Roseira escrita por Naol
Notas iniciais do capítulo
Eu gosto dos personagens, mas ainda não entendo eles.
Uma exibição mais direta do que eles são resultou nisso.
Espero que gostem!
(Ah, caso o impossível tenha acontecido e você tenha lido essa história em outra conta alguns minutos atrás, fui eu postando errado (??’?–???’ゞ quando essa aqui for postada a outra já vai ter sido excluída.)
Rosas, beleza;
Botão de rosa, novo amor;
Rosa canina, prazer e dor;
Rosa cor-de-rosa, estima, gratidão, “obrigada por estar em minha vida”.
Tiernan apreciava o sofrimento, sentia justiça na dor. Erguia a roseira em direção ao céu, oferecendo-a ao encontro das ruínas acinzentadas, oferecendo uma amante às heras selvagens que coroavam as pedras.
A carne que se rasgava sob os espinhos fazia parte da jornada. Alimentando-a com vida e com morte, sentia com aversão o arrastar moroso e torturante dos galhos, enroscando-se nele antes de se entregarem ao infinito. Ramos torciam-se e avançavam, os espinhos aumentavam de tamanho, âncoras ao progresso da flor. O sangue tentava, em vão, prevenir sua própria existência; suavizava o caminho, mas a roseira era impiedosa.
O hospedeiro, humilde, esforçava-se em seu dever. Dançava entre as ruínas, aliviando nos movimentos leves o tremor que reprimia. Os cabelos, em seu oposto, dançavam frenéticos, roubados pelo vento e pelo sangue, agarrados às folhas e colorindo-se de vermelho. Era a ponte injusta, o que roubara a roseira da terra (atraíra-a como uma criança, ela enrolou-se como uma serpente), e a ela nada mais seria que não um caminho. Suportava o braço direito com o esquerdo, um cristal do fogo pressionado contra a palma da mão, numa batalha silenciosa contra a dor e o medo. Bateu o pé com força no chão, sentiu o reverberar da estrutura que crescia em seu corpo. Os espinhos se aprofundavam e a trilha de seu crescimento foi pontuada com um sulco enfatizado nas linhas que se arrastavam desde seu peito. Ao seu redor, fez surgir pequenas flores; pisoteou-as inconsciente do milagre. Uma gota de sangue manchou uma delas. Jamais soube que fora recolhida pelo que o apreciava em silêncio.
Os primeiros ramos tocaram a estrutura. Apertou o cristal do fogo e centrou a Vontade, temeroso da etapa seguinte. Sentia as forças se esvaindo. Junto à cintura, pendendo sobre o coração, fiada junto a ouro no adorno de seus cabelos: cristais vivos e outras bençãos auxiliavam o doloroso ritual. Rezou ofegante por sua ajuda e forçou a roseira a crescer, circundando o monumento homenageado sem perturbar a planta que o abraçava, ajustando o ritmo do crescimento aos passos da dança. Afastava-se um passo, surgia um em madeira. O caminho que traçava era agora definitivo, impulsionando a planta ao seu leito. Viu, aliviado, os primeiros botões, reconhecendo que a honrada tortura se aproximava do fim.
Sua força era drenada ainda mais que o sangue no crescimento voraz da planta. Afoita e incauta, reavivava os caminhos traçados na carne e embrenhava-se nas heras, circundando toda a torre num espiral que jamais se fechava. Encontrou a runa entalhada quatro pés abaixo de onde tocou a pedra pela primeira vez e por ela se repugnou, naturalmente, sem a Vontade, bifurcando-se em direção ao solo ao arrancar os galhos sangrentos do braço de seu sacerdote. O topo da roseira já não crescia, limitando-se a abrir, em onda, os delicados botões mais velhos, forjando novos a medida que a parte de baixo espichava. Terminada a runa, uniu-se novamente numa oval afiada apenas para quebrar-se em doze ramos, afundando um em cada ponto do solo ao redor da torre.
O mago ainda dançava, agora livre da prisão natural, entregando ao solo as últimas gotas conquistadas pelos espinhos. Rodeou a ruína pela última vez, em sincronia com a herança que deixava, retornando ao olhar da runa quando a última raiz se cravava ao chão. As rosas, brilhantes e esbranquiçadas no começo, avermelhavam-se com a proximidade ao solo, tingindo-se de rosa nas pontas e então ao miolo, escurecendo até um vermelho profundo e assustador que quase tocava a terra. Ajoelhou-se e entregou a testa à pedra fria, escorregadia pelo suor, alguns centímetros abaixo do símbolo. Onde a luz fraca que vencia as nuvens se refletia nele, sentia o calor do sol – e algo além.
Os sinos no topo da torre vazia soaram. Chegara ao fim o ritual.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Agradeço imensamente aos que chegaram até aqui!