Better Days escrita por oicarool


Capítulo 7
Capítulo 7




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Vale do Café, 1910

 

Darcy passava a mão pelos cabelos, ansioso. Ao seu lado, Elisabeta observava o namorado, com um sorriso no rosto. Eles estavam em frente à casa dos Benedito, e Darcy observava o lugar com a expressão contida.

 — Meu amor, por que está tão nervoso? – Elisabeta cutucou a bochecha de Darcy.

 — Elisa, é a primeira vez que vou jantar com seus pais. – ele revirou os olhos.

 — Darcy, você já jantou com meus pais um milhão de vezes. – ela riu.

 — Mas não como seu namorado. – Darcy reclamou.

 — Não com eles sabendo que você era meu namorado. Não lembro de você estar tão nervoso da última vez... – Elisabeta se aproximou e disse, em um sussurro. – E daquela vez nós havíamos passado a tarde no seu quarto.

 — Elisa! – ele virou-se rapidamente, com uma expressão espantada. – Você não pode falar sobre isso aqui.

 — Não há ninguém aqui fora. – ela sorriu.

 — É importante pra mim que os seus pais me aprovem. – ele bufou. – E eu não consigo imaginar Dona Ofélia me recebendo bem se soubesse o que fazemos escondidos. – um sorriso de lado apareceu no rosto dele.

 — Darcy, os meus pais adoram você! Eles gostam tanto de você que, se um dia terminarmos, eles vão ficar ao seu lado. – Elisabeta riu.

 — Que exagero, Elisa. – Darcy respirou fundo. – Vamos entrar, por favor. Eu só estou ficando mais nervoso aqui fora.

 Os dois cruzaram rapidamente o caminho que levava até a casa, mas antes que pudessem abri-la, Ofélia escancarou a porta.

 — Meu genro preferido! – disse, correndo para abraçar Darcy. – Eu nunca tive dúvidas de que o senhor seria meu genro. Tão garboso, elegante, educado. Uma de minhas filhas precisava fisgar esse partidão.

 — Mamãe! – Elisabeta ralhou.

 — Muito obrigado, Dona Ofélia. Mas a senhora sabe tão bem quanto eu que eu sempre tive olhos para apenas uma de suas filhas.

 — É verdade. E você gosta de um desafio. Justo Elisabeta... – Ofélia lançou um olhar severo para a filha.

 — Vamos entrar, por favor. – Elisabeta pediu. – Essa conversa já está constrangedora.

 

##

Vale do Café, 1917

Darcy Williamson não lembrava-se da última vez que um problema tivesse tirado seu sono por uma noite inteira. Se pudesse apostar, diria que fora há sete anos, quando a primeira das cartas de Elisabeta chegou à suas mãos. Desde que acostumara-se a ideia de que ela não o amava, Darcy nunca mais perdera o sono.

Mas agora estava em frente à casa dos Benedito, quando o relógio mal passava das seis horas da manhã, observando tudo atentamente. Deu-se conta de que era cedo demais apenas ao chegar ao local, e então mais uma vez sua mente foi invadida por lembranças dos momentos em que passara ali.

Agora era o lugar que fazia parte do imaginário de seu filho. Seu primeiro lar, com toda a magia que só a família Benedito tinha. Tom fora afortunado de ter tantos primos e conviver com tantas pessoas de valor, como seus avós, tios e tias. E mesmo que estivesse revoltado com Elisabeta por sua omissão, não havia uma célula de seu corpo que duvidasse que era a melhor mãe que Tom poderia ter.

Tudo isso o fazia temer por seu lugar ali. Como explicar para Thomas e para os Benedito sua ausência, quando nem Elisabeta acreditava que ele não tivera outra escolha, uma vez que não sabia de nada? Era óbvio para Darcy que alguma coisa naquela história toda não estava certa.

Elisabeta escolhera mantê-lo afastado de Tom. Ele não sabia os motivos dela e sequer sabia confrontá-la. As cartas que lera tantas vezes estavam esquecidas no fundo de alguma gaveta na Inglaterra. Recordava-se de cada linha, de cada curva da letra de Elisabeta naqueles papeis.

Mas ela não estava casada. Ao que parecia, nunca estivera casada. Talvez apenas não gostasse dele como dissera, e inventar um pretendente fosse a melhor alternativa. Não havia dúvida que, se soubesse da existência de Tom, estariam casados naquele momento. E talvez fosse justamente o que Elisabeta queria evitar.

A porta da frente da casa se abriu e Ofélia deu alguns passos em direção ao ar puro. Seu sorriso se desmanchou ao ver Darcy ali parado, como uma estátua em uma manhã fria.

— O senhor. – disse, com desdém.

— Dona Ofélia. – Darcy a cumprimentou.

— O que está fazendo aqui? Achei que, como foi mesmo que disse, não tinha interesse algum em procurar minha família. – a mulher desceu as escadas.

Apesar de ser muito menor do que Darcy, os olhos apertados de Ofélia e sua expressão fechada eram intimidadores.

— Isso foi antes de eu... – ele engoliu em seco. – De eu saber sobre Tom.

— Ah, faça-me o favor, senhor Darcy. Seu filho está nessa casa há quase sete anos. Nunca saiu daqui. A quem o senhor quer enganar? – ela cruzou os braços.

— Dona Ofélia, por favor... – seu tom era de súplica. – A senhora me conhece, eu jamais teria virado as costas para um filho meu. Especialmente um filho meu com Elisabeta.

Ofélia o encarou, desconfiada.

— Eu não o conheço, senhor Darcy. – seu sotaque estava ainda mais forte. – Nenhum de nós conhece. Sei apenas que o senhor caiu ontem em nossa soleira, e deixou minha filha em um estado irreconhecível...

— Não foi minha intenção...

— Mas não foi a primeira vez. Eu vi Elisabeta nesse sofrimento todo apenas duas vezes em trinta anos. E nas duas vezes o motivo foi o senhor.

Darcy passou a mão pelo rosto, de repente sentindo-se sufocado. Mas não podia pensar sobre aquilo, não podia sofrer por estar ali. Ele tinha um filho, um filho que precisava dele.

— Eu sinto muito. – disse, sincero. – E acredite, eu respeitaria o fato de sua filha não querer mais me ver. Eu respeitei em todos esses anos, Dona Ofélia. Mas eu descobri que eu tenho um filho, e eu não vou abrir mão de ser pai.

Dona Ofélia preparou-se para responder, mas a voz de Elisabeta interrompeu sua fala.

— Mamãe, está tudo bem. – ela desceu as escadas. – Nós precisamos mesmo conversar.

— Minha filha... – Ofélia alertou.

— Está tudo bem. – Elisabeta beijou a bochecha da mãe. – Mas não aqui, podemos dar uma volta?

Darcy assentiu, ainda impactado com a presença de Elisabeta. Ainda mal podia acreditar que estava em frente à ela, depois de tantos anos, depois de tantas vezes em que sua mente insistira em torturar-se imaginando um reencontro. Mas sua imaginação nunca fora tão fértil, nunca imaginara que encontraria um filho também.

Eles caminharam em silêncio por algum tempo. Nenhum dos dois apontou a direção, mas pareciam saber exatamente onde estavam indo. Por isso nenhum dos dois ficou surpreso ao pararam à sombra de uma velha árvore. Elisabeta sentou-se na mesma pedra que costumava sentar. Darcy costumava abraça-la ali, mas dessa vez ficou em pé, parado e em silêncio.

— Soube que você tem visto Tom. – Elisabeta cruzou os braços, seu tom era formal, controlado.

— Eu não sabia quem ele era. – Darcy encostou-se na árvore.

— Você se aproxima de uma criança desconhecida? – ela franziu a testa, incapaz de acreditar.

— O garoto aparecia em todos os lugares. – Darcy elevou o tom de voz, e então baixou. – Como eu ia imaginar?

— Tom é a sua cara, Darcy. – ela revirou os olhos. – Como é que você nunca...

— Eu não sabia que eu tinha um filho! – ele irritou-se. – Eu não saio por ai me comparando às crianças e imaginando que são meus filhos.

— De novo essa história? – Elisabeta estava impaciente. – Não vai me convencer.

— Não quero convencer você de nada. Você também não vai me convencer que não quis manter Tom longe de mim. – Darcy perdeu a paciência. – Mas ele é meu filho, e eu vou ser o pai dele, você querendo ou não.

— Ah, Darcy, por favor. Qual seria o meu interesse em manter meu filho longe do pai dele? – Elisabeta levantou-se.

— Eu não sei, Elisabeta. Você sempre foi independente, nunca quis de verdade falar sobre casamento... – ele cruzou os braços, indignado.

— Eu não acredito que estou ouvindo isso. – Elisabeta gritou. – Você realmente acha que eu seria o tipo de pessoa que afasta um pai de um filho?

— Você acredita que eu viraria as costas pra um filho. – ele disse, como se fosse óbvio. – Que bela dupla nós somos.

— E onde você esteve nos últimos anos, então? – Elisabeta o acusou, furiosa.

— Graças à você eu estive em um mundo sem nem saber que meu filho existia. – ele bufou. – Mas desde que cheguei ao Vale eu encontro Thomas em todos os lugares, querendo pular de pedras e invadindo a casa dos outros. Onde você esteve nesse período?

Elisabeta virou-se para ele como uma águia.

— Inacreditável. – ela cerrou os punhos. – Você é inacreditável. Passa os últimos anos fingindo que seu filho não existe e agora você quer o que? Me ensinar a ser mãe? – o tom de voz dela era cada vez mais alto.

— Eu não quero nada. – Darcy passou a mão pelos cabelos. – Eu vim até aqui para avisá-la, amigável e respeitosamente, que não vou desistir do meu filho.

E o olhar dele deixava claro que não o faria nem se ela quisesse. Mas não havia porque querer que ele se afastasse de Tom. Não importava que sua opinião sobre Darcy não fosse das melhores. Ele era o pai de Thomas.

— Você não vai ver meu filho sem que eu saiba. – ela avisou, com um olhar desafiante.

— Eu vou ver o nosso filho quando e onde eu quiser. – Darcy sustentou o olhar dela.

Não queria brigar com Elisabeta. Mal sabia como fazer isso, já que não recordava-se de terem qualquer discussão naqueles moldes enquanto estavam juntos. Mas não aceitaria abrir mão de Tom, não iria desistir do filho.

— Eu vou falar apenas uma vez. – Elisabeta se aproximou de Darcy, sua voz baixa de repente, ameaçadora. – Eu não vou te impedir de conhecer Tom. Mas você não vai passar por cima de mim. Eu sou a mãe dele.

Darcy respirou fundo, olhando nos olhos de Elisabeta. E não havia apenas fúria ali. Havia mágoa, insegurança. E foi o que fez com que ele recuasse. Darcy passou as mãos pelo rosto.

— Desculpe, me desculpe. Você tem toda razão. Eu só quero a chance de conhece-lo, Elisa. – os olhos dele se encheram de lágrimas, de repente. – Eu só quero conhecer meu filho.

— Você vai. – a voz dela falhou também. – Mas vamos com calma, por favor. Ele é uma criança.

Darcy virou-se de costas, limpando uma lágrima que insistiu em cair. Era absurdo precisar ter essa conversa. Era absurdo falar em conhecer seu filho quando ele já tinha seis anos. Quando perdera tanto, quando faltara em tantos momentos importantes.

Havia tanto para saber, tantas informações que ele precisava. Tantos sorrisos perdidos, tantas coisas que não fora ele a ensinar para seu filho. E de repente um mundo inteiro que Tom ainda tinha para desbravar, e ele precisava aprender quem seu filho era, para poder ajuda-lo nessa tarefa.

Darcy assentiu, e retornaram em silêncio até a casa dos Benedito. Não havia muito o que ser dito, não havia como preencher aquele silêncio, a sensação de que eram meros conhecidos, de que a vida havia passado por cima de todas as familiaridades. Mas quando se aproximaram da casa, Thomas esperava por eles.

Os olhos dela, as feições dele. Uma expressão curiosa e observadora, a mistura perfeita de seus pais. A prova de que o passado existira, de que havia mais naquela história. A certeza de que, mesmo com tudo o que havia acontecido, valera a pena. Os dois prenderam a respiração quando o sorriso do garoto se abriu.

— Mamãe! Darcy! – ele chamou, e correu até eles. – Onde vocês estavam?

Elisabeta tentou responder, mas as palavras falharam.

— Sua mãe estava me mostrando a propriedade. – Darcy bagunçou os fios do menino.

— E mamãe já mostrou Tornado? – o garoto olhou para a mãe.

— Darcy já conhece Tornado, meu amor. – Elisabeta beijou a testa do filho. – Mas faz muito tempo que não o vê. Você quer ver se ainda lembram um do outro?

— Eu aposto que não! – Tom abriu um sorriso. – Vamos lá, Darcy.

— Ora, Tom. Os cavalos tem excelente memória. Eu tenho certeza que Tornado ainda lembra-se de mim. Nós eramos grandes amigos. – Darcy disse, seguindo o menino.

Elisabeta observou os dois se afastando, e teve ali a certeza de que sua vida estava prestes a mudar.


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