Aquele pedido (Revisada) escrita por Gabriela


Capítulo 4
4




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Nos céus, o pôr do sol se anunciava, pintando aquela região de laranja e rosa. Suas duas cores favoritas. Pensou enquanto bebia uma xícara de chá em frente à janela do grande corredor do segundo andar. Era à sua maneira de fugir do seu pai, e evitar mais uma vez as perguntas. -Bebeu tanto que não conseguiu proteger o rosto?  - Só precisava ouvir isso uma vez.

Bebeu mais um gole, deixando a quentura a livrar de todos aqueles sentimentos desconfortáveis. Precisava. Seu pai estava assim pela doença... não que ele fosse melhor quando era mais nova, mas ele era seu pai. E preferia viver assim do que deixá-lo sozinho em seus últimos anos. Ele não merecia.

Uma das maçanetas, de uma das portas do corredor, girou preguiçosamente, e quando concluiu seu movimento, seu sonolento primo ganhou forma pela fresta da porta. Suas olheiras demarcavam o cansaço dos últimos dias, mas era um preço pequeno a ser pago para não ter que ficar na festa. Pena que ela estava presa a um compromisso. Voltou mais uma vez seu olhar para o além.

—O que está olhando? –A voz dele alertou para a sua aproximação. Assim, ele parou ao seu lado com aquele olhar de preocupação que faria qualquer mulher se apaixonar.

—Faz tempo que não vejo um pôr do sol assim... Com tantas cores. –Deixou seu sorriso se formar com cuidado, seu rosto ainda doía.

—Por que está fazendo isso? –Essa pergunta a pegou desprevenida.

—O que? –Perguntou com honestidade. Naquele final de tarde, só havia restado sua honestidade.

—Você não vai àquela festa a sete anos. Eu não entendo o porquê de estar fazendo isso. –No fundo, ela também tentava entender. –Você não faz nada para ninguém. –Não atualmente.

—Talvez eu esteja entediada demais. É legal fazer parte de algo. –Isso era uma mentira fácil. Era sua maneira de sair daquele tema rapidamente.

—Você não faz parte daquilo e você sabe. – Só havia visto ela em algo e foi antes de ser presa. –Isso é sobre ela. Kate.

Ele a conhecia tão bem. –Não vai dizer que isso é errado? Ou algo do gênero?

—Não. –Encostou o ombro na janela, antes de olhar para as intensas cores do céu. –Você sempre teve essa intensidade contida de viver a vida, e isso sempre me encantou. E quando vejo o brilho em seus olhos, sei que está certo. –Pela primeira vez a muito tempo, quando voltou seu olhar em direção a ela, encontrou o olhar dela fixo nele. –E mesmo que você esconda muito bem, eu vejo o brilho em seus olhos. E não importa que gênero seja essa pessoa... eu sei que está certo.

Uma lágrima brilhou em seus olhos com as palavras do seu primo. E isso piorou tudo. Isso fez tudo se tornar real. –Quando você fala, parece tão fácil.

—Ela tem um namorado, não é? –Se sua prima fosse de abraços, a abraçaria.

—Atualmente, noivo. –As sobrancelhas dele se levantaram. –O que? Eu ouço as fofocas que chegam até mim.

—Acredito. –Sorriu enquanto observava ela beber mais um gole do chá. –Por que está fazendo isso então?

—Honestamente, não sei. Acho que.... eu sei que logo nunca mais a verei, então... Por que não tomar essa liberdade? –Ergue os ombros enquanto compreendia seu absurdo pensamento.

—Só quero que tome cuidado. Sabe, que se descobrirem, pode acabar em tragédia. –Sabia bem. -E eu não quero mais um roxo no seu rosto. –A sentença a fez sorrir, puxando outro no rosto dele.

Seus pais nunca tiveram o segundo filho, mas a vida havia dado seu primo para colocar nesse espaço vago. Em seu espaço vago. E definitivamente, não conseguiria viver esses dois anos ali sem ele. Juntos eram indestrutíveis. Ela o amava.

Bebeu o último gole do seu chá, olhando para a propriedade do seu pai junto com Jon. Foi quase o final de tarde perfeito. Pena que a carta dele chegou, e quando abriu as palavras “Ainda espero sua resposta” queimaram sua razão. Era uma advogada, falava fluentemente quatro línguas, viajou por todo o mundo e estava presa nisso, enquanto mulher esperavam algo dela. Só queria se sentir útil mais uma vez.

—Carta do Dem? –Seu primo perguntou quando a pegou lendo.

—De quem mais seria? –Caçoou e ele nem notou sua mentira. Ninguém a pegava. Esse era um dos seus dons além de beber.

Ainda espero sua resposta.

Iria se arrepender disso. – Demitrie Morris. -Recitou no dia seguindo em uma das lojas da cidade.

O senhor bateu o código no telegrafo rapidamente, e logo ficou pronto para escrever mais. –A resposta é sim. –Mais algumas batidas, e a mensagem foi enviada.

Agora era esperar.

Suspirou enquanto uma mulher a observava de longe. A filha do dono do telegrafo. O que ela não sabia era que ela era amiga de Kate.

— Você estava bisbilhotando? –Kate comentou com total descrença. Não esperava isso de Elizabeth. – Eu dei meu voto de confiança. E eu vou mantê-lo.

—Faz quase uma semana e ela não foi nem nas reuniões. E se ela está usando isso a favor apenas dela. –Beth comentou cheia de verdades, parada no meio do quarto de Kate, um cômodo simples, de coloração laranja e com uma cama grande. Não entendia o porquê dela defender tanto a advogada. – Mas é a sua decisão. – Concluiu antes de colocar um bilhete em cima do colchão, e sair bruscamente.

A porta bateu, separando o caos do mundo do caos que vivia dentro da sua mente. Beth estava certa, e ela também. Precisava confiar desconfiando. Se aquela mulher estava querendo tirar o que tinha, ela iria sentir sua raiva.

“Cara Beatrice, passo na sua casa sábado. ”


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