Aquele pedido (Revisada) escrita por Gabriela


Capítulo 10
10




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/767375/chapter/10

A luz passou entre as folhas da árvore até chegar aos seus olhos, enquanto mulheres e homens se preparavam para a caminhada, em busca de uma tal igualdade. Todos pareciam estar em harmonia, e a cada momento, mais se juntavam a aquele grupo que só crescia. Estavam com raiva, com sede de algo que nem eles entendiam. E ela... estava no lugar errado.

Suspirou alto, antes de ajeitar, em sua mão, o cartaz pregado em uma madeira, que segurava. A única função que foi atribuída para ela. Segure. De algum modo, passou de uma agente funcional do grupo para apenas um rosto, sem voz – se um dia teve isso. Suspirou enquanto alguns pássaros voavam da árvore, a qual usava como isolamento.

Talvez, aquele fosse seu lugar. Longe de tudo e de todos. Era mais seguro assim. Pelo menos, desse modo evitava uma segunda rodada em uma estrada. E se não fosse pela ordem de Kate, estaria longe dali. Em sua casa, bebendo litros atrás de litros. Mas, estava ali. E mesmo sendo uma presença descartável, sabia que, se não estivesse, todos a odiariam. Ela a odiaria. Por isso, ficava ali, parada, enquanto tudo se organizava.

 -Pessoal! –Alguém gritou no meio do caos. –Vamos começar a andar. Não esqueçam de nada. –Os cartazes se levantaram, e Kate criou forma no meio da multidão junto com seu noivo.

Mesmo com seu olhar penetrante de líder, ela sorria para ele. Ela o amava. E foi por isso que muitos sorriram quando se beijaram mais uma vez no meio daquela confusão. Fazendo aquilo quase se tornar uma imagem poética, e histórica. E não foi a única que pensou aquilo. Imediatamente, um homem com uma máquina fotográfica registrou aquele momento, onde duas pessoas apaixonadas se beijavam enquanto uma passeata se formada com os dizeres, no fundo, que todas as mulheres merecem direitos iguais aos homens.

E no fundo, aquilo a feria. Desejava tanto aquilo, mas nunca teria.

—Vamos? –Uma mulher perguntou a ela, a puxando daquela cena. E com o andar manco, começou a segui-los, enquanto todos gritavam o desejo único do grupo.

Os cartazes se levantaram, pularam acima das cabeças, em ritmo distintos, manchando a imagem dos prédios da cidade. E no meio de todos, encontrou Art correndo em sua direção, fazendo seu coração se apertar. – Senhorita, precisa vir comigo? – O homem falou exasperado quando se aproximou dela, enquanto puxava seu braço levemente.

—O que quer dizer? O que está acontecendo? –Os gritos eram tão altos, que ninguém conseguia ouvi-la além dele.

—Seu pai. –Art a puxou novamente, mas ela não se movimentou. Não podia ir. –B precisa vir. Seu pai está morrendo.

Há anos ele estava morrendo, mas não era estúpida em achar que ele falava disso. -Eu sei. 

—Não B. – O suspiro dele foi alto. –Ele está morrendo, e se não vier, perderá sua chance de se despedir dele. – Ele falou com calma, mas isso a estapeou.

O protesto continuou a andar, sem notar que havia deixado alguém para trás. Alguém parada. –Vamos, B? –A voz dele a obrigou a fazer uma ação, e quando notou, estava indo em direção oposta à da multidão, e estava em uma linha de colisão com o carro. Que odiassem ela!

A porta bateu, e o carro gritou, levando-a daquele lugar, e a jogando em um quarto preso nos últimos suspiros do seu dono. Suspirou enquanto se agachava na beirada da cama. –Achou que iria embora sem se despedir? –Sussurrou antes de segurar as mãos geladas do seu pai com força. E quando ele a olhou, soube que não queria deixá-lo ir.

—Não. Eu sei... Que voltaria a tempo.... Você sempre.... Volta. –A voz dele era frágil e um sussurro, assim como sua vida. –Tudo o que fiz. Eu só queria... te proteger.

E ele falhou, mas não o culpava. –Eu sei, pai. Eu sei. -Respondeu, deixando as primeiras lágrimas escorrerem.

—Quem vai te... proteger agora? –A mão tremula dele tocou seu rosto, limpando uma das suas lágrimas. –Minha pólvora.

Fazia anos que não ouvia aquele apelido. -Não se preocupe. Eu sei me proteger. – Ou pelo menos tentava. –Eu vou ficar bem.

—Você promete? –O olhar dele pegou o dela.

Prometeria qualquer coisa para ele. –Prometo. Eu não morrerei cedo. Ainda quero ter filhos.

Sempre quis ter netos. –Você seria uma ótima mãe. E eles serão lindos como você. Arrumariam muita confusão.

—Eles seriam meus filhos... afinal.

Ele sorriu, antes do seu primo chegar, e ela chorou antes dele ir.

Havia tantas palavras não ditas, tantos erros mal resolvidos. Mas, o que doeu foi nunca ter tido a chance de tomar um último café com seu pai. De ouvir ele dizer sobre fatos que nunca aconteceriam, ou jogar o jornal no chão quando estivesse bravo. E isso doeu mais do que tudo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aquele pedido (Revisada)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.