Stranger Tales from Stranger Things escrita por ohmyrahrt


Capítulo 19
The Everyday Story of a Smalltown - Parte 4




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El ouvia a mesma música pelo que ela julgava ser a milésima vez. Com o aparelho de rádio entre o encosto e sua cabeça, deitada no sofá ela comia um eggo devagar e encarava o teto. O calor das cobertas era reconfortante e a dor que ela sentia nesse momento não era nada comparada ao que ela sentira no dia anterior. Ainda assim achava melhor esquentar um pouco de água para colocar naquela bolsa feita para isso.

Um sorriso em seu rosto insistia em se formar a cada vez em que ela se imaginava dançando novamente com Mike naquele que fora o ponto alto de todo o seu ano. Todas as vezes em que ela se lembrava de ele ter feito a promessa de que os dois iriam ao Snow Ball juntos, ela sentia seu coração se agitar um pouquinho. Era uma sensação muito boa aquela.

Ela se levantou, quando a música terminou, e foi até a cozinha aquecer a água. El não tinha deixado a fita chegar até o fim ainda, sempre acabava voltando para aquela primeira música que lembrava a ela da sensação de ter Mike por perto. E foram necessárias várias tentativas até ela entender como o mecanismo funcionava, mas uma vez que entendera, ela começou a voltar a fita a todo o momento, assim que aquela música terminava. A música seguinte era boa, mas não tão boa quanto a primeira. Mas de onde mesmo Hopper havia tirado aquela fita? Bem, era difícil saber. Ele teria dito isso a ela antes de sair de manhã? Ela se lembrava de ele ter falado mais algumas coisas, mas não sabia direito o que, não havia entendido direito, estava com muito sono quando ele batera em seu quarto.

A garota colocou a água para aquecer e retornou ao sofá. Voltou a música mais uma vez, e depois de tantas vezes voltando já sabia mais ou menos por quanto tempo pressionar aquele botão. Apertou o play, se sentou no sofá, fechou os olhos e voltou a se imaginar no baile. Se tudo desse certo, depois da conversa de ontem, talvez, talvez Hopper a deixasse jogar com eles. E isso significava muito mais do que apenas jogar. Significava estar perto de Mike, e dos outros, mais uma vez.

Will caminhava apressado tentando escolher bem onde pisar para não escorregar. Se lembrava bem de não ter feito isso na noite anterior e, não fosse sua mãe, certamente teria sido um belo tombo. Ainda que durante o dia fosse um pouco mais fácil enxergar, precisava confiar em todo o seu senso de direção, mesmo que parte dele estivesse seguindo o caminho praticamente por instinto. Talvez aquela noite em que ele, bem, não era ele estivesse guardada em algum lugar do seu inconsciente e ele conseguisse saber o caminho se baseando também no seu... olfato? Mais ou menos como um super poder? Mas... super olfato? Que super poder super inútil. Ele riu ao pensar isso.

— O que foi, cara? - Dustin perguntou. Estava logo ao seu lado e o viu rindo.

— Nada. - Ele respondeu tão depressa quanto andava. - Estava pensando em uma coisa que a Jenny me disse ontem... - O que era uma meia verdade. Ele não estava rindo por conta de nada que ela dissera, mas não parava de pensar nela.

— Parece que o Byers está namorando então, hã! — Lucas disse, vindo mais atrás no grupo.

— Não, cara, não é assim... - Will logo contrapôs. - Nós vamos sair de novo na sexta e tal, mas não temos nada assim ainda, eu acho.

— ‘Ainda’ - Dustin disse gesticulando, fazendo as aspas com as mãos.

Os garotos riram, Exceto Mike. Ele parecia distante, apenas seguindo os passos de Will.

— Ei, Mike, nós vamos encontrar a cabana, ok? - Lucas disse ao garoto ao perceber que ele não se pronunciara. Mesmo que ainda não concordasse 100% com o plano, já estavam nele. Não adiantava não seguir em frente agora.

— Eu sei, eu sei. - Mike respondeu a contragosto sem desviar o olhar do chão, tentando não pisar nos gravetos maiores que insistiam em despontar pelo caminho. - Eu só quero... - Seu pensamento estava longe, apesar de tudo. Ele tinha muita coisa a perder arriscando aquilo. Agora, pensando enquanto finalmente conseguira colocar o plano em prática, apostar no sucesso dele parecia muita tolice. Os dedos das suas mãos ainda seriam poucos para contar todas as possibilidades de falhas que poderiam acontecer. - ... só quero encontrar a El logo e...

— E nós vamos, ok? - Dustin falou. - Nós vamos. Não viemos até aqui para fracassar nessa aventura.

— A menos que tiremos um 4 no dado novamente... - Lucas brincou e os garotos deram risadas fracas. Sabiam que aquela era uma possibilidade, não literalmente, mas bem real. A palavra ‘arma’ ficava indo e vindo na cabeça do garoto e ele apostava que da dos outros também. E, apesar de tentarem manter o clima de descontração, não havia como negar que a tensão entre eles era quase como um quinto membro caminhando bem no meio.

Seria impossível seguir ali com as bicicletas. Se o tivessem feito certamente demorariam mais que o dobro do tempo. As folhas apodrecidas somadas à umidade deixavam o chão muito liso. Os garotos resolveram prestar atenção nisso quando o silêncio começou a se instaurar entre eles e a única coisa que podia ser ouvida era o resvalar das folhas e dos gravetos menores naquela trilha que chamavam de caminho.

Sentada no sofá, com a bolsa de água quente devidamente posicionada, El estava assistindo TV. Dez minutos antes ouvira aquela música pela última vez e, mesmo sabendo que poderia a ouvir pelo resto do dia sem se cansar, achou melhor fazer outra coisa. Distrair a cabeça com a TV seria suficiente por hora. Pensar no baile e em Mike e no natal e no tal jogo que ainda nem jogara, no início fora divertido; depois, começou a angustiá-la. Hopper a prender em casa era algo que ela ainda não conseguia lidar, mesmo tentando trabalhar isso em sua cabeça todos os dias. Sempre terminava com algo como ‘mas ele não fica aqui o dia todo sozinho’ ou ‘mas ele tem várias pessoas para conversar’ ou ‘mas ele pode fazer coisas diferentes todos os dias’ e outras variantes que ela não queria se lembrar para não se angustiar ainda mais e começar a se enraivecer.

Mudava os canais com um aceno de cabeça, nada conseguia prender sua atenção de verdade. Quando achou um canal que julgou ser o menos pior, se pegou cantarolando a música um segundo depois e sorriu. Cobriu o rosto com uma almofada e se deitou no sofá. A montanha russa de sentimentos não diminuía de intensidade, as sensações destoantes resultavam em uma grande vontade de abrir aquela porta e seguir até a casa de Mike, mesmo que ela não soubesse dizer exatamente porquê. E lá foi ela de novo, aquele monte de sensações e sentimentos que ela não saberia dizer onde começavam e terminavam, todos eles misturados flutuando em sua cabeça como ela flutuara naquela piscina, só que dessa vez sem a voz de Joyce servindo para guiá-la.

Mike havia mudado tanto, ela pensava, ele havia crescido tanto. Quando o abraçara já não conseguia mais olhar na direção de seus olhos sem ter de erguer a cabeça. E seu corpo, ele não era mais aquele menino que a encontrara na noite em que Will desaparecera. Bem, os dois já não eram mais aquelas crianças. A maneira como ele a segurara no baile, ela reparava agora, tinha sido diferente. Havia mais do que o carinho usual das outras vezes... havia algo que...

POW!

Eleven se sentou assustada no sofá, jogando a almofada longe. Aquele barulho, não muito distante dali... ela já o ouvira antes, mas onde? Sua mente trabalhou numa velocidade absurda e ela sentiu um leve desconforto. Se levantou num pulo quando entendeu o que estava acontecendo.

Era a armadilha de Hopper.

Alguém se aproximara da casa.

Alguém estava do lado de fora.


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