— Você tem certeza que vai casar com ele depois de tudo?

Já havia perdido as contas de quantas vezes as pessoas haviam feito a mesma pergunta para mim, agora era a vez de Ino.

— Ino...

— Sakura, não é por mal, mas eu me preocupo com você, sabe, o passado...

— Ino, o passado ficou no passado, as pessoas podem mudar, sabia?

— Eu sei, mas...

— Por favor, eu sei onde estou me metendo, ninguém mais do que eu sabe, ninguém mais do que eu sentiu e viveu. Eu sei dos riscos e principalmente das consequências.

Dei por encerrada aquela discussão sem pé nem cabeça, Ino também, a porca apenas me abraçou e foi em direção a sua floricultura, enquanto eu ia em direção a minha casa sentindo todos os olhares sobre mim, e eu sabia que a maioria deles eram julgando minha decisão, mas principalmente o homem que envolvia a mesma.

Anos haviam passado desde o final da guerra e mais anos haviam passado desde que ele havia retornado a vila após sua missão de redenção, mas é claro que nem todos poderiam perdoá-lo tão fácil assim. Sasuke cometeu muitos erros, ele sabia disso, mais do que qualquer um, a vila também tinha errado, seu irmão errou, eu errei, ou seja, não somos perfeitos, todos merecem uma segunda chance, Naruto sabia disso mais do que qualquer um, ele tinha a marca no próprio corpo, assim como Sasuke.

Me entregar não foi fácil, eu tinha muitas feridas, eu havia mudado, havia crescido. Não era mais uma garotinha fraca e inútil. Me tornei forte, mas por fora, eu achava que precisava representar isso para os outros. Na verdade eu queria mostrar isso para mim mesma, precisava olhar-me no espelho e não me reconhecer mais, deu certo, por um tempo. Tentamos ferir um ao outro, apagar nossa existência de tantas mágoas e dores, você partiu meu coração de tantas formas que, em um dado momento, comecei a questionar-me se realmente ainda possuía um.

Quanta bobagem. Eu ainda era a mesma garotinha fraca, que acreditava no amor, que ainda acreditava em você.

Naquele dia, você me fez uma promessa muda. Lembro do seu toque em minha testa, seus olhos negros e profundos olhando fixamente nos meus, como se pudesse enxergar minha alma, seu sorriso de canto e suas bochechas levemente coradas. Acreditei mais ainda em você naquele dia. Entendi o que era amar naquele simples toque. Me apaixonei verdadeiramente por você naquele momento, um sentimento real e forte.

Você voltou da sua viagem de redenção, assim como havia prometido, deixou o tempo curar suas feridas, entendeu e perdoou a si próprio e me fez a proposta mais inusitada que eu já havia ouvido.

— Sakura...você não gostaria de começar a usar o símbolo do clã Uchiha?

— Como?

— Usar o símbolo do meu clã nas suas costas

— Mas para usar...está me pedindo em casamento?

— Talvez...

— Sasuke!

— Hnm

— Se vai fazer uma proposta desse nível, faça direito, isso é o mínimo! – Bufei, ele suspirou, levantou-se do meu lado no sofá e se ajoelhou em minha frente, pegando minha mão no processo.

— Quer se casar comigo, Sakura?

Não houve uma resposta falada, apenas sorri e me joguei de encontro ao seu corpo o abraçando e sendo aconchegada em seu tronco por seu único braço, enquanto sentia seus lábios sobre os meus e um arrepio gostoso percorrer minha espinha ao seu simples toque.

Assim que cheguei na frente de meu apartamento você estava lá, sério como sempre, mas assim que seus olhos pousaram sobre os meus você sorriu, ainda era meio tímido, mas enquanto nossa convivência se aprofundava eu aprendia mais sobre sua linguagem corporal e te entendia cada vez mais, e é claro que me apaixonava mais por você.

Sorri de volta, feliz por ter ficado, por não ter desistido completamente. É claro que às vezes eu me frustrei, sobrevivendo praticamente por um fio, mas não desisti da sua alma, e no final você voltou. O tempo curou nossas feridas, nos arriscamos e tomamos a decisão de que era bem melhor se simplesmente a gente se entregasse, foi a melhor decisão.

— Sakura.

— Sasuke-kun. – Você esboçou um sorriso de canto, aquele mesmo sorriso que sempre aparecia quando eu usava aquele sufixo com seu nome, uma mania que eu não queria perder.

Assim que fechei a porta, minha cintura foi enlaçada por sua única mão e seus lábios tomaram os meus, reclamando o tempo que ficamos longe um do outro. Ninguém acreditaria se eu contasse que Uchiha Sasuke poderia tomar iniciativas como essa, ou que poderia dar um beijo acalentador e apaixonado, mas ele era assim. Na frente das pessoas, frio como gelo, quase não esboçava emoções e algumas pessoas achavam isso muito estranho, não pelo fato dele ser assim, mas por eu estar com alguém assim. O que elas não sabiam era que quando portas fechavam, Sasuke era outra pessoa, e eu havia me acostumado a viver com esses dois lados. Diferente de mim, ele ainda precisava representar para os outros, coisa que eu não fazia mais, mas quando estava a sós comigo, ele era ele, derrubava seus muros, tirava sua armadura e me amava intensamente.

Sasuke me mostrou o verdadeiro significado de amar alguém, o significado do amor para o clã Uchiha. Não eram em demonstrações de carinho ou devoção em público, era algo íntimo, algo que muda dentro de você, e do seu parceiro, e te transforma, simplesmente difícil de explicar, porém extremamente fácil de entender e sentir. Era intenso, diferente de tudo que esperava, mas em nenhum momento me assustou, fui surpreendida, e faria de tudo para surpreende-lo também, afinal, ficaríamos juntos enquanto o nosso sempre permitisse isso.

— Você está bem? – Sua voz rouca e doce me trouxe de volta a realidade, enquanto seus dedos percorriam meu cabelo e faziam carinho em minhas costas. Virei minha cabeça em sua direção e encarei seus olhos.

— Estou, mas estou ansiosa.

— A única coisa que vai mudar amanhã será a quantidade de vezes que verei você por dia. Está pronta para isso?

— Estou. E você?

— Eu sempre estive pronto, Sra Uchiha. – Eu sorri e para enfatizar suas palavras ele tocou com dois dedos acima do losango em minha testa.

Para os outros poderia ser um estranho jeito de amar alguém, como se fosse uma representação, mas não era. Apenas poupávamos a nossa tão recente família que se iniciava, ou iria se iniciar, cuidávamos um do outro e porque ninguém precisava saber de nossa intimidade. Afinal o que importava era nós, e para nós o amor é simples e profundo, como seu toque em minha testa.