Quiprocó escrita por Chibi Lord


Capítulo 1
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Notas iniciais do capítulo

Quid pro quo é uma expressão latina que significa "tomar uma coisa por outra". Refere, no uso do português e de todas as línguas latinas, uma confusão ou engano. Tem origem medieval, tendo sido usada, na sua origem, para referir um engano no uso de termos latinos num texto.[1] [2] Também podendo significar "Isso por aquilo".

O seu significado nos países anglo-saxônicos evoluiu num sentido diferente, e é aí usada agora como significando uma troca de bens ou serviços. É também aí muitas vezes usada como sendo troca de "favores".

A expressão foi amplamente usada no filme O Silêncio Dos Inocentes entre discursos de Clarice Sterling e Hannibal Lecter, onde este último, aceitou dar opiniões e visões sobre o caso do assassino Búfalo Bill em troca de informações pessoais de Clarice, como sua vida e passado. A cada vez que um terminava sua parte do discurso, um dizia ao outro "quiprocó" a forma aportuguesada do termo

Olá pessoas... Nossa... não me lembro quando foi a última vez que eu postei uma fanfic no nyah, acho que foi enquanto escrevia minha redenção.
Então... deixe-me explicar algumas coisas, meu perfil no spirit foi banido a mais de um ano atrás, isso me desastabilizou, deixei de escrever, cheguei a comentar com a minha amiga que nunca mais escreveria. Perdi o emprego e me separei, então... basicamente eu não escrevo nada que me agrade a mais de um ano, eu me sentia e ainda sinto bloqueada, minha cabeça antes cheias de ideias e diálogos agora parece vazia, foi muito, muito difícil escrever essa fanfic e finalizar ela, eu levei uns 5/6 meses para escrever, não estou aumentando não, eu realmente estou escrevendo essa fanfic a todo esse tempo.
E como podem ver... eu estou me arriscando (novamente) em um novo fandom.
Hannibal e hannigram são a minha nova obsessão e eu agradeço a esse casal por me devolver o amor por um ship.
Diante de todos os problemas que enfretei nesse período de minha vida. Eu considero uma vitória pessoal voltar a postar fanfics, não que eu não tenha escrito e postado nada, mas fiz isso no ao3 onde somente pessoas específicas leriam o que eu escrevi.
Eu quero agradecer a Aline que betou a fanfic para mim e me deu dicas construtivas sábias que me fizeram alterar certas partes do texto, deixando a fanfic de modo que mais me agradou.
E não poderia deixar de agradecer e dedicar essa história para a minha alma gêmea, ela que sempre me incentivou a escrever, desde o começo, desde de minhas fanfics com muitos erros gramáticas.
Obrigada Lu por sempre acreditar na minha escrita e por sempre estar por perto mesmo estando longe eu te amo e apesar de saber que você não faz parte do fandom de hannigram eu dedico a você esse monstro de 11 mil palavras.
Bom... É isso.



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A rotina de ambos era ditada pelos desejos de Hannibal, onde ele queria estar, era para onde iriam. Quem ele desejava matar, era o que definia o tempo que ficariam em tal localidade.
Will Graham não discutia, não opinava, não escolhia. Para ele, ser levado para outra cidade ou para outro país no meio da noite, usando um disfarce era só umas das consequências desagradáveis de suas escolhas.
Ele nunca expressava seus desejos, pois já achava mais do que suficiente ter a maior e pior das suas vontades realizadas.
Se ele passasse pelo resto de sua vida sem nenhuma de suas vontades realizadas, estava tudo bem.
Afinal... Ele agora tinha aquilo que mais desejou.
Ele tinha Hannibal.
A convivência de ambos não era pacata como era pintada para terceiros, mas Will nunca reclamava, ele não podia, não desejaria mais nada.
Mas havia algo que ele não conseguia deixar pra lá, tinha uma de suas vontades que simplesmente não podia ignorar.
“Quando a matarás?” Will não reconheceu sua voz, o tom mesquinho que essa tinha, não reconheceu a sequência de palavras que formavam uma sentença deixando sua boca. Um desejo, o seu desejo, algo sujo e vil.
Algo que antes não reconheceria como seu.
Hannibal levantou os olhos de sua taça de vinho, na boca um sorriso de escárnio. Oh, seu querido Will estava impaciente.
“Como?” perguntou o médico, fingindo desentendimento, bebericando sua bebida calmamente, enquanto girava o líquido róseo dentro do recipiente de vidro “E por que achas que tenho a intenção de tirar a vida de tal adorável moça?” ele cheirou a taça em sua mão, absorvendo o aroma agradável do vinho, um dos seus preferidos.
Era bem verdade que estava cansado daquele jogo de gato e rato que jogava a uns bons meses com Will, vinte e dois meses e vinte e sete dias para ser mais exato e talvez um pouco antes disso, mas não era motivo para perder a uma inerente conversa com Will Graham, ele afinal, vivia para tais momentos, embates filosóficos com o seu companheiro de fuga eram sempre o ponto alto de sua noite. A cereja em cima do bolo.
Essa contagem de tempo, também era o tempo em que ele e Will Graham se escondiam por detrás de uma vida pacífica e bucólica na Riviera Francesa.
“Do que está falando? Sempre quando alguém vem para o jantar, mais cedo ou mais tarde fará parte de uma de suas receitas, Hannibal. Não brinque comigo.” Will escorou o ombro no batente da porta, os pés descalços, os cabelos bagunçados e os óculos de leitura na ponta do nariz. Ele usava seus jeans flanela e por cima uma blusa de linho fina na cor caqui.
Caso Hannibal fosse consultado, ele achava a vestimenta inadequada para um jantar com convidados, mas estava óbvio que Will não desejava agradar a convidada de Hannibal.
“Ela já jantou aqui, o que? Umas quatro vezes?” Will continuava a falar da jovem mulher que acabara de deixar sua morada temporária.
“Acho ela divertida Will, uma mulher inteligente, com pensamentos sábios sobre sua própria natureza.” Hannibal argumentou.
“Você quer dizer uma possível psicopata que com um empurrão seu pode vir a matar com o mesmo prazer que você?” Will inquiriu com um tom apoplético, as mãos balançando no ar.
“Por assim dizer.” Hannibal disse, deixando sua taça já vazia ao lado da poltrona, onde em um pedaço maciço de mármore uma ninfa foi entalhada, há talvez uma centena de anos e que servia como uma pequena mesa de decoração.
“O que quer com ela Hannibal?” Will perguntou, a garganta seca, ele não conseguia pensar com coerência, suas ações estão desmedidas ele sabe. Will tem medo, ele só tem Hannibal. Perdido e sozinho no mundo, nem mesmo é dono de sua mente.
Ele não confia em Hannibal, mas tão pouco confia em si.
Ele não pode ser deixado, trocado. Ele abriu mão de tudo para estar aqui! O que mais Hannibal Lecter quer dele?
“Amizade?” Hannibal falou, as sobrancelhas altas, como se ele realmente acreditasse no que dizia, como se aquela simples palavra desse significado a todas as suas ações estranhas durantes os últimos anos, como se a palavra amizade não tivesse sido responsável pelo desencadear de toda a situação na qual se encontravam agora.
“Amizade? Amizade, Hannibal? Sério mesmo? Acha que pode brincar com o meu intelecto, dessa forma? Acha que não vejo o modo como a olha? O modo como ela olha para você, o modo como ela olha para mim? Querendo estar no meu lugar, querendo ser o que sou?” Will lhe bombardeia com perguntas, não dando chance ao médico de responder a nenhuma das questões, mas Hannibal é um conceituado psiquiatra, ele sabe, às vezes as pessoas só querem jogar suas frustrações nas outras.
Claro que qualquer outra pessoa, sendo tão descortês com ele já estaria sem vida, ele não suporta a falta de educação e bom senso, mas ele tem essa extrema calma e paciência para Will Graham.
Will aproximou-se do sofá sentando de frente para Hannibal, as mãos apoiadas nos joelhos, suadas, ele então finalmente cessa o fluxo de palavras, dando a Hannibal a oportunidade para intervir...Ou, só jogar mais lenha na fogueira, como costumam dizer.
“E o que somos Will?” Hannibal perguntou, os dedos trançados uns nos outros, as mãos postas em cima das coxas cruzadas.
“Não me venha com essa, doutor.” Will respirou fundo, a mão tirando o pouco de suor que lhe nascia na testa, ele estava alterado. “Ela acha que somos amantes e é o que ela quer ser para você e desconfio que queira a mesma coisa.” O ex agente disse, suas bochechas vermelhas ele estava enraivecido, desistiu de tudo, sua liberdade, sua família, sua moral e Hannibal o abandonaria? Por quê? Pelo que? Por sexo?
“Meu querido Will...” Hannibal levantou andando pela sala até parar perto de uma janela. “O fato de que não somos amantes, muda um pouco a premissa, você não concorda?”
“O que mais você quer de mim Hannibal? Eu entendo você, eu aceito você, eu deixo que me alimente da forma que considera satisfatória. O que mais pode querer de mim?” Hannibal sabia, Will perdia o controle e perdia rápido, mesmo com a encefalite agora controlada, o avanço desenfreado e sem controle desta, tinha cobrado seu preço. “Achei que eu... fosse tudo o que quisesse?”
Ah… Não tinha nada mais agradável para Hannibal do que ver alguém em agonia, ainda mais Will, tão complexo e dúbio, tão único…
“E é, sempre foi… Mas, talvez eu tenha…” Hannibal colocou a mão no queixo, pensativo, o professor sentiu uma pontada no coração, o que? Ele tinha se enganado? Se cansado? O que seria de Will Graham?
“Você o que?” Will perguntou, as unhas cravadas no jeans de lavagem escura. “Se cansou de mim? Vai me matar e me servir para a sua nova conquista?” o médico via no outro a confusão a ira, a angústia, ele sempre queria tanto do senhor Graham.
“Meu querido Will, acha mesmo que eu dividiria a sua carne com mais alguém nesse mundo?” o olhar de Hannibal ficou escuro, faminto e Will sentiu o ar ficar pesado na sala, um gigantesco cervo batia os cascos no chão acarpetado, ele podia sentir a respiração gelada do animal nas pontas dos seus dedos. “O que eu tentava lhe dizer antes de sua intromissão, é que talvez eu tenha esperado demais de você, esperado de você tudo aquilo que preciso, mas há algo que você não pode me dar meu caro Will e bem... infelizmente, sem isso nós não somos realmente amantes.” Hannibal avalia o terreno, Will continua lá, fracamente, como um barco a deriva no mar, os olhos envidraçados, brilhosos, aquosos, movendo-se sem parar. Ele senta ao lado do outro, sua mão servindo como um pequeno píer para que o outro pudesse se agarrar.
“Talvez, penso eu, poderíamos adicionar mais alguém em nossa mistura, o que me diz?” os dedos do assassino encaracolando-se nos fios marrons. Hannibal podia sentir o cheiro suave de shampoo se desprendendo, era maravilhoso. “Não acha que fica um pouco entediante aqui, só com nós dois?” Will fixou os olhos em Hannibal, a respiração sôfrega, ele não acredita no que estava acontecendo, Hannibal queria se livrar dele!
“Você a quer…” ele disse com um fio de voz, o dedo indicador batendo no meio do peito de Hannibal. “Você não me quer mais…” ele sentia a cabeça pesar, os olhos turvos, os pés molhados, a sala inteira estava sendo engolida por uma onda de água salgada, gelada e escura.
Will sentia que se afogaria.
“Oh meu caro Will…” Hannibal segurou a bochecha do outro na palma de sua mão. “Eu sempre vou querer você, sempre, por inteiro. A questão aqui é que você não me quer, não por completo.”
“Eu não…” Graham lambeu os lábios ressecados, piscando confuso.
“Você sim Will... Você disse que o único modo de estarmos juntos, desta específica forma, seria se eu começasse a praticar necrofilia, algo que eu abomino.” Hannibal se afastou, movendo-se novamente para perto da garrafa de vinho e buscando sua taça anteriormente abandonada. “Não tenho a intenção de obrigar ninguém a praticar tais atos, não faz meu tipo e não preciso. Como vê, há pessoas bem dispostas a exercer tal função, que para você é tão degradante.” Will continuou a respirar com dificuldade, ele lembrou de quando disse isso, foi meses atrás.
Hannibal havia feito algo terrível, sem precedentes, ele trouxera um homem para casa, para que Will o matasse, para que Will coletasse as peças de carne que seriam utilizadas. Ele não faria isso, não conseguiria. Hannibal disse que era uma data importante, ele disse que Will devia o presentear, lhe dar algo. Hannibal merecia algo naquele dia.
Quando Will se negou a matar e esfolar o homem e depois cortar sua carne como gado em um açougue, Hannibal o beijou.
Foi só um toque brusco, de lábios fechados, as mãos do psiquiatra seguraram seu quadril apertado. “Se não pode me dar isso Will, me de qualquer outra coisa” Hannibal cheirou seus cabelos, apertou os lábios contra seu pescoço e Will o empurrou. Ele estava com raiva, ele estava chocado, ele estava com vontade de socar a cara do maldito médico.
Mas ainda assim, Will não queria dizer o que realmente disse.
Ele empurrou Hannibal e se escondeu em seu quarto pelos próximos dias, semanas, depois soube, quando pela primeira vez a mulher apareceu em sua porta, que algo entre eles tinha mudado.
“O que eu disse…” começou, Hannibal balançou a mão no ar, bebendo seu vinho, como se não tivesse acontecido nada.
“Esqueça Will, já passou. Pensei que deveria ter algo seu de especial em meu aniversário, mas você não pode me dar o que quero, não completamente, eu entendo, é claro.” Will levantou da poltrona, indo até Hannibal, parando na frente deste, a taça na mão do médico encostando em seu peito.
“Eu não queria matar aquele homem.” Hannibal revirou os olhos.
"Eu sei Will.”
“Eu não queria o carnear como um porco no abate.”
“Eu já entendi Will.” Hannibal travou o maxilar, estava ficando um pouco irritado. “Deixemos esta conversa de lado meu caro Will.” ele disse terminando o vinho em um grande gole, sem realmente apreciar, uma lástima.
“Não, Hannibal, me escute, eu…” Will segurou os cabelos, seu pobre Will, sempre tão confuso, Hannibal largou a taça em cima da ninfa de mármore, tirando as mãos de Will de seus cabelos.
“Não Will, não faça isso. Acalme-se, relaxe, inspire e expire. Me diga o que devo fazer para que a paz lhe tome novamente?” o médico perguntou galanteador, concentrado em fazer Will se acalmar. Às vezes o professor e agente do FBI perdia o prumo e não era bom para ninguém continuar por perto, mas Hannibal gostava, pois era o único que podia colocá-lo novamente nos trilhos.
“Mate-a!” Will disse, em alto e bom som, fazendo Hannibal quase arregalar os olhos em choque. Quase, já que ele manteve a pose estóica como sempre.
“Will…” Hannibal começou, círculos sendo feitos pelas costas do outro. “Eu gosto da senhorita Clarice e você poderia vir a gostar dela, se não ficasse pelos cantos sempre quando ela vem aqui, poderiam se dar bem…” Will afastou as mãos do médico de si, empurrando levemente este para trás, o dedo indicador no peito do homem.
“Não quero me dar bem com ela, Hannibal. Não quero ser amigo dela, eu a quero morta! Eu quero comer a língua dela com qualquer maldito molho que você queira acrescentar, entendeu? É isso o que eu quero Hannibal!” o médico sorriu minimamente, ele sabia que aquela era a última barreira que ele deveria derrubar. Ele sabia que aquela era a última etapa, a última proteção que Will construira em torno de si.
Sim ele sempre quisera Will e sempre o ia querer, o fato é que ele nunca parecia ter o suficiente do homem instável.
“E o que eu terei em troca Will?” o ex consultor piscou, retomando um pouco a consciência, torcendo nervosamente as mãos, mordendo os lábios.
“O que quiser…”
“Oh Will, minha compaixão com você realmente é um grande problema não é? Sua oferta é demasiada perigosa, no entanto.” Hannibal falou, segurando a mão do homem. “Minha paciência é infinita para ti, mas meu corpo…” Hannibal puxou o outro pela mão, para perto de si. “Meu corpo não é tão paciente quanto meu coração e mente, entende?”
“Você quer foder comigo?” Will perguntou, Hannibal deixou um sorriso de lado escapar.
“Foder? Não Will, não quero foder com você” Will pareceu confuso por um instante, o que então Hannibal realmente queria?
“Eu quero te amar, te consumir, assim como quero que me consuma, o que quero é que nos tornemos um, do modo mais completo que se possa fazer, ambos ainda com vida, é claro.”
“Amor?” Will falou. “Acha mesmo que o que temos, o que sentimos é amor?”
“Não, eu sei que não é, mas é o mais próximo que podemos chegar para nomear. Não é amor Will, mas é assim que podemos explicar. É a única forma que podemos fazer. A que mais se aproxima da verdade.” Hannibal puxou Will até o outro estar em seus braços, o apertando suavemente, cheirando o homem.
“Me diga Will, não está se forçando a isso, não é? Não quero que se machuque desse modo, sempre será o mais valioso para mim, não há necessidade de tal sacrifício.” Will levantou o rosto, ainda dentro do abraço de Hannibal.
“Não quero ser o mais valioso Hannibal, quero ser o único.” ele escondeu o rosto no peito do outro. “Me sinto amedrontado com a ideia, apavorado, como se fosse uma linha tênue, que se eu cruzar me perderei, deixarei para trás meu último fio de consciência, de moral, abandonando meu último traço de humanidade. Me tornando exatamente aquilo que você quer.” Hannibal mantém o abraço suspirando e alisando os fios encaracolados do outro, seu pobre e perdido Will, o que seria de tal homem sem Hannibal para guiar por meio da escuridão de sua própria mente?
“Sim Will, exatamente, exatamente o que quero. É o que quero Will, está certo, mas você quer?” ele perguntou buscando o rosto do homem.
“Desde que Bedelia me falou que você estava apaixonado por mim eu pensei inúmeras vezes nisso...” Will tentou fugir do contato visual, era demais, ele odiava. “De fato eu até mesmo sonhei com isso...” ele confessou, mortalmente envergonhado, mas o que não poderia dizer ao seu médico?
“Oh Will... Estou lisonjeado” Hannibal falou com um tom divertido.
“Cale-se!” Will disse bravo soltando-se do médico. “Vai matá-la? Will perguntou humilde, empurrando os óculos para cima. “Hannibal?" ele chamou quando o médico continuou calado.
“O quanto a quer morta Will?” Hannibal perguntou, os dedos tocando a bochecha do professor.
“Muito.” Will suspirou, buscando o calor do dedo em seu rosto. “Eu quero muito.” Hannibal deixou o dedo escorregar para o lábio do homem à sua frente, tocando a pele macia, fechando os olhos por breves segundos
“Isso terá um preço Will, sabe disso. Um preço caro, meu carinho por senhorita Clarice é grande.” Hannibal falou.
“Eu sei, eu pago o preço Hannibal, eu pago o quanto for...” Will se aproximou do médico, chegando o mais próximo possível sem realmente encostar os lábios a centímetros do ouvido do outro. “Eu quero Hannibal. A quero morta, cortada, cozinhada e marinada em nossa mesa, com tudo que tenho direito. Entrada, prato principal, sobremesa...” Will respirou fundo. " Velas e champanhe." Hannibal agarrou seu braço.
“Velas? Champanhe? É uma ocasião especial? Comemoraremos algo?” pela primeira vez desde que conheceu o médico, Will pode dizer que esse está um tanto alterado, a respiração levemente acelerada, os olhos se movendo rápidos de um lado para outro da sala, até focar em si. E então Will sorriu cúmplice.
“A verdadeira comemoração será após o jantar, Hannibal.”
Hannibal fez um “o” com a boca, pego desprevenido, um tanto chocado.
Seu Will, sempre lhe surpreendendo.
“Will...” Hannibal chamou, atraindo a atenção do homem. “Podemos comemorar agora e jantar depois?” o médico perguntou retomando o controle brevemente perdido.
“Agora?” Will, no entanto, estava nervoso.
“Agora Will, chega de esperar.” Hannibal tomou as costas de Graham, segurando o homem pela cintura, guiando os passos deste para seu quarto, o queixo apoiado no ombro do outro.
“Hannibal...” Will soou apreensivo, ele não tinha medo do sexo, bom, na verdade ele tinha sim, nunca tinha estado com outro homem, mas isso não era o pior, ele estava a tempos, ciente de que a relação entre ele e o médico em algum momento chegaria nesse ponto, o que realmente lhe assustava era transar... fazer amor com o diabo, se entregar para o mal, completamente, ser enfim absorvido por toda a crueldade que existia dentro de Hannibal.
Ser consumido pelo seu fim e seu começo.
“Relaxe meu caro Will, eu lhe garanto a refeição mais saborosa que já experimentou. Um banquete unicamente criado para lhe satisfazer, digno de sua singularidade.”
Will enfim, cedeu, se deixando ser guiado para o quarto do médico.
Hannibal levou um tenso Will para seu quarto, deixou o homem mais jovem sentado em sua cama. Will nunca, em todos aqueles meses que moravam juntos, sentou em sua cama, mas Hannibal já deitara na de Will. Quando ele tinha pesadelos e ficava alterado, Hannibal não se negava o prazer de apaziguar a agonia noturna de Will, com seus abraços e sussurros de que tudo estava bem.
Às vezes Lecter quase conseguia ter uma total compreensão de sua tortuosa relação com Will, ele gostava de infligir dor neste, de causar o caos dentro de sua cabeça, de o deixar confuso, perdido, para que o agente sempre o procurasse. Ele era viciado em conceder conforto à Will.
E Graham era viciado no conforto que Lecter lhe proporcionava.
Mas, na maioria das vezes, o doutor, simplesmente preferia acreditar naquela pequena mentira.
A de que era amor.
“Estou de volta.” Hannibal voltava para seu quarto, em uma das mãos um frasco de uma loção pós banho oleosa com o cheiro delicioso e único que Hannibal criara por encomenda.
Na outra mão uma taça de vinho, um líquido róseo até a metade preenchia o copo. Os olhos de Will estavam desfocados, seu pensamento longe, Hannibal acariciou o rosto do homem. “No que pensa?”
“Em você.” Will responde simplesmente.
“Oh Will, está me deixando tão envaidecido hoje.” Hannibal beijou sua testa carinhosamente, ele tem vontades estranhas para o corpo de Will, ele quer ferir e destroçar, da mesma forma que quer cuidar e dar abrigo.
"Beba." Hannibal ofereceu a taça a Graham, o homem pega e cheira com desconfiança o líquido.
"O que é?" Ele pergunta e mesmo que ele deva temer e negar ele bebe.
"Vinho." Hannibal responde. "Vai ajudar você a relaxar.
Quando Will termina por completo com o vinho, Hannibal o faz deitar em seus lençóis de fio egípcio.
“Penso em todos os meus sonhos, nos quais você já esteve, nos sonhos que já realizamos, em sua grande parte meus pesadelos.” Hannibal suspira frustrado, ele não quer que Will pense nisso agora. Hannibal retira a blusa de Will, a deixando ao lado de sua cama, ele tenta não pensar na desorganização, não agora.
“Will, esqueça isso, agora.” Hannibal coloca o dedo indicador no meio da testa do homem.
“Sonhei que matávamos juntos e matamos, sonhei que comíamos juntos e comemos...” Will olhou para outro, os olhos vendo o médico, como nunca antes o vira. Como o homem que ele queria possuir. “Sonhei que fazíamos amor e faremos.”
“Sim, faremos.” Hannibal sorriu, abrindo o mais delicadamente possível o zíper da calça de Will.
“Sonhei que me matava Hannibal, quando se cansar de mim, me matará e me comerá? Fará isso?” Will perguntou e aquele era um dos momentos mais significativos na vida inteiramente cheia de pontos significativos de Hannibal Lecter.
“Sim Will, eu o consumirei, quando achar que a hora chegou, por inteiro, não deixarei que sobre nada, mas não como o Estripador de Chesapeake descartando seu restos e o degradando e sim como o Picanço de Minnesota, honrando cada parte sua, não deixando que nada se perca, vou aproveitar tudo, até mesmo seus ossos e cabelo.” Hannibal abriu a flanela, deixando a sua respiração correr pela pele dos ombros e clavículas de Will, vendo os pelos se eriçarem. Will fechou os olhos, as pálpebras tremendo, Hannibal tocou seu pescoço, beijando suavemente, ele gostaria de morder, arrancar um pedaço e engolir, mas isso seria para outro momento, não agora, não hoje, nem amanhã.
Quando ele se cansar de Will.
Talvez, isso nem mesmo aconteça, é no que Hannibal pensa no momento, sentindo o cheiro da pele de Will, sentindo o gosto, ouvindo os sons das respirações, as mãos de Will em sua nuca, lhe empurrando para continuar exatamente onde estava.
Como se Hannibal fosse sair de tal maravilhoso local.
“Faça isso.” Will pediu. “Realize todos os meus sonhos e pesadelos...”
“Eu farei isso meu caro, se deseja tão avidamente que eu realize seus sonhos poderia me contar um deles?" disse o assassino. Will apertou os olhos fechados, Hannibal mordia um tanto mais forte o lóbulo de sua orelha.
"Qual deles?" ele perguntou inocente, sua cabeça parecia estar um pouco mais pesada, talvez fosse o vinho.
"Um daqueles do qual falou mais cedo, um destes sonhos de natureza lasciva."
"Hannibal, por favor." Will pediu, era vergonhoso, mesmo para um homem adulto falar sobre seus sonhos, ainda mais sonhos molhados iguais aos de um adolescente no auge da puberdade.
"Sou seu psiquiatra senhor Graham, conte-me sobre este seu sonho recorrente." Will deixou um suspiro escapar, ele não deveria perder tempo tentando lutar, ele perderia mesmo.
"Bem, não é tão recorrente assim, se deseja saber." o médico sorriu, retirando uma pequena mecha de cabelo da testa do professor.
"Deixe de andar em círculos Will, vamos direto ao ponto."
"Desde quando é tão impaciente Doutor?" Will também podia jogar aquele jogo.
"Continue Will."
"Bom, eu estou deitado no meu sonho." Will começa. "Estou sem roupas." a voz está baixa.
"Apropriado." Hannibal diz enquanto se ajoelha na cama, arrancando as calças de Will.
Ele deixa uma respiração abalada escapar. Finalmente ele tem o ex consultor do FBI onde sempre o quis. Em sua cama.
"Você me toca." Will fecha os olhos, lembrando do sonho.
"Onde?" o médico pergunta. "Aqui?" ele torna a perguntar, tocando a intimidade de Will por cima da cueca.
"Sim..." uma voz sôfrega, tão quente, escorrendo dos lábios, causando em Hannibal uma tremenda fome.
Não que Will tenha medo do outro, ele sabe, no seu íntimo que se o médico o quisesse morto ele já estaria, mas não é apenas dor e morte que podem lhe atingir.
E todos esses pensamentos o habitam e ele estremece.
Ele se sente frágil, vulnerável, ele está nu diante de Hannibal, o médico entre suas pernas abertas. Dr. Lecter o observa e Will nunca se sentiu tão pequeno e perdido antes.
Ele não sabe o que faria se de repente fosse deixado só, a sua própria sorte.
Graham pôde sentir a língua molhada e úmida o lambendo atrás da orelha, descendo pelo pescoço, os dentes o mordendo, dentes de um canibal, mordendo sua pele, Will tem imagens abstratas e assustadoras explodindo por debaixo de suas pálpebras como pinturas neorrenascentistas de Hannibal lhe arrancando a carne da jugular, seu sangue grosso e vermelho vibrante manchando os lençóis, os travesseiros, o rosto, pescoço e bochechas do médico que mastiga sua carne rasgada, tritura com os dentes e engole, lambendo os lábios rubros.
O pior, Will conclui, é que isso não o assusta, não como alguém normal deveria ficar assustado, isso o deixa eufórico, a perspectiva de que ele pode ser consumido por inteiro, consumido e ter cada pequena parte desmembrada de seu corpo honrado o liga tanto quanto as experientes mãos em seu membro.
Will entra e sai de devaneios rápidos que oscilam entre violência brutal e sua atual realidade, algo não está certo, ele se sente solto e sem amarras, ele se sente exposto como um fio desencapado.
"Você me drogou?" Ele questiona, a voz é baixa e sai pastosa de sua boca.
"Nada que lhe prejudique, só algo para relaxar." Hannibal diz, a boca mordendo levemente a cartilagem de sua orelha.
"Algum afrodisíaco?"
"Eu não seria tão baixo."
William sorri diante da fala do médico, ele sabe que Hannibal é capaz de coisas muito piores do que lhe drogar com algum afrodisíaco, mas ele tão pouco está preocupado com isso, a droga cumpre a sua função, deixando Will calmo e despreocupado.
Hannibal acaricia seu rosto, os olhos estão vidrados no outro, um olhar claro de um predador diante de sua presa, o doutor se abaixa tocando a bochecha de Will, beijando seus lábios a princípio com um selar casto, ele não quer assustar seu pequeno mangusto, o ex consultor abre a boca primeiro, deixando a língua do homem entrar dentro de sua boca.
A mesma língua da qual papilas gustativas que apreciam carne humana fazem parte, diante do beijo do canibal, Will não consegue se importar com isso, não parece grande coisa, o mais importante é que as salivas que se misturam se tornam a descoberta benéfica de o quão bem aquela boca perigosa trabalha na sua, eles se afastam.
Olhos nos olhos.
Presa e predador.
"Neste sonho, o que mais eu fazia com você? De qual maneira eu manuseava o seu corpo meu caro Will?" William bufou desgostoso, apertando os olhos com as mãos fechadas em punhos, borrões coloridos explodindo abaixo das pálpebras trêmulas, o perfilador lambeu os lábios, o gosto da bebida ainda em sua boca, agora misturada com a saliva de Lecter, ele não precisa lembrar dos sonhos, eles são vívidos em sua memória, mas ele precisava de uma força tremenda para os deixar serem vocalizados.
"Você..." Ele engoliu em seco, com dificuldade o pomo de Adão subindo e descendo. "Me toca."
"Eu já estou a lhe tocar, seja mais específico." O médico tinha aquele tom de troça inconfundível na voz.
"Lá... você me tocava lá..." Hannibal elevou as sobrancelhas em uma divertida surpresa, quem poderia imaginar que seu confuso Will poderia ser tão tímido nas suas palavras.
Ele com certeza apreciava tal revelação.
"Oh... deixe-me adivinhar." O doutor correu os dedos untados de óleo pela parte interna das coxas de Will, vendo a pele se arrepiar, pequenos tremores acontecendo por onde seus dedos tocavam. Will tinha as pernas abertas, os pés plantados no colchão macio, o braço em cima dos olhos, ele queria achar na escuridão uma fuga, Hannibal não o tiraria de seu casulo, ainda não.
Ele não forçaria a lagarta para fora, pois era muito mais satisfatório deixar esta o surpreender com sua singularidade quando resolvesse romper a casca de proteção.
Mas ele não estaria longe quando isso acontecesse, ele estaria por perto, susssurando e alimentando e se fosse necessário, prender com um alfinete as asas da mariposa bela se essa tentasse uma fuga.
Os dedos tocaram a intimidade de William, Hannibal tinha absoluta certeza que o homem nunca tinha sido tocado ali.
Seu corpo vibrou de choque e sua boca abriu para derramar alguma objeção.
Mas Hannibal foi mais rápido, segurando com uma das mãos os joelhos que tentavam se aproximar, mantendo as pernas abertas.
"Era aqui que eu lhe tocava Will?" Ele perguntou, sabendo a resposta, sabendo que era o local exato, o local onde Will queria e temia ser tocado. Quando as pernas não faziam mais forças para se fecharem, o médico pegou um travesseiro, colocando abaixo das nádegas, para as deixar elevadas, não era a melhor maneira, mas ele não queria colocar Will em uma posição que este julgasse desconfortável, era sobre libertação de seus temores e não intimidação.
"Saiba Will que um dos pontos de maior prazer no corpo masculino está na próstata." Ele massageava a orla em movimentos circulares, às vezes adentrando não mais que até o fim de sua unha, só sondando o terreno.
"Vou introduzir um dedo em você, vou ser cuidadoso, vou te abrir para me receber e garanto que sentira prazer com isso." Ele afundou o dedo indicador, o calor era imenso, era apertado exatamente como o doutor imaginou que seria, ele mordeu os lábios, era espetacular.
Will por sua vez fungou, tirando o braço de cima dos olhos, virando e escondendo o rosto em um dos travesseiros.
"Me permite?" O médico perguntou e Will concedeu passe livre para o médico ao seu corpo com um acenar fraco de cabeça.
"É como imaginou? Se sente como se sentia em seu sonho?"
Will negou com a cabeça.
"Dói..." Ele murmurou, no seu sonho ele não sentia dor, ele só sentia uma chama que lambia as paredes de seu corpo o queimando de dentro para fora.
"A realidade é diferente dos sonhos William, sabe disso." Hannibal movimentou o dedo, o torcendo dentro do ex professor, Will sugou uma respiração sôfrega. "Na vida real não existe satisfação sem dor. Nada é lhe dado de forma fácil." Ele aproximou o peito de Will, falando próximo de seu ouvido. "A dor..." Ele retirou o dedo de dentro de Will, voltando a indrotuzir dois de forma abrupta. "E o prazer estão separados por uma linha tênue." O outro gemeu, surpresa e relutância em sua expressão.
"Hannibal..." Ele chamou, os lábios mordidos vermelhos. "Você me dava prazer e dor." Ele disse ofegante, os dedos do médico se movimentando dentro dele, o abrindo, deixando o espaço apertado um tanto relaxado a cada pequeno movimento. "Me pergunto onde está o prazer?"
Hannibal sorriu, deixando a mão livre vagar pelos fios revoltosos do outro.
Olhos azuis lustrosos e bochechas coradas, tão bonito, Hannibal o comeria cru.
De todos os modos.
"Paciência é uma virtude."
"Você não espera virtude de mim." Will disse sufocado.
"Tens razão. Deixe-me dar a luz as suas dúvidas. O Prazer virá assim que eu encontrar o que procuro."
"E o que procuras?" Will questionou.
"Preciso de mais espaço." Hannibal falou, mas não com o outro, mais para si mesmo, ele se abaixou entre as pernas de Will, colocando ambas em seus ombros.
"Não faça nada estranho." Will o advertiu e Hannibal o olhou de baixo, a boca a centímetros de seu membro.
"Não fiz nada estranho no seu sonho?" O médico parecia decepcionado.
Will gritou quando o médico ao mesmo tempo engoliu seu membro e inseriu um terceiro dedo. Sugando de forma desleixada e barulhenta, movendo os dedos rápidos e bruscamente, até encontrar o que procurava.
Fazendo o ex consultor do FBI tremer em suas mãos e tapar a própria boca, o membro expelindo uma pequena quantidade de líquido seminal.
"Isso é estranho?" Lecter perguntou, a boca escorada ao lado do membro duro de Will, beijos sendo deixados ali, lambidas e sucções.
"Posso fazer ainda mais esquisitices, se me permitir é claro." Will com dificuldade abriu os olhos, estes com cílios úmidos e vazios.
A cabeça elevada com dificuldade para ver o outro.
"Will?" Lecter chama. "Me permite?" O mais jovem joga a cabeça contra os travesseiros novamente.
"Sim..." sua voz sai sôfrega, entre gemidos, ele nunca foi tocado ali, sua próstata nunca foi tocada, massageada, provocada. Suas bolas nunca foram chupadas, seu membro nunca foi degustado com tanta fome, não era como em seu sonho.
Era melhor.
Hannibal usou as mãos para elevar os quadris de Will, separando as nádegas e admirando a pequena entrada agora relaxada e avermelhda, abusada por seus dedos, ele lambeu os lábios, faminto, sedento e colocou a boca, lambendo a borda.
"Não... não..." Will tentou fugir, mas Hannibal o parou colocando uma mão em seu membro abandonado e o manipulando.
"Estou lhe dando prazer, não é o que eu fazia em seu sonho?"
"Não assim... Isso..." Will gemeu, Hannibal tinha três dedos dentro de si novamente, entrando e saindo agora com facilidade. "Não acontecia."
Hannibal sorriu, a boca lustrosa de óleo.
"Melhor é a realidade, não é?" Ele não deixou que Will respondesse, voltando a lamber sua intimidade, enfiando a língua em conjunto com os dedos, manipulando o membro duro que vazava sem parar, acertando a próstata a cada toque.
"Hannibal..." Will chamou em voz alta, as pernas trêmulas, Hannibal não parou, continuou cada vez mais rápido seus movimentos, chupando a borda, lambendo, sugando, sorrindo mentalmente por fazer o ex professor gritar e puxar seu cabelo, com espasmos pelo corpo, entregue, gozando em sua cama.
Hannibal lambeu os próprios dedos que ainda manipulavam o pênis do outro, lambendo o gozo deste, os dedos ainda abusando da próstata, lambendo a glande, sugando de dentro destas os últimos resquícios.
Hannibal conhecia inúmeros sabores.
Mas este era um dos melhores, ele facilmente poderia o colocar em uma série de receitas.

"É demais..." Ele sorriu de lado, os olhos negros, com uma mão ele apunhalava a próstata com os dedos, com a outra ele esmagava a glande avermelhada. "É demais Hannibal..." Will tentava fugir. "Dói." Ele dizia, lágrimas fugindo dos olhos.
"Como eu disse, é fina a linha entre dor e prazer."
"Por favor..." William pediu, tentando fechar as pernas.
"Eu lhe dava dor e prazer, não dava?" Will concordou com a cabeça. "O que mais eu fazia? Me diga! Mas diga de forma direta." Hannibal tinha um tom assustador na voz, ele estava duro, estava perdendo o controle, mas ele precisava tanto que Will dissesse aquilo.
Que ele sonhou com aquilo, que seu subconsciente desejou tanto Hannibal ao ponto de criar uma realidade onde seus desejos eram realizados.
"Você me fodia!" Will elevou a voz, falando alto, rápido, gritando, tentando escapar. "Por favor, por favor!"
Hannibal se afastou, as mãos sujas de óleo sendo limpas nos lençóis, ele arrumou os fios bagunçados em sua cabeça, os jogando para trás. Will ofegava, o peito subindo e descendo, as pernas trêmulas, os lábios abertos.
O médico levantou da cama, tirando as próprias roupas enquanto admirava seu pequeno mangusto destroçado em sua cama.
"Em que posição estava em seu sonho?"
"Hannibal." Will advertiu, evidentemente não querendo mais fazer parte daquele jogo.
Eles não poderiam só foder normalmente?
Aparentemente não.
"Diga?" Hannibal agora nu voltava para entre suas pernas, as separando, fazendo com que Will as colocasse ao lado de sua cintura, o ex professor as enlaçou pelas costas do médico, o puxando para perto de si.
"Nesta, estávamos nesta posição e você me fodia."
"Linguagem Will." Hannibal o repreendeu, mas no seu rosto não existia nenhum vestígio de desagrado.
Muito pelo contrário ele expressava um sorriso descomunal e um tanto assutador.
Dentes desalinhados e arreganhados e aquilo deu a Will uma visão, aquela boca manchada de sangue lhe cobrindo de contusões e isso o fez gemer em apreciação.
Hannibal busca o óleo perdido entre os lençóis, colocando o líquido viscoso em seu membro, o segurando na base para o forçar contra Will, derrubando as barreiras morais e físicas deste.
Will aperta os olhos fechados, queima e dói como o inferno, mas ele pode suportar isso, ele é um homem adulto, mas mesmo assim, mesmo que ele não queira uma lágrima solitária escorre pela bochecha.
"Você está bem?" Hannibal pergunta.
"Estou... Continue."
"Não precisa se forçar a isso Will."
"Não estou me forçando a nada eu..." Will gostaria de poder se esconder agora, mas ele não pode. "Eu quero você."
Hannibal esperou alguns minutos, ele não considerou como tempo perdido, ele beijou Will e o manteve ancorado no evento, a droga que ele tinha administrado em Will fazia com que ele perdesse a atenção, ficando solto e perdido, mas Hannibal o mantinha ali, no presente momento, o médico começou se movendo devagar, tomando cuidado para não machucar o outro, mesmo que ele o tivesse preparado bem, Will era novo com esse tipo de intromissão, algo que satisfazia e muito o lado possessivo de Hannibal.
Quando Will começou a gemer, em princípio baixo e espaçado, Hannibal soube que podia acelerar seus movimentos.
Não demorou muito para que ambos encontrassem uma velocidade e cadência que satisfizesse os dois.
"Você é tudo que eu sempre quis Will, ter você é a minha maior realização."
"Me pergunto..." Will geme, mordendo os lábios. "O quanto disso é amor e o quanto disso é sua patologia?"
"Talvez eu seja patalogicamente apaixonado por você." Hannibal diz, chupando a pele da clavícula de Will.
"Talvez..." Will sorri e Hannibal começa a estocar um pouco mais forte, um pouco mais rápido. "Talvez eu também tenha alguma patologia. Dependência." Graham geme, as estocadas fundas o movimentam contra a guarda da cama. "Por isso nunca me abandone Hannibal. Nunca!"
"Jamais mano meilė, jamais"
Will está suado, a pele corada, Hannibal está seguradando suas mãos acima de sua cabeça, os lábios abertos, os olhos fechados, ele deixa o pescoço à mercê, exposto, os fios encaracalados grudados na testa.
Hannibal não se lembra de já ter visto algo tão belo, mesmo que ele tenha visto uma imensa quantidade de coisas sublimes.
Will Graham é a personificação de todas as suas vontades.
Tudo que ele sempre desejou, um amigo, um companheiro, um amante, não foi fácil conseguir este corpo abaixo do seu, maleável e disposto a aceitar tudo que ele pudesse dar.
Hannibal movimentou o quadril para frente, estocando de maneira rasa e superficial, incapaz de se concentrar em seus movimentos, muito mais interessado nas expressões faciais do outro homem.
"Hannibal..." Will gemeu, os dedos apertando os ombros do médico, os joelhos apertados contra as costelas de Lecter. "Hannibal" ele diz novamente e então o médico o olha, acaricia seu rosto, Will abre os olhos, lambe os lábios e Hannibal não consegue deixar a vontade de beijar aqueles lábios passar, ele toma a boca como sua, enquanto movimenta o quadril, uma das mãos no rosto do professor, a outra segurando suas mãos acima da cabeça.
"Você é quente Will" ele diz, o nariz corre da testa até o pescoço do outro, ele é alguém que sempre deu muito valor a cheiros.
O cheiro de Will é único.
Cheira a loucura e instabilidade, cheira a medo, cheira a entrega e prazer.
Will Graham cheira a ele.
"Tão quente" ele murmura contra a pele e solta as mãos de Will, elas logo vem para seus ombros, Will pisca, abre mais as pernas.
"Fundo" ele diz "Mais fundo"
Hannibal sorri minimamente, ele afasta, segurando Will por detrás das coxas, fazendo que seus movimentos sejam mais fundos. O ex agente corre as mãos pelo peito e abdômen do outro, a cabeça balançando em negativa.
"Hannibal, não." Will diz e o médico eleva uma sobrancelha.
"Qual o problema Will?" ele pergunta, um tanto divertido.
"Assim não Hannibal." Will murmura, cravando as unhas no outro
"E como é que tem que ser Will? Você queria mais fundo, estou lhe dando isso." Will suspira um tanto desgostoso, deixando os braços caírem ao lado do corpo em desistência.
Até mesmo o sexo com Hannibal Lecter tende a ser um embate psicológico.
Extramente excitante.
"Eu quero fundo" Will geme quando Hannibal faz um movimento precisamente mais fundo. "Eu quero rápido."
"Rápido?" Hannibal pergunta mesmo que tenha ouvido perfeitamente.
"Sim" o tom da resposta é um puro prazer pingado.
"Então diga, vocalize seus desejos." Hannibal fala.
"Eu já disse!" Will parece ofendido, ele está sendo segurado na borda de um precipício há tanto tempo.
"Não tenha medo daquilo que quer, daquilo que é." Hannibal segura seu queixo, invadindo o olhar do outro.
Maldito médico!
Com uma bufada exasperada Will responde.
"Rápido, mais rápido Hannibal!" o sorriso de Hannibal ameaça rasgar a máscara tão bem colocada.
"Sim, mais rápido Will"
Hannibal se deixa perder por breves instantes, deixando sua sempre controlada maneira de agir de lado.
Ele estoca forte e rápido, segurando as pernas do outro. Will se perde, deixando gemidos serem derrubados de seus lábios, tocando Hannibal onde as mãos alcançam.
Não demora muito mais, mesmo que ambos sejam adultos e maduros com bastante controle sobre seus corpos, o frenesi da descoberta do corpo um do outro cobra o preço.
É novo para ambos, não só uma atividade sexual, é algo mais, é uma experiência transcendental, é a união de suas mentes, definitivamente, Hannibal nunca deixará que Will saia de seu lado, jamais! Will lhe pertence de todas as formas. Hannibal deixa uma das pernas do professor solta, derrubando-a no colchão, segura a outra alto, encostando a panturrilha em seu pescoço, ele vira o corpo de Will de lado, os movimentos são rápidos. O ex agente tem as sobrancelhas franzidas, palavras balbuciadas, ele envolve o próprio membro com a mão, tentando coincidir sua velocidade com a de Hannibal e logo, os dois encontram o prazer sublime de suas ações. Hannibal suprime um som mais animalesco no momento de seu final, mordendo a perna de Will, forte, chegando a cortar a pele.
Ah sim, ele comeria Will.
O outro grita de dor e prazer, deixando que seu prazer molhe sua mão, tentando afastar a panturrilha da boca do canibal, mas Hannibal só se afasta quando ele quer, lambendo e beijando a pele maltrada um pouco antes de sair de dentro de Will.
Os dois deitam na cama, os olhos se examinando.
Will sorri, movendo-se para perto do médico, deitando-se de lado, de costas para o outro, querendo sempre fugir do olhar avaliativo do doutor.
Hannibal o envolve com os braços, um abaixo da cintura de Will e o outro por cima, as mãos se econtrando no peito do homem.
"Pensei que arrancaria um pedaço de mim." Will diz, ofegante.
"E eu arrancaria. Mas lhe consumir dessa forma, mesmo que incrivelmente sedutora, no momento me parece um desperdício." ele se aproxima mais de Will, uma das pernas sendo posta em cima do quadril marcado.
"Quero aproveitar muitas vezes mais você desta forma."
O canibal deixou que os dedos vagassem livres pelas costas nuas de Will, o homem deitado a sua frente tinha uma fina camada de suor sobre a pele, a respiração anterior irregular e ruidosa agora estava calma, pacífica, mas Hannibal sabia que Will não estava dormindo.
"No que pensas?" Hannibal sempre era curioso sobre o que ocupava os pensamentos de Will.
"Estou com fome." o outro disse, Hannibal sorriu.
"Quer que eu lhe prepare um lanche? Uma cena tão doméstica..." ele deixa um pequeno beijo no ombro nu.
"Você me prometou um jantar Lecter." Will disse, virando para Hannibal.
"É uma e meia da manhã Will." Hannibal pareceu um tanto chocado, ele tinha feito um certo exercício, preferia descansar.
"Achei que tivesse provado a você que posso ser o único." Will deixou a mão em cima do peito do outro.
"E provou." Hannibal concordou pegando a mão na sua.
"Então eu quero ser o único Hannibal, você prometeu." O médico deixou uma risada suave escapar.
"Está certo, quem diria que você seria um amante tão exigente?" Hannibal levantou da cama, procurando o roupão de seda e envolvendo o corpo nu com este.
"Lhe desagrada?" Will perguntou, esticando o corpo contra os lençóis, Hannibal observou a cena...
Uma pequena presa, feliz e complacente com as suas vontades à sua mercê, como poderia lhe desagradar?
"Obviamente que não, posso tomar um banho primeiro, antes de buscar os ingredientes para o nosso jantar?" Will concordou com um acenar de cabeça.
Hannibal se afastou, mas voltou brevemente.
"Will, descanse, não me espere, voltarei somente quando tudo estiver pronto, arrume nossos objetos pessoais, partiremos logo após o jantar."
"Sim." Will concordou, bocejando. "Hannibal?" ele chamou e quando o médico lhe direcionou um olhar quente ele completou. "Sentirei sua falta."
Hannibal achava que seu rosto deformaria com a quantidade de sorrisos que ele estava distribuindo.
Quando Will acordou já passava das nove manhã, foi um sono profundo e sem pesadelos, irônico de se pensar que na noite em que ele se entregou de corpo e alma para o mal ele dormira tão bem.
Will levantou da cama, tomou um banho e organizou seus pertences e os de Hannibal, ele também comeu algo previamente preparado pelo outro, depois um tanto entediado ele leu um dos tantos livros sobre psicologia do doutor e acabou adormecendo no sofá confortável.
A próxima vez que Will encontrou a consciência o céu já perdia o tom alaranjado do entardecer, ele despertou por completo, sentando no sofá, derrubando o livro no chão, a casa estava silenciosa, sem som de música clássica ou talheres batendo.
Will sentiu um frio na espinha.
Talvez... Hannibal tivesse mudado de idéia.
Ele levantou, buscando pelos cômodos o doutor, foi com alegria que ele o encontrou em seu quarto, arrumando o nó de sua gravata em frente ao espelho de corpo inteiro.
"Olá Will." Hannibal disse, direcionando um olhar ao outro.
Will escondeu o melhor que pode o suspiro de felicidade.
"Há quanto tempo está em casa?" perguntou ao médico.
"Um par de horas."
"Por que não me acordou?" Will disse.
"Precisaremos que alguém fique alerta durante nossa pequena viagem, temo que devido a minha noite em claro não serei eu." Will sorriu, ele se aproximou do médico.
"Está pronto?" perguntou deixando a cabeça sobre o ombro do homem, olhando os dois pelo espelho.
"Sim." Hannibal sorriu medonho. "Por isso sugiro que vá se preparar, deve usar algo apropriado." Will fez um bico com os lábios diante da sobrancelha elevada do médico.
"Sabe que não tenho roupas iguais a essas suas." Will ofereceu humilde.
"Sei, por isso tomei a liberdade de lhe comprar algo para hoje, afinal é uma noite especial, estou certo?"
"Sim." Will sorriu e se afastou do médico para ir ao banho.
Só para ser puxado pela mão por Hannibal, tendo os lábios selados rapidamente, de maneira um tanto desajeitada, era estranha a aproximação, mas os dois estavam dispostos a fazer desses momentos normais.
"Não demore ou vai esfriar."
"Não se preocupe." Will disse, enfim saindo do quarto.
Quando Will chegou a sala de jantar, já de banho tomado e vestindo o terno de três peças que Hannibal escolheu para si, ele encontrou a mesa posta, velas negras queimando em castiçais de prata, taças de cristais, talheres polidos e no centro o que ele não saberia nem em mil vidas vividas descrever...
Algo sem precedentes, um arranjo de rosas vermelhas misturadas a uma carne macia e cozida no ponto, impressionante pensar que Hannibal preparou tudo aquilo enquanto ele dormia. Mais impressionante ainda era saber que aquilo... Aquela carne...
"É ela?" Ele perguntou, sem rodeios, sentando na cadeira a sua frente, enquanto Hannibal finalizava a apresentação do jantar, adicionando detalhes mórbidos e sombrios como em toda a sua culinária.
"Quem mais seria?" O doutor perguntou, o barulho da pressão da rolha saindo da garrafa de champanhe fazendo Will saltar em sua cadeira.
"Você fez mesmo?" Ele não parecia chocado ou assustado, ele só parecia curioso. Como ele queria! Lecter tinha feito mesmo como ele queria?
"Sim Will. Eu fiz, você queria e eu fiz. Pensou em algum momento que eu não cumpriria a minha parte no acordo?"
Will bebeu o agora champanhe em sua taça.
"Bem..." ele avaliou o prato principal.
O prato principal...
Clarice Starling.
"Dado ao seu histórico..." o antigo profile começou e Hannibal cessou o movimento da faca que cortaria o assado.
"Meu histórico?" Ele elevou as sobrancelhas. "Por acaso fui eu quem não fez a sua parte, em um dos nossos jantares mais importantes?"
Will olhou para o lado, o olhar perdido.
"Você me incriminou, você..." ele parou, ele não mencionaria Abigail, não, ele perdoou Hannibal por isso, ele não mencionaria.
"Você me traiu." Hannibal deixou um pedaço de carne no prato de Will, ao lado de cogumelos, um favo de mel que era notoriamente só para enfeitar. "Preferiu Jack a mim."
"Mas no fim eu escolhi você." Will falou, defendendo-se, antecipadamente, pois sabia que quando Hannibal entrava naquela sala de seu palácio mental ele não saia mais dela.
"E eu..." Hannibal movimentou os olhos, olhando para o prato de Will. "Cozinhei para você. Agora coma, temos uma noite inteira de viagem pela frente."
Will cortou a carne, era macia, suculenta, rosada, ele odiou que ela tivesse um gosto mais do que agradável em sua boca, ele odiou que Hannibal fizesse aquela expressão de prazer enquanto a degustava, ele queria que o gosto fosse azedo igual ao seu ciúmes fervendo dentro de si.
"Você ainda não me explicou porque temos que partir."
"Senhorita Clarice era agente da lei." Hannibal falou.
"Você tem um tipo bem específico, não é?" Will disse desdenhoso, mastigando a carne, sem vontade.
"O que posso fazer? Pessoas que se entregam para uma vida de proteção ao próximo e cumprimento da lei, para fugir daquilo que são por dentro, pessoas que se escondem por trás de um distintivo para esquecer seus anseios, são interessantes."
"Acha que ela aceitaria estar no meu lugar, comendo carne humana, preparada como se fosse um corte de primeira?"
"Não sei até onde senhorita Clarice chegaria Will e nunca saberei, assim como nunca soube qual caminho você tomaria, assim como até mesmo me enganei, pensando que nossa xícara pudesse se restaurar." Will se mexeu desconfortável na cadeira, os pés esticados por debaixo da mesa, a expressão de seu corpo toda gritando auto proteção.
"Não." Ele disse, apertando os talheres em suas mãos. "Esse assunto não."
"Está bem... Se assim deseja." Hannibal comeu mais um pedaço de carne. "Você ainda não me disse, o que achou do jantar?"
"Sublime, delicioso, saboroso." Will falou sem convicção e mesmo que Hannibal não comprasse a sua falsidade ele ainda assim sorriu cortês e contido. "Fico feliz que seja do seu agrado."
"Qual..." Will não sabia muito bem como perguntar. "Qual parte era?" Ele disse, tímido, mas curioso demais para não perguntar.
"As nádegas." Hannibal respondeu.
"Hannibal!" Will disse alto, largando os talheres e bufando, pronto para levantar e sair.
"Acalme-se Will. É uma brincadeira. São filés das coxas, marinados em sal marinho e ervas do oriente, gratinos envindos em folha de bananeira com mel e alecrim." O doutor disse com um sorrisinho irritante no rosto.
Quando o jantar terminou, Hannibal cuidou da limpeza da cozinha e dos pratos, enquanto Will colocava os bens pessoais e algumas malas de roupas no porta malas do carro. O médico preparou refeições para ambos levarem na viagem pois segundo ele, as refeições servidas no trem não eram boas o suficiente.
Com ambos já no carro eles foram para a estação mais próxima, Will não sentia vontade de saber para onde iriam, seria um lugar novo, uma identidade nova, ele estava cansado disso, mas as coisas eram como eram, chegaria um momento no qual ele pediria para Hannibal para ficarem permanentemente num lugar, mas essa ainda não era a “essa vez”.
Não com o que ele desejou sendo realidade.
Eles chegaram na estação, as malas foram colocadas no vagão de carga, embarcaram, sem nenhum grande transtorno.
Depois de alocados, a lua já brilhava no céu, era em torno das onze da noite, Will foi para fora da cabine reservada para ambos, lá fora o vento balançava seus cabelos e esfriava suas bochechas, ele se sentia culpado, por não se sentir culpado, uma jovem mulher tinha sido assassinada por sua vontade, porque ele assim quisera e ele não conseguia sentir nenhuma culpa.
"No que pensas?" Hannibal o surpreende, parando ao seu lado, já de pijama e um daqueles hobbies de homem rico.
"Na última vez que estive em um trem fui jogado para fora dele em movimento." Hannibal sorri, lembrando de sua boa garota.
"Esse risco você não corre." Hannibal responde.
"Eu sempre corro riscos ao seu lado." Will diz.
"Bem... o risco de ser jogado de um trem em movimento você não corre." Will sorri divertido, as vezes ele consegue imaginar para ambos um futuro sadio e normal, mas na maioria das vezes ele sabe...
Hannibal não é alguém que abre mão de suas vontades.
"Vamos entrar, você precisa descansar."
"Tão bom, cuidando de mim." Hannibal fala, acariciando a face de Will.
Eles entram na cabine e Hannibal se deita na cama, Will troca de roupa sobre o olhar do outro.
"Você reservou uma cabine com somente uma cama?"
"Em nossa atual situação não achei necessária duas camas."
Will deitou na cama, foi um pouco estranho, mas quando Hannibal o puxou, o abraçando, ele esqueceu de todas as suas preocupações.
O quão louco um homem deve ser para se sentir seguro nos braços de um assassino?
Ele nunca teria suas respostas, não por Hannibal, esse jamais diria que ele era louco.
"Para onde estamos indo?" Ele pergunta, a cabeça no peito do canibal, onde ele pode ouvir um coração pacífico batendo.
"Você deseja saber?"
"Sim, isso é um problema?"
"De maneira alguma, é só novo, você nunca pergunta."
"Eu sempre me privei daquilo que queria. Hoje pela primeira vez eu deixei que você realizasse um dos meus desejos."
"Deixar não é bem a palavra certa meu querido." Hannibal falou divertido.
"Lhe incomoda ter matado a minha suposta substituta?" Will tentou fugir dos braços do médico, revoltoso.
"Ela não era sua substituta Will. Você é único, ninguém pode tomar o seu lugar." Hannibal falou, apertando Will mais forte em seus braços.
"Mas você pensou nisso, não pensou?"
"Eu criaria um lugar para ela, mas ela não tomaria o seu lugar."
"Eu deveria me preocupar por não me sentir culpado?" Will perguntou, sabendo muito bem que Hannibal falaria sobre o sentimento de culpa e toda aquela coisa de ser quem se realmente é, mas diferentemente do sermão que ele esperava ele ganhou o silêncio, até mesmo chegou a pensar que o médico tinha dormido.
"Existe uma síndrome, chamada Creutzfeldt-Jakob, ela causa insônia, perda de memória, perda da coordenação motora e demência, ela é causada pelo consumo de uma proteína chamada prion, essa proteína está presente na carne humana."
"Esta tentando me dizer que você me infectou, com loucura?"
Hannibal sorriu, beijando o topo da cabeça de Will.
"Talvez isso lhe cause a falta de culpa."
"Você está tão engraçado hoje doutor."
"Eu me sinto feliz por ter lhe dado aquilo que desejou."
"Seu complexo de Deus fica satisfeito em ter realizado algo que eu queria."
"Bem, sim. Então, não deixe de me dizer quando quiser algo, nunca mais se prive de querer algo. Eu nunca faço."
"Eu sei bem disso. Doutor Lecter sempre tem aquilo que quer."
"Evidentemente. Eu quis você e veja só? Lhe tenho em meus braços." Will se moveu, deixando o rosto para cima de modo que pudesse olhar para o médico.
"Eu já tenho a minha maior vontade realizada Hannibal, por isso não quero pedir demais. Temo a dívida que terei que pagar."
"Qual é essa vontade Will?"
"Você. Eu queria estar com você e eu estou."
Hannibal deixa um selar fraco nos lábios de Will.
"Vamos dormir meu querido."
Em poucos minutos Hannibal já dorme e Will antes de cair no sono constata que no fim, Hannibal não lhe disse para onde iriam.
Mas isso não era um problema, afinal fossem para onde fossem eles iriam juntos.


Graham tinha aquela coceira por debaixo de sua pele, como se um bilhão de insetos rastejassem por seus braços e pernas, ele não conseguia fazer parar.
Ele tentou de muitas formas e usando de muito artifícios para se distrair.
Mas era impossível.
Ele a princípio não quis saber como foi feito, como o corpo foi deixado, como foi o design da morte de Clarice, mas alguns meses depois era tudo no que ele podia pensar.
Era tudo que ele mais queria saber.
E ele poderia perguntar a Lecter, mas este ou não notava ou fingia não notar sua inquietação, não dando margem para que Will abordasse o assunto.
Hannibal estava muito mais preocupado em aprimorar sua técnica de manter Will cada vez mais preso a si, cada vez mais dependente.
O cercando de cuidados como se ele fosse uma criança, o cobrindo de pequenas satisfações, Will agora tinha um cão, um cão que Hannibal julgava apropriado, elegante, inteligente, treinado em japonês, mas ainda em seu íntimo, um cão como qualquer outro, um adorável afghan hound, os pelos compridos eram a nova obsessão de Hannibal, que levava o cão para ser banhado e escovado uma vez por semana.
Mas nem essa alegria tirava Will de seus mais sombrios pensamentos, parece que depois que ele expôs algo tão feio quanto querer a jovem moça morta ele não conseguia mais reprimir nenhuma vontade obscura.
Isso ou deitar com Hannibal tinha enfim o corrompido, o prazer carnal por vezes é responsável por mudanças drásticas na ética e moral de algumas pessoas.
Talvez Will fosse uma dessas pessoas.
Ele não podia negar que Lecter o tinha mudado, transformado ele em outro alguém, apesar de Hannibal afimar categoricamente que esse alguém sempre estivera lá, que era o seu verdadeiro eu. E agora que ele tinha enfim saído de seu casulo, ele não conseguia mais se reprimir.
Fosse como fosse, essa vontade existia dentro dele e só cabia a ele a matar.
Ele precisa ver, sentir, estar lá.
Hannibal não estava em casa, estava em qualquer lugar buscando um refinado ingrediente ou ceifando a vida de alguém, Will não se importava, ele sabia que Hannibal voltaria, ele nunca o deixaria.
Will sentou no chão, no tapete fofo, o cão, Giu, ao seu lado, os olhos o avaliando curiosos e as patas sobre suas coxas, ele pegou o tablet, acessando a internet via wi-fi, sorrindo para o papel de parede.
Hannibal definitivamente era uma pessoa estranha.
A foto de capa do tattle crime como papel de parede, a manchete Murder Husbands.
Ele procurou pelo Google por notícias do crime o nome de Clarice ao lado da palavra "assassinada" entrou em um site de notícias, explicando quais as circunstâncias na qual o corpo foi encontrado, a idade da mulher, com o que trabalhava, informações sobre a investigação.
"A Polícia não tem pistas.
A Polícia não tem suspeitos.
A Polícia acredita que tenha sido um crime passional."
Bom, nisso estavam corretos.
Um link o levava para um vídeo, um telejornal noticiando o crime, algumas entrevistas com parentes e amigos, dizendo quanto era uma boa pessoa a vítima.
Nada disso interessava Will.
Nada disso sanava sua coceira.
Ele rodou a barra para baixo e trocou de página no Google, uma, duas, três, nada, tudo era mais do mesmo.
Até se deparar com um título que lhe chamou a atenção.
"O canibal vive"
Will abriu rapidamente o link, ele redicionava para uma página com um layout pesado, negro, com letras grossas em vermelho, imagens do que parecia sangue correndo pela tela.
O nome do blog era Baía de Chesapeake, a foto do dono do blog era uma de Hannibal, sua foto que o FBI tinha usado na lista dos cem mais procurados.
Will soltou uma risada divertida.
É claro que ele sabia que existia esse tipo de gente, o tipo que por algum motivo estranho se torna "fã" de serial killers, ele só achava mundanamente engraçado que o seu Hannibal tivesse esse tipo de fãs.
Hannibal adoraria tais pessoas.
A postagem do blog fazia uma alusão sobre a morte de Clarice pertencer ao Doutor Lecter, mostrando todos os pontos em comum com os seus já creditados assassinatos anteriores.
O fato do assassino ter levado um bom pedaço de carne da vítima.
A apresentação do corpo, a total falta de provas, a violência quase poética da cena do crime.
Graham não precisava que nenhum adolescente lhe disesse que aquilo era obra de Hannibal, ele sabia, mas não podia negar o quanto aquela mulher, por que sim, ele sabia que deveria ser uma mulher, pela escrita floreada, pela quase adoração ao assassino e sua obra, era deveras esperta, uma pena que muito provavelmente ela fosse vista como alguém estranha e não lhe dessem nenhum crédito.
Abaixo de todo o texto continha um link, onde fotos reais da cena do crime eram prometidas, Will apertou os lábios, se ele fosse redirecionado para mais uma página qualquer ele abandonaria sua busca, pelo menos por hoje.
Mas foi com surpresa que ele percebeu estar errado.
Realmente eram fotos da cena do crime.
A primeira de uma sala de estar, foco no sofá com um xale de cetim preto jogado; na mesa de centro duas taças de vinho, uma vazia, a outra pela metade e com uma marca de batom na borda.
A segunda era de um corredor, uma porta aberta a esquerda, uma fechada a direita, um relógio preso a parede quebrado, uma pequena mancha de sangue no vidro deste.
E por fim a terceira imagem, o corpo de Clarice, ajoelhada aos pés da cama, nua, usando um véu de noiva, escoriações pelo seu pescoço, uma guirlanda de flores brancas prendendo o véu na cabeça, um corte grande e profundo em uma de suas coxas, os braços esticados para cima do colchão, uma mão sobre a outra e ambas viradas para cima, nelas um coração humano, com as mesmas flores brancas que tinha na guirlanda.
Gipsófilas, flores muito usadas em casamentos.
Will fechou os olhos, vendo o pêndulo balançar, se deixando levar, tudo ao seu redor sumindo, a respiração calma de Giu dormindo em sua perna, o chiar do chuvisco batendo na janela.

Eu sou recebido com alegria, eu sou esperado, Clarice claramente se arrumou para me receber, um bonito vestido preto, um xale de cetim cobrindo os ombros, batom vermelho nos lábios, ela me leva para a sala, sentamos no sofá, ela nos serve vinho, sorri sedutora e satisfeita.
Ela acredita ter ganhado.
Decidimos ir para o seu quarto, no caminho, pelo corredor eu coloco a mão em sua cintura, ela para, me olha, eu bato fortemente com a sua cabeça em um relógio de parede.
Seu corpo amolece em meus braços, eu gentilmente a levo para seu quarto, coloco ela em sua cama e volto para sala, pegando a pequena mala que trouxe comigo, visto rapidamente o macacão de plástico resistente, já estou de quatro em cima dela com o véu que trouxe para ocasião quando ela desperta, desorietada, ela me vê, ela me vê como realmente sou e ela teme.
Estou decepcionado.
Enrolo o véu no pescoço dela, ela se debate e luta, ela implora por sua vida.
Tão fraca... e tão forte ao mesmo tempo.
Estou considerando causar mais dor do que a princípio planejei, mas não faço, dou uma morte rápida, em respeito aos bons sentimentos que ela me trouxe.
Pego um bisturi e uma serra portátil, eu corto seu peito, uso a serra em suas costelas, tem muito sangue ainda quente espirrando, retiro seu coração.
Coloco ela de joelhos aos pés da cama, seus braços esticados, palmas das mãos para cima, uma sobre a outra, coloco o órgão nas mãos dela, as gipsófilas sobre este.
Coloco o véu em sua cabeça, uma guirlanda com as mesmas flores para enfeitar.
Esta é a nossa união minha querida.
Me ajoelho ao seu lado e retiro uma gorda e suculenta peça de carne de uma de suas coxas.
E vou embora.

Quando Will abre seus olhos sua respiração está ofegante, ele se sente um pouco tonto, sente o suor escorrer por seu pescoço.
Submergir na mente de um assassino sempre foi exaustivo, mas depois de tempos sem colocar tal dom em uso parece ainda mais estafante.
Giu não está mais dormindo sobre suas pernas, existe um cheiro gostoso de algo sendo preparado na cozinha e Hannibal está sentado confortavelmente no sofá a sua frente.
O homem fixamante olha para Will.
Um olhar quente, escaldante.
Will pode ver claramente como Hannibal é em uma cena de crime, o que ele faz com sua vítima e quais são suas motivações, mas é impossível ler o homem que está bem a sua frente.
Lecter é impermutável.
Seus olhos são vazios e frios, sua expressão é sempre serena, um sorriso fino e calculado.
Tudo para manter a capa de homem real.
Uma capa bem colocada e atarraxada, mas que Will consegue infiltrar.
Ele vê o que tem por debaixo, mas é só porque Hannibal permite.
Lecter lhe deu esse presente.
Ambos se avaliam por alguns instantes em silêncio, até Will o quebrar.
"Você coletaria o coração, mas não o fez, por quê?"
Hannibal respirou fundo, arrumando sua postura no sofá, abrindo o botão do paletó.
"Achei indigno como alimento para você."
"Por que?" Will levantou, as pernas doloridas por ficar tanto tempo na mesma posição.
Lecter não o respondeu, achando mais interessante acariciar a cabeça de Giu que exigia sua atenção.
"Por que ela lutou pela vida? Por que ela não se entregou à você totalmente?" Will estava calmo enquanto perguntava, sentando ao lado do outro. "É normal Hannibal, é sobrevivência, você sabe, no fim tudo que podemos fazer é lutar." Will tocou o ombro do outro homem, como se ele fosse quem devesse ser confortado.
"Não, lutar pela vida é um instinto." O doutor disse, os olhos perdidos pela sala. "Foi o que vi nos olhos dela que me decepcionou Will." Ele suspirou. "Quando ela me viu, como realmente sou, ela temeu. Achou medonho."
"Ela nunca poderia lhe aceitar." Will completou.
"Não, no fim eu me enganei, não existe nesse mundo, ou nessa existência quem possa me compreender como um todo e no fim ainda me aceitar."
Hannibal tocou o rosto de Will, os dedos traçando as linhas já marcadas pela idade na pele do homem.
"Só você e ninguém mais pode me ver."
"E por isso sou único." Will murmurou, apreciando a carícia.
Ambos eram homens que por conceito de muitos não eram dignos de aceitação, afeto ou amor.
"E obviamente nunca abrirei mão de algo tão único." mas ambos tinham criado para si uma realidade onde tinham aceitação mútua e compreensão.
"Não demonstrarei medo no meu último suspiro. Tão pouco o aceitarei passivo." tinham encontrado amor, mesmo que esse fosse sórdido e retorcido.
"Passividade vinda de você me chatiaria. É a luta que ocorre dentro de você, dia a após dia que me entretém." mas ainda assim...
"No fim então, lhe fiz um favor." mesmo que não fossem homens de bem.
"E eu o retribui." poderiam conviver com o que há de melhor no outro.
A xícara estava restaurada.


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Notas finais do capítulo

Fiquem a vontade para comentarem, por favor é importante a opinião de vocês.
Qualquer dúvida me perguntem.
Bjinhos
Chibi Lord~



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