Fantasma escrita por Dama das Estrelas


Capítulo 1
Sendo o que não queria ser - Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Oi novamente!

Baseando-me numa história anterior sobre uma garota que não queria ser mais uma heroína, eu "ampliei" a ideia e a tornei mais "radical". Eu gostei bastante do resultado e resolvi postar. Espero que gostem, boa leitura ♥



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Sou um ser bizarro. Nasci com um dom que me permite ser algo extraordinário e fazer coisas que nenhum outro ser humano comum pode. Sou tudo aquilo que milhões queriam ser. 

Sempre recebi esse estigma como um presente; afinal, quem mais não iria aproveitar as habilidades que tinha para ter uma vida fantástica? Conviver com esse dom me fazia pensar que era importante, mais importante que os outros. Quando criança dizia para todos que era especial e ninguém acreditava. Se por acaso tentasse mostrar meus poderes o castigo era promessa cumprida. Eu como uma jovem não seria louca de provocar meus pais, mesmo não tendo a mínima ideia de que era centenas de vezes mais forte. 

Aquele tempo foi bom, até. A ingenuidade e ignorância foram as minhas melhores amigas. Vivia numa bolha, alheia a tudo o que ocorria no mundo lá fora, era um mundo, um universo particular da qual eu aproveitei bastante ou acho que aproveitei bastante. 

Todavia, como todo conto de fadas tinha fim, o meu terminou quando cheguei à fase da responsabilidade. Sentir o vento no rosto e desfrutar da (falsa) sensação de liberdade foi apenas ilusão passageira. "Você tem poderes, faça algo de útil!". Achei que era uma brincadeira, uma provocação a mim, já acostumada a recebê-los. Mas, não, não era um pedido, era uma ordem. Nasci com poderes então tinha a obrigação de salvar as pessoas. O problema era esse. 

Maldito foi o dia em que me descobri diferente dos outros. 

Eu não queria salvar pessoas. Só queria viver uma vida normal com gente normal, o que já não era fácil pra mim. Eu discuti, gritei, tentei me afastar, mas não adiantou. Fui obrigada a sair mundo a fora para salvar pessoas que não conhecia. Nunca pensei em me arriscar numa profissão de salvar vidas. Não tinha trejeitos de policial, médica ou bombeira e nunca pensei em ser, mas tive que ser. O medo começava todas as vezes em que eu voltava para casa e tinha de sair à noite. Eu tinha medo de morrer, sim. Horrível imaginar que a chance de perder a vida enquanto salvava alguém que eu nem conhecia era possível. Ser baleada, atropelada, bater a cabeça tão forte que entraria num coma para nunca mais acordar; afogada, sufocada pela fumaça de um incêndio ou carbonizada. Gente da minha idade não merece sofrer esse tipo de preocupação. 

Eu não era alguém que saía para uma ronda sem máscara, claro que não! Eu tinha uma roupa, sim, era uma heroína de verdade! Meu super-traje era um moletom branco com capuz, um lenço branco para cobrir parte do meu rosto e um óculos de proteção, daqueles com elástico que dá pra comprar numa loja por aí. Qualquer calça e tênis serviam pra compor o meu "visual", mas era sempre o branco a cor que predominava. Imagine alguém usando branco voando tão rápido por aí “assombrando” pessoas à noite! Ganhei o apelido de Fantasma; pelo jeito virei assunto na boca das pessoas. 

Sair andando ou voando por aí era um trabalho estressante, entediante, desgastante. Às vezes não acontecia nada e voltava para casa irritada sabendo que perdi meu tempo, às vezes eu voltava irritada por que tive um trabalho que consumiu toda minha força. Se eu ganhasse dinheiro sendo uma heroína valeria mais a pena porque eu ainda precisava estudar para me formar e ser "alguém na vida".  

Não foi uma vez que tive vontade de largar tudo e viver bem longe dali com outra identidade e não foi a primeira vez que pesquisei inúmeras vezes por uma "cura" dos meus poderes. Queria nascer de novo e ter uma vida simples onde não seria pressionada o tempo inteiro a salvar pessoas. Eu era cobrada a todo instante por todos à minha volta e por mim mesma, inclusive. 

Todos as manhãs eu questionava o motivo de estar ali. O porquê de nascer com esse poder, qual o motivo, o propósito... não da minha existência, mas daqueles poderes. Carregava em minhas mãos a força capaz de transformar toda a realidade em minha volta. Tirar governantes à força, eliminar quem eu quisesse, obrigar a todos a me obedecerem... Seria um convite a um banquete real, uma oferta tentadora. Pessoas fariam de tudo para ter o que eu tinha ou ao menos me ter como aliada. Podia fazer tudo o que quisesse. 

Entretanto, todos esses pensamentos se apagaram quando houve aquele dia. Eu matei uma pessoa.  

É, eu matei alguém e foi com as próprias mãos, ou melhor, com o punho direito. Nunca vou me esquecer do dia em soquei o rosto de um criminoso tão forte que ele bateu a cabeça na parede caiu inconsciente. Nem deu tempo de socorrer, morreu ali mesmo. 

Fui uma verdadeira "heroína". As pessoas ao meu redor me aplaudiram por dias, fui o assunto na boca de muita gente. Todos estavam contentes, afinal, eu impedi um crime e o responsável estava morto. É... todos estavam bem, menos eu. Nunca tinha matado alguém e foi a pior sensação do mundo. Tornei-me homicida.  

Disseram que os sentimentos ruins iriam passar logo, porém não passaram, eles se amontoaram dentro de mim e começaram a me sufocar. Enxergava tudo em vermelho. Cada pessoa perto de mim era possível vítima de minhas próprias mãos. Eu era um perigo para mim mesma se não tivesse cuidado. Matei uma pessoa com uma arma e esta arma era eu mesma. Eu nasci uma arma e morreria como uma. Vim ao mundo com um destino carimbado na minha testa antes mesmo de saber falar. Era isso mesmo? 

Eu passei muito, muito tempo acreditando que deveria aceitar quem eu sou. Gritei aos quatro cantos, gritei tão alto que ninguém pôde me ouvir. Minha garganta sangrava de tanto lamentar e lamuriar e já não haviam mais lágrimas para serem derramadas. Só havia uma escolha para mim e meus poderes. Aceitar. 

Realmente... aceitei. Parei de brigar contra meu próprio corpo e usar o que tinha para realizar um desejo. De tantas coisas que almejei, aquela era a conquista que daria a minha vida para realizar.  

Chega de heróis. Chega de experiências. Chega de bebês que nascem com o destino já planejado. Eu não apenas sentia, mas tinha a certeza de que não fui a única. Fomos cobaias, frutos da ganância humana destinados a servir e a morrer por uma causa egoísta.  

Eu vou destruir tudo isso. Os culpados vão pagar. 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!



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