Rainy Days escrita por Emily Jobs


Capítulo 10
Capítulo 10




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— Você tem que parar de inventar coisa dos outros. – Era Fernanda, a loira de sua sala que a empurrava contra a porta do auditório.

— A gente vai mesmo mexer com ela? – A amiga de Fernanda olhava para os lados. – Ela é filha do Sousa, não esquece disso.

— Foda-se de quem ela é filha. – cuspiu e a empurrou mais forte. Seus olhos verdes brilhavam de ódio e Mônica podia ver que ela batalhava internamente. – Nunca mais faça piadas sobre mim, se não eu arranco esse seu cabelinho longo, viu?

Mônica sentiu outro empurrão antes de ser deixada sozinha. Suspirou e balançou a cabeça ao pensar nas meninas. Sabia que tinha merecido, mas ainda sim pensou que Fernanda não iria realmente atrás dela. Há duas semanas tinha visto Fernanda fumando cigarro no banheiro, mas agora Mônica pensava que não tinha sido uma boa ideia contar para a coordenadora da escola.

— Você deve ter feito algo horrível. – a voz a assustou, mas não viu ninguém ao escanear o local. – Ei, aqui em cima.

Ao levantar a cabeça, viu parte do corredor do segundo andar e uma cabeleira loira no encostada no corrimão. Era o garoto da moto. O único pensamento desconcertante que estava fixa em sua cabeça era que ele não era humano. Não podia ser. “Tanta beleza num só corpo”, balançou a cabeça envergonhada.

— Se eu fosse você, não mexeria mais com elas. – Ele apontou para o próprio cabelo. – Não iria querer ficar careca duas semanas antes da minha festa de 15 anos.

— Como você sabe disso? – seu rosto se contorceu. Era só o que faltava, a escola toda sabendo do seu aniversário.

— Eu sei muito, Mônica. – Ele riu e desceu as escadas. Ao ficarem frente a frente, sorriu, e foi aí que ela percebeu que nunca o tinha visto sorrir, ou pelo menos não sorrir daquele jeito. – Quero te conhecer mais, o que acha?

.

Acordou suada, com os olhos cheios de água, e tentava se acalmar ao ligar a luz. Nem ao menos lembrava o sonho, mas sentou-se de novo na cama e limpou o suor da testa. Ainda era meia noite e ficou feliz de ter mentido e pedido a Cebola só para comprarem comida, pois não estava se sentindo bem.

Já imaginava o que as meninas iriam fazer com ela por feito isso, e riu baixinho imaginando a reação de Denise. Pegou o celular e abriu a lista de contatos. Era a primeira vez que tinha tantas amigas, pessoas que podia contar realmente.

Acabou dormindo de novo e acordando atrasada para a faculdade. Tinha aula de Comunicações às 8:00 e já eram 8:30. Abriu o instagram da faculdade e viu um link para o de Denise, se assustando ao ver que tinha mais de três mil seguidores.

— Não acredito... – Mônica passava pelas fotos, todas elas de alguma fofoca relacionada a faculdade. – Já sei.

Ela colocou na primeira postagem enquanto pegava um Uber. Ficou chocada ao ver fotos do Cebola com Carmen, tão satisfeitos um com o outro. Viu muitas fotos de casais que nem estavam mais juntos. Viu pela primeira vez o Quim, ex namorado de Magali e sentiu tanta raiva que apertou o celular.

Ao correr para a sala, trombou com Cascão, que também estava atrasado.

— Opa! – Cascão a segurou pelos braços. – Calma, morena.

— Desculpa! – riu e se afastou.

— Estranho te ver atrasada. – comentou sorrindo e a deu um empurrãozinho com o cotovelo. – Achei que ia te ver chegando com o Cebola hoje.

— Ah, sobre isso... – Mônica riu sem graça.

— Você não tem que me falar nada, está tudo bem. – Cascão piscou para ela. – É que tem muita gente que torce para o Cebola arrumar alguém.

— É mesmo? – olhou para o relógio da parede. – Quem?

— Eu. – disse. – Os amigos, sabe como é.

Mônica sorriu e fez que sim com a cabeça, mesmo que no fundo não tenha entendido muito bem o que Cascão quis dizer. “Sabe como é?”, se questionou sobre isso enquanto entrava na sala e pegava seu caderno. Acabou por prestar atenção nas aulas até a hora do intervalo.

— Vocês nem saíram então? – Magali perguntou com o semblante triste. – Af, achei que ia ouvir histórias de sei lá... Uma noite quente com o atacante do time?

As duas riam muito ao conversar sobre o dia anterior. Mônica não conseguia segurar as risadas ao ouvir Magali falando daquele jeito.

— Engraçado, nem um beijinho? – ela ainda tinha esperanças.

— Não, só de boa noite. – Revirou os olhos para o rosto dela. – Na bochecha.

— Que chato. – Magali comentou. – Agora que o Quim não está mais aqui, preciso que alguma de vocês namore! Quero ver vocês igual eu era quando conheci ele.

— Mas achei que vocês eram namoradinhos de infância. – isso fez Magali rir.

— Eu digo isso mais por hábito. – e depois concordou. – Nunca fiquei daquele jeito com o Quim, sabe. Borboletas na barriga, vergonha, nada disso.

— Olha ali. – uma cena chamou atenção das duas.

Era Marina vindo em direção a elas, mas uma Marina completamente diferente. Não só seu ar havia mudado, mas seu cabelo também. Mônica ouviu Magali dar um gritinho e bater palmas, mas tudo que conseguiu fazer foi observá-la.

Seu cabelo castanho, antes longo, agora estava muito mais curto e cheio, fazendo seus olhos claros se destacarem. E ela podia sentir a mesma aura que teve há alguns meses, quando ela mesma cortou o cabelo.

— Ah. Meu. Deus. – Magali disse quando ela se sentou na frente das duas. – Que linda, amiga! Ainda não estou acreditando!

— Uau. – Mônica soltou, enquanto sentia-se um pouco nostálgica. – Você está muito linda, Marina.

— Obrigada, meninas. – Marina sorriu e suspirou. – Nossa, estou tão mais leve agora.

— Tirou um peso das costas, não é? – Mônica perguntou e Marina acenou com a cabeça. – Se sente melhor agora?

— Com certeza.

— Olha só! – Denise se enfiou entre as duas, para tirar uma selfie com Marina. – Devo dizer isso porque gosto de você, mas ficou definitivamente um arraso! Depois desse corte, pensei até que era modelo.

— Como assim?

— Aquele cabelão era lindo, um charme! – Denise disse um pouco emocionada. – Mas te escondia, escondia esse corpo lindo que você tem.

— Nisso eu concordo. – Mônica e Magali concordaram.

Marina tinha a cintura fina e quadris largos, algo que alguém só notaria se estivesse prestando muita atenção, porque seu cabelo era tão longo e volumoso que fazia seu corpo ficar em segundo plano. Com o cabelo curto, Marina usava um vestido verde curto que mostrava sua tatuagem no braço e sandálias sem salto pretas.

— Fica bem aqui, em pé mesmo. – Denise a segurou e todas riram. – O povão precisa admirar.

— Vamos, Denise. – Magali a segurou pela mão. – O professor já deve estar em sala. Tem aula agora, Mô?

— Não. – Mônica acenou para as amigas, que já estavam do outro lado do pátio. – Só depois do almoço.

— Ótimo. – Marina se sentou e sorriu. – Agora você pode finalmente me falar TUDO.

— Tudo? – Ela riu sem graça.

— Sim, tudinho. – cruzou os braços. – Achou que ia se livrar de mim?

— Ah, mas não tem nada para contar...

— Mônica! – Marina reclamou e soltou um suspiro. – Somos amigas ou não?

— Somos.

— Você tem que saber que pode contar comigo para tudo. – Marina sorriu e a encarou. – Do mesmo jeito que eu vou te contar as coisas.

— Tudo bem. – levantou os braços em rendição. – Eu e o Do Contra somos amigos, é isso.

— Amigos?

— Sim, não sei te explicar isso, mas eu gosto muito dele. – Mônica confessou, um pouco tímida. – Gosto de estar perto dele e de conversar com ele.

— Esse “estar perto” inclui beijos e sexo por acaso? – Marina disse e riu da expressão de Mônica. – Está dizendo que quando vi vocês, ele no seu apê, não estava rolando nada?

— Não! – Mônica ria e abanava as bochechas, que estavam vermelhas.

— Ora... – Marina a encarou. – Que diferente. Nunca vi isso antes.

— É porque... – Mônica respirou fundo antes de falar. – Eu meio que não estou emocionalmente disponível para gostar de ninguém agora.

— Af, que tédio, Mô. – Marina fez um biquinho. – Mas por que?

Ao perguntar isso, Mônica fez uma expressão que Marina nunca tinha visto. Ao longe, alguém tropeçou e deixou o lanche cair todo no chão, arrancando risadas. Marina franziu o cenho.

— É que... – Mônica não encontrava palavras. – Bom...

— Se não quiser falar, tudo bem. – sorriu. – Não precisar ser agora.

— Marina, tudo bem. – ela colocou o cabelo atrás da orelha. – Olha, eu não tive uma adolescência comum. Mas eu namorei esse menino, e nosso término não foi calmo.

— Você ainda gosta dele?

— Não é tão simples assim. – Mônica olhou para o lado. – Eu queria que fosse.

— E como ele era? – Marina perguntou, curiosa. – Para te deixar aérea desse jeito, tinha que ter pelo menos uns 25cm.

— Marina! – riu e arregalou os olhos. – Ah, sei lá. Acho que foi mais coisa de adolescente. Porém sinto que ele me marcou de certa forma.

— Todos nós temos nossas cicatrizes, Mô. – A expressão de Marina deixou-a sem palavras. – Mas não deixe essa única cicatriz te impedir de viver uma paixão nova.

Se despediram e Mônica foi para sua aula. Tentou prestar atenção, anotava tudo que o professor falava, mas sentia na sua boca um gosto amargo junto com toda a nostalgia que sentia. Tamborilou os dedos impaciente, acabou por ir embora dez minutos mais cedo.

Sua respiração estava ofegante, mas não tinha feito nada mais que pegar sua mochila e sair da sala. Passou as mãos na sua roupa, sentindo o tecido um pouco úmido.

“Agora não, agora não...”  Sentia os calafrios subirem pelo seu corpo, sua mente ficando turva. De repente não sentia mais nada. E tudo que ela precisava era de uma seringa de novo.

.

— Estou muito orgulhosa de você, Mônica. – Era a médica quem falava. – E você devia estar também.

O silêncio no quarto era tamanho que dava para ouvir o barulho de crianças rindo uma rua depois da clínica.

— Não está orgulhosa?

— Sim. – sua voz saiu baixa.

— Está sóbria tem sete meses.

Mônica olhava fixamente pela janela que estava do outro lado do quarto. Não queria falar com a médica, só queria ficar sozinha.

— Sua mãe e eu temos discutido sobre sua alta. – Aquilo chamou a atenção de Mônica.

— Eu vou sair daqui? – segurou o braço da cadeira com força enquanto seus olhos se encheram de água.

— Depende muito. – Ana Paula a olhava por trás da lente de seus óculos. – Você acha que está pronta?

Alguns meses antes teria respondido tão rápido quanto poderia. Mônica reconheceu aquilo enquanto olhava para ela. Na sua mente, sair daquele local e encontrar seu namorado era seu maior objetivo, era para isso que ela vivia.

Não sabia quando isso tinha mudado. A percepção disso a atingiu em cheio, e ficou tão chateada que apenas olhou para a janela de novo. Só queria ficar sozinha, era pedir demais?


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