Manequim. escrita por libueno


Capítulo 1
Capítulo único.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/767446/chapter/1

Ambre tinha olhos turquesa, que combinavam com o colar que não tirava do pescoço. A marca de nascença que possuía logo abaixo do olho esquerdo - antes motivo de tantas noites viradas chorando - agora lhe dava um certo charme. Os dentes eram retos e brancos, isso sem nunca precisar usar aparelho. Mas a parte que mais gostava em si mesma eram as pernas. Ainda mais quando estavam como agora: nuas, jogadas sobre as pernas grossas e tatuadas de Castiel.

O garoto estava encostado na cabeceira da própria cama, coberto apenas por uma cueca preta. Os cabelos avermelhados estavam soltos, e caíam sobre seus ombros. A luz do sol entrava pela janela e iluminava algumas partes de seu corpo. Quando ele soprava a fumaça do cigarro, ela subia em espirais e dispersava, enchendo o quarto com o cheiro de tabaco.

Para Ambre, aquilo tudo parecia um sonho – e ela sabia que estava prestes a acordar, então queria aproveitar cada segundo que tivesse.

Ficou em silêncio, de olhos semicerrados, fingindo que estava dormindo. Caso o garoto percebesse que ela já havia despertado, a mandaria embora – como sempre. E, também, ela não queria dizer qualquer coisa que estragasse o momento. Esse era seu mal... nunca saber o que dizer. Ambre se sentia um fracasso ambulante. Fracassava na universidade, no emprego, com a família e em seus relacionamentos. Não possuía amigos nem qualquer pessoa com quem pudesse contar – mal conseguia olhar nos olhos de Nathaniel, pois sempre se lembrava de todos os anos em que o irmão havia sido abusado enquanto ela permanecia indiferente.

— Eu sei que está acordada. – Castiel murmurou.

Ambre ergueu a cabeça e se deparou com seus lindos olhos acinzentados, fitando-a de lado.

— Desculpe-me.  

— Ambre... – Castiel começou, pensando no assunto que tentou iniciar antes de a garota arrancar-lhe as roupas.

— Eu sei o que vai dizer. – Ambre interrompeu-o. – Eu vi Lynn. Falei com ela. Sei que ela voltou para ficar.

Castiel fechou os olhos e respirou fundo. Com as mãos ligeiramente trêmulas, acendeu outro cigarro e tragou profundamente antes de voltar a falar.

— Ela não me perdoaria se soubesse o que aconteceu entre nós. – disse rapidamente, como que para se livrar das palavras que o atormentavam. Em seguida, fitou-a longamente, com uma expressão repleta de culpa.

Ambre fez o máximo possível para manter a cara de paisagem. Após tanto tempo trabalhando como manequim, ela havia dominado essa habilidade. Engoliu todo o choro que lhe subia à garganta e deixou uma descompassada respiração lhe sair pelo nariz. E era isso. Uma única respiração era toda a dor que ela se permitiria demonstrar.

— Ninguém nunca saberá. – Prometeu.

Castiel pareceu ficar aliviado com a resposta, mas sua expressão continuava triste.

Sem suportar aquilo, Ambre levantou-se e começou a procurar as roupas que estavam jogadas pelo quarto. Castiel imediatamente repetiu o gesto, vestindo a própria bermuda.

— Eu não queria lhe chatear. Eu não deveria ter me envolvido com você... não dava para saber que ela ia voltar... eu fiquei tão triste quando ela se foi... E agora eu tenho a chance... – Ele dizia tão rápido que nem terminava as frases, tamanho seu desespero por encontrar uma explicação.

A garota não o respondeu, apenas terminou de colocar os brincos e dirigiu-se lentamente até a porta. Castiel novamente seguiu-a, direcionando-a ao portão.

— Me perdoe. Você é maravilhosa. Merece alguém que realmente goste de você.

Ambre concordou com a cabeça e abraçou-o. Não disse nada, mas acenou para ele quando atravessou a rua.

Voltou andando para casa, em silêncio.

A garota agora vivia em profundos silêncios. Tinha medo de falar qualquer coisa e afastar as pessoas – como fazia quando estava na escola. Aprendeu a fechar tanto a boca que parou de comer. No meio das crises bulímicas, onde tudo o que ela vomitava era suco gástrico, o que lhe salvava da completa insanidade era a esperança da possibilidade de um futuro com Castiel. E agora Lynn estava de volta. Doce. Adorável. Magra. Indiscutivelmente mais merecedora do afeto de Castiel – e de todas as outras pessoas do mundo – do que Ambre.

Não haviam esperanças. Quando o assunto era Castiel, ninguém podia competir com Lynn.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Manequim." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.