Ainda há esperança escrita por padu


Capítulo 7
Capítulo 7




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Desde que se instalou na mansão do parque, Lady Margareth pensou que encontraria muitos empecilhos que a impediriam de pôr em prática seu plano de vingança. Primeiro: por estar foragida da polícia e carente de aliados.  Segundo: porque aos seus olhos, Darcy e Elisabeta estavam mais fortes e unidos do que nunca. O sobrinho, apesar de ser um homem de coração nobre e complacente, já não possuía nenhum afeto por ela, nem mesmo por as recordações de um passado distante que um dia os uniu. Elisabeta, a seu ver, sempre fora muito astuta e intuitiva. Além de ser carismática, atraindo para si amigos leais que fariam de tudo para protegê-la de qualquer dano. Para Margareth, tais características transformavam-na em uma dor de cabeça maior ainda. Após a facilidade encontrada para destruir toda a pesquisa histórica, entrevistas e trechos do livro sobre o Vale, a víbora deixou a propriedade ostentando uma postura de triunfo.

Charlotte acordou sob o chamado desesperado de Dolores. Estava exausta, pois, no dia anterior, havia passado horas no centro da cidade pesquisando, lendo e fazendo entrevistas. O trabalho estava ficando primoroso. Todo o suor, as noites em claro, as longas caminhadas para chegar até a casa dos personagens, valia a pena. O livro seria, na sua concepção, um verdadeiro presente não só para o Vale e suas futuras gerações, mas para todo o estado. A senhora batia na porta de madeira nobre com urgência. Sentindo profunda dificuldade de explicar o que estava acontecendo. A moça, confusa e ainda de camisola a acompanhou até o escritório. Ao entrar, mal podia acreditar no que via. Aproximou-se da mesa, em estado de choque.

— Não pode ser! – Disse exasperadamente, levando as mãos à boca. – Como isso pôde acontecer Dolores?

— Eu não sei dizer, senhorita. Quando vim limpar o cômodo, mais cedo, senti um forte cheiro de fumaça. Fiquei muito preocupada. Ao entrar, encontrei a sala assim, toda revirada e a mesa completamente cheia de cinzas. Não havia velas, nem lamparinas em nenhuma parte. Ontem o escritório passou o dia todo fechado, já que a senhorita esteve no centro e seu Darcy e dona Elisabeta viajando. Não consigo entender... – Disse, desolada.

— Claramente não foi algo acidental Dolores. Não restam dúvidas de que alguém invadiu a fazenda e cometeu essa maldade. Esse crime. Mas quem? – O calor do momento impediu que Charlotte associasse os fatos à pessoa responsável. Seus olhos estavam marejados. O coração parecia errar as batidas, apertado. Seus pensamentos completamente confusos... O livro era, simbolicamente, como um filho para ela. A descoberta do apreço pela pesquisa e escrita, o significado que aquele trabalho estava dando à sua vida; a ansiedade por vê-lo pronto, na mão de cada habitante, na prateleira da biblioteca de cada escola. Todos esses desejos pareciam escapar de suas mãos naquele exato momento. Após beber um copo d’água com açúcar, servido gentilmente por Dolores, que também estava nervosa, Charlotte sentou-se na sala por alguns minutos, na pretensão de organizar as ideias. Olhou fixamente para o telefone. Por um momento pensou em telefonar para o hotel, onde Elisabeta e Darcy provavelmente ainda estavam hospedados. Mas logo tirou a ideia da cabeça. Não queria desapontar a cunhada. Elisa estava muito feliz. Darcy também. A notícia os desestabilizaria. Provavelmente cancelariam a viagem e regressariam em dois tempos. – Pensou. Após analisar todos os lados da questão, decidira, por fim, não telefonar. Charlotte sabia que Elisabeta ficaria magoada com ela. Mas, nem isso a fez voltar atrás. Após um banho, com a cabeça mais fria, Charlotte começou a lembrar dos acontecimentos envolvendo o trabalho de Elisabeta quando a mesma estava morando em São Paulo. Lembrou-se do ocorrido na redação do jornal. As máquinas destruídas, a palavra e a felicidade de Elisabeta censuradas. Não restavam dúvidas: a criminosa era ninguém mais ninguém menos do que sua tia. Charlotte saiu apressadamente. Precisava encontrar aquela mulher. Desta vez, tinha certeza de que ela estava mais próxima do que nunca.

“Vou encontrá-la titia querida. Nem que seja no fim do mundo. Sua tentativa de intimidação não fará com que o sonho de Elisabeta e, agora, meu sonho também se desfaleça. Reescreveremos nossa história com maior garra, porque tenacidade nós temos de sobra.” – Pensou confiante.

Todos ficaram arrasados ao saber o ocorrido. Cecília, Mariana, Jane, Lídia e Ema uniram-se à Charlotte, prestando total solidariedade à amiga. Cecília teve a ideia de recomeçar as pesquisas. Sua devoção pela leitura, sua curiosidade aguçada, e sua aptidão pela investigação a instigou a buscar novas fontes históricas. Seu Felisberto fora seu braço direito na missão. Ema prontamente buscou ajuda naquele que seria uma das fontes vivas do Vale do Café: O Barão de Ouro Verde. Sentado em sua cadeira de rodas, aquele senhor dedicou horas do seu dia para falar sobre o início próspero da região, além de sua influência e seu apreço e amizade com Dom Pedro II. Jane, agora mais próxima do que nunca de sua sogra, ouviu atentamente todos os riquíssimos relatos de Julieta a respeito da força feminina na economia brasileira e dos desafios e preconceitos que ela enfrentou ao longo da jornada. Lídia, aproveitando-se da súbita inteligência proporcionada pela gravidez, colheu, juntamente com Mariana, relatos de imigrantes, filhos de ex-escravos, entre outros personagens da cidade. Olegário, a princípio, sentiu uma revolta enorme. Queria mais do que nunca torcer com as próprias mãos o pescoço de Lady Margareth. O homem estava completamente obstinado a encontrá-la. Charlotte o acalmou, alegando ter prestado queixa à polícia.  Afirmando que o circo estava se fechando e logo ela seria capturada. Uma semana e meia se passou e, aos poucos, a história sobre o Vale do Café e de seus personagens era recontada.

**

Enquanto o Vale do Café servia como fonte de inspiração para se levantar após uma dura queda, o amor e a esperança serviam para fortalecer Darcy no dia que seria, talvez, um dos mais desafiantes de sua vida. As quase duas semanas de viagem passaram-se lentamente. Viver em um navio, mesmo que por alguns dias era, para alguém inquieta como Elisabeta, uma verdadeira tortura. Sem contar os enjoos que a maré proporcionava. Aos olhos de Darcy, tais dias também lhe pareceram uma eternidade. Ao desembarcar na capital inglesa, os olhos de Elisa iluminaram-se completamente. Ela repetia continuamente o quão belo era aquele lugar. Era noite, as luzes evidenciavam a fascinante e moderna arquitetura da cidade. Que apresentava, também, resquícios de seu passado histórico. Havia, espalhados pelo local, museus e bibliotecas. Parecia, de fato, um novo mundo que acabara de saltar dos livros, materializando-se na sua frente. O frio era algo perturbador. Embora ambos estivessem vestidos apropriadamente, a sensação térmica não era nada comparada ao clima ameno e agradável do Vale do Café. O movimento de carros e pessoas na avenida era intenso. Em alguns momentos, Elisabeta sentiu-se dentro do livro de Alice no País das Maravilhas, e um homem, que passara por ela apressadamente, quase esbarrando em seu ombro, lhe caiu perfeitamente como o personagem do coelho. Darcy convidou Elisabeta para jantar em um dos belíssimos restaurantes daquela região. Logo em seguida, após passarem na mansão dos Williamson, iriam até a clínica onde o Lorde estava internado.


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