Aquele pedido (Revisada) escrita por Gabriela


Capítulo 1
1




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Seu sangue escorre pelo seu peito, deixando um rastro pela terra; mas não notava. Tudo o que vê é o céu, escuro e cheio de estrelas, e os passos distantes de um cavalo. É o que pode se agarrar enquanto a ferida queima, apontando cada erro, cada escolha errada. E pensar que caiu naquela situação por causa de um pedido, que deveria ter apenas negligenciado; mas nunca foi fácil virar as costas para ela.

Cinco meses antes

Norwich, Inglaterra

Seus dedos movimentaram mais uma página enquanto o carinhoso ar do verão atravessava o seu caminho, fazendo seu vestido se movimentar mesmo quase preso a cadeira. Era um dia agradável. Dias que amava brincar quando era criança, correr. Mas, aos seus 27 anos, se contentava em ler enquanto olhava, da varanda, o calor dar vida a propriedade do seu pai.

Ali, sabia que estava sozinha. E por um tempo, ficou feliz achando que ninguém a encontraria. Mas, sempre a encontravam e o som das solas de uma bota, em um piso de madeira, só anunciou o inevitável.

—Mais um livro? –Seu primo, Jonathan, perguntou quando se aproximou da sua cadeira. –Esse é o quinto essa semana?

—Terceiro. –Passou a mão com delicadeza pelas páginas do livro, antes de fechá-las. –Estou entediada. Como aguentou viver por cinco anos aqui?

Sua frase o fez sorrir enquanto pegava um cigarro, e riscava um fósforo. –Não tenho um senso crítico como o seu. – A fagulha momentânea na madeira queimou o cigarro natural. –Aquela carta jogada no lixo era do Dom?

—Era. –Por que ele enviou aquilo?

—Não vai responder? –Jon perguntou sem esconder o sorriso de canto que aquelas situações causavam nele. Sabia muito bem como ela era. E foi aquele olhar de deboche, que a fez levantar da cadeira, se aproximar dele e pegar brevemente o cigarro.

Seu gosto era muito mais voltado aos destilados, mas precisava de um escape, nem que seja pela fumaça maldita daquele cigarro. –Não. –Puxou um longo fumo, antes de soltar tudo pelo nariz. –Não tenho nada a dizer a ele. Por que ele não vira a página?

—Você é honesta demais para os homens desse tempo. –Sua frase a fez sorrir e puxar mais um fumo, antes de lhe entregar o cigarro.

—Que chato então... por não ter nascido na época certa. –Seus saltos bateram na madeira enquanto se aproximava do parapeito de madeira da mansão. –Todas as vezes que imaginei voltando para cá, nunca imaginei que me sentiria tão deslocada desse lugar.

— Sabe o que você precisa? – Qualquer um teria voltado seu olhar para o dele, mas ela nunca faria. Ninguém puxava seu olhar. – Escrever menos e se reconectar com tudo. A casa, a cidade, o povo.

E se não quisesse? - Vou pensar...

O vento movimentou seus fios levemente avermelhados enquanto alguns pássaros migravam das árvores próximas da mansão. Era um lar de um lorde, e sua prisão por anos.

—Bea... – Seu primo chamou com urgência e só nesse momento notou um passo se aproximando deles.

Não ficou chocada, quando se virou, e deu de cara com Arthur, o faz tudo do seu pai. Um homem gentil, moreno, com o cabelo levemente cacheado assim como o seu. – Tem alguém querendo falar com a senhorita.

—Quem? – Falou delicadamente. Sabia o quanto o seu jeito podia deixar as pessoas agitadas, e ele já estava suficientemente agitado.

— Algumas mulheres. – Sua cabeça apontou para a sala, guiando-a até o lugar onde deveria ir.

Isso não era bom. Ninguém a visitava, e agora um mutirão resolveu aparecer em sua casa. Isso não era bom. Mas, não deixou de caminhar até lá e ficar frente a frente com as cinco mulheres, que ousavam se aproximar do seu dia calmo de verão.

—Senhorita Donaval, perdoe por aparecermos assim. –A líder daquele grupo falou, e não importava quantas vezes ouvisse aquela voz, iria sentir sempre a sensação de frio na barriga. –Mas, temos uma proposta para a senhorita.

—Sem senhorita comigo. Você sabe meu nome, Kate. – Sua frase desconcertou a mulher, e a fez desviar seu o olhar do dela.

Recomponha-se. -Eu sei, Beatrice. Só queria ser formal. – A força retornou a ela, assim como seu olhar ao dela. – Ouvi dizer que é uma advogada formada.

— Depende. Para o governo não. – Estava no tempo errado. – O que posso te ajudar?

— Preciso de uma pessoa como você. Está na hora de lutarmos pelos nossos direitos, e preciso de alguém com seu conhecimento no grupo. Você aceita?

Aqueles olhos a olharam com tanta vivacidade e cheios de tantas certezas, mesmo não parecendo causar nada nela, internamente, eles a convenciam. E isso só trazia ainda mais a certeza. –Ok.

Precisava ir embora.


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