A princesa proibida escrita por Helena Melbourne


Capítulo 21
O desejo do não




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— Kiara!!! – a mãe entrou no quarto algumas horas depois, estupefata. – Tem alguma noção do constrangimento que você gerou a todo o reino?

— O pronunciamento era meu, achei que deveria ordenar algo útil a mim. – respondeu simplesmente.

— Não se faça de tola, menina. Não és mais tão criança, sabe que tem muito em jogo. Todos esperavam que anunciasse seu noivo, os príncipes vieram para isso e estão bastante descontentes. Seu pai está até agora na sala de reuniões com eles, procurando acalmar os nervos. – Kiara estremeceu sentindo uma pontada de culpa, porém, não poderia voltar atrás e lidaria com as consequências.

— A senhora não pode pensar que eu escolheria um deles depois do que aconteceu ontem, não é? Isso seria crueldade... – defendeu-se.

— Nem todos os homens são iguais. – apertou os olhos. - Além disso, se Reichstein não fizer uma aliança política com algum reino logo, nosso povo passará fome. Precisamos de trigo ou não alimentaremos o povo até o próximo inverno.

— Então sou isso? Uma moeda de troca? – ofendeu-se.

— Você é uma princesa e logo será rainha, precisa anular-se, muitas vezes. – explicou duramente. – Entendo que esteja perturbada após os recentes acontecimentos, mas por que escolher o exilado? Envergonhou também todos os nossos melhores soldados.

— Kovu me salvou mais vezes do que qualquer um, ele provou ser de confiança. – falou decidida.

 - Nos decepcionou hoje, Kiara. – a mãe suspirou, deixando o quarto.

A princesa permitiu-se estremecer diante dos temores, sabia que os pais estariam descontentes, quando planejou tudo na cabeça era muito mais fácil de lidar do que na realidade. Porém, não iria se deixar abater novamente, precisava ser forte agora para enfrentar tudo o que viria, não seria mais a menina indefesa e, por isso, soube que tomara a decisão correta. Ele era a chave.

***

— Vai me explicar por que desafiou vosso pai e resolveu me tornar vosso brinquedinho particular? – questionou com um quê de irritação. Kovu acabara de entrar abruptamente pela porta sem ser anunciado, levando a menina a saltar de susto.

— Oh Deus! – colocou a mão no peito, protegendo o coração. – O senhor não bate? Eu poderia estar indecente!

— Olha, princesa, não quero fazer parte do seu plano de rebeldia contra o rei. Já não sou bem visto por aqui. – exclamou, ignorando-a.

— O que foi? Muito difícil para o senhor me acompanhar? Fazer rondas pelo castelo é tão emocionante assim? – ela devolveu sarcástica, sentindo-se ofendida, Kovu riu sem humor.

— O que quer com isso, princesa? – retornou desconfiado.

— Você. – disse simplesmente, Kovu arqueou a sobrancelha direita e sorriu de modo cafajeste. Kiara percebeu o que suas palavras significaram a ele e corou violentamente. – Q-quero dizer... eu quero o senhor para me ajudar, algo que só o senhor pode. – ela deu as costas a ele, fingindo observar algo interessante pela janela para não fitar as esmeraldas perversas. Kovu franziu o cenho, ainda confuso.

— Tenho certeza que há outros soldados capazes de cuidar de vossa segurança pessoal, exclusivamente. E que teriam maior aprovação de vosso pai. – ele testou.

— Não, senhor. Não o nomeei apenas para ser meu segurança. –fez uma pausa e voltou a encará-lo. – Lembra-te de quando nos conhecemos, ainda crianças? O senhor me disse que eu era a “garotinha do papai” e que os exilados não precisavam de ninguém, tomavam conta de si. – ele não entendia aonde a castanha queria chegar. – Acontece que o senhor estava correto. Sou uma “garotinha do papai”, totalmente. No entanto, almejo independência e quero que me treine a fim de não precisar de um homem para me salvar quando estiver em perigo, quero saber me defender. – ele soltou uma gargalhada.

— E por que a “garotinha do papai” não pede para que um de seus soldados a treine? – debochou desconfiado.

— Porque meu pai é antiquado e pensa que lutar não é para princesas, entretanto, como bem viste, nem sempre terei proteção. – mencionou, tentando afastar as lembranças daquela noite.

— Se vosso pai não quer que a treinem, por que escolher justamente a mim? O que a faz pensar que eu, o ser mais odiado pelo rei, iria fazer algo para deixar-me ainda mais em baixa conta? – questionou, sorrindo divertido diante de sua argumentação.

— Oras, porque o senhor não tem nada a perder, justamente. Meu pai jamais gostará do senhor de qualquer forma e por ser um exilado, pensei que não tivesse medo. – provocou, fingindo-se inocente. Kovu sorriu de lado, sabendo que ela pretendia atingir seu orgulho. Ele não iria relutar, na verdade, era a oportunidade perfeita para aproximar-se dela e executar o plano.

— Pois bem, começamos ao amanhecer. Saiba que não serei piedoso porque és uma princesa ou uma moça. –disse sombrio.

— Entendido, sem misericórdia. – ela bateu continência sorrindo de orelha a orelha, ele não pode evitar rir pelo nariz. A princesa mal sabia o que a aguardava.

Kovu deixou os aposentos da princesa satisfeito, não concordara a princípio com o plano cruel de Vitani quando viu o estado lamentável da menina, sentiu-se mal. No entanto, tinha funcionado e agora o plano simplesmente fluiria. Só havia uma peça que tinha que sair do jogo, mas esta Kovu sabia muito bem como lidar.

Londres – 6 anos atrás

“ Kovu sentia-se frustrado. A cada dia avançava em seus estudos e técnicas de luta na turma exclusiva do senhor Tantis. O professor de cabelo grisalho sempre lhe distribuía muitos elogios, dizia que ele tinha a mesma mente aberta e geniosa de seu antigo aluno, Scar, seu pai. Sr. Tantis foi discípulo direto do sr. Maquiavel e acreditava que Scar tinha a frieza necessária para ser um bom tirano, amado e temido na mesma medida. Portanto, quando Kovu apareceu em sua porta buscando mentoria, ele permitiu que o exilado morasse em sua própria casa e não fez questão de esconder a predileção.  Entretanto, suas habilidades sociais eram pouco notórias, principalmente com as damas nobres.

No exílio era tão mais fácil, ele já era o príncipe deles, então, as moças se jogavam aos seus pés na esperança de futuramente o acompanhar no trono. Ele não as prometia nada, mas deixava-se aproveitar da importância que tinha ali. Contudo, na Inglaterra, Kovu era um ninguém, era belo e inteligente, mas não tinha títulos, e a cor escura de sua pele trazia o olhar desconfiado dos ingleses aonde quer que fosse.

Estava em um clube de jovens nobres que se reuniam para flertar e ouvir música. Kovu já tentara se aproximar de duas damas, que o menosprezaram sem ao menos dar-lhe alguma chance. Então, resolveu empoleirar-se em uma cadeira e embebedar-se.

— Idiotas, não preciso delas. – murmurou após alguns goles de cerveja.

— Você está fazendo tudo errado, sabe? – levantou os olhos e deparou-se com uma bela mulher de pele escura e cabelos volumosos, mestiça como ele. Sem esperar convite, sentou-se ao seu lado na mesa. – Não é muito experiente com mulheres, é? – ela puxou a caneca e tomou sua bebida. Kovu incomodou-se com o comentário e com a pessoalidade na qual ela o dirigia.

— Quem é você? – perguntou desgostoso.

— Me chamo Jasiri e posso ser sua amiga. E amigos dizem a verdade, sendo assim, devo comentar o quão deplorável é vê-lo todos os dias levando patadas dessas daí. – apontou para as moças do local, seu modo era grosseiro e a roupa inapropriadamente provocante. – Então, resolvi fazer um gesto caridoso e ajudar-te. – Kovu fechou o cenho, sempre soube que nada vinha de graça na vida.

— O que quer com isso?

— Nada, apenas amizade. Você é como eu, quer subir na vida, mas não pertence a essa sociedade, os iguais devem se ajudar. – ela deu de ombros. - Olhe garoto...

— Kovu. – ele corrigiu incomodado.

— Kovu. – revirou os olhos. – Você deve entender que essas moças não são como as de seu vilarejo ou de onde diabos veio. Elas são acostumadas a ter tudo na mão, o que quiserem, papai dá. E elas querem continuar a boa vida, o que você oferecerá a elas que, eles, – indicou outros homens do local – não possam dar?

— Nada. – mais um gole.

— Sim e não. Não pode oferecer a elas riquezas, que é o que querem no final das contas. Mas pode oferecer a elas o que desejam. – ele despertou, subitamente interessado.

— E o que elas desejam?

— Um não.

— Um... não? -perguntou confuso.

— Sim. Não se trata de bens ou até de beleza, que particularmente você tem, mas da atitude. Escolha uma. – Kovu então apontou discretamente para uma menina de perfil conversando com as amigas. – Hmm, ousado. Se chegar confiante e demonstrar que não a quer, ela irá querê-lo. Ela é rica, está acostumada a ter todos aos seus pés, quando você demonstrar desinteresse, ela irá atrair-se pelo seu não e vai querer ser alvo da sua atenção também. – ele refletiu sobre o que Jasiri disse, era loucura, mas fazia sentido. – Vou dizer o que tem que fazer, garoto.

***

— Com licença, podem chamar um médico? – Kovu postou-se no grupo de três meninas, de frente para uma loira e colocou a mão em direção ao coração, encurvando-se.

— Por quê? O senhor está passando mal? – perguntou a moça loira com certo descaso.

— Sim, perdi o fôlego quando meus olhos pousaram sobre ti. – Kovu piscou sorrindo galanteador e a menina loira não pode evitar um risinho. – Me permita o elogio, senhorita, porque és a mais bela moça deste recinto.

— Assim, ofende minhas amigas, rapaz. – ela censurou, mas na verdade estava cheia de si.

— Não é verdade, bela dama. Uma ofensa seria se eu as visse, porém, desde que meus olhos encontraram tamanha formosura, ceguei-me para o mundo. – ela riu.

— És gentil, senhor, porém, não estás à minha altura. – e assim saiu de sua presença, seguindo para outro grupo.

— É muito rude ficar de costas para alguém numa conversa, o senhor sabia? – uma voz irritada soou atrás de si. Virou-se e encontrou olhos e cabelos negros como a noite e os lábios mais vermelhos que já vira.

— Perdoe, senhora, como disse, vossa amiga fez-me perder a compostura. – soltou ainda olhando para a loira.

— Bem, podes esquecer, Dafne possui muitos pretendentes, assim como eu. -empinou o nariz.

— Obrigada pela informação, senhorita...

— Raven, Mérope Raven. – informou.”

— Que bom que recebeu minha carta marcando o local de encontro. – chegou ao jardim sul do castelo, que ficava deserto depois do crepúsculo, e encontrou a jovem impaciente sentada em um banco. – Não tinha certeza se sua serva era confiável.

— Chega de enrolação, Kovu. – ela levantou-se impaciente. – Exijo explicações.

— Está bem, o que quer saber exatamente? -bufou colocando a mão nos bolsos.

— Quem é você? Por que mentiu para mim? – seu tom demonstrava certa mágoa.

— Sou o mesmo homem apaixonado que sempre fui por ti, apenas lhe ocultei certos detalhes. – ele tentou segurar a mão da nobre, porém esta se retraiu zangada. – Veja bem, cresci no exílio, mas meu pai já foi rei e queria que eu tivesse uma boa educação. Por isso, quando completei 15 anos minha mãe me mandou à Inglaterra para ser aluno do Sr. Tantis. Eu não era rico e você não pode me julgar por mentir sobre ter título de duque, ninguém me aceitaria ali se eu não fosse nobre, muito menos você.

— Então se aproximou de mim para “subir seu status social”? – indagou sarcasticamente.

— Não vou negar, querida, poderia mentir agora mesmo, porém, não o farei. À princípio foi por interesse, mas depois eu me apaixonei de verdade por ti. – ela riu de descrença. – É verdade, foi inevitável depois de tudo o que passamos juntos, nunca senti por outra o que senti por ti. Tive medo de lhe contar minha real situação e perder o que tínhamos, eu não suportaria, pois àquela altura já estava muito envolvido. – aproximou-se e desta vez ela não recuou, hipnotizada pelas esmeraldas.

— E por que não me enviou ao menos uma carta neste tempo todo? – sofreu, derramando uma lágrima que Kovu ligeiramente capturou com os dedos. – Eu me despedacei sem notícias suas, achei que tinha morrido e sofri calada, porque não poderia contar que me envolvi com um homem daquela forma antes do casamento.

— Sinto tanto, minha bela. – abraçou-a e afagou suas costas. – Não sabe como sofri igualmente neste período separados, porém, no exílio não há mensageiros. Eu tinha um plano, iria vir para as terras do reino e me tornar alguém importante aqui, depois, a traria para cá e faria de ti minha esposa.

— Verdade? – fungou olhando-o esperançosa.

— Claro, se você fosse apenas uma conquista para mim, eu não teria ficado contigo por tantos anos. E se minha vontade fosse dar-lhe o golpe, ficaria na Inglaterra e me casaria contigo lá. No entanto, quis voltar e conquistar o título que seja merecedor de estar ao seu lado, quero que você e sua família se orgulhem de mim. – sorriu convincente.

— Oh, Kovu. Me perdoe, meu amor, desconfiei de suas intenções, mas me deu motivos para isso. – repreendeu. – Todavia, não pude esperar mais, meu pai queria me casar a todo custo e há alguns meses aceitei um pedido de um nobre inglês. Estou noiva. – e mostrou o anel no dedo anelar. – Não quero me casar com Robin, é você que amo. – declarou jogando-se em seu pescoço novamente.

— Me dê um ano, Mer, se em um ano eu não conseguir uma titulação, casa-se com ele, mas peço que espere mais um pouco. Por favor, confie em mim. – pediu.

— Está bem, um ano, Kovu. – e assim os dois se olharam e Kovu puxou-a para um beijo envolvente.

O exilado pode sentir o salgado de suas lágrimas e o desejo crescente em si. Desde que chegara a Reichstein não havia estado com uma moça e ter Mérope em seus braços novamente, tão entregue, estava o deixando louco. Sua mão deslizou perigosamente nas costas da nobre e quando ia atingir o ponto crítico...

— Srta. Raven!! Srta. Raven!! – ouviram a voz da criada de Mérope. – Vosso pai está perguntando da duquesa. – os dois separaram-se abruptamente.

— Vá, vá embora, ficarei até o final da semana, me encontre aqui amanhã no mesmo horário. – e dando um beijo rápido nos lábios de Kovu, afastou-se. – Estou aqui, Celina, fui tomar um ar apenas, quanta insistência! – Celina olhou seu estado, com as roupas amassadas e a boca mais avermelhada do que o normal e tentou espiar às costas da menina para ver se encontrava alguém, mas estava muito escuro e Kovu já partira. De qualquer forma, Mérope não se preocupou, a criada era bastante discreta.

Kovu desapareceu entre as árvores seguindo para a entrada do lado oposto ao que a criada surgira. Um sorriso vitorioso apareceu em seu rosto, era impressionante como as coisas estavam correndo bem. Iria conquistar Kiara, matar Simba, tomar o trono e, quando o fizesse, ainda teria o apoio de uma família importante inglesa como a dos Raven para expandir sua aliança com outros reinos.

 Agora, seu foco era a princesa. Ela era uma menina rica e mimada, e como Jasiri o ensinara, estava oferecendo-lhe seu não. Ignorando seu pedido de amizade e a tratando friamente despertou seu interesse. Afinal, Kiara não desejava mais um príncipe aos seus pés, ela queria alguém que a desafiasse, a enlouquecesse... E Kovu o faria muito bem.

 

 


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