Crona deixou suas malas no chão da recepção das termas. Era um lugar... Lindo...

A recepção era tradicionalmente oriental, assim que tiveram de deixar os sapatos na entrada e carregadores levaram suas malas. Maka se juntou á Crona, e sussurrou em seu ouvido:

- É com ela, que você vai ter aulas?

Ela apontou para a bruxa que ajeitava as contas na recepção. Tinha cabelos negros longos, e três mechas brancas completas eram visíveis, em vertical, nos seus cabelos impecavelmente lisos. Ela vestia um vestido preto, as quais as alças faziam a volta em seu pescoço, e com um decote grande que valorizava seu busto, já bem valorizado sem isso. Tinha uma franja longa e desarrumada, também branca, que muitas vezes decaía sobre seus olhos tão negros quanto as madeixas, e lançava uma sombra maligna sobre seus olhos.

Por cima do vestido, tinha um espartilho branco, as quais as fitas eram pretas. O vestido terminava em rendas, sendo que o vestido se abria levemente um pouco acima dos joelhos, e ia seguindo um certo ângulo, que mostrava as pernas bem definidas.

De primeiro, Crona se perguntou se ela gostava de ficar mostrando o corpo apenas pras pessoas invejarem.

Mas, depois, ela viu que era só o conceito de 'estiloso' para ela.

Black Star teve uma hemorragia nasal, e foi um pouco incômodo para a pobre submissa e silenciosa Tsubaki. Soul não chegou á esse ponto. Kid apenas se sentiu extremamente, mas extremamente incomodado.

PORCARIA, ERA A MÃE DELE.

As pessoas não gostam que seus amigos tenham hemorragias nasais pelas MÃES delas!

Depois iria capar o Black Star, ele que espere pacientemente.

- Pois bem. Tudo acertado. Parece que o Shinigami reservou... Bom... As termas inteiras mas... Isso é detalhe. Você, garotinha. Espera, você é uma garota, né? Que seja. Ser hermafrodita. Você vai ficar no mesmo quarto que eu.

Ela caminhou até eles, montada em um salto alto agulha e ao mesmo tempo estilo gladiadora que realmente... Deu dor só de olhar.

Maka arregalou um pouco os olhos. Crona a acompanhou. Tsubaki soltou aquela cara compreensiva com uma gota. Garotos... No reaction.

- É... Sim... Tudo bem...

- Sim, 'você é uma garota', ou sim, 'tudo bem em ficar comigo'?

Ela insistiu no assunto. Deu vontade de tossir. Crona engoliu em seco.

- Ambos...

Ela não tinha coragem de dizer 'não sei lidar com isso' na frente dela. Iria parecer fraca... E a última coisa que queria era isso.

- Ah, que bom. Ainda bem. Venha.

Ela fez um sinal com o dedo, e começou a andar para o corredor. Crona, meio surpresa, não reagiu de imediato.

- Eu disse venha.

- H-H-Hai!

Ela disse, gesticuando nervosamente com as mãos. Se abaixou, pegando sua pequena mochila, e indo atrás dela. Isso em menos de dois segundos.

Maka tentou falar alguma coisa, e até estendeu uma mão, mas ela foi embora apressada.

- Hehe. Já estou vendo essa mulher com um chicote, nem imagino o porque.

- Soul! Isso não é uma coisa matura de se dizer perto de Kid.

Maka sussurrou para Soul, após escutar o comentário maldoso.

Kid suspirou, e abaixou a cabeça. Liz e Patty viraram pessoas de novo, pela primeira vez em algum tempo

Kid achou que Liz estava verde.

Patty estava cor de girafa.

- Sua mãe é tão... - Liz começou, procurando uma palavra que não ficasse pejorativa.

- Inspiradora! Sugoi!

Patty completou, com um brilho nos olhos.

- Não era exatamente isso mas... Serve.

Liz pegou sua mochila do ombro de Kid. Patty fez o mesmo.

Logo, uma mulher loira vestida com um original quimono vermelho com estampas orientais, chegou.

- Olá, sejam bem-vindos e eu serei a guia de vocês! Por favor, acompanhe-me, sim? Foi reservado um conjunto de quartos avulso apenas para vocês, em uma parte mais reservada das termas. Me sigam até lá.

Ela explicou, levantou levemente o quimono, e começou á andar. O pessoal apenas a seguiu. Logo, ela seguia por um corredor, o mesmo que aquela mulher e Crona haviam seguido, e depois de algumas curvas e mudancás de rota, ela chegou até uma porta de vidro. Assim que a abriu, eles puderam ver melhor o lugar seguinte.

Pareciam que estavam em um lugar distante.

Á frente, uma ponte ( não daquelas de tábua, uma realmente bonita, bem-feita e ornamentada ) ligava aquele lugar á uma outra montanha, de pedra escura bruta e inexplorada. Nessa montanha, uma verdadeira casa das de tradição mesmo, estava lá, apoiada na montanha. Não estava no topo, estava no 'caminho' do topo, e parecia muito bonita. Tinha três andares, e parecia muito majestosa, com tons variados de creme e vermelho oriental. A casa meio que se fundia á pedra, estando de pé perfeitamente, enquanto a montanha estava inclinada.

Maka pode sentir o queixo bater no chão.

- Wow.

Soul levantou uma sobrancelha e sorriu.

- Isso sim é ser maneiro.

Kid ficou meio indiferente. Sabia que seu pai e sua mãe eram exagerados ao extremo, não esperava menos. As gêmeas que acharam legal.

- Nossa, nunca vi um lugar tão grande! A não ser...

- Uma girafa!

- Não, Patty, um edifício! Girafas não são lugares, Sis.

Black Star subiu em uma pedra e fez sua pose heróica.

- YAHOO! AÇÃO, ÁGUA, EMOÇÃO, LUTA E LUXUOSIDADE PARA O CARA QUE VAI SUPERAR DEUS! SUPERAR DEUS! YAHOO!

- Demo, Black Star-kun... São apenas termas...

- YAHOO! O MELHOR BANHO TERMAL PARA O MELHOR HOMEM! YAHOO!

- Ok, Black Star-kun... 

A mulher lhes guiou para a ponte bonita e segura, afim de lhes apresentar a casa.

~Quebra de Tempo~

Maka se jogou naquele futón, alegre da vida. Tudo bem dividir o quarto com Soul, sem problemas. Não é exatamente um incômodo. E isso não era pra sair malicioso!

Afinal, se aquela mulher, mãe de Kid, disse que era melhor dividir o quarto com suas armas, para que a distância não destabilize não sei mais o que, era melhor obedecer.

Ela dava medo.

XXX

- Ah, e mais uma coisa: Por favor, respeite meu espaço e minhas coisas. Não toque nelas, nem se enfie onde eu fico. E mais uma coisa: Não pergunte nada que não é da sua conta. Terei prazer em responder se for uma pergunta inteligente, mas uma intrometida, é uma falta de respeito. Aaah, e mais a última coisa: Se eu falei, obedeça. É a melhor coisa que pode fazer.

Crona escutava a mulher atentamente. Elas estavam ajoelhadas, uma de frente pra outra. Nocturna falava com autoridade e voz superior, enquanto Crona escutava demonstrando interesse, atenção e respeito, com as mãos juntas sobre as pernas.

Durante todo esse tempo, uma moça esteve arrumando o quarto. Assim que essa mulher saiu, Nocturna ficou estranhamente em silêncio, recolheu os ombros e olhou para baixo.

Crona pendeu a cabeça.

De repente, a mulher avançou para cima dela, segurando seus ombros e com uma face de preocupação.

- Mocinha, diga-me uma coisa! ... O meu Kid-kun fala de mim?!?!

Ela perguntou chorosa, e balançou os ombros da garota. Ela se surpreendeu um POUCO com isso. Crona soltou um risinho sem jeito.

- Gomen, demo... Eu não sou uma amiga íntima de Kid... Nós não conversamos muito...

- Mas ele fica olhando pra você! Ele não falou MESMO de mim!?

- Gomen... Não.

A mulher se abraçou, desolada. Crona arregalou um pouco os olhos. Era uma mudança de personalidade... Estranha.

- Oh, meu filho me odeia. Eu sou uma mãe horrível! Mereço morrer!

Ela começou a chorar, e ficar deprimida, e fazer drama. Crona finalmente viu de onde Kid puxou seus complexos. Suspirou.

- Ele não parece te odiar. Kid é uma pessoa gentil, ele não seria capaz de odiar a própria mãe...

Falou baixo, envergonhada, esfregando os nós dos dedos uns nos outros. Nocturna parou na hora, levantando o rosto que estava escondido nas mãos.

- .. S-Sério? Ele me ama?

Crona sorriu sem jeito. Esse tipo de conversa, com aquele tipo de mulher... Meu deus.

- Claro...

Momento Tsubaki. Logo, ela se recompôs e ergueu o queixo nas alturas.

- Ótimo. Antes de te ensinar á ser bruxa, tenho que te ensinar a ser uma mulher, pelo jeito.

Crona arregalou os olhos. WTF? Ela voltou á ser megera?

- Que roupa.. Horrível. Ela esconde a sua cintura e pernas, que parece a única de feminina que você tem. Anda, venha, vou pegar uma roupa minha pra você e depois ajusto as costuras.

Crona parecia a ponto de chorar. Apenas á seguiu até o armário dela.

Ela pegou várias coisas, e Crona não falava nada, afinal, reclamar seria ruim, e também não tinha do que exatamente reclamar, já que as roupas eram de uma madame, de muito bom gosto.

'A mãe de Kid...'

Pensou durante um momento, mas logo afastou isso. Sua admiração pelo garoto e sua família era aumentada a cada momento que convivia com ambos...

- Aqui, vista isso.

Ela entregou algumas roupas. Sem escolhas, vestiu-as, entrando atrás de um biombo. Após sair, a mulher suspirou, relaxando os ombros.

- Bem melhor.

Crona olhou a si mesma no espelho, e se surpreendeu por um momento. Era ela mesmo, ali?

Ela estava vestida com um vestido negro ( a maioria das roupas que recebera, eram vestidos negros ) de mangas compridas. Tinha aberturas, como se fossem cortes, em cada um dos ombros, e ao redor do pescoço e um pouco do busto, o tecido parecia ser uma malha muito fina e sensível, quase transparente, mas ainda com o tom negro. Um pouco abaixo da cintura, ao lado de cada uma das pernas, existia uma abertura, que expunha uma parte das pernas, que estavam cobertas por uma meia-calça, novamente, preta.

As mãos, estavam enluvadas por uma luva branca.

- Nocturna-sama... É muito bonito... A senhorita-

- Gostou? É seu. É velho, e não serve mais em mim. Eu vestia esse tipo de vestido para agradar Kid, já que ele gosta tanto das coisas simétricas, mas acho que ele não repara mais se me visto simétrica ou assimétricamente. Na verdade, acho que ele nem olha mais pra minha cara.

A mulher suspirou, levantando.

- Venha, vou ajeitar a sua cara.

O modo rude de falar daquela mulher já não deixava Crona incomodada. Apesar de tudo, ela era uma pessoa amável, e provavelmente aquilo era só uma personalidade exterior. Só por estar fazendo isso com Crona, já demonstrava que ela não era tão ruim.. De certo modo, era uma ajuda, né?

A bruxa realmente maquiou Crona. E foi estranho. Primeiro, a pele da moça mais nova começou a ficar irritada.

- Quero coçar... Mas não posso... Não sei lidar com isso...

Dizia, baixinho, e praguejava de vez em quando. A mulher já havia passado lápis e rímel nela, e a sua pele ainda estava irritada pelo primeiro contato. Só quando ela estava passando o batom rosa claro ( ela estranhamente chamou de rosa-anjo, mas Crona achou o nome esquisito demais ) que tinha o mesmo tom que a sombra, então sim, que a pele parou de irritar.

- Demo... Pra que se arrumar tanto, Nocturna-sama?

Crona perguntou. Já que estava passando por tudo isso, tinha que saber porque, oras.

- Bom, é uma celebração da terma, totalmente avulsa, que ninguém dos seus amigos sabe, e que você não deveria ir, mas... Bom, você vai, sendo minha dama de companhia. E nenhum dos seus amiguinhos saberá, certo? Não posso quebrar a concentração deles.

- Mas, a minha tudo bem?

- Meu bem, estou te ensinando á ser uma dama, e damas tem de ir á festas e conhecer pessoas. Fazer parte de pessoas importantes.

Crona suspirou.

- Certo, Nocturna-sama.