Stranger Tales from Stranger Things escrita por ohmyrahrt


Capítulo 10
That's Really Super, Supergirl




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16h55m

Mike desceu até o porão e se sentou no sofá encarando a mesa onde seus livros e anotações estavam. Will havia acabado de ir embora e agora ele estava livre para pensar com calma. O fato de ele precisar tirar Eleven de casa para jogar rodava em sua mente da mesma forma como às vezes um passarinho acidentalmente fica preso dentro de casa e não consegue achar a saída. Parecia simples, parecia fácil. Só que não era. Pensar nisso estava o deixando com dor de cabeça.

Se levantou e foi até a mesa, se sentou na cadeira que ocupara durante quase toda a tarde e ficou olhando as anotações antes de guardá-las.

Pensar em El jogando com eles o animava. Conseguia imaginar o sorriso ansioso que ela sustentaria enquanto ouvisse-o contando a história e falando dos personagens. Conseguia imaginar os dois lado a lado na mesa trocando olhares durante o jogo. Conseguia imaginar, logo após o fim da campanha, quando todos já tivessem ido embora, os dois sentados na cabana conversando sobre a aventura e rindo, juntos. Conseguia imaginar os olhos dela cada vez mais próximos aos seus quando seus lábios finalmente se tocassem de novo e...

— Mike! Você pode vir aqui, por favor? - Karen o chamou o despertando de seus devaneios.

— Já estou indo! - Ele respondeu, irritado.

 

— O Mike me pediu para ver se você conseguia fazer uma mix com as músicas do baile. - Will lembrou de pedir a Jonathan, quando desciam do carro.

— Eu não devo ter todas elas, mas acho que consigo sim. - Jonathan respondeu enquanto trancava o carro e seguia atrás do garoto.

— É, eu disse isso a ele, e ele disse que não tinha problema. Ele quer dar de presente para a El. - Will disse ao irmão ao entrarem em casa - Mãe? Chegamos! - Ele chamou.

— Oi queridos, estou fazendo a pipoca! - Ela disse da cozinha.

Eles tiraram os casacos e se sentaram no sofá, esperando por ela.

— Posso ver o que consigo sim, amigão. Mais tarde eu olho com calma e te falo.

— Beleza! - Will respondeu.

— Hora do filme! - Joyce chegou na sala trazendo a pipoca. - Espero que gostem do que escolhi hoje...

Os garotos pegaram as vasilhas de pipoca e Joyce deu play se sentando no meio dos dois.

 

Eleven estava deitada no sofá com as costas e a cabeça no acento e as pernas esticadas no encosto. Estava imersa no mais profundo tédio, contando todas as imperfeições que o teto apresentava, enquanto ouvia qualquer coisa que passava na TV.

Hopper não havia dado previsão de que horas voltaria, apenas que não demoraria. Mas isso ele dizia todos os dias, era difícil saber quando isso era verdade ou não.

Se ajeitou no sofá se sentando normalmente. Desligou a TV com um sutil movimento de cabeça. Olhou em volta. Bufou. Não havia mais nada que ela pudesse fazer? Olhou para a pia na cozinha, estava limpa. Olhou para a cama em seu quarto, estava parcialmente esticada, muito melhor do que ela deixava todos os dias. Olhou para a estante com as várias coisas de Hopper e soube que ali ela não devia mexer. Seus olhos então se interessaram por algo que ela não usava muito, nem ultimamente e menos ainda sozinha. Se levantou e foi até lá.

Não entendia muito bem a dinâmica da coisa como um todo. Sabia apenas que daquela placa preta redonda saía música e ela ouvia às vezes com Jim, principalmente quando ele estava animado. Por mais que agora fizesse muito tempo que os dois não ouvissem, já que ele parava pouco em casa, ela se lembrava de ele claramente dizer para ter cuidado, pois aquilo podia arranhar facilmente. Tudo bem, ela teria cuidado.

Procurou pelo botão que ligava o aparelho. Apertou o maior que encontrou e a mágica aconteceu: a placa começou a girar. Sorriu, contente. Mas não havia som. Coçou a cabeça, abaixando-a ao nível da placa que girava, com os olhos procurando entender o que estava faltando. Quando notou que a vareta que deveria estar em cima da placa não estava, pegou-a pela ponta, o que fez um som alto. Ela se assustou e soltou a vareta que fez um som mais alto ainda ao bater na superfície. Se afastou por alguns segundos e depois entendeu que era por isso que Jim dizia para ter cuidado. Se aproximou novamente e pegou a vareta com mais delicadeza em outro lugar e a colocou devagar em cima da placa que girava. Agora sim! Havia som!

Se viu dançando aquela música que Jim colocara no primeiro dia quando eles chegaram em casa. Não havia muito ritmo nem muita coordenação a princípio, ela só queria dançar. Pegou a vassoura e começou a varrer junto da música. Outra música começou a tocar e ela foi até o canto da cozinha e veio varrendo sem muita preocupação. Varreu a sala mais ou menos, apenas para ter o que fazer enquanto ouvia as músicas. Outra música começou a ela resolveu varrer seu quarto também. Logo a casa toda estava varrida e ela se viu prestando atenção em uma música lenta que havia começado a tocar. Aquela música não daria para dançar enquanto varria.   

Ouviu a batida de Hopper na porta e a abriu. Permaneceu no mesmo lugar, apenas segurando a vassoura e ouvindo música.

Ei... o que deu em você, garota? - Ele perguntou curioso, tirando o casaco e o chapéu e os pendurando no gancho da parede.

— Essa música me fez lembrar uma das que dancei no baile... com Mike. Você tem ela aqui? - ela jogou a vassoura longe, se aproximando da caixa com os discos.

— Calma, calma... - Ele a segurou pelo ombro, gentilmente. - Eu não sei qual música é e vamos comer primeiro, depois posso ver se tenho, ok?

— Ok... - ela concordou.

— E o que deu em você? - Ele voltou a perguntar pegando a vassoura e colocando-a encostada na parede.

— Estava cansada de assistir TV e não tem nada para fazer aqui...

Ele se aproximou da geladeira, pegando uma cerveja e logo depois os potes com o que Joyce havia mandado da ceia do dia anterior.

— Você comeu a torta toda sozinha?! - Ele se surpreendeu. Queria rir, mas manteve a expressão carrancuda no rosto.

— Estava gostosa! E Joyce disse que ia arrumar a torta para mim, então pensei que eu pudesse comer! - Ela cruzou os braços e imitou a expressão que ele tinha no rosto.

Jim sorriu de lado e deu um gole na cerveja. Pegou os potes e foi colocando em cima da mesa.

— Tudo bem, garota, você podia ter comido sim, claro. Mas acho que você terá no mínimo uma dor de barriga por ter comido tudo de uma vez.

— Não tem problema. - Ela disse, dando de ombros. - Estava boa.

Hopper riu e ela riu também. Se juntou a ele ajudando a tirar da geladeira o que fossem esquentar para comer.

 

Mike cansou de se revirar na cama pensando em um jeito de conseguir fazer Eleven jogar com eles. Virou para o lado e pouco tempo depois estava cochilando. Sonhou que El estava no porão, como naquela primeira noite quando se conheceram. Ela dizia a ele que não queria ficar sozinha, que estava com medo das pessoas ruins, se ele não poderia ficar lá com ela, com as luzes acesas, pois ela tinha medo... Aquele sonho o fez sentir algo estranho, uma sensação recorrente que vinha sentindo, mas que não sabia dizer exatamente o motivo. Acordou num susto momentos depois no meio de um sonho onde ele estava novamente caindo depois de Troy o ter obrigado a pular.

Se levantou, foi até o banheiro e jogou uma água no rosto. Se encarou no espelho. Se ao menos pudesse vê-la poderiam pensar juntos em um jeito de ela jogar com eles.

Saiu do banheiro e foi até a cozinha. Viu sua mãe ajeitando as coisas para o jantar.

— Mãe?

— Sim, Mike? - Karen respondeu enquanto fazia um suco para Holly.

— Você sabe aquela torta que você fez ontem? Para levar para Sra Byers?

— Sei sim.

— Eles adoraram!

Ah! Fico feliz que eles tenham gostado.

— Inclusive, você acha que consegue fazer outra?

— Agora? - Karen olhou para o garoto, aturdida.

— Não, não! - ele ergueu as mãos, rindo.

Ela arqueou as sobrancelhas e deu a volta na bancada, parando próxima ao filho.

— Mas talvez essa semana? - ele arriscou.

— Se você me disser o porquê, quem sabe eu possa. - Ela sorriu para ele pegando o suco e indo até a sala onde Holly estava com Ted.

Mike a olhou se afastar e mordeu o lábio inferior, pensativo. Essa era mais uma questão para resolver, e que ele resolveria depois.

Subiu as escadas de dois em dois degraus e foi até o quarto de Nancy. Bateu na porta.

— Pode entrar!

— Nancy... - Ele abriu a porta entrando e logo a fechando novamente.

— Ah, não, Mike. É a segunda vez que você precisa de alguma coisa em dois dias! - Ela se sentou mais reta na cama. Estava lendo alguma coisa antes de ele entrar no quarto.

— Dessa vez não vai te custar nada, eu prometo! - Ele se sentou na beira da cama e a olhou suplicante.

— Fala, o que houve? - Nancy colocou o livro cuidadosamente aberto no travesseiro para não desmarcar a página que estava lendo.

— Você se lembra como chegar na casa do Delegado Hopper?

— VOCÊ ESTÁ LOUCO? Perdeu o juízo? - Ela se sobressaltou. - Para que você quer saber isso? Não vai me dizer que é para ir atrás dela...

— O que tem de errado em querer vê-la? - ele se justificou - Imagina se não te deixassem ver alguém que você gosta e você soubesse que essa pessoa passa a maior parte dos dias sozinha e trancada e sem poder sair e sem fazer nada...

Nancy sorriu.

— O que? - Ele perguntou ao vê-la sorrindo.

— Alguém que você gosta?

Mike corou.

— Qual é, Nancy.

Ela deu de ombros.

— Só achei bonitinho.

Ele rolou os olhos.

— É sério... você sabe como chegar lá?

— Não, Mike, não vou te ajudar nessa, lamento.

— Mas...

— Mike, não! Eu entendo que você queira vê-la e entendo sua preocupação, mas não faz o menor sentido você arriscar o esconderijo dela por isso.

— Mas...

— Ela está protegida.

E entediada.

— Mas está viva. Isso é o mais importante.

— Você não entende. - Ele se levantou indo até a porta.

— Mike, - ela se levantou rapidamente e foi até ele, segurando-o pelo ombro. - eu entendo. - E puxou o irmão mais novo para um abraço. - Você prefere pensar nela entediada ou, na melhor das hipóteses, fugindo de pessoas como aquelas do laboratório?

Mike a abraçou de volta e respirou fundo. Em algum ponto dentro de si conseguia agradecer Nancy pelas palavras de sensatez, porém não era o suficiente.

Teria de ser mais radical.

— Crianças! - Karen chamou. - O jantar já vai ser servido!

Os dois se afastaram e Mike saiu do quarto, sem falar nada.

 

— Will, eu consegui algumas músicas. - Jonathan entrou no quarto do irmão mais tarde naquela noite, trazendo consigo uma fita k7.

— Legal! - Will encostou os livros de D&D e pegou a fita. - Mike vai gostar, obrigado.

— Por nada, amigão. - Jonathan se sentou na cama com o irmão. - Estou indo lá na Nancy, quer que eu leve a fita para ele de uma vez?

Will pensou um pouco e a devolveu a Jonathan.

— Sim, acho que não tem problema.

Jonathan a colocou no bolso do casaco.

O telefone tocou. Joyce atendeu.

— Will? - Ela chamou.

Os dois irmãos trocaram um olhar.

— Sim? - Ele respondeu, se levantando e indo até o corredor.

— Telefone para você, querido.

Ele foi ao encontro de sua mãe.

— ‘Pra mim? - Estranhou.

— Sim - ela ia dizendo segurando o fone. - Jenny Collins. - E sorriu, ansiosa.

Will pegou o fone olhando para a mãe e depois olhando para trás, tinha certeza de que veria Jonathan parado olhando para ele. E estava certo.

— Alô? - Will atendeu.

Jonathan passou por ele e bagunçou o cabelo do irmão mais novo. Deu um beijo em sua mãe e se despediu dizendo que ia na casa da Nancy.

 

— Estou cansada de assistir TV hoje... - Eleven se levantou, se espreguiçando.

— Tudo bem, garota. Pode ir dormir. - Hopper deu um gole em sua cerveja. - Eu vou daqui a pouco também.

— O jantar estava ótimo, podia ser assim todos os dias. - Ela disse ao ir para o quarto. - Boa noite.

— É, podia. - Ele sorriu em resposta. - Boa noite.

Jim Hopper a viu fechar a porta e suspirou dando mais um longe gole para matar aquela cerveja. Ele poderia se acostumar a um jantar que não fosse aquele que eles comiam todos os dias, podia se acostumar a jantar com Joyce e as crianças... todos os dias... Aquela possibilidade o fez ficar pensativo por uns instantes. Achou divertido.

Eleven se sentou em sua cama e olhou para o quarto. Pegou o rádio e o ligou naquela frequencia que colocava quase todas as noites para se concentrar e encontrar Mike mais tarde, conversando com ela como fazia sempre.

Se deitou e ficou encarando o teto. Se lembrou da música que havia pedido a Hopper mais cedo. Pensou em levantar e ir lembrá-lo, mas resolveu que ela mesma faria isso amanhã, nem que tivesse que olhar todas as placas redondas uma por uma até encontrar a música do baile.

 

— Pensei que você nem viesse mais... - Nancy falou a Jonathan quando atendeu a porta.

— Me desculpe, meu irmão me pediu um favor que acabou se mostrando ser para o seu irmão.

Nancy franziu a testa. Estava curiosa.

— O que? - Ela abriu a porta e estendeu a mão para Jonathan entrar.

— É, o Will me pediu para gravar uma mix para o Mike. - E tirou a k7 do bolso, mostrando a Nancy.

— Mike! - Ela chamou o irmão enquanto fechava a porta. Não obteve resposta. - Vem, acho mais fácil ir até ele do que tentar tirar ele daquele porão...

Os dois chegaram até a porta do porão com Nancy ainda o chamando. Desceram as escadas e encontraram o garoto meio sonolento em cima dos livros na mesa.

— Mike? - Ela disse.

— Hm, oi? - Ele respondeu olhando de um para o outro, coçando os olhos. - Acho que cochilei.

Os dois riram e se sentaram junto a ele na mesa.

— O Will pediu para te entregar. - Jonathan estendeu a fira ao garoto. - Seu presente para a Eleven, acertei?

Mike acordou no momento em que pôs os olhos na fita.

— Você, como assim, já conseguiu? - Pegou a fita com um brilho nos olhos. - Valeu, Jonathan! - e o abraçou de lado.

— Vamos Jonathan... - Nancy disse se levantando.

— Aonde vocês vão? - Mike perguntou, olhando de um para o outro.

Os dois se entreolharam rapidamente.

— Não temos nenhum lugar certo para ir... - Nancy respondeu, meio sem graça. Não gostava da ideia de ficar dando satisfação a seu irmão mais novo.

— Talvez dar uma volta de carro, ouvir umas músicas... - Jonathan deu de ombros se levantando.

— Posso ir com vocês? - Mike perguntou se levantando em seguida.

— O que você quer dizer com isso? - Nancy estranhou, arregalando os olhos em surpresa. ‘Claro que não pode ir’ ela esperava que seu olhar o dissesse.

— Já que vocês não tem um lugar certo para irem, por que não podem ir passear perto da casa do Delegado Hopper? - Ele sugeriu, já se adiantando em sair do porão.

— De jeito nenhum! - Nancy respondeu ao garoto que já estava no meio da escada, subindo para sair.

— Que história é essa? - Jonathan quis saber. Não estava entendendo nada.

— É o seguinte, - Mike desceu as escadas até eles novamente - eu queria entregar essa fita à El, mas a Nancy não me diz onde a casa do Delegado fica...

— Não é isso! - Ela se apressou em dizer - Eu não quero que você estrague o esconderijo dela. Além do mais, acha mesmo que o Delegado vai ficar feliz se te vir chegando lá?

Mike rolou os olhos bufando.

— É, cara, Nancy está certa. A ideia não é boa. - Jonathan concordou.

— Mas estaríamos em três! Conseguiríamos ver se estivéssemos sendo seguidos ou qualquer coisa... - o garoto explanou já perdendo a paciência. - E ele não saberia que estaríamos indo lá... Posso chegar na janela dela e...

— Mike, - Nancy segurou o irmão pelos dois braços, olhando-o nos olhos - nós não iremos. É perigoso.

—Ele se soltou de Nancy e olhou de um para o outro.

— Obrigado pela fita, Jonathan. - Ele agradeceu friamente, subindo as escadas e sumindo das vistas dos dois.


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