Proposal escrita por wldorfgilmore


Capítulo 4
Capítulo 4




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Ofélia não conteve o grito que se formou em sua garganta assim que visualizou a imagem de Elisabeta a sua frente.

— Elisabeeeeeeeta! - A voz saiu esganiçada e horrorizada. A mãe colocou-se à frente da menina, a segurando pelos ombros.

Elisabeta não só trajava um vestido para lá de justo em suas formas, mas suas costas detinha um V enorme, deixando a mostra metade de sua pele. Aquilo era um verdadeiro escândalo para época. Não era atoa que todos olhavam para a moça com um misto de curiosidade e incredulidade.

— Meu deus! Meu deus! Vista-se! - Ofélia tentava cobrir Elisabeta de todas as formas, a tapando com as mãos e com uma parte de sua echarpe, a mãe tentou passa-la pelos ombros da menina. - O que estava pensando, Elisabeta? Quer ser comparada a uma meretriz? - Ofélia resmungava. - E vocês, o que estão olhando? - bravejou para os tantos curiosos que observavam a cena. Ela limitava-se a sorrir para todos que a olhavam, sem deixar de rir do desespero da mãe. Meretriz, nada adequada para uma Condessa.

Elisabeta, que deliciava-se com a própria cena, não percebeu quando um rapaz de porte médio, porém um tanto mais alto que ela, se aproximou. Sua atenção foi roubada assim que o rapaz puxou uma de suas mãos. Elisabeta franziu o cenho.

— Se me permite... - o rapaz disse, encarando Elisabeta com profundidade. A moça não mudou a expressão, e logo sentiu o rapaz beija-la a mão. - Muito prazer, senhorita! Estava à sua espera.

— Como? - questionou, Elisabeta não tinha ideia de quem era aquele indivíduo. Era bonitinho, pensou. Mas tinha um jeito estranho em seus movimentos previamente calculados e exagerados.

— Sou Conde Grant McGregor. - o moço repetiu seu nome de maneira teatral. Elisabeta quis rir, mas logo conseguiu associar o nome ao motivo da presença do estranho aquele local. Fechou a cara.

— Ah não! - exclamou de maneira sussurrada.

Ela revirou os olhos, pronta para uma resposta bem mal educada ao cumprimento do rapaz. Mas antes de dizer qualquer sílaba, viu a figura de três homens se aproximarem.

— O que é isso, Elisabeta? - o pai sussurrou ao lado da menina, de forma que só ela ouvisse.

— É um prazer, senhorita. - o tom era educado, mas Elisabeta sentiu um quê de desdém acima do normal vindo do que ela imaginou que seria Conde de Glasglow, pai do rapaz. - É uma mulher bem a frente, pelo que vejo. - analisou, o homem não conseguiu esconder o desgosto.

— Em todos os aspectos de minha vida. - pontuou, com um sorriso perverso nos lábios. Felisberto arregalou os olhos com a colocação da filha.

— Perdão, perdão, querido Nicolau. Elisabeta não está muito bem, não é mesmo?

— Claro que estou, papai. E devo minha educação ao senhor. Você me ensinou tudo o que sei. Sempre disse que mulheres comportadas não conquistavam o mundo. - Elisabeta continuou encarando com veemência o mais velho da Escócia, que o olhar passou de desdém, para horror. Era óbvio o conservadorismo presente em seus modos. Mas, aparentemente, o filho não pensava da mesma forma.

— Eu concordo em número, gênero e grau. - respondeu, com os olhos vidrados no corpo de Elisabeta.

Elisabeta tentou ignorar o comentário de Grant, que no decorrer da conversa, não tirava os olhos do decote de Elisabeta. A menina já se sentia um tanto desconfortável com aquele rapaz, a repulsa já tomava conta de seu interior, mas manteve-se firme. Havia conquistado, infelizmente, a atenção de Grant, mas era perceptível o desprezo de seu pai para com os modos de Elisabeta. E o acordo seria fechado com ele, no final das contas. O alvo sempre foi o Conde Glasglow.

Por um minuto, sentiu pena de seu pai. Sabia que seria mira de chacota por os seus fornecedores, se a história da filha dada como adoradora de uma vida promíscua se espalhasse. Ela não se importava com a sua reputação, mas sabia que o pai sempre tentou ter uma vida correta e dentro da dita moralidade. Mas ninguém mandou Felisberto arranjar-lhe um pretendente sem lhe consultar.

Alheia às justificativas que seu pai parecia oferecer ao Conde de Glasglow e com um esforço fora do normal para suas mãos não atingirem o rosto de seu filho, Elisabeta começou a observar o salão, a procura de suas irmãs. O movimento já durava mais de um minuto e as meninas pareciam ter escapulido do universo. Elisabeta ofegou, estava a menos de dez minutos naquele baile e já sentia-se saturada. Circulou seu olhar mais uma vez, respondendo ligeiros sims a cada pergunta que Grant lhe fazia, não era possível que ele não desconfiava que ela não ouvia uma só palavra de seus discursos enfadonhos.

Não esperava, mas no minuto seguinte, esqueceu-se da música, as vozes e do lugar que estava. Se ela fosse descrever, diria que aquele olhar foi puxado de encontro ao seu. De uma forma poética e tudo mais. O momento foi estranho, e por mais que ela tentava desviar, o par de olhos verdes que lhe encaravam naquele instante sustentavam o seu olhar de forma desafiadora.

Examinando com precisão, percebeu que nunca havia visto o homem que roubou sua atenção por aqueles pequenos segundos. Era alto, charmoso e, precisava admitir, um monumento de homem. Sem pudor nenhum, Elisabeta levantou o olhar ainda mais, encarando-o de cima a baixo, sua medição era completamente descarada e sabia disso. Mas queria captar centímetros daquele porte pouco visto no Vale do Café. Quem seria aquele novo convidado de sua mãe? Suspeitava que se fosse ele o homem pelo qual estivesse destinada a casar, agradeceria aos céus por tamanha graça. Teve vontade de rir com seu pensamento.

Elisabeta percebeu que o homem em questão sorriu para ela, que retribuiu com um sorriso de canto dos lábios. Deveria ser mais discreta, de fato, mas começou a se divertir com aquele flerte despudorado.

Darcy encarava Elisabeta com profundidade, o rapaz tinha um ponche nas mãos e estava ao lado da mesa de bebidas. Já vinha mirando Elisabeta desde que ela atravessa ao salão, mas não havia sido o único. A diferença foi que manteve o contato para além do show de Ofélia. Não negava a beleza de sua prima. Não negava também o fato de que, no primeiro momento, sentira um misto de atração e encantamento. Mas não demorou muito para seu sentimento dar espaço a incredulidade. Em que momento da história Elisabeta havia virado aquele mulherão todo? Não era justo que logo sua prima mais insuportável havia se transformado no seu número preferido.

Mesmo com os devaneios acerca da prima, Darcy havia percebido que Elisabeta o encarava com curiosidade. Na realidade, ele não sabia se curiosidade era a palavra certa para aquele olhar, mas se divertiu com aquilo. O rapaz resolveu segurar o olhar de Elisabeta com o seu e sentiu a menina estreitar os olhos, descendo por todo o seu corpo. Teve vontade de rir, mas queria segurar ao máximo aquele momento incomum. Ele sorriu de lado, incentivando Elisabeta. E percebeu que Elisabeta sorriu também. Darcy imaginou que aquilo não poderia ser mais cômico.

Mas ficou. Darcy observou Elisabeta se aproximar da mesa de bebida em que ele estava, sem tirar os olhos dele. A menina parecia desfilar em sua caminhada. Pegou um pouco de ponche e encheu o seu copo. Darcy, agora há dois metros de Elisabeta, continuava a sustentar o olhar dela, que fez um sinal com a cabeça. Ele levantou, abrindo ainda mais o sorriso ao se aproximar da prima.

Quando se aproximou do recipiente que continha ponche, fez o mesmo movimento que Elisabeta, deixando de encará-la. Estavam lado a lado, e só um deles tinha noção do que acontecia.

Elisabeta sentiu o olhar de Darcy pesar sobre si novamente, agora na sua frente. O rapaz a olhou nos olhos e voltou a sorrir de forma sensual, passando a língua rapidamente pela boca, antes de proferir a primeira frase à Elisabeta depois de anos:

— Qual a sensação de flertar com seu próprio primo, Magricela? - perguntou em um tom debochado, antes de se desatar a rir.

Elisabeta franziu o cenho imediatamente, completamente perplexa com a situação.

— Ahn? - esse foi o único som que saiu da boca de Elisabeta. Aquilo era impossível. Darcy continuava a sorrir abertamente. Elisabeta balançou a cabeça e falou: - Não, não pode ser. Você não é o Charty! - sua cabeça já estava tonta de tanto se remexer.

— Esse eu não sou mesmo. - respondeu. - Mas Darcy Williamson, não posso negar. - o sorriso era galante. Elisabeta teve vontade de estapeá-lo. Não só pela peça ridícula que ele pregara nela, mas por estar com a cabeça doida por efeito daquele maldito sorriso.

— Não, tem alguma coisa errada. Essa não é a sua identidade e eu não flertei com você. Eu nego absolutamente tudo. - Elisa tentava justificar. Sabia que não daria certo, mas aquilo era tão errado. E das mais diversas formas.

— Bom… Pois eu confirmo as duas. Estamos em um impasse. - disse tranquilamente. Elisabeta realmente era a mesma de anos atrás.

— Eu estou certa e você não. Como sempre. - levantou a cabeça em uma expressão superior.

— Desde quando? Quais as provas que você tem acerca disso? - as palavras que saíram de sua boca não faziam sentido. Mas aquele começo de discussão também não. Era como se o tempo tivesse voltado.

— Ah, Charty! Não tente desconversar. - inventou.

— Mas você que está desconversando. Não quer admitir que estava me secando. - disse, debochado.

— Eu nunca te secaria. - disse tentando passar segurança.

— E o que procurava no meu corpo?

Elisabeta pensou em responder aquela pergunta citando todos os atributos que passaram em sua mente. Mas logo afastou aquele pensamento insano e intruso.

— Nada. Só vi um ogro de 2 metros de altura tapando a visão de todo o baile.

— Essa foi péssima, Elisabeta. Suponho que tenha sido mais esperta quando criança. Mas devo admitir, até que você está mais ajeitadinha. - fingia desdém. A cara da prima estava impagável.

— Ora, seu…

Antes que pudesse reproduzir todos os xingamentos que sua garganta queria expulsar, sentiu uma mao puxá-la um pouco de lado. Elisabeta logo virou e olhou para trás. Revirar os olhos foi sua primeira reação.

— E você, o que é?

Grant tomou o campo de visão da menina. Elisabeta olhou pro lado e viu Darcy apertando os lábios, em uma risada reprimida.

— Eu adoro essa música. A vi conversando com seu primo, acho que ele não vai se incomodar em deixar-me toma-lá por alguns minutos.

A cabeça de Elisabeta processou por alguns minutos. De um lado, Darcy e sua prepotência em idade adulta. Do outro, Grant e sua prepotência e prepotência e prepotência e aquele olhar predador que a irritava. Tinha que tomar uma decisão.

— Oh, Grant. - Elisabeta colocou a mão sobre o peito. - Queira me desculpar, Darcy acaba de me chamar para esta valsa. - Elisabeta pode perceber a cara de espanto de Darcy. - Não é, meu primo? - passou um dos braços ao redor da cintura de Darcy. Elisabeta sentiu o rapaz ficar tenso.

— Eu o que?

— Sim, eu entendo que você estava em estado de loucura com saudade da sua prima preferida. - o outro braço de Elisabeta passou por o corpo de Darcy, o abraçando de lado.

Darcy olhou para Elisabeta em entendimento. Sabia que a moça estava fugindo de Grant desde que começou a observá-la. E já desconfiava que aquele vestido um tanto indiscreto fazia parte de seu plano. Fingiu um sorriso.

— Minha cara prima, eu nunca atrapalharia a sua dança com um Conde. - fingiu uma expressão indignada, mas um tanto triste. - Como pode pensar algo assim de mim?

— Meu primo, eu nunca lhe decepcionaria. Não precisa pensar no meu bem estar, você também merece ser valorizado. - Elisabeta apertou a cintura de Darcy em um beliscão.

— Ai! - reclamou, encarando a prima com a sobrancelha franzida. Elisabeta continuava com um sorriso forçado no rosto, mordia seus próprios dentes. - Me sinto mal de tomar o seu tempo. - Grant olhava para Darcy com um olhar matador. O rapaz constatou que o homem era desprovido de inteligência, só um acéfalo não perceberia aquela encenação esdrúxula.

— Você é tão fofo, Chartyzinho. - Elisabeta sorriu de forma angelical. - Agora, Grant, pode me dar licença? Estou devendo uma dança ao meu tão amado e delicado primo. - Elisabeta puxou a mão de Darcy, que a seguiu.

Uma nova música começou e Elisabeta colocou as mãos ao redor do pescoço de Darcy sem a mínima timidez. Darcy, por sua vez, rodeou os braços na cintura de Elisabeta, colando o corpo da prima ao seu. Um intruso arrepio tomou conta do corpo de Elisabeta. Malditos hormônios.

— Não precisa me pegar assim também. - ela disse, tratando de manter certa distância do primo.

— Não era você que queria satisfazer as vontades de seu primo? - perguntou sensualmente. A segunda intenção da frase era proposital. E Elisabeta sabia.

— Você, aparentemente, está 3x mais insuportável.

Darcy e Elisabeta rodaram no salão, ao lado dos outros casais.

— Que análise precoce, minha prima. Estamos há quanto tempo nós falando? 10 minutos? - perguntou, levantando uma das sobrancelhas.

— Não preciso de muito para reconhecer elementos como você. - respondeu, incisiva. Darcy pegou em sua mão e a rodou. Era visível para quem estava olhando, que a valsa dos dois parecia ensaiada.

— E qual é meu… elemento? - Darcy apertou novamente a cintura de Elisabeta, aninhando mais o corpo dela no seu.

— Insuportável, arrogante, prepotente. - Elisabeta ofegou com a proximidade. - E que acha que qualquer mulher se sente atraída com o seu olhar.

— Você está descrevendo o seu namorado. - riu, jogando a cabeça pra trás.

— Eu não tenho namorado. - enfezou. Os passos continuavam sincronizados.

— E aquele seu príncipe? - Darcy a jogou uma pouco para trás, subindo seu corpo logo em seguida.

— Cale a boca. - eles voltaram a juntar as mãos.

— Não me trate assim, sua mal agradecida. - Darcy encarou Elisabeta, a dança pedia. - Eu lhe salvei de uma dança.

— Você estava me jogando para ele, seu tratante. - acusou.

— Você faria o mesmo comigo se conseguisse visualizar sua própria cara ao ver ele chegar. - lembrou, e não pode esconder o riso com a gravação da cena em sua mente.

— Você continua o mesmo. - sentenciou.

— Você continua a mesma. - repetiu.

— E nada mudou. - os dois repetiram ao mesmo tempo com a última nota da música que mostrava o seu término.

Todos os casais começaram a sair do meio da pista, deixando-a vazia em segundos. Elisabeta e Darcy se olharam antes de se separar. Ambos subiram seus queixos, em uma guerra conhecida e particular. Nada parecia ter mudado, nada parecia mais reconhecível que aquele olhar que agora direcionavam um ao outro. Ao mesmo tempo, deram as costas. Não houve luta, mas não havia trégua. E eles se conheciam.


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