficava perto dali.

*****

13h05min

Caleb engolia o chopp gelado, enquanto esperava seu encontro chegar ao bar. Já estava entardecendo, o que era ótimo pois assim não tinha quase ninguém no local.

Após cerca de três minutos, alguém se sentou do seu lado.

— Agora eu entendo porque a pessoa pedia tanta discrição e sigilo no Grindr. Policial Caleb... Não sabia que você curtia homens. – O garoto moreno sorriu.

— Hehe... Eu sou uma caixinha de mistérios, Andrew.

— Uau, você lembra meu nome. Um ponto a mais, visto que no seu perfil diz que você só está procurando sexo casual. – O rapaz pediu uma cerveja à atendente do balcão. – Bem, pra quem precisa de muito sigilo, escolheu um lugar bem à vista para marcar um encontro, hein...

— Eu gosto desse bar, Fischer me mostrou ele depois do nosso primeiro dia de trabalho juntos. Nessa hora geralmente não tem muitas pessoas, então não preciso me preocupar.

— E ela? – Perguntou Andrew, apontando para a atendente enquanto dava os primeiros goles na sua cerveja gelada.

— Você não precisa se importar comigo, eu não estou nem aí pro que Caleb faz ou não. – Respondeu a atendente, preparando e bebendo um chopp também. – Se ele quiser dar 'aquilo', problema dele.

Caleb riu junto com ela. Andrew não estava entendendo.

— Giovanna é uma amiga minha de longa data, a gente sabe todos os segredos um do outro. – Falou Caleb, se referindo à atendente.

Andrew deu um sorriso e concordou com a cabeça. Após beber sua cerveja por mais uns segundos, ele perguntou:

— Bem, e o que você pretende fazer nesse dia dos pais?

— Ah, sabe como é, aproveitar minha folga... – O policial deu um sorriso malicioso.

— Então... – Respondeu o garoto, corado. – Me fala mais sobre você.

— Eu? O que você quer saber?

— Eu não sei... Que tal: por que você está passando o feriado com alguém de uma rede social de pegação ao invés de passar com seu pai?

O sorriso de Caleb desapareceu tão rápido quanto Giovanna, que saiu com seu chopp para fora do bar, claramente sabendo que aquele assunto não agradava o policial.

— Eu... Prefiro não falar sobre isso...

— Tudo bem, perdão...

— Minha vez agora.

— Como assim?

— De te fazer uma pergunta, oras.

— Okay, vá em frente... – Respondeu Andrew, sorrindo.

— Qual seu hobby favorito?

O garoto pensou um pouco e então disse:

— Acho que ler um livro... Numa sombra ou lugar ao ar livre. Podendo sentir a natureza ao meu redor enquanto eu viajo por um novo mundo proporcionado pelas letras.

— Uau! Você parece ser interessante.

— Agora sou eu... Qual a pessoa mais importante para você nesse momento?

— Fischer, meu chefe. – Respondeu Caleb, sem nem pensar duas vezes.

— Ah é? E por quê?

— Bem, Fischer é... É a pessoa mais sensata e inteligente que eu conheço. Na maioria das vezes ele pode ser grosso ou orgulhoso, mas ele sempre tenta fazer justiça, e acho que por isso ele é tão especial pra mim... Fora que ele sempre tenta fingir que é super forte e impenetrável, quando na verdade eu sei que ele é amargurado pela morte da esposa. Ele se esconde nessa "barreira" de pessoa perfeita, mas se ele estiver em casa agora, ele com certeza está chorando no escuro...

— Caralho... – Respondeu o garoto, com cara de tédio. – Você parece conhecer muito bem esse tal ‘Fixir’.

— É 'Fischer'. E agora é minha vez... Como foi a sua infância?

— Ah, minha infância foi a melhor parte da minha vida... Eu era tão feliz e nem sabia. Vivia quebrando as janelas da casa da moça que morava no final da rua. Podia praticar esportes vinte e quatro horas por dia sem ter nenhuma responsabilidade e--

— Ah, Fischer adora esportes. O esporte preferido dele é andar de skate. Que irônico né? Um detetive gostar de skate...

— Hm... Bem, e como foi a sua infância? Perguntou o garoto.

Caleb ficou sério novamente.

— Bem, já que você insiste tanto em saber essa parte da minha vida, eu te conto.

— Ah, não precisa, desculpa tocar nesse assunto.

— Não, tudo bem... Você respondeu todas as minhas perguntas e eu não respondi quase nenhuma sua... Bem, minha infância foi ótima enquanto eu morei com a minha mãe. Ela era uma mulher forte, que lutava pelos direitos dela... Quando eu tinha nove anos ela morreu, e meu pai pegou minha guarda. Ele era um homem bastante rígido. Com meus onze anos, os abusos começaram, eu não sei bem por que. Ele me batia muito. Me humilhava. Uma vez ele arrombou a porta do banheiro quando eu estava mijando, e tentou me afogar na minha própria urina. Esse tipo de coisa durou um ano inteiro. Ele dizia que eu era um homem, e homens tem que ser fortes e aguentar tudo calados. Ele achava que estava me educando. Tudo acabou na véspera de natal dos meus doze anos. A polícia arrombou nossa porta e prendeu-o, tudo graças a uma vizinha que denunciou meu pai. Só Deus sabe a alegria que senti quando vi os policiais o levando, tudo porque uma pessoa fez o que era certo. Foi aí que eu quis ser policial, para fazer a coisa certa também... Para ajudar alguém, que como eu, não tinha ninguém.

— Puxa vida, eu lamento muito...

— Não precisa, é como Fischer sempre diz: sem o meu passado amargo eu jamais seria quem sou hoje...

— Olha... Posso te perguntar algo?

— Claro.

— Por que você está aqui comigo?

— Ora, porque a gente conversou vários dias no Grindr e você aceitou sair comigo.

— Não... O que eu quero dizer é: por que você está aqui comigo e não com Fischer?

— Como é? – Caleb riu, descrente.

— Olha, tá na cara que você ama ele. Fala logo com ele, amigo.

— Olha, acho que você entendeu errado. Você tá vendo isso do jeito errado e--

— Você o ama. Só quem não vê são duas pessoas: você e ele. Até mais, Caleb, boa sorte aí. – Respondeu Andrew, deixando o dinheiro da cerveja no balcão e saindo.

Após alguns minutos, Giovanna entrou, falando:

— Ele tá certo, fala logo com seu chefe e para de frescura cara.

— Ah, cala a boca. – Respondeu Caleb, rindo.

Seu telefone começou a tocar: era Fischer.

— Alô? Que foi chefe?

— Caleb? Venha pra delegacia agora mesmo!

— Por quê?

— O assassino da borboleta fez mais duas vítimas, preciso de você.

Dizendo isso Fischer desligou o telefone.

— Chamados do dever? – Questionou Giovanna.

Caleb apenas resmungou e tirou o dinheiro do bolso, sendo interrompido pela garota:

— Não precisa pagar hoje, Caleb. Vai lá fazer seu trabalho.

— Obrigado.

O policial saiu apressado e acabou nem ouvindo o "Feliz dia dois pais" que Giovanna havia dito.

*****

06h25min

— Lucie? Josh estava te procurando!

— Josh? – Disse Lucie séria, olhando para o jardineiro.

— Josh estava preocupado com a senhora, como--

— Por que você me levou de volta pra casa, mesmo eu te dizendo o quanto eu estava vendo coisas lá Josh? – Perguntou a garota, seca.

— Hm?

— Tudo que te contei ontem não valeu de nada?

— Senhora, sinto muito te informar, mas Josh não a levou de volta para casa.

— Como assim? Eu acordei na minha casa hoje.

— De madrugada a senhora ia saindo, então Josh perguntou o que havia errado. A senhora respondeu com uma voz grossa e diferente: "eu preciso pegar meu bebê de volta, eu preciso pegar meu bebê de volta". Josh pegou no seu braço pra tentar te impedir quando você ia saindo, mas a senhora me deu um murro extremamente forte no peito e saiu. Desde então Josh estava preocupado com a senhora.

Lucie ficou boquiaberta. Ela caminhou lentamente até o banco do parque mais próximo e se sentou ali, imóvel. Josh sentou do lado dela.

— O que foi senhora?

— Não é a primeira vez que isso acontece...

— A senhora bater em alguém?

— Não... Eu fazer coisas e depois não lembrar. Como se eu estivesse fora de mim. Josh... Você acha que eu estou ficando louca?

— Não senhora, a senhora só está estressada por tudo que anda acontecendo. A senhora chegou aqui há apenas um mês e meio e tanta coisa já aconteceu...

— Pode ser...

— A propósito, feliz dia dos pais, senhora. Josh lhe comprou esse presente. – O homem disse, mostrando uma pequena caixinha de música para a garota.

— Puxa, é lindo, muito obrigada Josh... Mesmo isso não fazendo sentido, afinal é dia dos pais, e eu nem me dava bem com o meu.

— A senhora não se dava bem com seu pai?

A garota acenou negativamente. Josh então ficou sem graça, e começou a olhar para os pássaros que voavam pelo parque.

— Josh também não. Sabe, se estivéssemos na cidade natal de Josh, desconfiaria que ele fosse o assassino da borboleta.

— Por quê?

— O assassino da borboleta matou seu cachorro. Josh nunca vai conseguir entender como alguém pode machucar um animal. Eles são tão puros.

Lucie sorriu. Ela claramente sentia falta de Happy.

— Sabe... Uma vez na adolescência, o pai de Josh o levou para uma caçada. Entregou uma carabina para o filho. Ele dizia que isso era coisa de macho e que todo homem tinha que gostar de caçar. Após algumas horas, Josh viu um veado. Josh se aproximou lentamente e atirou no peito dele, justo como o pai havia ensinado. Quando Josh se aproximou, cheio de emoção, ele viu os olhos do veado, ainda vivo, olhando para ele. Aqueles olhos que gritavam 'por favor, não me machuque, eu nunca lhe fiz nada'. Toda a animação foi embora. Josh era um monstro. Então Josh, com os olhos cheios de lágrimas se aproximou do ouvido do veado e cochichou bem baixinho: "Me desculpe..."

Lucie suspirou. Ela estava claramente emocionada.

— Josh foi obrigado a ver a cabeça do veado por vários anos na sala de estar, até o pai o colocar na maldita faculdade de tecnologia de informação.

— Você é formado em TI? – Perguntou Lucie, com certa curiosidade.

— Sim. Josh fez duas faculdades. Tecnologias de informação e jardinagem e paisagismo.

Uma mensagem vibrou no celular descartável de Lucie. Era do intruso e dizia:

"É sério que vai ocupar tanto seu tempo assim com alguém como Josh? Acho que vou matar ele logo, afinal um retardado a menos é melhor, certo? Se não quiser que eu mate ele vá pra casa de Amanda AGORA."

— Josh, eu preciso ir. Muito obrigada pelo presente.

Lucie se levantou e deu alguns passos, mas se virou e chegou perto de Josh, perguntando bem baixinho:

— Você disse que é formado em TI, acha que poderia me fazer um grande favor?

— Quem Josh precisa hackear, senhora?

— A delegacia de polícia da Vila Obélia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Intruso" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.