Senhores da Guerra escrita por Ephemeron


Capítulo 1
Oneshot




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Era engraçado como tudo tinha começado. E na verdade todos nós já havíamos esquecido de que, além de ser a Deusa da Sabedoria, Athena também era uma Deusa da Guerra. Assim como Ares. Talvez não tão descaradamente violenta, mas tão cruel quanto.

 

Não sei ao certo quando eu percebi a gravidade de nossos atos. E possivelmente isso era apenas um artífice Dele, para que eu acreditasse em Suas palavras. Mas, em meus poucos momentos de lucidez, era difícil acreditar nos meus olhos quando eu avistava aqueles jovens aprendizes mortos e jogados em valas comuns, sem nem mesmo o direito a um vislumbre do orgulho que os fazíamos crer.

 

E eu estava no topo daquela hierarquia machista, mesquinha e que não tinha nada de pacifista. Absolutamente nada.

 

Nós nos utilizávamos da simplicidade, do analfabetismo, da ambição e do senso deturpado de justiça daquelas crianças para formar um pequeno exército que serviria aos deuses.

 

Será mesmo que os deuses precisavam de nós?

 

Existe alguém esperando por você
Que vai comprar a sua juventude
E convencê-lo a vencer

E, quando no meio dos grotescos pensamentos de Ares eu pude captar a existência de Athena nesta era, quando eu consegui enxergar que ela também não passava de uma menina, por alguns instantes eu desejei nunca mais acordar.

 

Desejei desistir. Mas até disso me privaram.

 

Privaram-nos todos de usufruir de nossas vidas medíocres, sem dúvida. Mas ao menos éramos livres, e não existências manipuladas como joguetes nas mãos do Olimpo.

 

E assim eu me via lançar “Satãs Imperiais” com freqüência assustadora, utilizando de um poder psíquico para obter controle. Amigos matavam amigos com facilidade aterradora. Mais assustador ainda foi perceber que cada uma das atitudes dentro das paredes do Santuário tinha reflexo fora de nossos muros.


Mais uma guerra sem razão
Já são tantas as crianças com armas na mão
Mas explicam novamente que a guerra gera empregos
Aumenta a produção

Sim, porque existiam reuniões com chefes de estado, com lideranças mundiais, com exércitos inteiros. Os deuses não costumam ser discretos. Eles desejam todas as atenções; suas vidas imortais são medíocres demais, já que precisam sempre renovar seus jogos, suas distrações.

 

Os cavaleiros e amazonas acreditavam piamente que a justiça estava em suas mãos. Mal sabiam eles... Apenas um monte de peças descartáveis nas mãos de poucos e poderosos.

 

Aquele sangue em minhas mãos já não enjoava-me mais. Alguma válvula de escape psicológico parecia ter se ligado. Os destroços, as mutilações e as mortes não me afetavam mais.

 

Tempos depois, eu tinha que me controlar enormemente para não gargalhar dos “Santos de Ouro” que inflavam-se a cada elogio dado pelo “Grande Mestre” do “Santuário”... Tão patéticos quanto eu mesmo, controlado como marionete. Estúpido e fraco como qualquer ser humano.


Uma guerra sempre avança a tecnologia
Mesmo sendo guerra santa
Quente, morna ou fria
Pra que exportar comida?
Se as armas dão mais lucros na exportação

E, mesmo com a esperança depositada naqueles que se diziam ao lado da justiça, ao lado da “verdadeira Athena”, eu percebia que nada mudava. Isso porque os métodos eram os mesmos.

 

Que paz era aquela que Athena vinha nos trazer? Ela também trazia o caos e a morte para os seres viventes!

 

Exatamente por não haver diferença alguma, eu sempre escutava um riso contido e cínico de Ares dentro de mim. Pois é, mesmo que fôssemos derrotados, ele ainda venceria.

 

As análises territoriais, os países e ilhas dizimados por ordens minhas, as vilas incendiadas e os assassinatos encomendados... Aos poucos eu fui entregando tudo para Ele.

 

Porque se Ela quisesse realmente a paz, outros objetivos seriam colocados em primeiro lugar. Não apenas tomar o Santuário de volta, como se fosse um espólio a ser readquirido. No fim, tudo era material. No fim, o ser humano nunca foi o que mais importava para Eles.


Existe alguém que está contando com você
Pra lutar em seu lugar já que nessa guerra
Não é ele quem vai morrer

Assim ficava fácil demais. Não era exatamente a menina Kido que tinha sido atingida por uma flecha, no entanto – engraçado – não seria exatamente Athena a vítima fatal, caso a arma perfurasse aquele coração.

 

Ares fazia questão de mencionar que sua essência era eterna, e que meu corpo era nada mais que um simples invólucro temporário.

 

Falando nisso, tempo era algo que não incomodava a nenhum Deles.

 

E os outros, todos os outros, se preocupavam tanto com aquelas “doze horas”! Tolice! Tudo era manipulado, esquematizado, calculado.

 

Triste. Muito triste essa nossa sina. Eu estava envergonhado.


E quando longe de casa
Ferido e com frio o inimigo você espera
Ele estará com outros velhos
Inventando novos jogos de guerra

Um a um eles caíram. Naqueles doze casas, naquelas doze horas, naquelas doze pessoas que acreditavam em suas próprias verdades. Mais mortes, mais tristeza, mais “vitórias” controversas.

 

E ele me fazia ver, me fazia participar de cada uma das batalhas. Porque, enquanto os Cavaleiros de Ouro eram derrotados, bombas explodiam no Iraque, greves gerais estouravam na América Latina e massacres étnicos se espalhavam pela África Central.

 

 Gostaria apenas de possuir mais um pouco de força de vontade para enfrentá-lo. Mas quem somos nós? Quem somos nós perante os deuses? O sofrimento do meu próprio corpo, mente e alma era apenas mais um detalhe daquele entretenimento olimpiano. Um detalhe deveras sádico, mas estava lá.

 

Minha dor não passava de um bônus mórbido para aqueles que nos olhavam de seus confortáveis tronos.

 

Que belíssimas cenas de destruição
Não teremos mais problemas
Com a superpopulação

 

E quando vi os olhos injetados de ira e ódio do rapaz com a armadura de Pégaso em minha frente, não consegui distinguir quem era Ares. Eu, ou ele.  Naquele momento, era certo que o objetivo fôra alcançado.

 

Nos meus poucos momentos de lucidez, tentei avisa-lo com todas as forças. Contudo, até mesmo isso foi manipulado; até mesmo minhas palavras tidas como as corretas na verdade eram mais veneno dentro da mente daqueles meninos e meninas ingênuos.

 

O ser humano é inocente, dentro de toda sua maldade. Não percebemos que fazemos exatamente o que Eles querem. Somos constantemente bombardeados por torrentes de informação que nos fazem agir pseudo-conscientemente. Supomos que nadamos contra a corrente do mundo, agindo por um lugar melhor.

 

Nada disso. Apenas dançamos conforme a música fúnebre que Eles tocam em suas poltronas confortáveis.

 

Enquanto ele me golpeia fortemente, enquanto observo a menina-deusa, esqueço que Athena também é Deusa da Sabedoria. E essa é a causa de nossa derrota.


Veja que uniforme lindo fizemos pra você
E lembre-se sempre que Deus está
Do lado de quem vai vencer

Porque a luta tinha saído das mãos do Senhor da Guerra.

 

Mas isso não quer dizer que a Guerra não tinha uma Senhora.

 

É degradante quando estamos no lado de dentro da esfera de podridão. Ares não permaneceu no jogo por um motivo muito simples. Antes de morrer, eu consigo ver o rosto infantil do cavaleiro “herói”.

 

Ares não gosta de crianças.

 

Naqueles segundos finais eu penso que, ao menos, do pior eu fui poupado. Afinal, eu não presenciei algo mais aterrador do que aquilo que meu alter-ego proporcionou.

 

Ao final, vendo o sorriso sutil da moça de cabelos lilases me lembro que prefiro o verdadeiro ódio ao falso amor.

 

Longa vida à Athena.


O senhor da guerra
Não gosta de crianças
O senhor da guerra
Não gosta de crianças

FIM


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Notas finais do capítulo

N/A: Essa saiu praticamente psicografada numa tarde entediante dentro do trabalho em apenas uma hora e meia! Foi assim, nessa loucura que eu criei minha história mais revoltada de todas! Sempre quis fazer algo com essa música e graças à Madie e sua fic do Mestre Kristal eu acabei esbarrando na canção de novo e pimba! Saiu fic fresquinha!
Obrigada Madie pela inspiração e betagem! o
Não dói absolutamente NADA me deixar um review, querido leitor! Por favor, faça uma escritora feliz!
Abraços!



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